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Lista | 7 Curtas-metragens brasileiros de horror para você ver neste Halloween

Há quem ainda pense que o cinema brasileiro não conte com filmes de horror além daqueles realizados por José Mojica Marins e protagonizados pelo agente funerário Zé do Caixão. Talvez esta percepção esteja ligada à má preservação da maioria dos filmes mais antigos e ao difícil acesso à essas cópias; ou talvez seja culpa da tímida distribuição dos mais recentes. Mas o fato é que há muita coisa de qualidade que merece ser (re)descoberta.

Pensando nisso – e aproveitando a chegada do mês mais propício para o gênero – organizamos uma lista com alguns dos melhores curtas-metragens de horror nacionais, e que estão disponibilizados gratuitamente na internet.

AMOR SÓ DE MÃE (2002)

O primeiro curta da lista enfoca a relação conflituosa entre um pescador (Everaldo Pontes) e sua amada Formosa (Débora Muniz), que deseja sair do pequeno vilarejo onde vivem. Esta vontade, no entanto, não agrada sua sogra (Vera Barreto Leite) que mesmo muito idosa ainda tem muita influência sobre o filho. Tudo mudo quando Formosa entra em contato com entidades sobrenaturais e ordena que o parceiro faça algo muito, muito ruim.

Conflitos entre noras e sogras sempre existiram, mas no curta escrito e dirigido por Dennison Ramalho estas rivalidades são levadas ao extremo. Trata-se de um trabalho muito caprichado tecnicamente em todos os aspectos, da fotografia a direção de arte. O elenco também se destaca, sobretudo a atriz Débora Muniz que se entrega tanto em cenas de sexo gráficas quanto a uma cena impactante de possessão.

Mas o fator que mais chama atenção aqui é a violência extrema, da qual Ramalho jamais recua, resultando em um filme ao qual é absolutamente impossível ficar indiferente.

Premiado em 2003 no Festival de Curtas de São Paulo (Favoritos do público) e no Festival de Gramado (Música e Montagem), além de ter sido selecionado em diversos outros festivais nacionais e internacionais, este sem dúvida é um dos maiores filmes de horror já produzidos pelo nosso cinema.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=s3jnHuToZ3g&w=560&h=315]

VINIL VERDE (2004)

Ainda que seja mais conhecido pelos longas-metragens Aquarius e O Som ao Redor, o pernambucano Kleber Mendonça Filho possui ao menos dois curtas-metragens que não negam sua paixão pelo horror. O primeiro deles, A Menina do Algodão (2003) teve boa recepção em alguns festivais ao narrar uma versão found footage da lenda urbana do título, também conhecida em algumas partes do Brasil como A Loira do Banheiro. Mas ainda mais interessante é o curta realizado pelo diretor no ano seguinte.

Vinil Verde conta, por meio de fotografias, a surreal trajetória de uma menina que desobedece sua mãe e ouve o disco do título, o que traz consequências tão absurdas quanto aterradoras. Talvez pela narração de Ivan Soares que mescla um tom de história de ninar com contos orais de horror, ou pela total falta de sobressaltos na narrativa (mesmo quando coisas horríveis acontecem sem qualquer explicação lógica), ou ainda pelas imagens que reproduzem de forma inquietante o familiar ambiente suburbano brasileiro, esta é definitivamente uma experiência perturbadora que, de tão incomum, vai permanecer na sua mente por algum tempo depois de ter assistido.

Dentre os prêmios recebidos estão Melhor direção, Melhor montagem e o Prêmio da crítica no Festival de Brasília de 2004.

O DUPLO (2012)

Premiado no Festival de Cannes em 2012, o filme narra o sofrimento de uma professora de matemática (Sabrina Greve) cujo doppelganger passeia pelos corredores da escola.

A figura do duplo – um sósia que surge misteriosamente – é um dos tropos mais clássicos das histórias de horror, rendendo no cinema filmes como O Estudante de Praga (Der student von Prag, Henrik Galeen, 1926), Um Corpo que Cai (Vertigo, Alfred Hitchcock, 1958) e Cisne Negro (Black swan, Darren Aronofsky, 2010).

O mérito da diretora paulistana Juliana Rojas é evitar os sobressaltos de uma abordagem histérica. Ao se deparar com essa presença assustadora, a protagonista fica cada vez mais introvertida e calada. Conforme a narrativa avança, a expectativa do público por uma catarse vai sendo constantemente frustrada, o que mantém a tensão até o fim. Destaque também para o trabalho de câmera e de som que constroem através de silêncios e enquadramentos incomuns, que mais ressaltam a ausência do que a presença dos personagens e das coisas, uma atmosfera Lynchiana do mais puro desconforto.

Vale ressaltar que essa não é a primeira incursão de Rojas no gênero. Na verdade o horror está presente em toda a sua obra, desde os seus primeiros curtas em parceria com o amigo Marco Dutra até os longas Trabalhar cansa (também com Dutra) e Sinfonia da Necropóle (um musical que se passa num cemitério!).

DICA: em breve chega aos cinemas brasileiros As boas maneiras, cuja direção Rojas assina novamente em parceria com Dutra. Consagrado com o prêmio do júri no Festival de Locarno deste ano, o filme conta a história de Ana (Marjorie Estiano), uma jovem do interior que se muda para a capital paulista para cuidar de uma gravidez de risco. O que ela não sabe é que a criança que espera é na verdade um lobisomem.

Enquanto As boas maneiras não estreia por aqui, você pode conferir O duplo logo abaixo.

http://canalbrasil.globo.com/especiais/curtas/videos/2737553.htm

O MEMBRO DECAÍDO (2012)

O maranhense Lucas Sá conta através de planos fechados um quebra-cabeça que conforme vai sendo desvendado pelo espectador revela uma história macabra por trás.

Embalado por canções kitsch, o filme tem uma ironia que se aproxima mas do cômico do que necessariamente do horror, embora litros de sangue falso sejam derramados.

Ainda que não esteja disponibilizado na internet, também compensa ficar de olho em Nua Por Dentro do Couro, um de seus curtas mais recentes, no qual mulheres dividem os vazios e ameaçadores corredores de u prédio residencial, com direito a uma surpreendente reviravolta perto do final.

NINJAS (2010)

Em Ninjas o diretor Dennison Ramalho troca o vilarejo de pescadores pela periferia, mas sem abandonar a violência tão marcante em Amor Só de Mãe. Aqui, o ator Flávio Baraqui interpreta um policial que integra o grupo de extermínio composto por policiais militares do título. A vida do protagonista vira de cabeça para baixo quando ele  mata uma criança durante uma operação e então passa a ser perseguido por alucinações na qual sua vítima retorna para lhe assombrar.

Baseado no conto O Bom Policial, de Marco de Castro, Ninjas definitivamente não é uma experiencia das mais agradáveis. Ramalho potencializa toda a violência presente no texto original em cenas muito intensas e brutais, que geram uma contundente reflexão sobre culpa e, principalmente, os horrores reais enfrentados pela periferia diariamente. Esteja avisado!

M IS FOR MAILBOX (2014)

Como o título sugere, este curta-metragem brasileiro foi produzido com a intenção de integrar a antologia The ABCs of Death 2, na qual cada letra do alfabeto ganha um curta focado em mostrar mortes horríveis de maneiras originais. Apesar de ter chegado perto de ser selecionado, o filme da dupla Rodrigo Gasparini e Dante Vescio acabou ficando de fora, substituído por M is for Masticate, de Robert Boocheck.

Durante seus modestos 3 minutos de duração, o curta apresenta o ataque de um pequeno vampiro à uma residência familiar. Muito caprichada, a produção também marca o último papel do ator Ênio Gonçalves, morto em 2013.

Ainda que o estilo da dupla seja visivelmente inspirado esteticamente no cinema americano (se não fosse pelo idioma ser o português, dificilmente alguém diria ser um filme brasileiro), o curta ganha a menção pelo extremo cuidado técnico e pela eficiência da trama, simples e direta.

Também vale a pena conferir os outros trabalhos dos realizadores disponíveis tanto na internet quanto em VOD: a websérie Nerd of the Dead apresenta de forma original o já batido mote do apocalipse zumbi e o longa-metragem O Diabo Mora Aqui leva o terror para uma antiga fazenda no interior paulista.

LUZ ESCURA (2014)

E obviamente não poderíamos terminar esta lista sem um curta que tem participação da equipe! Escrito, dirigido e protagonizado por este que vos escreve, o filme também tem a fotografia assinada pelo Matheus Fragata.

Filmado durante duas exaustivas madrugadas em uma república em São Carlos, o curta exigiu muito trabalho para criar um jantar à luz de velas que aos poucos se revela tudo menos romântico. Filmar no escuro foi realmente uma tarefa árdua (e as vezes assustadora) e mesmo assim tivemos uma equipe que se empenhou do início ao fim para que tudo desse certo.

Obviamente estes são apenas alguns integrantes de uma produção bem rica e diversa de curtas-metragens produzidos por aqui. Muitos deles ainda não estão disponíveis por estarem sendo submetidos a festivais e por isso não puderam ser inclusos nesta lista. De todo modo, esperamos que esta seleção possa ter despertado o interesse pelo nosso cinema de gênero e pela galera responsável por torná-lo cada vez mais interessante.

Texto escrito por Lucas Procópio

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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