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Lista | As Maiores Parcerias Ator-Diretor da História do Cinema

Quando a pessoa começa uma carreira como diretor, ela tem em mente que irá ter que trabalhar com um grande número de atores, e que vai ter  lidar com as mais variadas personalidades e filosofias de trabalho. Porém, existem alguns casos em que o diretores se afeiçoaram tanto com atores, que estes acabaram por se tornarem seus favoritos para a interpretar certo personagem, e dessas parcerias grandes clássicos surgiram. Vamos falar de algumas das mais famosas

JOHN WAYNE E JONH FORD

Acho justo começar essa lista com dois dos maiores ícones da história do cinema norte americano. Dificilmente tenha algum cinéfilo fã de faroeste, que não seja um grande admirador dessa dupla, que juntos fizeram alguns dos maiores clássicos do gênero. Talvez eu esteja sendo exagerado, mas ao meu ver John Wayne não teria se transformado em um mito se não fosse graças a John Ford, que soube arrancar o melhor do ator e também porque viu que Wayne era a pessoa ideal para ser protagonista em histórias que exaltavam o passado heroico dos Estados Unidos.

Os dois se conheceram em 1928, quando Wayne era um ajudante da Fox e um estudante da Universidade do Sul da Califórnia. Naquela época o ator ainda usava seu nome de nascença, Marion Mitchell Morrison. Ford, sentindo que Wayne tinha algo de especial, o colocou para trabalhar em um filme seu pela primeira vez como um extra. Depois o indicou ao diretor Raoul Wash, que colocou o ator como protagonista do filme A Grande Jornada. O filme foi um fracasso, e Wayne acabou sendo relegado a filmes B. Teria sido assim pelo resto de sua carreira se não fosse por Ford, que lhe deu o papel de protagonista em Tempos das Diligências, filme que se transformaria em um clássico.

O início da parceria foi meio conturbado, pois Ford, como todos sabem, era extremamente rabugento, e demorou anos para reconhecer o talento de Wayne. Mas apesar do começo de relacionamento meio conturbado, os dois construíram uma grande amizade, e passaram anos sempre se correspondendo e conversando sobre os mais variados assuntos. A relacionamento era tão forte, que os dois sempre evitavam um assunto que sabia que iria causar confusão, que era a política. Isso porque John Wayne era um republicano convicto, enquanto era Ford se declarava democrata socialista. Juntos trabalharam em mais de 20 filmes, e também juntos escreveram seus nomes na história.

JOHN HUSTON E HUMPHREY BOGART

Se Wayne e Ford representavam a era clássica de Hollywood, a era das grandes histórias, Bogart e Huston representavam a outra parte da moeda, eram a imagem de uma era em que os bastidores de Hollywood começavam a se tornar um interesse da mídia. Huston foi considerado por muitos um diretor selvagem, que nunca gostou de se submeter aos estúdios e sempre passava por cima de tudo para poder realizar seus filmes, e Bogart era considerado uma figura polêmica e difícil de se trabalhar, devido as declarações fortes que dava na mídia sobre os colegas de trabalho. Além disso, os dois tinham uma visão de cinismo em relação a Hollywood, ou seja, não fica difícil saber o porque de se darem tão bem

A parceria começou no início dos anos 40. Na época John tinha apenas trabalhado como roteirista, mas a maioria dos seus trabalhos receberam grandes elogios. Humphrey já tinha feito vários filmes em anos anteriores, mas ainda não era considerado alguém popular entre o público. Isso mudou em 1941, quando foi lançado o primeiro filme de Houston como diretor, Relíquia Macabra, clássico do cinema Noir e para muitos críticos um dos melhores filmes da história. Esse filme catapultou a carreira tanto de Houston quanto de Bogart, que se tornaram profissionais bastante requisitados.

Trabalharam em mais 5 filmes filmes juntos, nos quais 1 também se tornou um clássico noir (Paixões em Fúria) e dois se tornaram grandes filmes de aventura ( Tesouro de Sierra Madre Uma Aventura na África), e segundo críticos, John foi o responsável por conseguir arrancar do ator suas melhores atuações. Os dois se tornaram grandes amigos fora das telas, e quando Bogart morreu em 1957, John Huston foi um dos que discursou em seu funeral.


FRANK CAPRA E JAMES STEWART

Uma parceria que foi meio curta, durando só 3 filmes, mas que resultou em filmes importantes tanto para a carreira de Capra, tanto para a de Stewart. A parceria dos dois teve inicio em 1938, na época Capra já esta se consagrando, tendo dirigido uma quantidade boa de filmes elogiados, entre eles podemos destacar Horizonte Perdido (1937) e Aconteceu naquela Noite (1934). Já Stewart tinha começado a sua carreira no cinema apenas há 3 anos, tendo sido antes um ator da Broadway e ainda buscava reconhecimento.

Capra ficou impressionado com a interpretação de Stewart em Juventude Valente, e o escalou como protagonista em seu filme Do mundo nada se leva. Tanto o filme quanto a interpretação de Stewart foram elogiadas. O ator trabalharia com Frank em mais 2 filmes, A mulher faz o homem e A felicidade não se comprafilmes eleitos por muitos como os melhores do diretor.

Um dos motivos da parceria ter dado certo é porque Stewart se encaixava muito bem nos personagens que Capra começou a colocar em seus filmes,  homens extremamente gentis e idealistas que queriam mudar o mundo, algo que casava bem com a personalidade do ator. Depois de A felicidade não se compra, nunca mais trabalharam juntos, mas mantiveram a amizade e faziam questão de elogiar o trabalho um do outro.

BILLY WILDER E JACK LEMMON

Billy Wilder foi sem dúvida um dos maiores diretores da História, tendo em seu currículo diversos clássicos, como por exemplo Pacto de Sangue, Farrapo Humano e Crepúsculo dos Deuses. Trabalhou também com diversos atores consagrados, mas entre os vários profissionais que estrelaram seus filmes, Wilder tinha carinho especial por um deles, Jack Lemmon

O primeiro filme que trabalharam juntos foi Quanto Mais Quente Melhor, que ainda tinha no elenco Marilyn Monroe e Tony Curtis. A química foi tão grande, que depois trabalharam em mas 6 filmes juntos. Lemmon foi o interprete ideal dos filmes de comédia do diretor. Juntos eles fizeram mágica. As interpretações tanto cômicas como dramáticas de Lemmon complementavam a direção cheia de sensibilidade de Wilder.

Segundo Shirley Maclaine que trabalhou com os dois, eles tinham uma dinâmica tão fascinante, que ela ia para o set mesmo quando não precisava apenas para ve-los trabalhando. Ela afirma que Wilder tinha um amor intelectual em relação a Lemmon, e que ele nunca teve isso com nenhum outro ator na sua carreira.

ALFRED HITCHCOCK E CARY GRANT

Durante sua carreira, Hitchcock teve como característica em seus filmes a participação de diversas musas, entre elas podemos citar como destaque Ingrid Bergman e Grace Kelly, que participaram cada uma de 3 filmes do mestre do suspense. Mas seus filmes também eram lembrados por terem grandes atores no papel de protagonistas, e um desses atores acabaria por se tornar grande parceiro do diretor, Cary Grant.

Juntos os dois trabalharam em 4 obras, todas elas bastante elogiadas. Grant, que antes estava mais acostumado a atuar em comédias românticas, saiu da zona de conforto ao trabalhar com o diretor inglês, que escalou Grant em papéis cujo os personagens de um ar de mistério. Foi trabalhando com Hitchcock que o ator pode mostrar a sua qualidade e versatilidade, e suas atuações nos filmes de Alfred são para muitos as suas melhores.

Hitchcock chegou a afirmar que Grant foi o ”único ator que ele amou trabalhar”.

GEORGE CUKOR E KATHARINE HEPBURN

Durante a sua carreira, George Cukor foi considerado como o ”diretor das mulheres”, devido ao fato de ter dirigido várias mulheres de personalidade forte, entre elas podemos citar Ingrid Bergman, Joan Crawford e Norma Shearer. E também pelo fato de a maioria dos seus filmes serem melodramáticos ou comédias românticas, gênero que muitos ligam as mulheres.

Entre as várias atrizes dirigidas por Cukor, Katharine Hepburn tem um espaço especial. Foi num filme de Cukor que ela iniciou sua carreira, e ela foi a atriz que mais apareceu em filmes do diretor, 10 vezes. Não apenas foram colegas de profissão, foram também grandes amigos e confidentes, e que sempre participava das famosas festas Cukor dava em sua casa, onde os dois poderiam aproveitar outro grande amor que compartilhavam alem do cinema, bebidas.

ROBERTO ROSSELINI E INGRID BERGMAN

A história de Bergman e Rosselini começou graças ao filme Roma, Cidade Aberta do diretor. A atriz ficou encantada com o trabalho de Rosselini, e lhe enviou uma carta perguntando se ele ” gostaria de uma atriz sueca, que fala bem inglês, não se esqueceu do alemão, não muito inteligível em francês e italiano”. O diretor, sem saber de quem se tratava, a convidou para um teste. Ao chegar na Itália, os dois se apaixonaram e começaram um romance, com Bergman engravidando logo em seguida. Existia porém um grande problema nessa história, os dois eram casados.

O caso foi um escândalo, visto que a sociedade americana era extremamente conservadora na época. O nome da atriz começou a ser boicotado, e seus filmes foram todos tirados de cartaz. Foi extremamente criticada pela mídia, inclusive sendo chamada de vagabunda. Não teve escolha, após divórcio com o atual marido na época,Petter Aron Lindström, se casou com Rosselini no México, e foi morar na Italia, onde ficaria por 7 anos. Trabalharia com o marido em 5 filmes, algo que não foi muito bem visto por alguns círculos italianos, visto que Rosselini era um cineasta neorrealista, e nesses filmes não era comum usar atores consagrados.

Por ironia do destino, o casamento teve fim porque durante as filmagens de um documentário, Rosselini iria se apaixonar pela indiana Sonali Senroy DasGupta. Bergman retornaria aos Estados Unidos, e tinha medo de como seria recebida. Para sua surpresa, foi aclamada em sua volta, e em seu primeiro filme ao voltar pro país, Anastasia, recebeu um Oscar de melhor atriz.

JAMES STEWART E ANTHONY MANN

James Stewart mais uma vez aparecendo na lista (e não vai ser a última). Se com Frank Capra, o ator alcançou o estrelato, foi com os faroestes de  Anthony Mann que ele pode evoluir como ator. Antes a carreira de Stewart foi interpretando personagens bons moços em filmes de comédia, nos filmes de Mann ele pode interpretar personagens com uma complexidade psicológica muito maior e muito mais maduros, algo que nunca tinha feito na carreira, e o que serviu para mostrar ao mundo o quanto era competente.

A parceria se iniciou em 1950, no filme Winchester 73A decisão de Stewart em ir para o gênero faroeste foi devido aos fracassos comerciais que estava tendo em seus últimos filmes. Essas escolha se mostrou muito acertada, e ainda mais acertada foi a escolha de participar de um filme de Mann. Winchester 73 foi aclamado e é considerado até hoje um dos melhores faroestes já feitos. A parceria deu tanto certo, que resultou em mais 6 filmes, e entre eles tivemos mais 4 clássicos do gênero western: E o Sangue Semeou A Terra, O Preço de Um Homem, Região de Ódio e Um Certo Capitão Lockhart.

A parceria entre os dois fez muito sucesso entre o público mais jovem e fã do gênero. Os filmes da dupla Mann e Stewart trouxe um clima meio noir para o Western, e foram elogiados por representarem o oeste americano de uma forma muito mais realista, e se tornaram a base para muitos filmes da época. Ouso dizer que essa parceria foi tão importante quanto a parceria Wayne e Ford.

A parceria acabaria de uma maneira melancólica. Inicialmente Mann iria dirigir mais um filme com Stewart como protagonista, que seria A Passagem da Noite. Mas Mann não gostou da história, e se desligou da produção com apenas 10 dias, algo que enfureceu James, que se sentiu traído pelo amigo. Eles nunca mais trabalhariam juntos.

JAMES STEWART E ALFRED HITCHCOCK

E pela terceira vez temos James Stewart aparecendo nessa lista, com outra parceria que marcou sua carreira, agora com o mestre do suspense, Alfred Hitchcock. A parceria dos dois começou em 1948, no filme Festim Diabólicofilme que não é muito lembrado pela sua história, mas sim por ser o primeiro filme colorido de Hitchcock e por ter sido editado para parecer que foi filmado em tomada contínua.

Os dois voltariam a trabalhar em 1954, naquela época Stewart era considerado o ator mais lucrativo de Hollywood, graças aos filmes de Mann. A segunda colaboração foi no filme Janela Indiscreta, considerado um dos grandes clássicos de Hitchcock e sendo também um sucesso de público. A parceria rendeu mais dois filmes, O Homem Que Sabia Demais, remake de uma obra do próprio Hitchcock, e em Um Corpo Que Cai, considerado pela grande maioria o melhor filme de Hitchcock, e eleito melhor filme ja feito, superando Cidadão Kane. Porém, apesar de hoje ser visto com apreço, a recepção do filme foi bem mista ao ser lançado, e a bilheteria bem pobre.

Hitchcock supostamente afirmou que a culpa do fracasso foi de Stewart, que era velho demais para ser o interesse amoroso de Kim Novak. Por isso mesmo decidiu escalar Cary Grant em seu próximo filme, Intriga Internacional (detalhe, Grant era 4 anos mais velho que Jimmy, mas aparentava ser mais novo). Stewart desejava muito o papel, e ficou ressentido por não ser escolhido, e a parceria chegou ao fim. Mas mostrando não guardar rancor, o ator participou de uma homenagem feita ao diretor em 1979 pela American Film Institute.

FRANÇOIS TRUFFAUT E JEAN PIERRE LEAUD

Possivelmente nenhuma associação entre ator e diretor foi tão profunda quanto a de François Truffaut e de Jean Pierre Leaud, pois ultrapassou os sets de filmagem e acabou se tornando intima, com o diretor se tornando uma figura paterna para o ator. Tudo começou em 1959, quando Truffaut estava a procura de algum jovem para interpretar o personagem Antoine Doinel, que seria tipo um alter ego do diretor. Competindo com mais de 60 jovens, Leaud cativou o diretor e conseguiu o papel.

Depois de Os Incompreendidos, durante os próximos 20 anos,  Leaud participou de mais 6 trabalhos com Truffaut, em 4 interpretando o personagem Doinel. Nesses filmes poderíamos acompanhar todo o desenvolvimento físico e mental do personagem e o vimos lidar com várias questões, como desilusão no amor, sua relação com o trabalho, e vários outros questionamentos.

O fato de Truffaut ter tido apreço pelo jovem Leaud, foi pelo motivo que o diretor conseguia se ver nele. Os dois tiveram infâncias turbulentas, marcadas por problemas familiares e atos delinquentes, e os dois tiveram a vida transformada pelo cinema. O diretor foi para o ator mais do que um companheiro de profissão, foi uma figura paterna. Truffaut se tornou responsável pela tutela de Jean Pierre, quando este foi expulso da escola e da casa do casal que cuidava do garoto. O ensinou várias coisas sobre cinema, e o apresentou a várias figuras do meio, como Godard e Rohmer . Era perceptível a ligação entre os dois nos filmes que fizeram, nos quais mostravam uma perfeita harmonia.

Jean Pierre Leaud fez vários filmes sem o diretor, mas dificilmente conseguiu fazer um trabalho tão digno de nota como o fez nos filmes de Truffaut.

FEDERICO FELLINI E MARCElLO MASTROIANNI

Dificilmente podemos falar do cinema italiano sem falar de Federico Fellini. Conhecido por sua grande originalidade, seus filmes foram marcados pelas críticas que fazia a sociedade italiana da época, mas também devido ao fato dele colocar diversas imagens fantasiosas e barrocas na sua trama. Se pudéssemos definir, acho que ele estaria num meio termo entre neorrealismo e surrealismo. Como ele mesmo dizia, gostava de inovar e experimentar, não gostava de escrever roteiros, pois dizia que não gostava de seguir uma rotina de trabalho, dizendo que tudo deveria surgir da imaginação.

Trabalhar com um diretor tão experimental poderia ser um trabalho extremamente complicado, mas Marcello Mastroianni tirou isso de letra. Vindo do teatro, o ator era acostumado com originalidade e liberdade, algo muito comum nos palcos, ele era o ator ideal para poder trabalhar com um diretor tão diferente. Juntos fizeram cerca de 5 filmes, todos eles bem elogiados, com desta para La Dolce Vitta8 1/2, consideradas as duas maiores obras primas do diretor, e que garantiram a Mastroianni o sucesso internacional.

Mais do que uma relação profissional, Fellini e Mastroianni construíram uma grande amizade. Segundo o ator, Fellini foi a única pessoa com quem ele conseguiu se abrir sobre problemas que o assombravam desde a infância. O diretor foi como um confessor para Marcello, e teve importância na sua vida tanto no profissional, tanto no pessoal.

ELIA KAZAN E MARLON BRANDO

Elia Kazan tem uma papel extremamente importante na carreira de Marlon Brando, não apenas porque o diretor foi o responsável por fazer com que o ator começasse a ser reconhecido pelo seu talento e como símbolo sexual, mas também foi o diretor que conseguiu arrancar as melhores e mais poderosas atuações do astro. Juntos, Kazan e Brando formaram uma dupla poderosa, e que transformou o cinema.

A relação dos dois se iniciou em outro arte, no teatro, mais precisamente na peça Truckline Café, produzida pelo próprio diretor. Apesar da peça ter sido um fracasso, Brando conseguiu um incrível destaque, sendo sempre aplaudido pela platéia. Embora a peça tenha fracasso, inspirou a Kazan a formar o Actors Studio, que iria trabalhar atores para que pudessem melhorar ainda mais suas atuações, ficando mais naturais, e Brando foi um dos que participou da empreitada.

A parceria de Kazan e Brando no cinema começou no filme Uma Rua Chamada Pecado, que fora baseado numa peça da Broadway que o próprio diretor comandou, e na qual Brando interpretou o mesmo personagem, Stanley Kowalski. O desempenho animalesco, selvagem, furioso de Brando no papel de Kowalski foi mais do que admirável, foi revolucionário. Muitos afirmam que Hollywood poderia ser definida antes e depois de Brando, tamanha mudanças que ele causou. Isso não teria acontecido se Kazan não tivesse dado a liberdade para o ator desenvolver o personagem, e ainda lutou para que nada do filme fosse amaciado pela censura, sabendo que muito da sua qualidade iria ser graças a Brando.

Os dois ainda teriam mais duas colaborações, em Viva Zapata,na qual Brando também faz grande atuação, e fez com que os críticos dessem mais atenção a ele do que ao próprio filme, e em Sindicato dos Ladrões, no qual o ator interpreta o personagem Terry Malloy, onde Brando simplesmente foi gigante, conseguindo desenvolver de uma maneira simplesmente fenomenal a dualidade do personagem, que ao mesmo tempo tentava se mostrar durão para os amigos, mas no fundo uma alma mais terna. Foi graças a esse papel que ele finalmente conseguiu um Oscar.

Depois de Sindicato, Brando e Kazan nunca mais trabalhariam juntos, apesar da insistência do diretor que para Marlon fosse protagonista em alguns dos seus filmes, como por exemplo Boneca de Carne e Um Rosto na MultidãoOs dois seguiram suas carreiras, com Elia Kazan sendo responsável também por revelar ao mundo os atores James Dean e Warren Beatty, e Brando fazendo outras grandes atuações, mas nada que se aproxima do que conseguiram fazer juntos.

SOPHIA LOREN E VITTORIO DE SICA

”Foi o segundo homem mais importante da minha vida”, afirmou Sophia Loren sobre De Sica. E de fato, se formos olhar para a carreira da atriz, existe um antes e depois de De Sica. A parceria dos dois começou no filme o Ouro de Nápolesfilme que transformou a carreira de Loren, e a tornou em uma atriz reconhecida e famosa dentro da Itália.

Segundo a atriz, Sica mais do que dirigir os atores, ele atuava para eles e mostrava o que queria que fizessem ( Sempre é bom lembrar que o diretor começou no cinema atuando). Ela definiu o relacionamento dos dois como um ”amor profissional”, algo comparado a um relacionamento de pai para filha. Ele a ensinou tudo que sabia e sempre a aconselhava quando podia.

Ja De Sica se referiu a atriz como a ”mulher que mais lhe afetou” durante a sua carreira. E que ao olhar para os seus olhos, parecia estar vendo um milagre. Bem italiano.

JOHN CASSEVETES E GENA ROWLANDS

Um  caso quase igual Bergman/Rosselini, Cassevetes e Rowlands se conheceram em 1953, e se casaram no ano seguinte. Naquela época os dois ainda não eram famosos e lutavam por reconhecimento. Cassevetes foi reconhecido pela história como que um pai do cinema independente. Ele nunca se preocupou com o lado comercial do cinema. Ele se preocupava com a construção de seus personagens, e sua filosofia de trabalho era muito importante, por isso nunca correu atrás de grandes estúdios para fazer seus filmes.

Os personagens do diretor eram em sua maioria pouco ortodoxos, e ele desejava que os atores trouxessem para os personagens suas próprias interpretações. Poucos são aqueles que compreendiam o diretor, e Gena era uma dessas. Exatamente por isso se tornou a principal colaborada de Cassevetes, participando de 7 de seus filmes, com destaque para Mulher Sob a Influência e Gloria 

Gena, sendo uma grande atriz que era, trouxe com a sua atuação cheia de vigor e intensidade foi um complemento ao cinema inovador do marido, e isso fez com que fizessem grandes trabalhos. Ela foi quase que uma coautora das obras de Cassevetes, tamanha foi a sua contribuição. Será que o amor explica isso? É uma possibilidade.


INGMAR BERGMAN E MAX VON SYDOW

Quando o assunto é parcerias, fica meio difícil falar de Bergman, porque ele em sua carreira trabalhava com regularidade com um certo grupo de atores. Mas de todas essas parcerias que ele teve uma das que mais vale destacar foi a com o ator Max Von Sydow. Não apenas porque participou de cerca de 12 filmes do diretor, mas também porque a união foi responsável pelos maiores clássicos do diretor: Setimo Selo, Morangos Silvestres e Hora Do Lobo

A parceria dos dois começou no Teatro, na época em que Bergman era diretor do Teatro de Malmo ( sim, Ingmar também teve envolvimento com teatro, era ativo no meio desde a faculdade, e seria assim até os anos 90). Von Sydow foi um dos muitos atores que o diretor trabalhou na segunda arte, e depois o levou para trabalhar consigo no cinema. Vale apenas constar, nessa época Von Sydow já trabalhava como ator de filmes, mas ainda não tinha tanto reconhecimento.

Bergman, foi o seu grande mentor e o ajudou a desenvolver o ator. As atuações sempre tiveram um papel importante na obra do diretor sueco, pois era a maneira que ele encontrava para se expressar, e o ator conseguiu compreender muito bem o que o Bergman queria passar em uma cena. Sydow conseguia com seu trabalho mostrar as dúvidas existenciais existentes dentro das tramas, e o conflito entre o mundo interior e o exterior dos seus personagens.

As contribuições de Von Sydow e Bergman renderam aos dois fama internacional, com o ator começando a ser requistiado até mesmo por Hollywood. Devido a um desentendimento em 1971, após o filme Hora do Amor, eles nunca mais trabalharam juntos. Mas isso nunca acabou com o respeito que o ator construiu em relação ao diretor, sempre afirmando que ele foi o grande responsável pelo seu sucesso.

INGMAR BERGMAN E LIV ULLMANN

Na sua carreira, Bergman teve a oportunidade de dirigir belas e excelentes atrizes do cinema sueco. Porém, dentre todas as que trabalharam pro diretor, Liv Ullmann. Juntos, os dois tiveram 9 colaborações (8 filmes e 1 série), e todas as parcerias que tiveram foram grandiosas. E igualmente ao caso Rosselini e Ingrid Bergman, o que era apenas uma parceria, se transformou em casamento e resultou em uma filha

Como dito anteriormente, as atuações nos filmes do Bergman eram as expressões dos sentimentos que ele queria passar, muitos deles pessoais. E igualmente Sydow, Ullmann conseguia compreender muito bem as vontades do diretor. O grande alcance emocional da atriz, sua profunda inteligência, e a capacidade de demonstrar conflitos internos eram características perfeitas para os filmes complexos e sombrios que Bergman fazia. Era clara a sintonia que os dois tinham um com outro. ” Você é meu Stradivarius”, Bergman dizia pra Ullmann

Essa sintonia foi tão grande, que resultou num relacionamento que durou 5 anos. A atriz afirma que o começo foi lindo, mas começou a descarrilar devido ao paranoico ciúme que Bergman tinha, as vezes nem deixando a atriz sair de casa, e quando deixava, marcava um horário e ficava esperando em pé na porta. O fim do relacionamento foi duro para os dois, e acabou ficando pior com a alta cobertura da mídia na época.

Para espanto da atriz, Bergman apoiou a fase da atriz em Hollywood, e quando ela protagonizou um teatro na Broadway, o diretor, que odiava viajar, foi até Nova York prestigiar a atriz. Eles continuaram trabalhando juntos mesmo com fim da relação e permaneceram grandes amigos, até a morte do diretor em 2007, onde Ullmann foi uma das poucas que participou do funeral do diretor

AKIRA KUROSAWA E TOSHIRO MIFUNÊ

Akira Kurosawa é frequentemente citado com o maior diretor da história do Japão, e um dos mais influentes da história, com seu estilo sendo copiado até mesmo em Hollywood. Realizou cerca de 30 filmes na carreira, e em pouco mais da metade deles trabalhou com o ator Toshiro Mifunê.

A colaboração dos dois começou com o filme Anjo Embriagado. Kurosawa procurava um ator para o papel de Matsunaga ficou sabendo de Toshiro por informação de um dos diretores de elenco do filme, e após ver uma audição do ator para outra trama, ficou impressionado e o contratou . O filme foi um sucesso no Japão, e a colaboração deles continuaria. A quinto trabalho conjunto dos dois, Rashomon, foi o responsável por os colocarem no mapa. Foi na obra que Kurosawa criou um novo método para contar historias, que consistia em visões diferentes para o mesmo incidente, o que dificultava saber o que realmente aconteceu.

4 anos depois viria aquela que seria a obra mais conhecida e admirada da dupla, Os Sete Samuraisconstantemente classificado como um dos melhores filmes da história e como um dos filmes mais retrabalhados e reverenciado do cinema. Depois disso eles seguiram fazendo uma séries de filmes com temática samurai, até a última colaboração entre os dois no filme Barba Ruiva , um dos filmes menos conhecidos do diretor japonês, porém é talvez o seu filme mais revelador e filosófico.

A melhor fase da carreira de Kurosawa foi definitivamente o período entre Rashomon e Barba ruiva, no qual Mifunê não participou de apenas de um filme. O ator participou de mais de 170 obras na sua carreira, mas foi o período trabalhando com Kurosawa que fez seu nome entrar pra história. O diretor japonês é extremamente lembrado pelo seu domínio da linguagem cinematográfica, sabendo como poucos desenvolver personagens, usar a câmera para contar uma história, e além do fato de ser um grande roteirista. Já Toshiro era completamente diferente dos atores japoneses tradicionais, conseguindo atuar com uma intensidade jamais vista. Não fica difícil perceber porque até hoje a crítica considera a parceria entre esses dois uma das melhores, senão a melhor da História.

SERGIO LEONE E CLINT EASTWOOD

Como acabei de falar sobre Kurosawa, acho justo que o próximo tópico dessa lista seja sobre um dos diretores que foi influenciado pelo trabalho do japonês. Sergio Leone começou a carreira como assistente de direção do consagrado diretor Vittorio de Sica. Depois trabalhou como diretor assistente em filmes épicos, como por exemplo os clássicos Ben Hur e Quo Vadis. Sua experiência com filmes desse estilo fez com que assumisse a direção do épico Últimos dias de Pompéia, quando o diretor Mario Bonnard ficou doente. Seu primeiro filme como diretor creditado foi o épico Colosso de Rhodes.

Com a queda de popularidade dos épicos, Leone mudou sua atenção para o sub gênero Western Spaghetti, gênero que começava a ganhar fama na Itália, e logo depois faria fama nos Estados Unidos, fazendo o público voltar a se interessar pelo velho oeste. O que Leone fez com o gênero, é quase comparável ao que foi feito por Anthony Mann nos anos 50. Ele trouxe um forte realismo para o oeste americano, junto com uma dose de violência. E seus personagens não eram preto no branco, eram bastantes ambíguos.

A Trilogia dos Dólares de Leone foi um marco no cinema, e no centro estava um dos anti heróis mais importantes e famosos, o ”Pistoleiro sem nome” de Clint Eastwood. O ator, hoje consagrado, na época só tinha feito pequenas pontas em outros filmes. Foi graças ao diretor que o ator alcançou o sucesso, e também foi nessas obras que Eastwood começou a construir a imagem cultural de anti herói durão, de poucos amigos e que quase nunca sorri.

A parceria durou apenas 3 filmes, e teria durado mais, pois era desejo de Leone que o ator fosse protagonista de Era Uma Vez Na América, mas Eastwood recusou, temendo que o talvez o filme pudesse encerrar o boom que sua carreira teve e que ele voltasse ao anonimato.

WERNER HERZOG E KLAUS KINSKI

Se existisse uma palavra para definir essa dupla, acho que seria a palavra explosiva. Junto, os dois colaboraram em 5 filmes, todos eles elogiados pela crítica e sempre listados nas listas entre os melhores filmes alemães da história. Herzog e Kinski tinham como similaridade o fato de serem grandes profissionais da sétima arte, e excelentes no que faziam. Mas também tinham outra grande semelhança, a personalidade forte. Devido a isso, é notório o fato de que ao mesmo tempo que respeitavam um ao outro, se odiavam.

Os dois se conheceram quando o diretor tinha apenas 12 anos, e sua família alugou um quarto para Kinski. Em uma momento de fúria, o ator se trancou no quarto por 48 horas, e destruiu todos os móveis, fato que marcaria Herzog por um bom tempo, e foi essa a motivação que o fez chamar o Klaus para interpretar o personagem principal em Aguirre, A Cólera De DeusNa época, Herzog já estava criando um nome para si, enquanto Kisnki ainda lutava para fazer sucesso.

Aguirre foi aclamado por crítica e público, porém mais lembrados que o filme, foram os bastidores do mesmo. Kinski era conhecido por ser bastante egocêntrico e por tratar mal seus companheiros de cena. Por exemplo, ao se incomodar com o barulho da equipe e do elenco jogando cartas em uma cabana, atirou 3 vezes contra a mesma. Quando Herzog não quis demitir um assistente de som, Kinski ameaçou se desligar da produção e ir embora. O diretor  apontou uma arma para o ator e afirmou, de uma maneira bastante ,que o mataria assim que virasse o rio e logo após cometeria suicídio. Isso foi o bastante para fazer Klaus mudar de ideia.

Essa dinâmica bizarra permaneceu em todos os próximos quatro filmes que fizeram juntos. Herzog ao que parece, era o único diretor que conseguia domar a fera que tinha dentro de Kinski. Mas, como eu já tinha tido antes, ao mesmo tempo que desejavam matar um ao outro, existia um grande respeito entre eles, e os dois sabiam reconhecer o talento um do outro. Talvez o fato de os dois serem completamente loucos tenha sido a motivação de terem tanta sintonia e juntos terem feitos grandes trabalhos.

Werzog lançaria em 1999, oito anos após a morte de Klaus, um documentário falando sobre a relação dos dois, no qual mostraria que, apesar da fama de babaca, o ator tinha seus momentos mais serenos.


MARTIN SCORSESE E ROBERT DE NIRO

Eu comecei falando de uma parceria admirada pelos fãs e entusiastas da Era de Outro. Acho justo terminar essa lista falando sobre uma dupla que fez seu nome na época da Nova Hollywood e se tornou a mais adorada e conhecida do cinema. É muito difícil falar da carreira do ator Robert De Niro sem citar Martin Scorsese, e o contrário a mesma coisa. Os melhores trabalhos do diretor contaram com o ator como protagonista, e foi junto com Scorsese que de Niro conseguiu as suas melhores atuações.

De niro foi apresentado a Scorsese pelo diretor que o revelou para o cinema, Brian De Palma, e começaram a parceria em 1973 com o filme Caminhos Perigososque foi um sucesso, e levou o ator ao estrelato. A próxima colaboração dos dois seria no grande clássico Taxi Driver, considerado por muitos um dos melhores filmes da história do cinema americano e visto como uma das melhores construções de personagem já feitas.

Depois da aclamação, veio um pequeno desvio, que quase teve consequências graves. Em 1977 fizeram juntos o musical New York New York, que apesar de ter tido um sucesso moderado com a crítica, foi um fracasso de bilheteria. Isso levou o diretor a depressão e as drogas, afirmando que não queria dirigir mais nada. De Niro salvou a vida do amigo, quase que implorando para que ele dirigisse o filme Touro IndomávelAchando que seria seu último filme, Scorsese entrou de corpo e alma no projeto. Resultado, aclamação e mais um filme do diretor na lista de melhores da história.

Os dois trabalharam juntos em mais 4 filmes, todos eles filmes de sucesso e aclamados por crítica e público. A grande capacidade de Scorsese de dirigir seus atores, e a qualidade de De Niro em interpretar personagens complexos, fez com que a parceria dos dois se tornasse uma das mais famosas da história. Depois de 24 anos, os dois vão voltar a trabalhar juntos no filme Irishman, que será lançado pela Netflix ano que vem. Não posso falar pelos outros, mas eu estou muito ansioso.

Redação Bastidores

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