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Lista | Os Melhores Filmes LGBTQ+

Recentemente – digamos duas ou três décadas – a cara do cinema mundial começou a mudar a dar espaço para narrativas envolvendo minorias sociais, incluindo a comunidade LGBTQ+. E como homenagem à diversidade, separamos os melhores filmes que retratam dos assuntos de gênero numa lista exclusiva e que abrange desde ficções até documentários.

Confira nossas escolhas:

PARIS IS BURNING

Vencedor do Festival de Cannes de 1990, Paris is Burning pode soar muito familiar para os fãs do reality show RuPaul’s Drag Race. O documentário, dirigido por Jennie Livingston, gira em torno da ball culture, uma sub-cultura LGBT que se tornou muito famosa em Nova York dos anos 1980 e que trazia em seus holofotes as comunidades negra, latina e gay, mostrando as competições nas quais os participantes aderiam a um tema ou categoria específicos e desfilavam, sendo julgados no final com base em sua veracidade e realeza. De acordo com inúmeros críticos, o longa tornou-se um símbolo iconográfico e imprescindível sobre a Era de Ouro dos drag balls nos Estados Unidos, além de quebrar inúmeros tabus de gênero e sexualidade.

DIVINAS DIVAS

Dirigido por Leandra LealDivinas Divas é sobretudo um retrato real e atemporal das dificuldades que artistas – no caso travestis – passaram nos anos 1960 (início da ditadura civil-militar) antes de firmarem-se como ícones da cultura pop e influenciarem inúmeros jovens que lutam pela liberdade de expressão e pelo conceito de individualidade. Girando em torno da primeira geração de drags do Brasil, as histórias viscerais contrastam com o glamour dos palcos e com o reconhecimento tardio dessas incríveis performers – além de mostrar com grande profundidade e emoção as consequências da não-aceitação e do preconceito.

HOJE EU QUERO VOLTAR SOZINHO

A sutileza de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho é, de longe, seu maior mérito. Girando em torno de Leonardo, um garoto cego que já se acostumou à sua condição, mas é constantemente assediado por seus colegas de sala, a narrativa principal baseia-se muito nas comédias românticas hollywoodianas para aprofundar os sentimentos confusos e gradativos que o protagonista começa a sentir com a chegada de um novo garoto à escola, Gabriel. Além de um tratamento delicado sobre o assunto, o filme foi indicado ao GLAAD Awards, maior prêmio LGBTQ+ do cinema.

CAROL

A obra de Todd Haynes, baseada em O Preço do Sal, de Patricia Highsmith, fez grande alvoroço em 2015 e permitiu mais uma indicação de Cate Blanchett ao Oscar de Melhor Atriz. A história gira em torno do crescente romance às escondidas que se desenvolve entre a personagem-título, uma rica mulher que esconde seus reais sentimentos de uma sociedade machista e conservadora, e Therese, uma lojista que é instantaneamente presa pelo mágico charme de Carol e entra numa jornada sem volta que nos relembra muito da road-trip de Thelma & Louise. Os temas da sexualidade e da descoberta, assim como em outros filmes do gênero, é tratado com uma sutileza, sensualidade e incrível verdade – fator que se consolida com a química cênica entre Blanchett e Rooney Mara.

O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN

A epopeia nostálgica e romântica estrelado por Jake GyllenhaalHeath Ledger talvez seja um dos filmes mais emocionantes e angustiantes que já assisti em minha vida, justamente por trazer uma história de descobrimento e amor dentro de uma sociedade extremamente conservadora e preconceituosa sem precisar falar dos tabus que envolvem esse círculo incorruptível e essencialmente humano. O filme gira em torno de dois vaqueiros, Ennis e Jack, que viajam para Brokeback Mountain, no estado de Wyoming, para trabalharem como pastores. Lá, eles conseguem se libertar da roupagem que foram obrigados a carregar desde sempre, entendendo, eventualmente, que a relação de amizade alcançou outro nível. E, solitários naquele pequeno lugar arcadiano, os dois têm sua própria perspectiva de natureza e levam o que aconteceu entre eles para o restante de uma vida pautada em mentiras e frustrações internalizadas.

MOONLIGHT: SOB A LUZ DO LUAR

Moonlight é um filme necessário. Vencedor da estatueta de Melhor Filme na última edição dos Academy Awards, a história que revolve a infância, adolescência e vida adulta conturbadas de Chiron, todas as múltiplas subtramas são uma análise subjetiva, emocionante e muito relevante sobre inúmeros temas, incluindo tráfico de drogas, racismo, pobreza e principalmente, apesar de extremamente sutil, a aceitação da sexualidade. Desde criança, o protagonista sofria com comentários incisivos sobre seu jeito “afeminado” e não aceito na comunidade onde morava. Conforme crescia, Chiron e seu melhor amigo Kevin transformam a amizade em uma complicada tensão sexual e nova, que assusta a ambos e que culmina em uma das sequências mais belas do cinema. O filme não permite simplificações, visto que afasta-se da rotulagem de “narrativa de nicho” para fornecer uma perspectiva muito maior e mais complexa que seus semelhantes.

FILADÉLFIA

Há filmes dentro da indústria cinematográfica que alcançam um patamar transgressor por serem os primeiros de determinado gênero a quebrar tabus e padrões narrativos para abalar as estruturas da “zona de conforto”. E é exatamente isso que Filadélfia, dirigido por Jonathan Demme, discorre sobre: temas nunca antes vistos, como homofobia, homossexualidade e contração e prevenção de HIV/AIDS gira em torno do protagonista Andrew Beckett, um advogado gay que trabalhar para ma prestigiosa firma judicial e que é mandado embora após não conseguir manter em segredo que foi diagnosticado com o vírus. A trama não permanece às escondidas e chega aos tribunais, cujas sequências são extremamente bem montadas sem tocar em feridas ainda não cicatrizadas de sua audiência.

CIDADE DOS SONHOS

David Lynch é conhecido por gostar de chocar seu público. E é isso o que ele faz com grande sucesso no filme Cidade dos Sonhos, protagonizado por Naomi WattsLaura Harring. Misturando o mundo real com as inconstâncias do paralelismo onírico, a história de mistério é perscrutada por uma gradativa tensão sexual, pautada no desejo e no primitivismo humano, entre as personagens principais, que eventualmente consumam sua atração uma pela outra em uma cena incrível. Ao contrário de outros filmes do gênero, a crueza é a opção narrativa principal, com passagens explícitas e que não se preocupam com a catarse absorvida pelo espectador.

CLUBE DE COMPRAS DALLAS

Clube de Compras Dallas é baseado na vida de Ron Woodroof, um eletricista heterossexual de Dallas que foi diagnosticado com AIDS em 1985, durante uma das épocas mais obscuras da doença. Embora os médicos tenham lhe dado apenas trinta dias de vida, Woodroof se recusou a aceitar o prognóstico e criou uma operação de tráfico de remédios alternativos, na época, ilegais. A partir daí, o filme transforma-se em um retrato cruel da realidade enfrentada pelos portadores do vírus, o qual era associado unicamente à comunidade LGBTQ+. Apesar da perspectiva não convencional para os filmes de gênero, o personagem desenvolve uma relação de amizade evolutiva com a transsexual Rayon (Jared Leto), mergulhando em um mundo que repudiava e desconhecia e que, em um arco de redenção e epifania, passou a ajudar e a apoiar.

 TOMBOY (2011)

A grandiosidade de Tomboy já reside sobre seu nome: o título faz menção ao estilo de moda conhecido como “tomboy”, o qual mistura de forma híbrida e sem separação roupas masculinas e femininas em uma transgressão identitária que conversa, eventualmente, com a quebra de padrões de gênero que é analisada no filme. A história, escrita e dirigida por Céline Sciamma, gira em torno de Laure, que se muda durante as férias de verão para uma nova cidade e, por seu estilo “masculinizado”, apresenta-se como Mikhael para as outras crianças. Laure/Mikhael eventualmente conhece Lisa e, a partir desse momento, entra em uma crise emocional, lidando com sua identidade dupla que é desconhecida em parte pelos pais, e em parte por seus amigos. A competente narrativa é uma análise clara sobre transgêneros e transsexuais, oferecendo uma perspectiva tocante e livre de arquiteturas estereotipadas.

E aí? O que achou de nossa lista? Qual filme você acha que ficou de fora? Não se esqueça de deixar seu comentário!

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Publicado por Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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