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Lista | Ranking de Lana e Lilly Wachowski

Há quem diga que as irmãs Lana e Lilly Wachowski nunca mais fizeram nada que prestasse depois do primeiro Matrix. Existem também alguns defensores que afirmam que, embora nem todos os projetos da dupla sejam bem-sucedidos, ao menos costumam merecem pontos pelas decisões frequentemente ousadas e ambiciosas que são tomadas. De minha parte, me encontro na segunda categoria: sim, as Wachowski já tropeçaram aqui e acolá, mas é injusto desprezar mais de 90% de seus trabalhos. Com isso, que tal relembrar todas as obras das cineastas e descobrir se, afinal, trata-se de uma carreira limitada a um único trabalho?

11. NINJA ASSASSINO (2009)

Basta assistir a cinco minutos de Ninja Assassino para saber o tipo de filme que ele é: se acha estiloso e divertido, mas na verdade é apenas ridículo e exagerado. Produzido por Lana e Lilly Wachowski, este é o segundo longa dirigido por James McTeigue (que voltará a este ranking numa posição bem mais favorável) e até poderia ser um entretenimento razoável (afinal, estamos falando sobre ninjas). Infelizmente, a estrutura narrativa do filme é uma verdadeira bagunça, apostando em flashbacks que surgem o tempo inteiro e interrompem a trama em vez de agilizá-la (nisso, o ritmo é enfraquecido e a projeção, que dura uma hora e meia, parece interminável). Para piorar, as cenas de ação não fazem jus ao que se espera de uma aventura estrelada por um ninja (os cortes são excessivos, o slow-motion é cafona e a mise-en-scène não é estabelecida com cuidado), algo que só não é mais frustrante do que os diálogos constrangedores (“Tudo tem um coração“, afirma uma personagem; “Eu não tenho“, retruca o herói).

10. MATRIX REVOLUTIONS (2003)

Acho que esta foi a única vez onde eu suspeitei que as irmãs Wachowski estivessem debochando de mim. Depois que Matrix Reloaded se encerrou deixando uma série de dúvidas no ar (que, diga-se de passagem, levaram os fãs a criarem diversas teorias nos meses seguintes), era de se imaginar que a trilogia seria concluída oferecendo as respostas para todas aquelas indagações. E qual foi o resultado disso tudo? Veio Matrix Revolutions, que ignorou várias dessas perguntas ao mesmo tempo em que solucionou outros questionamentos através de explicações patéticas. A história desvirtua o que era mais interessante no capítulo anterior, as alusões à história de Jesus Cristo são terrivelmente óbvias e as sequências de ação são um tédio absoluto. É, em suma, um fechamento incrivelmente decepcionante e amargo para uma jornada promissora.

9. A VIAGEM (2012)

Unindo-se ao diretor Tom Tykwer (de Corra, Lola, Corra), as irmãs Lana e Lilly Wachowski voltaram a demonstrar ambições dignas de nota nesta produção, dividindo a trama em diversas subtramas situadas em tempos completamente distantes e amarrando todas essas ideias através de uma montagem que emprega uma série de raccords com sabedoria. Dito isso, existem três coisas que prejudicam demais A Viagem: 1) a duração se estende em três longas e cansativas horas; 2) o filme só diz a que veio quando está prestes a terminar e, quando finalmente revela as suas intenções, o espectador percebe que estas nem são tão impressionantes assim; e 3) as maquiagens usadas para reaproveitar os mesmos atores ao longo de várias épocas diferentes são assustadoramente artificiais, quebrando o envolvimento do público com frequência. É uma obra ambiciosa, de fato, porém arrastada e que talvez funcione melhor na televisão ou na literatura (não é à toa que o filme é baseado no romance Cloud Atlas, de David Mitchell).

8. O DESTINO DE JÚPITER (2015)

Não, O Destino de Júpiter não é nenhuma obra-prima (longe disso), mas ainda assim não consigo entender o porquê deste filme ser recebido com tanto ódio. Remetendo a space operas clássicas como Flash GordonStar Wars, esta aventura das irmãs Wachowski me conquistou pelo universo interessante e criativo que as cineastas inventaram, com direito a uma trama envolvendo intrigas comerciais no espaço sideral e algumas situações bastante imaginativas (como uma longa passagem que mostra a burocracia confusa que parece se estender à galáxia inteira). O problema de O Destino de Júpiter, portanto, é o ritmo excessivamente frenético e apressado que a direção e o roteiro propõem, o que acaba atropelando as apresentações de alguns conceitos e deixa o espectador perdido de vez em quando. Isso porque não citei os efeitos digitais horrorosos e os personagens que oscilam entre a monotonia (no caso da heroína, vivida por Mila Kunis) e o exagero caricatural (me refiro, é claro, ao vilão interpretado por Eddie Redmayne). É um filme inquestionavelmente problemático, mas é possível se divertir e apreciar algumas de suas ideias.

7. MATRIX RELOADED (2003)

Retornando ao mundo que Lana e Lilly Wachowski criaram em 1999, Matrix Reloaded foi uma boa expansão de universo e introduziu novas ideias que engrandeceram a mítica envolvendo Neo, Trinity, Morpheus e a realidade entorno deles. Sim, é verdade que o uso excessivo de computação gráfica acaba enfraquecendo algumas cenas de ação (a luta com o exército de agentes Smith é grotesca) e que alguns conceitos são apresentados com uma frieza exagerada (o diálogo com o Arquiteto chega a ser engraçado de tão ininteligível), mas mesmo assim esta continuação traz vários momentos memoráveis (como a eletrizante perseguição na autoestrada) e, por ser a primeira parte de uma história dividida em dois capítulos, Matrix Reloaded acerta ao deixar indagações que despertam no espectador a vontade de decifrá-las posteriormente (só é uma pena que estas não tenham sido resolvidas devidamente no terceiro capítulo). Foi bom reencontrar aqueles personagens e voltar ao universo de Matrix.

6. ANIMATRIX (2003)

Lançados diretamente em home video no ano de 2003, os nove episódios de Animatrix participaram de um grande evento transmídia que as irmãs Wachowski desenvolveram com base no mundo de Matrix, o que também incluiu jogos e quadrinhos. Entre as estreias de Matrix ReloadedMatrix Revolutions, a mitologia da obra foi expandida de maneira interessante nesta produção, que girava entorno de vários personagens e situações que se encontravam naquele mesmo universo sem se concentrar especificamente nos heróis dos filmes. Alguns episódios são menos eficientes que outros, mas mesmo assim vale a pena conferir Animatrix e se encantar com a variedade técnica dos capítulos (um lembra os projetos do Studio Ghibli; outro é estetizado com forte influência no estilo noir; há também um conto que é animado em computação gráfica; e assim por diante). Esta sim foi uma boa expansão do universo de Matrix.

5. SENSE8 (2015-2018)

Quando comentei que A Viagem talvez funcionasse melhor se fosse produzido para a televisão, estava dando uma pequena pista do que as irmãs Wachowski viriam a fazer em Sense8. Privilegiada por um formato que permite que a trama se desenvolva cuidadosamente ao longo de vários episódios (algo que o Cinema não compreende com a mesma facilidade, pois se concentra numa duração bem menor), a série volta a investir no conceito de pessoas específicas que se interligam de alguma forma nos quatro cantos do mundo – a diferença é que, aqui, elas interagem e se conhecem. É aí que entra o maior atrativo do seriado: os protagonistas vivem em lugares e culturas completamente diferentes, o que transforma a diversidade no tema principal da obra. Ao mesmo tempo, Sense8 é bem-sucedida enquanto representante do gênero “ficção científica”, trazendo uma história densa e conceitos interessantes que sempre prendem a atenção do telespectador. Sim, é verdade que alguns diálogos são artificiais e que certas composições beiram o caricatural sem qualquer tipo de parcimônia, mas isso não anula os muitos méritos da série; que, por sua vez, não só é um sci-fi engajante como também é uma celebração tocante à pluralidade das culturas e identidades humanas.

4. LIGADAS PELO DESEJO (1996)

A carreira das irmãs Wachowski começou muitíssimo bem neste Ligadas pelo Desejo, que conta a história de duas mulheres que desenvolvem uma relação amorosa ao mesmo tempo em que tentam escapar de um homem diretamente ligado à máfia. Cuidadoso ao apresentar as personagens e desenvolver a situação hostil em que se encontrarão posteriormente, o filme é eficiente ao construir o primeiro ato de maneira sedutora – mostrando como as protagonistas se conheceram e passaram a se amar -, estabelecer uma narrativa claramente inspirada no Cinema noir e culminar num clímax bastante apreensivo. Além disso, Ligadas pelo Desejo revela alguns elementos que, mais tarde, se tornariam recorrentes na filmografia das Wachowski: um estilo estético que inclui roupas de couro, cenas de ação sangrentas e uma fotografia carregada em tons escuros (leia-se: Matrix); uma montagem dinâmica e criativa que inclui raccords e transições elegantes; e uma mensagem progressista que consiste num casal de lésbicas lutando contra um homem que vive disparando xingamentos homofóbicos. Este é um projeto que nem todos tiveram a oportunidade de conferir, mas que é mais do que recomendável.

3. V DE VINGANÇA (2005)

Produzido e roteirizado por Lana e Lilly Wachowski, V de Vingança marca a estreia do diretor James McTeigue e talvez seja a melhor adaptação cinematográfica de uma graphic novel de Alan Moore (que, de qualquer forma, recusou qualquer relação com o filme e ordenou que seu nome fosse retirado dos créditos). Alguns fãs rejeitam o que foi feito neste longa, dizendo que a ideologia do protagonista foi descaracterizada e que a essência do material original se perdeu nessa transição para o Cinema, mas nada diminui os muitos méritos desta adaptação, que foi inteligente o bastante para atualizar a obra de Moore trazendo o seu contexto para os anos 2000. Foi a última vez que as irmãs Wachowski conseguiram produzir um blockbuster que trazia um forte teor político e mensagens tematicamente ambiciosas sem deixar de agradar àqueles que buscavam um entretenimento eficiente. Para completar, é admirável que as cineastas tenham tido a coragem de lançar, em plena Era Bush, um filme onde o herói batia de frente com um governo que se aproveitava do medo despertado na população.

2. SPEED RACER (2008)

Este é, sem dúvida alguma, um dos filmes mais injustiçados dos anos 2000. Ambientado num universo surreal que frequentemente parece abraçar a psicodelia (o que acaba combinando com a ideia de carros saltitantes que se batem enquanto correm em pistas fisicamente absurdas), Speed Racer é um experimento ambicioso e inquieto que envolve forma, estilo e linguagem cinematográficas, conseguindo a proeza de realizar um desenho animado live-action. O que as irmãs Wachowski fizeram aqui é a tridimensionalização perfeita das animações 2D, mantendo tradições clássicas deste tipo de material, respeitando diversas características visuais do anime e sabendo adaptar o que era necessário. E se a trilha sonora de Michael Giacchino é um espetáculo à parte, a montagem de Roger Bartn e Zach Staenberg quebra convenções típicas de grandes blockbusters (com direito a flashbacks que se intercalam às cenas de ação a fim de complementá-las, flashfowards que mostram os planos do vilão agilizando o ritmo da aventura e vários momentos onde recortes dos personagens atravessam a tela como se fossem bidimensionais). Tudo isso está a serviço de uma história sensível que fala sobre o afeto entre familiares, a necessidade de correr atrás de sonhos e o perigo das grandes corporações.

1. MATRIX (1999)

Até parece que teríamos uma surpresa aqui… Inspirado numa série de materiais variados que incluíam o “Mito da Caverna”, a “Jornada do Herói”, NeuromancerOs InvisíveisGhost in the Shell e uma infinidade de outras fontes, Matrix foi um fenômeno que mudou Hollywood para sempre: não é todo dia que encontramos um blockbuster tão disposto a discutir ideias e conceitos da Filosofia, trazendo um sujeito que descobre uma nova realidade e luta contra um sistema que se mantém no poder promovendo ilusões. Além disso, Matrix também funciona perfeitamente como um entretenimento de altíssima qualidade – e se a parte “cerebral” do longa é digna de aplausos, o mesmo pode ser dito a respeito das revolucionárias sequências de ação (que permanecem impressionantes até os dias atuais) e do estilo cool que estabeleceu padrões seguidos ao longo da década seguinte (quem não se lembra daquelas roupas de couro preto e daquela fotografia esverdeada?). Já se passaram quase 20 anos, mas esta continua sendo a obra-prima de Lana e Lilly Wachowski.

Redação Bastidores

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