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No Brasil, Harlem Globetrotters comprovam que a magia do time nunca vai acabar

Não é por menos que o Harlem Globetrotters recebe a alcunha de “o time de basquete mais famoso do mundo”. Nascido em 1926, o time quase centenário ganhou destaque ao longo dos anos por conta de uma peculiaridade que o destacava dos demais: as apresentações cômicas com proezas esportivas durante os intervalos dos jogos oficiais.

Porém, o que moldaria o time e sua proposta como ela é hoje foi a fundação e consolidação da NBA nos anos 1950. Preferindo ser independente da liga, a companhia decidiu seguir uma linha completamente distinta: partir em turnês mundiais para entregar partidas de basquete com a veia cômica dos intervalos.

Rapidamente, os Globetrotters que já eram famosos e queridos, alcançaram um nicho artístico a ponto dos espectadores tratarem das apresentações como verdadeiros espetáculos. Porém, no começo, muita gente ficava confusa com o formato, pois, até hoje, a apresentação constitui de um jogo de basquete entre os Globetrotters e um time convidado enquanto realizam diversas esquetes ao longo da partida.

Gingado anacrônico

Novamente em turnê no Brasil, o Harlem Globetrotters já terminou suas apresentações em São Paulo em 2017, mas continuarão no país viajando para Belo Horizonte (05/10) e Rio de Janeiro (06 e 07/10) antes de partir novamente para os Estados Unidos.

Porém, no que se refere a última apresentação do time no Ginásio do Ibirapuera no primeiro dia de outubro, há muitos elogios a serem feitos. Assim como boa parte da audiência nas primeiras apresentações nos anos 1950, também fiquei confuso com a premissa do grupo que, admito, não era nem um pouco familiarizado.

Esperava apenas um show de proezas e não uma partida de basquete bastante alterada para o nosso divertimento. E é justamente isso que torna a experiência de ver os Globetrotters em ação tão atrativa e mágica: a natureza desse humor e da proposta do entretenimento.

Apesar da proposta do espetáculo misto não envelhecer, há um ar anacrônico na apresentação do grupo. O humor que os jogadores-comediantes utilizam é tão antigo quanto o próprio Globetrotters: há uma presença massiva da comédia que alçou Os Três Patetas para o estrelato que acabou influenciando diversos outros grupos como Os Trapalhões aqui no Brasil, por exemplo.

São esquetes que trabalham o mais ingênuo da comédia slapstick misturada com perfeição à dinâmica do esporte e seus improvisos com proezas incríveis com a bola. Piadas com a cesta, as linhas da quadra, as incríveis jogadas ensaiadas e constantemente com a figura do juiz se fazem presentes interrompendo graciosamente o andamento da partida mais “profissional e comportada”.

Os jogadores usam e abusam de técnicas de clown e circenses para provocar um riso tão inocente que contagiou ferrenhamente as crianças presentes no Ginásio. Aliás, esse é um dos pontos mais interessantes do grupo: o fluxo intenso de interação com o público com brincadeiras sempre confortáveis pelo tom ingênuo e pueril. Obviamente, o alvo preferido são as crianças que trazem ainda mais risos pela espontaneidade imprevisível de suas reações com os jogadores.

A presença da música encorpa ainda mais o espetáculo, pois seu uso não é banal. Cada faixa da soundtrack é meticulosamente pensada para potencializar a gag que os jogadores preparam com timing perfeito. Para sacar algumas, realmente é necessário entender o básico do inglês. Apesar dos esforços do protagonista capitão do time, o jogador número 12 (Ant Atkinson – que também incorpora o melhor do humor camp que a equipe arrisca às vezes), em falar diversas palavras e piadas em português, às vezes se faz necessária a presença de uma tradutora (nem tão carismática quanto o resto da equipe) para que toda a plateia entenda um desafio ou proposta.

Nessa apresentação no Brasil, há, inclusive, uma narrativa manjada, mas eficiente, para engajar o público, além da eficiência das piadas. Nota-se claramente que a rivalidade artificial construída entre os Globetrotters e o time convidado bebe da fonte de Space Jam, clássico filme dos anos 1990 com Michael Jordan, um dos maiores astros do basquete.

Mesmo não sendo o prato principal e bastante simples, a narrativa funciona e rende boas esquetes com as travessuras que cada equipe comete com a outra tornando a dinâmica do jogo realmente única, pois nada ali é realmente sério. Os 4 períodos do jogo são constantemente interrompidos para que as piadas surjam, além de participações pontuais hilárias dos mascotes do time: Globie e Big G.

Fazendo jus à fama

Não existe lugar para encaixar críticas envolvendo a performance dos carismáticos atletas do Harlem Globetrotters. Mesmo não entregando um número final, os jogadores se dispõem a ficar por mais de meia hora em quadra atendendo praticamente todos os visitantes que desejam autógrafos ou fotos com seus ídolos. Porém, é bom deixar registrado que é preciso aperfeiçoar o microfone de outros participantes de esquetes que envolvem comédia de texto como as do juiz.

O som abafado e malcuidado tornava as falas do artista completamente incompreensíveis, mesmo que isso gere o efeito cômico desejado pelas reações bem-humoradas de Ant Atkinson.

Porém, isso é apenas um mero detalhe que não chega perto de nublar o brilhantismo cômico tão puro e encantador fornecido na partida. Friso aqui que o contato que eles oferecem com as crianças é algo realmente transformador. Nada mais belo que uma vida inspirada pelo esporte ainda na infância.

Com os jogadores ainda em turnê no Brasil, recomendo o espetáculo com toda a certeza. Diante de tantos problemas na vida e fora do microcosmo cotidiano, os Harlem Globetrotters chegam com a solução perfeita para deixar a vida mais leve. Agora já posso me declarar fã.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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