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Oscar 2018: Um Especial Bastidores | Volume III | Sons & Música

Sejam bem-vindos à terceira parte do especial do Bastidores sobre o Oscar 2018!

Assim como nos volumes anteriores, analisaremos cada candidato das respectivas categorias, desta centrando-se na complicada arte da sonoplastia – um assunto que nem mesmo os votantes da Academia entendem muito bem, mas fizemos o nosso melhor para tornar o assunto claro e compreensível para todos.

Melhor Edição de Som

O som é uma enorme influência na atenção das pessoas – Walter Murch

Blade Runner 2049

 Mark Mangini e Theo Green

Os filmes de Denis Villeneuve sempre são requintados quando o assunto é som, não por tanto, o trabalho anterior do diretor (A Chegada) acabou premiado nesta categoria no ano passado. Para encarar o mundo futurista e cyberpunk de Blade Runner 2049, os sonoplastas Mark Mangini e Theo Green oferece uma abordagem bem naturalista e nítida: notem no som claro e vívido da panela com água borbulhando durante o diálogo entre K e Sapper Morton na primeira cena. Ainda temos o design criativo dos Spinners, dos inúmeros dispositivos digitais daquele universo (portas, mecanismos, os hologramas de Joi) e o poderoso canhão de mão de K, que ganha um tratamento memorável graças a seu som elevado, captado de um rifle sniper. Nunca soa como algo que já ouvimos, e

Dunkirk

Alex Gibson e Richard King

Dizem que quanto mais alto é um filme, maior suas chances de faturar o Oscar nesta categoria. Bem, novamente Richard King (ao lado de Alex Gibson) entrega um trabalho digno da grandiloquência de Christopher Nolan, agora usando seu domínio do som para colocar o espectador dentro da evacuação da praia de Dunkirk. Logo na primeiríssima cena, quando somos pego de surpresa pelos barulhos assustadores de tiros, que parecem mais naturais e não muito “hollywoodianos”, já sentimos que King e Gibson estão atrás de uma abordagem mais realista e impactante. Explosões, torpoedos, as ondas do mar e o motor assustador dos aviões alemães são outros elementos que merecem destaque, com a experiência de se assistir Dunkirk em um cinema apropriadamente equipado sendo uma das melhores que o espectador pode ter – e a edição de som é um dos grandes responsáveis por tal feito.

Em Ritmo de Fuga

Julian Slater

Este é um filme que simplesmente depende de seu trabalho sonoro para funcionar, ainda que o grande mérito esteja mais relacionado com a categoria de mixagem. Dito isso, a edição sonora de Em Ritmo de Fuga acerta em todos os elementos que poderíamos esperar de um filme de ação heist: tiros, explosões, motores de carro potentes e batidas. O fato de o protagonista ter o hobby de gravar conversas e criar remixes em cima também rende um trabalho divertido por parte de Julian Slater, que edita e modifica peças de diálogo para criar um rap eletrônico. Um trabalho muito eficiente, mas o ouro está logo a vir.

A Forma da Água

Nathan Robitaille e Nelson Ferreira

Se há um elemento que os sonoplastas adoram reconhecer nas indicações desta categoria, ele é água. E com o novo filme de Guillermo Del Toro sendo justamente sobre o romance entre uma mulher muda e uma criatura marinha, já era de se esperar que ele figurasse aqui. É um trabalho competente, com os sons da criatura anfíbia – especialmente sua habilidade especial em relação ao tato – rendendo o aspecto mais criativo de Nathan Robitaille e Nelson Ferreira. Vale destacar também as sequências situadas embaixo da água, sempre um inferno de captação e que requerem muito trabalho de ADR na pós-produção, algo que A Forma da Água realiza bem. Porém, não acho um trabalho digno de indicação.

Star Wars: Os Últimos Jedi

Ren Klyce e Matthew Wood

Star Wars é sempre sinônimo de sons inesquecíveis, e o veterano da franquia Matthew Wood (que também emprestou sua voz ao General Grievous) tem ao seu lado um dos melhores e mais criativos sonoplastas da atualidade: Ren Klyce, responsável pelo trabalho sonoro nos últimos filmes de David Fincher. Em Os Últimos Jedi, novamente somos apresentados a novos mundos, veículos e personagens, cada um rendendo uma identidade sonora marcante. Por exemplo, o motor tranquinado dos Ski Speeders durante a batalha no planeta de Crait, o dialeto alienígena das diferentes espécies no cassino de Canto Bight e as poderosas armas dos Guardas Pretorianos do Líder Supremo Snoke, estes últimos rendendo um trabalho de gênio pela forma como bloqueiam os sabres de Luz de Rey, levando Klyce e Wood a experimentar variações sonoras nunca antes ouvidas para a arma dos Jedi. Além disso, é um dos filmes com maior número de elementos na mesma batalha, rendendo uma paisagem sonora incrível durante as cenas espaciais.

Aposta: Dunkirk

Voto do Bastidores: Dunkirk

Esnobado: Mãe!

Melhor Mixagem de Som

Mixagem não é ciência de foguete. Eu diria que está mais próximo do voodoo – Dave Rat

Blade Runner 2049

Mac Ruth, Ron Bartlett e Doug Hephill

Atmosfera é um dos fatores mais importantes de Blade Runner, e a mixagem sonora do filme de Denis Villeneuve desempenha um papel essencial para que essa atmosfera seja criada. Com tons musicais que emulam a trilha de Vangelis para o original, o som diegético se mistura com o não-diegético, ao passo que os tons mais eletrônicos (com toques de música clássica), por vezes, escondem-se em meados aos efeitos sonoros, sejam eles os de carros voadores, ou os de tiros, ou das ruas da Los Angeles de 2049. Mais que isso, os muitos momentos de silêncio da obra são frequentemente interrompidos pela estrondosa trilha, volume elevado que funciona para garantir o tom de urgência de determinadas sequências. No fim, o que ganhamos é um mergulho nesse universo cyberpunk, que se coloca em pé de igualdade com o primeiro filme.

Dunkirk

Mark Weingarten, Gregg Landaker e Gary A. Rizzo

Se cada camada de som de Dunkirk já é ensurdecedora, imaginem a paisagem sonora completa feita pelo time de mixadores. Todos se lembram da polêmica de Interestelar, onde Nolan deliberadamente deixou a música de Hans Zimmer mais alta para ofuscar diálogos, algo que acontece de forma mais discreta aqui – a ausência de diálogos possibilita tal feito. A trilha de Zimmer traz um constante tique-tac de relógio que sempre demarca o fator urgente da evacuação, e a forma como este se manifesta durante as diferentes sequências de ação só as tornam mais desesperadoras, e outros elementos musicais da trilha também mesclam-se com os efeitos sonoros, especialmente durante as cenas de bombardeio e o resgate na água coberto de óleo, onde a orquestra de Zimmer assemelha-se à de um alarme ecoando. Mais imersivo do que o que sentimos aqui, impossível.

Em Ritmo de Fuga

Mary H. Ellis, Julian Slater e Tim Cavagin

Agora sim. Em Todo Mundo Quase Morto, já havíamos visto como Edgar Wright era capaz de sincronizar uma cena de ação com uma música pop de fundo, e o diretor leva esse conceito para Em Ritmo de Fuga, que acaba usando essa tática musical durante praticamente toda a sua duração. Cada corte, movimento e ação acaba com algum trecho de uma música em fundo, o que é um trabalho de mixagem que merece ser aplaudido de pé. As sequências envolvendo “Tequila” e “Hocus Pocus”, em especial, são sensacionais da forma como sincronizam os sons de tiros, metralhadoras, e corpos caindo no chão com as batidas diferentes de ambas as músicas. Ainda sobre a natureza do protagonista, Baby tem um zunido que constantemente interfere em sua audição, e podemos ouvi-lo discretamente nas cenas sem a presença de música. Um trabalho excepcional, e digno da vitória.

A Forma da Água

Glen Gauthier, Christian Cooke e Brad Zoern

Embora não seja um musical, A Forma da Água certamente presta homenagem à Hollywood clássica, com aspectos claramente inspirados no all singing, all dancing. Explorando todo o romantismo da obra, a trilha de Desplat desempenha um papel essencial, garantindo o toque fantasioso, muitas vezes até nos fazendo esquecer das raízes mais sombrias do diretor. A mixagem de som do longa, pois, segue essa via mais musical, buscando sempre trazer uma melodia de fundo, não em volume elevado como é o caso de Dunkirk, mas criando aquele acompanhamento constante, que muitas vezes se torna o único som presente em cena. Claro que devemos levar em conta toda a construção vocal da criatura, que fala por si só, ecoando, à princípio, nos ambientes para, depois, atingir uma escala menor, mais “humana”, permitindo, assim, que toda a relação entre os dois seja vista com um pouco mais de naturalidade, ponto que, claro, é apoiado pela já mencionada trilha sonora.

Star Wars: Os Últimos Jedi

Stuart Wilson, Ren Klyce, David Parker e Michael Semanick

Ren Klyce também está indicado pela mixagem de Os Últimos Jedi, ao lado de um time impecável que inclui Stuart Wilson, David Parker e o sempre indicado Michael Semanick. Comentei no setor de edição sonora que o Episódio VIII é um dos filmes com maior número de elementos diversos nas cenas de batalha, e logo na abertura, durante a evacuação de D’Quar, já temos um trabalho de mixagem notável com a quantidade de caças, veículos e cruzadores espaciais, contando também com as vozes de Poe Dameron no cockpit e a General Leia em seu comunicador. Porém, o que chama mais atenção na mixagem do filme, é justamente quando a equipe aposta no menos: o momento em que Poe testemunha a explosão da frota de bombardeios tem a paisagem sonora isolada – mantendo apenas a trilha sonora de John Williams -, todas as conexões de Kylo Ren e Rey ganham uma sutil diminuição dos sons ao seu redor antes do diálogo começar, e talvez o mais memorável de todos seja quando a Almirante Holdo lança seu cruzador contra a frota da Primeira Ordem, rendendo um raro momento de silêncio em Star Wars. Menos pode ser mais, e a mixagem de Os Últimos Jedi acerta em cheio nisso.

Aposta: Dunkirk

Voto do Bastidores: Dunkirk

Esnobado: The Post: A Guerra Secreta

Melhor Trilha Sonora

A trilha é o elo de comunicação entre a tela e a plateia, saindo pra fora e envolvendo todos em uma única experiência – Bernard Herrmann

Dunkirk

Trilha original composta por Hans Zimmer

Quando Hans Zimmer e Christopher Nolan trabalham juntos, é sempre garantia de um resultado especial. Já haviam explodido as caixas de som com A Origem, tirado a poeira de grandes órgãos de igreja com Interestelar, e agora criam algumas das peças musicais mais intensas e perturbadoras dos últimos tempos. Passando pelo terror, pelo drama e pelo espetáculo de ação, a música de Dunkirk é praticamente um personagem, com o tic tac de um relógio acelerado acompanhando a maioria das faixas, e provocando a imersão definitiva nessa história incrível. Além disso, a faixa Variation 15, que contou com autoria de Benjamin Wallfisch, é de uma beleza incomparável.

Histórico de Indicações

  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Interestelar, em 2015
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por  A Origem, em 2011
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Sherlock Holmes, em 2010
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Gladiador, em 2001
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora de Comédia (com Stephen Schwartz) por O Príncipe do Egito e Melhor Trilha Sonora Dramática por Além da Linha Vermelha, em 1999
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Melhor é Impossível, em 1998
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Um Anjo em Minha Vida, em 1997
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Rain Man, em 1989

A Forma da Água

Trilha original composta por Alexandre Desplat

Favorito absoluto da categoria, Alexandre Desplat injustamente vai faturar seu segundo Oscar. Por mais que seja uma trilha com momentos belos e um refinamento notável, são acordes clichês e que remetem demais a outros trabalhos, algo que ironicamente mostra-se típico de A Forma da Água, uma grande miscelânea de referencias e “homenagens”. Nesse quesito, a música de Desplat parece uma versão reciclada daquela vista em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain, com inexplicáveis instrumentos franceses tomando conta da partitura principal (mesmo que a Franca nao tenha a menor participação na narrativa). Pior ainda e o tema principal, que aposta em uma rendição mais “fabulesca” e esquisita de uma flauta, soando como uma versão perturbada de Bob Esponja. Vai ser uma vitória difícil de engolir.

Histórico de Indicações

Venceu como Melhor Trilha Sonora por O Grande Hotel Budapeste, e indicado por O Jogo da Imitação, em 2015

Indicado como Melhor Trilha Sonora por Philomena, em 2014

Indicado como Melhor Trilha Sonora por Argo, em 2013

Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Discurso do Rei, em 2011

Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Fantástico Sr. Raposo, em 2010

Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Curioso Caso de Benjamin Button, em 2009

Indicado como Melhor Trilha Sonora por A Rainha, em 2006

Star Wars: Os Últimos Jedi

Trilha original composta por John Williams

Já esperava que John Williams fosse figurar no Oscar, mas fiquei positivamente surpreso ao descobrir que sua 51ª indicação se deu não por The Post: A Guerra Secreta, mas por Os Últimos Jedi. Williams e Star Wars  sempre representa uma combinação perfeita, e no caso do Episódio VIII, o resultado foi ainda mais satisfatório do que aquele visto com O Despertar da Força. Fazendo bom uso dos temas clássicos e daqueles desenvolvidos no filme de J.J. Abrams, a música de Os Últimos Jedi é maravilhosa, abraçando o épico, a diversão e também a escuridão que permeia seus personagens, além de apresentar novos temas com potencial para tornarem-se icônicos, desde a variação do jazz da cantina temperado com uma rendição discreta de Aquarela do Brasil para Canto Bight, até um tema mais trágico e místico para Luke Skywalker. Um mestre nunca é superado.

Histórico de Indicações

  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por A Menina que Roubava Livros, em 2014
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Lincoln, em 2013
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por As Aventuras de Tintim e Cavalo de Guerra, em 2012
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Munique e Memórias de uma Gueixa, em 2006
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Prenda-me se for Capaz, em 2003
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Patriota, em 2001
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por As Cinzas de Ângelo, em 2000
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática por O Resgate do Soldado Ryan, em 1999
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática por Amistad, em 1998
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática por Sleepers – A Vingança Adormecida, em 1997
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática por Nixon, Melhor Trilha Sonora de Comédia e Melhor Canção Original (com Alan Bergman e Marilyn Bergman) por Sabrina, em 1996
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por JFK: A Pergunta que Não quer Calar e Melhor Canção Original (com Leslie Bricusse) por Hook: A Volta do Capitão Gancho, em 1992
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora e Melhor Canção Original (com Leslie Bricusse) por Esqueceram de Mim, em 1991
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Nascido em 4 de Julho e Indiana Jones e a Última Cruzada, em 1990
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Turista Acidental, em 1989
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por As Bruxas de Eastwick e Império do Sol, em 1988
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Indiana Jones e o Templo da Perdição e O Rio do Desespero, em 1985
  • Venceu como Melhor Trilha Sonora por E.T. – O Extraterrestre, e indicado como Melhor Canção Original (com Alan Bergman e Marilyn Bergman) por Uma Voz para Milhões, em 1983
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Os Caçadores da Arca Perdida, em 1982
  • Venceu como Melhor Trilha Sonora Dramática por Tubarão, em 1976
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Inferno na Torre, em 1975
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática e Melhor Canção Original (com Paul Williams) por Licença para Amar até a Meia-Noite, e Melhor Trilha Sonora, Canção ou Adaptação (com Richard M. Sherman e Robert B. Sherman) por As Aventuras de Tom Sawyer, em 1974
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora Dramática por O Destino do Poseidon e Imagens, em 1973
  • Venceu como Melhor Trilha Sonora por Um Violinista no Telhado, em 1972
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora para Filme Não Musical por Os Rebeldes e Melhor Trilha Sonora Original ou Adaptada (com Leslie Bricusse) por Adeus, Mr. Chips, em 1970
  • Indicado como Melhor Trilha Sonora por O Vale das Bonecas, em 1968

Trama Fantasma

Trilha original composta por Jonny Greenwood

Um dos aspectos mais memoráveis e fortes de Trama Fantasma é a trilha de Jonny Greenwood, finalmente lembrado pela Academia. Colaborador leal de PTA desde Sangue Negro, o guitarrista do Radiohead oferece seu trabalho mais “convencional” para a saga dos Woodcock. Se antes Greenwood apostava no abstrato e minimalismo, servindo à proposta daquelas obras, aqui ele adota um lado bem mais clássico e erudita, com uso predominante de piano e violino. Mais do que belas melodias pontuais, o trabalho de Greenwood acompanha praticamente todas as cenas da projeção, sendo um filme inteiramente movido a música, e que acentua com perfeição os pontos de virada e momentos chave da narrativa, no melhor estilo do cinemão clássico. Se não funciona isoladamente, fornece o ritmo apropriado para a história, além de corroborar a delicadeza de seu protagonista.

Três Anúncios para um Crime

Trilha original composta por Carter Burwell

Chega a ser assustador o fato de que esta seja apenas a segunda indicação de Carter Burwell ao Oscar, lembrado aqui por sua discreta musica para a saga de Mildred Hayes e seus billboards titulares de Três Anúncios para um Crime. É um tema que se repete ao longo da narrativa, sem muitas inovações em sua melodia, mas um que definitivamente cumpre seu papel: fornece o tom de thriller caipira ideal, com o banjo e a guitarra servindo como um perfeito identificador regionalístico, servindo também para ditar a atmosfera das cenas mais intensas – especialmente quando Mildred precisa apagar um incêndio -, e também os momentos de humor. Um ótimo trabalho de Burwell, que urgentemente precisa de mais reconhecimento na indústria.

Histórico de Indicações

      • Indicado como Melhor Trilha Sonora por Carol, em 2016

Aposta: A Forma da Água

Voto do Bastidores: Dunkirk

Esnobado: Blade Runner 2049

Melhor Canção Original

Mighty River

Música e letra de Mary J. Blige, Raphael Saadiq e Taura Stinson para Mudbound: Lágrimas Sobre o Mississipi

Ainda que Mudbound seja uma ode à esperança e a música escrita e cantada por Mary J. Blige converse diretamente com essa estética mais realista-otimista, não podemos deixar de encarar Mighty River como uma cópia de qualquer outra canção gospel que louve e abra margens para que seus ouvintes consigam absorver as claras mensagens de um futuro próspero. Seguindo um padrão já conhecido, tudo inicia-se com o suave som do piano, que gradativamente dá espaço para uma leve percussão e a entrada do aguardado backing coro, servindo como respaldo para a poderosa voz de Blige, a qual usa e abusa de sua tecedura em uma rendição emocionante, ainda que clichê. Entretanto, talvez o que peque mais seja a autoexplicação de sua letra, que é arquitetada em detrimento de metáforas e acaba levando seu título ao pé da letra.

The Mystery of Love

Música e letra de Sufjan Stevens, para Me Chame pelo Seu Nome

Me Chame Pelo Seu Nome é uma obra sensível, ainda que peque no excesso de otimismo em relação aos arcos de seus personagens. E para um escopo tão agradável e meticulosamente bem pensado, não é nenhuma surpresa que os vocais e a incrível habilidade de Sufjan Stevens tenham sido escolhidos para compor o que se pode entender como uma declaração de amor ao próprio romance. Todo o escopo tétrico trilha um caminho em crescendo que utiliza-se muito bem do violão, do teclado e de um leve sintetizador de voz para tornar a faixa clássica e moderna ao mesmo tempo – e isso sem falar da poderosa letra também composta por Stevens e que tenta arranjar uma explicação para o ato de se apaixonar, levando o público ao estado de catarse inegável e envolvente.

Remember Me

Música e letra de Kristen Anderson-Lopez e Robert Lopez para Viva: A Vida é uma Festa

O estopim catártico de Viva vem com Remember Me. Apesar de ser uma canção utilizada por diversas vezes no longa, os realizadores tem uma noção narrativa fantástica para mudar o sentido da música a cada vez que ela surge. Indo de hit musical dançante para uma melodia fantástica de amor e carinho, será muito difícil não ver essa canção arrebatar esse precioso Oscar para a Pixar que sempre capricha nas canções originais para seus filmes. Por ter essa função dramática tremenda, a música é muito mais do que apenas um tremendo trabalho de composição, letra e arranjo. 

https://www.youtube.com/watch?v=2Klrg3F_oq0

Stand Up for Something

Música de Diane Warren, Letra de Lonnie R. Lynn e Diane Warren para Marshall

Diane WarrenLonnie R. Lynn encontram um grande espaço para trabalharem a sua amálgama entre pop e R&B em Stand Up for Something, uma das pequenas pérolas que se perderam nas premiações desse ano. Toda a construção conversa com as composições clássicas que nos relembram até mesmo do blues tão lindamente cantado por Amy Winehouse em sua discografia, ou ao aventurar-se para um classicismo do jazz de Aretha Franklin em alguns momentos pontuais (principalmente para mostrar a potência vocal da cantora Andra Day). Talvez um dos pontos a desejarem aqui seja a entrada do rapper Common para a composição, cuja investida se mostra saturada e destoante do restante da música.

This is Me

Música e letra de Benj Pasek e Justin Paul, para O Rei do Show

This is Me é sem sombra de dúvida uma música de grande importância para a autoaceitação e o enfrentamento de constantes obstáculos enfrentados por aqueles que não se encaixam nos padrões sociais. Liderado pela poderosa voz de Lettie Lutz, o equívoco principal, entretanto, reside justamente em sua macro-arquitetura, pendendo drasticamente às clichês composições do pop contemporâneo, incluindo o lento início, o refrão animado e perscrutado por segundas e terceiras vozes, e até mesmo os aguardados breaks que marcam claramente as viradas. Benj PasekJustin Paul eventualmente não criam nada novo, mas sim misturam diversas músicas já existentes para entregar mais do mesmo em um filme que também não traz muita ousadia.

Aposta: Remember Me

Voto do Bastidores: The Mystery of Love

Esnobado: The Greatest Show

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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