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Permanecer Vivo: Um Método | Crítica

Uma relação inusitada: Iggy Pop, o roqueiro americano, e Michel Houellebecq, escritor francês, famoso autor de Submissão. O primeiro se encanta por um ensaio chamado Rester Vivant: méthode, de autoria do segundo. Partindo dessa premissa, o diretor holandês Erik Lieshout, em parceria com Arno Hagers e Reinier van Brummelen, imagina fazer um filme-documentário sobre o sofrimento humano, a poesia, vendo a arte como uma forma de “permanecer vivo”, seja expulsando ou, pelo menos, tomando consciência dos seus demônios. Se já não parece muito empolgante em forma de ideia, o produto real também está longe de ser empolgante.

Permanecendo Vivo: Um Método é um longa completamente afetado em sua construção. Segue a estética dos filtros de Instagram, ora saturando muito as cores, ora acinzentando a fotografia de acordo com o que mais convém, iluminando a esperança ou firmando a tristeza, sem perder o ar melancólico e pretensamente alternativo – beleza artificial. O documentário alterna entre depoimentos das figuras famosas supracitadas (Houellebecq sob um disfarce) e outros de cidadãos comuns, que ou cultivam uma produção artística pessoal, ou têm muita fé, mas detentores, enfim, de histórias sobre permanecer vivo. Mas nem Iggy Pop, nem Michel Houellebecq, nem qualquer outro personagem do filme precisaria disso para transmitir sua mensagem. Mesmo que parta de um texto, o documentário está longe de ser um filme que valoriza a palavra.

Houellebecq argumenta que o poeta deve voltar à origem, isto é, ao sofrimento. Exemplos práticos que o autor dá são encenados e inseridos no filme de tempos em tempos. “Aprender a ser poeta é desaprender a viver”. Vê-se que as ideias do texto inspiram uma sensibilidade, procuram afastar a ideia de suicídio (“Imagine se Baudelaire tivesse conseguido se matar…” ou “Um poeta morto não escreve”), impulsiona uma relação entre frustração e dor como produto para a poesia. O que parece, porém, a maior falácia, e que tira o filme de uma linha minimamente interessante, é de que esses processo poético vem naturalmente. A última fala do filme é justamente “Poetas, ataquem!”, dita por Iggy Pop com uma mão levantada, enquanto é acompanhado pelos outros personagens do documentário. Tendo em mãos o texto original, que já não é dos melhores, é possível perceber que a passagem para as telonas foi o golpe fatal para diminuir a importância e certo vigor.

No confronto entre as estéticas literária e cinematográfica, o que há de sensível em cada uma delas não consegue se destacar. As imagens que dizem pouco (afoitas pelo contraste, pela luz, pelas cores) deixam as palavras em segundo plano. O real e o ficcional – na forma disfarçada de Houellebecq – apenas se cumprimentam. Essa guerra que o filme deveria abarcar e discutir fica só como mais uma pitada estetizante do que bem uma interrogação, mesmo que inconclusiva. O espectador pode fazer uma força e se inspirar em alguns momentos de arte manifesta (música, leitura de poesia, pintura…), mas essa tentativa de conciliar a vida e a arte, fazendo uma adaptação de um ensaio, a partir de pontos tangíveis e universais, fica no cinema tola demais.

Permanecer Vivo: Um Método (To Stay Alive: A Method, Holanda – 2017)

Direção: Erik LieshoutArno Hagers e Reinier van Brummelen
Gênero: Documentário
Duração: 70 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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