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Quem é Quem? | O Final de Cam Explicado

Com Spoilers

A netflix em parceria com a Blumhouse fez um dos filmes de terror mais complexo dos últimos anos. Se a ideia era fazer algo irracional e sem lógica alcançaram o objetivo com sucesso. A ideia do diretor era a de não dar nenhuma brecha para que se pudesse chegar ao final e cravar o que realmente se passou com a protagonista, se ela estava louca ou se tudo aquilo foi feito por alguém. Tudo foi construído como uma bela metáfora e representação da realidade. Aqui iremos divagar a respeito de todas as passagens do filme e seu final.

A Fama a Qualquer Preço

Lola (Madeline Brewer) não trabalha como camgirl apenas com o intuito de ganhar dinheiro, há também um sentimento narcisista nela em relação a ser popular, algo comum se levar em conta que quase todos que trabalham com a internet, consciente ou inconscientemente, tem esse sentimento de em algum momento chegar a fama. Tanto que no serviço de vídeo em que ela grava seus programas tem um ranking que funciona 24 horas por dia. Esse ranking meio que causa uma euforia na protagonista e tem a meta de ficar entre as 50 primeiras colocadas e assim continuar subindo no ranking sucessivamente. Para conseguir essa fama é necessário ficar na internet quase que tempo integral, seja pelas redes sociais ou pelo próprio programa que faz em sua casa para um público cativo. Há um momento no filme em que Lola comenta com sua amiga, logo após acabar um de seus shows, que precisava voltar pois as concorrentes ainda estavam online, e em outro momento volta a dizer que precisaria ficar 24 horas para assim se manter ou conseguir subir nesse ranking. Esse ranking mede a popularidade das garotas, além de trazer uma grande recompensa financeira. 

A Violência Em Troca de Audiência

A violência tem um papel central na trama e também tem muito a ver com a questão de ser famoso. A protagonista ao almejar subir no ranking faz de tudo para engajar seu público, só que uma hora a audiência começa a ficar enjoada dos quadros – algo comum em termos comportamentais – eis que Lola começa a praticar atos de violência explícita, que mesmo sendo fakes deveriam chocar, mas acontece o efeito contrário e seu público ama suas insinuações de mortes, uma delas mostrada no filme é a da facada no pescoço. Mas não é o único ato de violência que faz com que se chegue a essa conclusão da violência como espetáculo. A clone de Lola, em um momento pega uma arma e atira na própria cabeça durante um dos seus atos e novamente o público vai ao delírio. Óbvio que o tiro foi encenado, mas esse fetiche da violência, queira ou não, traz uma audiência para Lola e ela consegue subir mais rápido no ranking a partir do momento que se aprofunda mais nesses números. E ainda há a cena do nariz quebrado perto do fim, em que ela bate a cabeça na mesa para provar que a outra seria uma farsa. 

Perdendo a Essência

Lola em sua ânsia de ficar entre os melhores e pensando ficar 24 horas no ar começa a perder sua essência, sua personalidade. Nessa vida das redes sociais, não apenas Lola, mas qualquer outra pessoa que fique falando com seu público praticamente o dia inteiro acaba por criar um personagem, acaba se tornando alguém que não é na vida real. Tanto que a partir do momento em que o duplo de Lola começa a ficar online o dia inteiro a Lola real começa a ficar transtornada e há apenas um momento em que esse duplo deixa de ficar online que é quando a Lola real encontra com sua mãe. Lola ia pega o celular para mostrar a sua mãe que outra pessoa roubou sua identidade, mas eis que do nada a fake some. Isso quer dizer que ela estando em casa, com sua família está ali vivendo a vida real e está sendo ela mesma, não está mais sendo uma personagem. Uma clara mensagem de que só longe dessa vida da internet é que se consegue um sossego e deixa de ser outra pessoa. 

A Dupla Identidade

E esse é o real objetivo de Cam, tratar da perda da identidade na internet não apenas literalmente, mas metaforicamente, pois aquela outra Lola que aparece não é outra pessoa, e sim ela mesma. Lola queria por que queria ficar 24 horas por dia online e conseguiu, queria ficar famosa e querida pelo público e também conseguiu. Em um momento do filme, quando começa a investigar quem cometeu o possível crime de roubo de identidade dela acaba se deparando com o caso da Babygirl, uma garota que aparece nos vídeos com o seu duplo, mas que já está morta na vida real. Essa garota morta seria como se tivesse também perdido sua essência, é como se sua alma tivesse ficado presa na câmera e possivelmente foi a mesma coisa que aconteceu com Lola. Essa morte da Babygirl e as mortes fakes de Lola são na verdade a morte da personalidade delas, estão tão preocupadas em fazer espetáculo que não conseguem mais discernir o que é ou não real. Um pouco antes de Lola começar a ver que a sua clone, ela havia participado de um show com uma amiga em que as duas fazem uma competição sexual e a partir daí que tudo começa a ficar estranho. É como se a partir desse momento realmente sua neurose em ficar popular começasse a fazer efeito e a deixar com mais ambição em ser popular e ficar online em tempo integral, pois suas concorrentes faziam o mesmo e estavam a passando no ranking. 

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Publicado por Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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