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Análise | Crysis 3 – A Maldição dos Gráficos Espetaculares

“Legal, broto, mas seu PC roda Crysis?”. Quem nunca ouviu essa pergunta muito pertinente como um meme falado no fim dos anos 2000? Crysis saiu do nada e lançou a Crytek ao topo por conta dos gráficos que o game apresentava. Mesmo com jogabilidade irregular em sua dificuldade, Crysis era um exclusivo dos PCs que realmente comprovava que os consoles atrasavam o desenvolvimento dos games na época.

Crysis oferecia uma mecânica de mundo aberto nunca explorada antes em jogos de FPS, além de uma subversão de expectativas que forçava o jogador a se adaptar a regras totalmente diferentes das que eram impostas até então. Sendo muito elogiado pelo maravilhamento gráfico – acredite, o game é belo até hoje, a Crytek conseguiu se estabelecer no mercado chegando a ser comprada pela EA que investiu na franquia a expandindo para os consoles com as outras iterações que encerravam a trilogia.

Chegando em 2013, sem muito abalo ou apelo, Crysis 3 foi lançado terminando a odisseia de Prophet contra os alienígenas Ceph que reduziram a humanidade a pó. Aqui temos o ápice dessa pequena saga de história simples e explosiva.

A Última Vingança

Seguindo algum tempo depois dos eventos de Crysis 2 nos quais conseguimos colocar um “fim” à ameaça Ceph, o mundo ficou à deriva sem um protetor munido dos poderes do Nano-Suit. Com isso, a malévola organização Cell aproveitou a tecnologia alien para conquistar um suprimento infinito de energia, porém usando métodos perigosos. Com o mundo praticamente destruído por rebeliões contra a Cell, Nova Iorque já está irreconhecível.

A força rebelde principal consegue encontrar Prophet e seu nano-suit em um cargueiro Cell, conseguindo mudar a balança da guerra contra a Cell. Porém, a ameaça Ceph apenas está adormecida e voltará mais forte do que nunca.

O que difere bastante Crysis 3 dos outros é o grande foco narrativo como um blockbuster de ação, incluindo com set pieces fantásticas de destruição que conseguem oferecer divertimento puro ao jogador. O melhor é mesmo o trabalho com Prophet e Psycho, o último integrante da equipe original, mas agora destituído de seu traje superpoderoso.

Psycho garante bons momentos cômicos, mas também é um personagem repleto de drama, pois se sente apenas “humano”, agora mortal e frágil, um inútil contra uma guerra impossível. Além disso, seu romance com Claire, a líder da resistência, é bastante interessante por conta uma reviravolta realmente imprevisível e bastante impactante que experimentam os extremos da moralidade ética do jogador – uma pena não haver escolhas para mudar a narrativa.

Já com o protagonista, há um arco relativamente clichê e menos poderoso envolvendo o quanto de humanidade ainda resta nele, já que Prophet teve seu DNA fundido com os Ceph, além de utilizar o Nano-Suit em excesso. Esse arco fica somente na sugestão e na zona de segurança, pois é trabalhado rasteiramente, nunca havendo uma fase na qual o personagem fica possuído e traí seus amigos e soldados aliados. É bem básico, mas funciona na proposta do game.

As viradas, obviamente, sem maioria são previsíveis, incluindo o ressurgimento dos Ceph no meio do game que também não ganham muita profundidade além do já esperado como a ameaça total de aniquilação terrestre que sempre foram. Pouco é expandido em sua mitologia, incluindo o comportamento já esgotado de colmeia que diversas histórias utilizam para alienígenas.

Entretanto, por mais ok que seja essa narrativa, por algum motivo o jogador se sente investido em ver como a jornada conclui e isso talvez seja por conta da curta duração do game que mal chega as seis horas de campanha.

Selva de Pedra

É basicamente uma redundância afirmar que Crysis 3 é um jogo bonito. Mesmo depois de cinco anos de seu lançamento, o game ainda é belíssimo com efeitos gráficos complexos de iluminação e partículas, incluindo o uso de névoa e feixes de luz que deixam toda a atmosfera bastante densa e perigosa enquanto o jogador se aventura nessa Nova Iorque em ruínas.

Toda a topografia é alterada, com desníveis subterrâneos ou através de terrenos totalmente subjugados pela mata selvagem. O design pós-apocalíptico é um dos mais inspirados, apenas resguardando pouquíssimas peças tradicionais dos bairros que visitamos no game como Chinatown. Assim como no game anterior, Crysis 3 é um jogo linear com grandes áreas que permitem diversos caminhos para o jogador atingir o objetivo.

Por um lado, isso é bom pois oferece variedade, mas também permite que fujamos de quase todos os encontros com os inimigos. O game oferece uma pegada stealth que é muito conveniente para o jogador, afinal o arco e flecha mata os inimigos apenas com um tiro. Aliando isso com a habilidade de ficar invisível, praticamente é pouco encorajador se comportar de modo mais agressivo duranto todo o jogo, principalmente contra os Ceph que são inimigos que demoram para morrer na base do tiro.

Uma pena, porém, que o level design seja feito desse modo, pois os objetivos secundários que surgem no caminho acabam totalmente esnobados pela falta de incentivo de se arriscar mais no mapa. Aliás, uma constante em toda a franquia foi nunca saber dosar bem os poderes do Nano-Suit, pois eles duram pouco – até mesmo com o péssimo sistema da árvore de habilidades que Crysis 3 oferece.

Nisso, apesar de termos áreas relativamente grandes, como o game sofre com esse desbalanceamento até mesmo injusto, não é nada recompensador explorar os territórios criados com muito cuidado pelos artistas do jogo. Apesar disso, o gameplay é bastante prazeroso e eliminar os inimigos na furtividade para ver todos os outros soldados ficarem desesperados é algo que nunca cansa.

O jogo responde bem todos os comandos e oferece uma variedade grande de armas futuristas e alienígenas que causam efeitos contrários em humanos e aliens. Por exemplo, uma das minhas favoritas é a que emite uma vibração que faz os Ceph explodirem com pouca munição. É espetacular.

Aliás, espetacular mesmo é a trilha musical do game que simplesmente é memorável contando com três compositores diferentes que conseguem entregar um resultado tão bom quanto Hans Zimmer tinha feito com Crysis 2 que ainda deve ser o melhor game da trilogia.

Tiroteios no fim do mundo

Crysis 3 é uma conclusão boa para a franquia que nunca foi mesmo muito forte na narrativa e na jogabilidade, mais se assemelhando a uma demonstração tecnológica por um bom tempo. Hoje, finalmente a indústria alcançou o que a Crytek havia conquistado em termos gráficos em 2013, mas é uma pena que esses jogos sempre sejam lembrados mais por sua beleza visual do que realmente a diversão que eles oferecem.

No fim, Crysis é mesmo um ótimo manjar para os olhos, com jogabilidade divertida, mas prejudicada pelas escolhas mecânicas da própria equipe criativa. Simplesmente faltou pensar melhor na inteligência artificial em vez de caminhar na opção mais fácil que é limitar o diferencial da série: o bendito traje.

Pontos positivos: gráficos espetaculares até hoje, design artístico exemplar, variedade de cenários, adição do arco e flecha, trilha musical estupenda, gameplay divertido, boa narrativa.
Pontos negativos: campanha curta, desnível da dificuldade nos inimigos, sistema de aprimoramento de habilidades nada funcional, limitação do uso das habilidades do traje.

Crysis 3 (Idem, Alemanha, Reino Unido, Canadá – 2013)

Desenvolvedora: Crytek
Estúdio: EA
Plataformas: PS3, Xbox 360, PC
Gênero: FPS, Pós-apocalíptico.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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