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Análise | Spider-Man – Simplesmente Espetacular

Obs: há revelações leves da narrativa. Caso não queira saber nada da história, pule a seção ‘Reformando um ícone’.

É curioso o fato de como o Homem-Aranha foi maltratado durante anos em seus jogos virtuais. Mesmo sendo uma das maiores propriedades da Marvel, as licenças que estavam com a Activision em outras épocas, não rendiam grandes jogos. Alguns títulos interessantes como Spider-Man: Shattered Dimensions quebravam a rotina infame de games tie-ins de qualidade muito duvidosa.

A verdade é que desde o game inspirado em Homem-Aranha 2, os fãs do Cabeça-de-Teia ficaram de mãos abanando por um bom tempo. Felizmente, a Marvel repensou sua estratégia e notou que agora os games são uma das fontes mais rentáveis de lucro em entretenimento – isso se não for a maior.

Apostando alto, a Marvel e a Sony firmaram um acordo de exclusividade para lançar um game que fizesse jus à fama do herói mais querido da editora. Assim surgiu Spider-Man desenvolvido com muito, mas muito cuidado pela Insomniac. Simplesmente, desde já, é um dos títulos definitivos do Playstation 4 e obrigatório para todos os donos da plataforma.

Reformando um Ícone

Apesar da Marvel ser bastante corajosa nos caminhos que o Cabeça-de-Teia segue nos quadrinhos, há tempos que não vemos uma história realmente estupenda em outras mídias, principalmente no cinema na qual considero Homem-Aranha 2 o ápice narrativo que o personagem chegou. Porém, isso foi alterado. A Insomniac realmente conseguiu mudar a maré e trazer uma narrativa nada menos que fascinante que acerta praticamente tudo envolvendo o personagem.

No caso, a aventura começa com Peter Parker já assumindo os poderes e rotina do Homem-Aranha há oito anos. Torcendo por uma oportunidade para trazer o Rei do Crime, Wilson Fisk, para a cadeia, a sorte bate à porte do Aranha que consegue colocar o vilão atrás das grades bem no início do game. Porém, a conquista de derrubar o chefão do crime de Nova Iorque logo se revela um revés para o Aranha que passa a ter que enfrentar uma facção ainda pior que veio assumir o império caído: os Demônios.

Em questão de pouco tempo, Peter tem que dividir seu tempo visitando tia May no FEAST, centro comunitário de ajuda aos necessitados, investigar quem é o chefe dos Demônios, ajeitar sua relação com Mary Jane, além de trabalhar em um projeto revolucionário com Otto Octavius, seu mentor e chefe.

Como perceberam, tem algo muito curioso neste Spider-Man, afinal Otto Octavius não é Doctor Octopus ainda? Pois então, o game toma uma liberdade incrível para servir de história de origem para diversos personagens. E acredite, essas histórias são preparadas com muito zelo. Apesar de já consolidado por oito anos atuando como herói e já tendo conquistado a parceria da polícia através da capitã Yuri Watanabe – uma das aliadas do Aracnídeo no game, Peter ainda não chegou perto de viver as maiores aventuras de sua vida.

Alguns vilões menos importantes já desafiaram Peter como Shocker, Abutre, Scorpion, Lagarto, Electro e Rhino, mas os mais perigosos ainda estão para chegar. A Insomniac acerta em cheio ao focar a narrativa para desenvolver os principais vilões da obra: Sr. Negativo e Otto Octavius. Os outros adversários no rol de vilões realmente são personagens B que não seguram um plano maligno e coordenado o suficiente para colocar o herói de joelhos.

Através de seções muito bem espaçadas e da relação de Peter tanto com Martin Li, o Sr. Negativo, e com Otto, vemos que os riscos são muito maiores – algo que a Insomniac e Dan Slott, roteirista, aprenderam muito bem com a trilogia de Sam Raimi, sempre marcada pela relação mais complexa dos vilões com Peter. Há certa empatia pelos dois, já que suas motivações são coerentes e dignas para os personagens.

Ambos remoem o passado e agem por decorrência do rancor querendo destruir um alvo em comum, mas levando a cidade inteira para a ruína junto. Logo, pela desproporção, eles se tornam mais vilões do que figuras empáticas, apesar de compartilharem momentos muito poderosos com Peter, principalmente no final da jornada – a última cena com Otto é de partir o coração.

Além disso, vemos que cada arco envolvendo Peter é bem delineado, seja com Mary Jane que recebe usos mais criativos do que o clássico “donzela em perigo” ou com Miles Morales que possui uma conexão realmente criativa e corajosa com o herói dentro do game. Apenas deixa a desejar um maior aprofundamente de Peter com Martin Li e também com Yuri. Fora isso, a narrativa é bastante equilibrada e coerente por não repetir dramas já há muito esgotados para o personagem.

No final, temos aqui uma das histórias mais interessantes do Aranha e bem desenvolvidas. A violência está ali, assim como diversas mortes que conseguem exibir toda a fragilidade de um super-herói que não consegue estar em todos os lugares ao mesmo tempo. No terceiro ato, a própria cidade passa por uma transformação drástica que força Peter a reconhecer sua fragilidade e aprender novas lições.

Aliás, também fica o destaque para a direção impecável das cutscenes que favorecem ao máximo a impressão cinematográfica que o game deseja buscar.

Um Novo Playground

A tecnologia conquistada pela Insomniac aqui em Spider-Man é o ápice da desenvolvedora. O jogo é simplesmente um verdadeiro manjar para os olhos, belíssimo. Toda a cidade de Nova Iorque é detalhada ao máximo, com tráfego e pedestres constantes a qualquer hora do dia para oferecer a sensação de um ambiente orgânico e vivo.

É tudo feito com um cuidado excepcional e certamente merecedor do jogador passar alguns minutos no andando no nível do chão para notar os diferentes NPCs que a desenvolvedora incluiu, detalhes de reflexo em vidros e poças d’água, detalhes internos de lojas e apartamentos, os diferentes veículos, entre diversos outros elementos pequenos que fazem toda a diferença.

Em termos de game design, o jogo conta com sequências roteirizadas de tirar o fôlego totalmente épicas. Nesses momentos, são usados quick time events muito bem dosados que não chegam a enjoar durante a totalidade do game. De resto, temos a exploração do mundo aberto com a movimentação fluída das teias que garante a diversão do jogador que raramente recorrerá para as viagens rápidas – apesar das animações com o Aranha andando de metrô serem impagáveis.

Assim como muitos outros títulos de mundo aberto, a Nova Iorque de Spider-Man é recheada de atividades paralelas, incluindo missões secundárias que abrem a oportunidade de enfrentar outros chefes fora da campanha principal. Entre as atividades, podemos encontrar todas as mochilas que Peter espalhou pela cidade, cada uma contendo um item relevante para sua vida nos anos anteriores contando alguns detalhes de aventuras do passado, motivando o jogador a encontrar todas.

Além disso, há desafios do Treinador (o Taskmaster nos quadrinhos), da Gata Negra, bases de inimigos de três facções diferentes, diversos locais famosos (reais e do universo Marvel) para tirarmos fotos, bases científicas, além de eventos randômicos de criminosos pela cidade. Cada uma dessas atividades garante tokens ao jogador para comprar aprimoramentos dos gadgets muito úteis para o personagem durante a aventura, apesar de poucos superarem a eficácia da bomba de teia e da teia de impacto.

Infelizmente, uma das atividades mais chatas do jogo também é “obrigatória”. Para liberar o mapa, é preciso parear algumas torres da Oscorp – isso é justificado narrativamente, mas ainda se trata de uma atividade enfadonha. Nelas, o jogador realiza um minigame muito parecido com o da franquia Batman Arkham quando o herói hackeia equipamentos eletrônicos.

O combate também recebe influência dos jogos do Batman, mas contando com o estilo único de luta do Homem-Aranha, repleto de acrobacias e proezas fantásticas com desvios perfeitos que permitem o destravamento de animações diversas. A jogabilidade inspirada também está presente durante a abordagem stealth. É aquele ditado, se já está perfeito, não há necessidade de melhorar.

Apesar da Insomniac pegar emprestado diversos conceitos de gameplay de outros jogos, temos o refinamento único para a experiência ser exemplar em Spider-Man. Nisso, temos habilidades únicas para cada uniforme disponível no jogo, além de três árvores de habilidades bastante completas permitindo novos truques de combate e movimentação que fazem diferença no game, facilitando a vida do jogador depois de algum tempo.

O estúdio também é bastante feliz em realizar seções da história na qual assumimos diferentes jogabilidades através de Miles Morales e Mary Jane, envolvendo mecânicas stealth que rendem momentos bastante tensos na jogatina, mesmo que sejam muito similares entre si. O bom é que permitem maior aprofundamento na história dos dois.

Em geral, o gameplay é isso. Nada de novo ou revolucionário, mas muito eficiente em prender o jogador pelo incrível prazer e divertimento que proporciona. É sim um título viciante.

O Espetacular Homem-Aranha

Toda a espera por Spider-Man valeu a pena. A Sony, Marvel e a Insomniac acertaram em cheio com esse jogo que com certeza renderá uma franquia exemplar para os próximos anos. Atualmente, não existe melhor game baseado em super-heróis no mercado e finalmente o vazio deixado pelo fim da franquia Batman Arkham foi preenchido com muita vivacidade.

Com gráficos estupendos, uma cidade perfeita para explorar, uma narrativa que supera com facilidade a da maioria dos filmes do personagem, além de uma jogabilidade gloriosa, Spider-Man é obrigatório para todos os amantes dos bons jogos. Ele veio para ficar, definitivamente.

Pontos Positivos: ótima narrativa, diálogos fieis aos personagens, arco de evolução do protagonista, jogabilidade excepcional, gráficos belíssimos, atenção aos detalhes, otimização exemplar para PS4 normal, cidade viva e orgânica, sequências jogáveis roteirizadas, trilha musical impactante, atividades paralelas, modo fotográfico, grande variedade de inimigos.

Pontos Negativos: Atividades repetitivas enfadonhas para liberar o mapa, repetições ocasionais no level design.

Spider-Man (Marvel’s Spider-Man, EUA – 2018)

Desenvolvedora: Insomniac Games
Estúdio: Sony Interactive Entertainment
Gênero: Ação em Terceira Pessoa, Super-Herói, Mundo Aberto
Plataforma: PS4

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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