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Análise | The Witcher 3: Wild Hunt – A Revolução do RPG

Em meados dos anos 2000, alguns jovens de uma ainda inexpressiva empresa de videogames polonesa de chamada CD Projekt Red decidem comprar os direitos de uma série de livros de fantasia da qual eles eram muito afeitos, The Witcher de Andrzej Sapkowski. Os livros fornecem mais do que suficiente material de qualidade para a criação de RPGs. Assim em 2007 eles lançam seu primeiro jogo, The Witcher de 2007.

O primeiro jogo teve uma recepção positiva, certamente não se tratava de um game ruim. Serviu para que a pequena empresa e os desenvolvedores que nela trabalhavam alcançassem sucesso e notoriedade merecidos, mas ainda faltava muito para o jogo em questão e sua primeira sequencia (The Witcher 2: Assassin of Kings) chegarem ao nível de excelência que estava destinada a alcançar no futuro. Foi em 2015 com The Witcher 3: Wild Hunt que a franquia conseguiu passar do patamar de jogos RPG ok, para uma das melhores que já houveram na história de toda a indústria.

A Narrativa

A Estória em The Witcher 3 é bem objetiva, não é exatamente necessário jogar os títulos anteriores para entender o mote. Logo no início somos apresentados aos personagens principais, qual a relações entre eles e qual o seu objetivo. Nosso protagonista é Geralt de Rivia, que trabalha como um Witcher, uma ordem que tem como função exterminar monstros a troco de um pagamento justo conforme o risco. A aprendiz de Geralt, Ciri, está sendo caçada por entidades da “Wild Hunt”, correndo um sério perigo. Geralt então parte para encontrá-la tencionando salvá-la.

E é com esse pedaço de informação que o jogador é lançado no mundo de The Witcher 3 e a partir daí a diversão começa. Há muito a ser feito além de seguir a estória principal. Para conseguir dinheiro, o jogador poderá aceitar contratos de bruxo, caçando feras a troco de dinheiro. Poderá encontrar NPCs que precisam de ajuda ou com algum bandido que os está explorando ou com uma eventual infestação de ratos. É escolha do jogador se vai aceitar essas missões ou não. Pode também encontrar desafiantes para jogar Gwent, um divertidíssimo jogo de cartas que é uma espécie de minigame  ou ainda encontrar desafiantes para lutar boxe. Ambas as disputas podem ser apostadas com o dinheiro do jogo. Isso só para listar algumas das coisas que podem ser feitas no jogo. E caso queira ficar sabendo mais sobre o universo do jogo, há diversos documentos que podem ser achados e lidos, contendo informações complementares.

O jogador pode optar por seguir a narrativa principal, linearmente ou procurar as missões secundárias, o que recomendo bastante, pois o diferencial de The Witcher 3 está no equilíbrio que ele tem entre o seu gameplay e uma estória com um foco bem definido. As missões secundárias proporcionam informações adicionais à linha principal, complementando-a de tal maneira que, apesar de não ser exatamente necessária para a compreensão do todo, que fica a sensação de estar se perdendo algo. o que Geralt aprende na missão secundária pode auxiliá-lo, mais tarde nas principais. Toda escolha que você faz, seja seguir ou não certa linha da narrativa impacta de alguma forma a história. Trata-se de um efetivo sistema de causa-consequência,  presente também em outros jogos do gênero, mas aqui abrangendo literalmente tudo o que você fizer, não apenas em uma linha narrativa.

Na história do jogo, assim como nos livros de Sapkowski, se encontram presentes diversos elementos que fãs de fantasia irão reconhecer. O mundo é um misto de elementos de contos de fadas, mitologia grega, nórdica e, claro, a eslava. Como pano de fundo para a história há diversas intrigas politicas em que os personagens principais frequentemente acabam se envolvendo. Esses elementos trazem uma mistura única que faz até mesmo um gênero tão explorado parecer completamente original.

Há momentos de tirar o folego. Cada uma das batalhas com a caçada selvagem leva uma atmosfera épica ainda maior que a anterior, acompanhadas de cutscenes muito bem feitas. Não é difícil afirmar que é um dos jogos mais bem animados da geração, há um capricho na fluidez de cada movimento. Há pitadas de humor aqui e ali que equilibram o tom do jogo, que em geral é bem pesado. O jogador também terá momentos de bonança em que Geralt se sentará apenas para ouvir uma boa musica, como é o caso do encontro com a trovadora Priscila.

Os personagens

Geralt encontrará diversos personagens ao longo de seu caminho, alguns sendo rostos já conhecidos dos fãs de longa data e algumas adições interessantes. Cada um tem o seu papel dentro da narrativa, fazendo com que a trama se mova da sua maneira. Os destaques são os interesses românticos de Geralt, as feiticeiras Yennefer e Triss Merigold. Este triangulo amoroso é bem secundário no panorama geral, mas traz uma boa dinâmica adicional. Auxiliam o herói em algumas de suas missões, dando assistência com seus poderes mágicos e muitas vezes servem como a voz da razão para o teimoso bruxo. A impressão que fica dessas duas feiticeiras é que Geralt não teria chegado muito longe sem elas.

Além delas há outros personagens interessantes que poderiamos citar, como o velho e sábio instrutor de Geralt, Vesemir e seus outros colegas bruxos, Lambert e Eskel, a feiticeira Keira Metz, O anão Zoltan, o trovador Dandelion e tantos outros (o elenco de personagens em jogos de RPG costumam ser enormes) que se destacam. Mas os holofotes recaem sobre outra personagem que divide o protagonismo com Geralt, Ciri.

Ciri podia muito bem sustentar um jogo só dela, sendo por si só uma personagem misteriosa e intrigante que é capaz de fazer o jogador não largar o controle na ânsia de descobrir mais sobre ela e seu paradeiro. Sendo ela outra personagem jogável, não é exagero dizer que as sessões em que a controlamos estão entre as mais divertidas do jogo. Ciri carrega consigo um fardo pesado. É filha de um rei que quer que ela o suceda e sua linhagem vem do sangue antigo, assim sendo ela tem poderes mágicos o bastante para ser uma ameaça ainda maior que a caçada selvagem, podendo causar o fim do mundo, caso não aprenda a controlar seus poderes. Apesar disso, tudo que ela mais deseja é viver uma vida normal.

O que acaba devendo um pouco são os vilões da estória, que acabam não sendo tão bem trabalhados, faltando neles um pouco de desenvolvimento. A caçada selvagem, por exemplo são os típicos “sou mal porque sim, vou destruir o mundo porque sim”. Individualmente seus cavaleiros principais que servem como chefões em partes do jogo não possuem nada ou quase nada de backstory, com exceção de seu lider,  Eredin. Acredito que as moiras tem uma motivação um pouco mais firme que os vilões principais, fazendo as maldades que fazem por necessidade e por sua natureza já ser assim definida.

O Gameplay

Foram feitas melhorias em relação ao combate dos jogos anteriores. Continuam presentes as habilidades mágicas de Geralt, incluindo um escudo, conjurar chamas, confundir a mente de inimigos e empurrão telecinético. O bruxo está mais ágil, possuindo um movimento de esquiva rápida e de rolamento, podendo também defender-se e contra-atacar. Apesar de os movimentos de ataque e combos possíveis não serem tão variados, brutais finalizações podem ser desencadeadas, arrancando variadas partes do corpo dos inimigos.

Há sessões do jogo em que Geralt vai interrogar os personagens sobre o paradeiro de Ciri e quando eles vão contar o que sabem, o jogador entrará na pele da pupila de Geralt. Essa é uma característica interessante na narrativa do jogo. Ao invés de apenas ouvir o que tal personagem sabe, você jogará um flashback das memórias dele.  Ciri tem habilidades diferentes da de Geralt, fazendo com que o jogo fique ainda mais variado.

Os desenvolvedores fizeram um espetacular trabalho no design de ambientes do jogo. Os cenários são extremamente variados e certamente há muito a ser visto e explorado. Há diversos tipos de criaturas que podem ser encontradas em locais e horários específicos do jogo. Principalmente à noite é mais perigoso se embrenhar pelas florestas e vales. A trilha sonora é variada e muda de acordo com a situação e até mesmo com o clima do jogo.

O mundo é vasto e há muito a ser descoberto, caso o jogador seja do tipo complecionista, tem que passar ao menos 200 horas no jogo para conseguir aproveitar tudo que ele tem a oferecer, sem contar as DLCs.  A CD Projekt Red fez um trabalho excepcional, de modo que o jogo nunca chega a parecer repetitivo, diferenciando-se de tantos outros do gênero. É garantia certa que o jogador não se sentirá entediado.

O futuro da franquia

O futuro da franquia em outras mídias já está garantido. O autor Andrzej Sapkowski já expressou seu desejo de escrever mais aventuras de Geralt e companhia e deu sua palavra que entregará pelo menos mais um livro. A netflix comprou os direitos para produzir uma série que terá Henry Cavil como protagonista e aposta pesado na nova propriedade intelectual, querendo transformá-la em seu carro chefe. Já foi garantida uma segunda temporada antes mesmo de ser lançada.

E quanto aos games, mídia que alçou a franquia a esse ponto? Por enquanto não há um grande projeto anunciado para a série The Witcher, visto que a empresa está ocupada com a produção de outro jogo bastante esperado, Cyberpunk 2077. Mas com certeza há algo ainda a se explorar com The Witcher. Um jogo que mantivesse tudo o que deu certo em The Witcher 3 e aprimorasse o que ainda possuía espaço para melhoria seria perfeito. Apostar em passar o bastão de protagonista para outro personagem, como a Ciri me parece ser uma ideia provável de ser adotada em um futuro jogo.

Considerações finais

O jogo fez por merecer o seu sucesso, com um capricho magistral nas áreas da narrativa, gameplay, design, trilha sonora, efeitos sonoros, visuais, gráfico… sendo sem dúvida um dos melhores da geração. Uma pérola em meio a tantos RPGs, sendo influente em diversos títulos que vieram depois e ainda serão lançados nos próximos anos.

Só há alguns problemas técnicos. Pode aparecer um bug aqui ou ali, maioria corrigida em patches, mas alguns ainda persistem , mas nada que atrapalhe tanto. Ainda há espaço para melhorias no sistema de combate, algo que a CD Projekt Red deve se atentar para futuros títulos. Mas  geral é um excelente game que precisa estar na biblioteca de todos os jogadores, mesmo que não possuam afinidade com os RPGs, garanto que não se arrependerão.

The Witcher 3

Desenvolvedora: CD Projekt RED
Estúdio: CD Projekt RED
Gênero: Aventura, RPG Medieval em 3ª Pessoa, Fantasia
Plataformas: Xbox One, PS4, PC

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Publicado por Daniel Tanan

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