O Anima Mundi 2017 começou! Nos dias 26 a 30 de Junho o festival virá para São Paulo trazendo o melhor da animação mundial, com sessões de curtas destacando a qualidade artística de cada país e estilo de animação. Fomos em uma cabine de imprensa organizada pelo evento, que mostrou um pouco de cada categoria que o festival irá oferecer, com um misto de técnicas, histórias e países.
Vamos comentar sobre cada curta assistido logo abaixo:
Curta 1: Em Crise
Dir: Amir Admoni; Paula Rocha
Prod: Amir Admoni
Ano: 2017
País: Brasil
Em um pequeno vídeo feito com stop motion baseado em fotografias preto e branco, um homem tenta eliminar a mosca que está atrapalhando sua atenção no trabalho. A mistura interessante entre o colorido e o PB do resto das cenas destaca a invasão do inseto na mesa de trabalho do homem, com uma psicodélica transição final. Mais um vídeo conceito do que algo propriamente com história, o curta pode passar despercebido nas sessões do festival.
Curta 2: Vaysha, a Cega (Blind Vaysha)
Dir: Theodore Ushev
Prod: Marc Betrand
Ano: 2016
País: Canadá
A excelente animação canadense que concorreu ao Oscar desse ano como melhor curta mostra a história de uma garota que apenas consegue enxergar o passado e o futuro dos locais e pessoas ao seu redor, com cada olho sendo uma janela temporal. A sombria animação tem um estilo muito parecido com as pinturas de Van Gogh, especialmente nos cenários e no estilo de pintura aquarela. A trama carrega consigo uma crítica existencialista muito interessante e sem dúvida foi um dos destaques da apresentação, carregada de significados em cada quadro.
Curta 3: Sujismundo e Dr. Prevenildo (Manual de Higiene Pessoal) e Sujismundo (Povo desenvolvido é povo limpo)
Dir: Ruy Perotti
Prod: Lynxfilm
Ano: 1977
País: Brasil
Reflexo de um passado não tão distante, Sujismundo foi um personagem criado por Ruy Perotti para uma campanha do governo de melhorar a higiene e limpeza dos brasileiros. Nos anos da ditadura militar, o visual maltrapilho de Sujismundo era repudiado pelos outros personagens, que o puniam e colocavam “na linha”. Assistir agora os curtas é refletir como certos padrões eram impostos de forma subliminar através de mensagens patrocinadas pelo governo. E será que isso mudou muito?
Curta 4: A pesar de tudo
Dir: Walter Tournier
Prod: Walter Tournier
Ano: 2003
País: Uruguai
Animação em stop-motion, mostra um pequeno boneco que acorda em meio ao que parece ser destroços de uma grande guerra. Apesar de ter uma produção de áudio muito boa e animação bem executada, o clímax da história é entregue de forma brusca, o que acaba diluindo a mensagem da animação. Belo, porém falho.
Curta 5: Toda Criança (Every Child)
Dir: Eugene Fedorenko
Prod: National Film Board of Canada
Ano: 1979
País: Canadá
A divertida animação vencedora do Oscar de 1980 mistura imagens feitas em acetato de forma extremamente simples e infantil, mas com uma premissa bem-humorada e divertida. O curta, feito pela UNICEF para conscientizar o direito de uma criança ter nome e nacionalidade, acompanha a história de um bebê abandonado que vai sendo deixado de casa em casa com adultos que não fazem ideia do que fazer com a criança. Toda parte sonora do curta é executada por dois artistas que estão contando a história para uma criança. Simples mas bem engraçado e com um final reconfortante.
Curta 6: Como Lidar com a Morte (How to Cope With Death)
Dir: Ignacio Ferreras
Prod: Ignacio Ferreras
Ano: 2002
País: Reino Unido
A inusitada história de uma velhinha lidando com a Morte entrega uma das melhores animações da lista, com um movimento fluído e uma animação feita a mão quadro a quadro para o movimento dos personagens. Mesmo tendo mais de uma década, o curta não envelheceu e continua sendo uma das melhores da mostra, destacando o quão importante é uma animação feita com esmero. Engraçada e com ótimas cenas de ação, é uma ótima forma de dar risada da cara da morte.
Curta 7: KJFG no.5
Dir: Alexei Alexeev
Prod: Studio Baestars LTD.
Ano: 2008
País: Hungria
Três animais tocam instrumentos na floresta e são interrompidos por um caçador. A animação em flash acaba agradando menos pela qualidade de seu visual e mais pelo dom musical de seus simpáticos protagonistas selvagens. Mesmo sendo relativamente curto em comparação a outros da lista, a batida feita pelo trio com certeza vai grudar na sua cabeça.
Curta 8: Gorillaz-Music Video
Dir: Robert Valley
Prod: Robert Valley
Ano: 2017
País: Canadá
O primeiro clipe do novo álbum do Gorillaz, com a música Saturn Barz, é uma psicodélica viagem com 2D, Murdoc, Noodle e Russel através de uma fenda no espaço e tempo em uma casa antiga e assustadora. O clipe mistura uma animação em 2D com cenários e alguns personagens em 3D. O fascinante do curta é a experiência em 360° que pode ser vista na versão para YouTube, onde o espectador consegue girar a câmera e ver diferentes coisas acontecendo na viagem espacial da banda fictícia de James Hewlett e Damon Albarn.
Curta 9: Pai e Filha (Father and Daughter)
Dir: Michael Dudok de Wit
Prod: Willem Thyssen
Ano: 2000
País: Holanda
Um dos curtas mais tocantes, mostra a história de uma filha esperando durante anos o retorno de seu pai da viagem pelo mar. O visual minimalista, se utilizando de fundos com aquarela e giz, além da imposição de cores frias e até mesmo de ausência de cores, com grande espaço sendo deixado em branco, denotam a solidão da menina esperando seu pai, junto com a linda trilha sonora em piano. A animação foi um dos primeiros trabalhos de Michael Dudok de Wit, que mais tarde faria a animação A Tartaruga Vermelha, indicada ao Oscar de Melhor Longa de Animação esse ano.
Curta 10: Sob o véu da vida oceânica
Dir: Quico Meirelles
Prod: Bel Berlinck
Ano: 2017
País: Brasil
Se fôssemos apenas julgar pelo humor, este curta talvez fosse o ganhador da mostra. Contando a breve vida de um organismo molecular que habita o fundo do mar, o jeito documentário misturado com uma animação 2D que remete a desenhos animados matinais dos anos 60 faz da história dos 6 minutos de vida da Gastrotricha hilário e muito bem animado. O mundo molecular, muito parecido com a vida humana, com as células vivendo em uma sociedade onde cada membro é literalmente descartado em questão de minutos, acaba nos fazendo pensar sobre a nossa própria vida. De uma forma divertida, claro.
Curta 11: O Passarinho e a Lagarta (The Little Bird and the Caterpillar)
Dir: Lena Von Dõhren
Prod: Gerd Gockbell, Schatenkabinett Gmbh
Ano: 2017
País: Suiça
A animação suíça sobre uma larva cheia de gases tentando comer as folhas de seu predador natural pássaro abriu a parte infantil da sessão. Enquanto bem animada com uma técnica de computador que une 2D com 3D, o curta vai agradar apenas as crianças, com seu humor “bonitinho” através das flatulências da lagartinha verde, fugindo dos ataques do pássaro, e que em consequência foge da raposa.
Curta 12: Sobre um Quati (About Coati)
Dir: Alexandra Slepchuk
Prod: Irina Snezhinskaya
Ano: 2015
País: Rússia
Curta que simula a técnica de animação em aquarela sobre uma estranha criatura com cauda de zebra e tromba de elefante tentando se ajeitar em um acampamento de treinamento da sua espécie. Ótima lição de moral e divertido de acompanhar. O estilo meio Dr. Seuss dos personagens misturado com os cenários pintados no estilo lápis de cor realçam o clima infantil e de fábula da história.
Curta 13: Caçadores de Estrelas (Starhunters)
Dir: Johannnes Schiehsl
Prod: Neuer Õsterreichischer Trickfilm
Ano: 2016
País: Áustria
De um lado da tela, temos um homem sonhador que apenas queria apreciar as estrelas em uma bela noite, enquanto do outro lado, um caçador espera levar uns dois ou três coelhos para casa. A animação só apresenta a silhueta dos personagens e do local, dando ênfase na personalidade de cada um. Pequeno e com uma premissa demasiadamente clichê, não desenvolve o suficiente sua premissa para se tornar relevante.
Curta 14: Sabaku
Dir: Marlies Van Der Wel
Prod: Roel Oude Nihjuis, Gijs Kerbosch, Gijs Determeijer
Ano: 2016
País: Holanda
Outra animação sobre alguém deslocado em seu habitat por ser diferente dos outros animais. Aqui, acompanhamos a história de Sabaku, uma ave que vive em cima de outros animais com um canto que mais lembra um elefante barrindo. Após seu companheiro animal morrer, a ave procura outro companheiro. Apesar de uma boa animação 2D computadorizada, o curta perde na originalidade e acaba se tornando esquecível, tirando o bizarro som emitido por Sabaku.
Curta 15: Sobre uma Mãe (Pro Mamu – About a mother)
Dir: Dina Velikovskaya
Prod: Lyubov Geidukova
Ano: 2015
País: Rússia
Apesar da ambientação e da animação lembrar artes africanas primitivas, a animação russa consegue passar uma história simples de forma efetiva por justamente contá-la através de imagens simples. A história mostra uma mãe de três filhos com cabelos longuíssimos, que são usados para prover tudo que suas crianças precisam, sacrificando a beleza e comprimento de seu fios ao longo dos anos. Uma bela metáfora do cabelo sendo o esforço que todas as mães passam durante a vida para dar para o seus filhos o que eles precisam. Simples e encantador.
Curta 16: Além dos Livros (Beyond the Books)
Dir: Jérome Battistelli, Mathide Cartigny, Nicolas Evain, Maéna Paillet, Robin Pellisier, Judith Wahler
Prod: Mopa
Ano: 2016
País: França
A animação francesa em CG é provavelmente a com mais potencial desperdiçado da sessão. Isso porque sua qualidade visual e produção são extremamente altos e se destacam, porém a história e seus personagens acabam se perdendo na magnitude de seu conceito. Se passando em uma massiva biblioteca, um pequeno deslize feito por um dos bibliotecários, faz as prateleiras do local entrarem em colapso, destruindo tudo em uma enxurrada de livros que lava o lugar como um grande tsunami literário. A história então traça um paralelo da jornada do idoso bibliotecário e um garoto que estava lá lendo alguns quadrinhos. Apesar do contraste na história dos dois personagens, há pouca substância na trama, que é deixada de lado muitas vezes para destacar a imensidão do espaço, povoado por muitos livros e quase ninguém para lê-los.
Curta 17: Macaco Albino: Pimenta
Dir: Roberto Massayoshi Uechi
Prod: Pingado Sociedade Ilustrativa
Ano: 2017
País: Brasil
Outra divertida animação nacional, a história mostra as consequências quando o Macaco Albino (personagem criado por Roberto Massayoshi) exagera na pimenta da sua refeição, mostrando de forma exagerada e gradual as reações do personagem. A animação 2D em flash acaba se destacando pelo humor acertado e expressividade do personagem principal.
Curta 18: Sub-Humano (Less than Human)
Dir: Steffen Bang Lindholm
Prod: Michelle Nardone
Ano: 2016
País: Dinamarca
A animação em CG mostra o que aconteceria se os zumbis fossem um problema real na sociedade, exilados em centros de convívio. O curta é produzido como um documentário, em uma versão de found footage parecida com o que Neill Blomkamp ficou famoso com o longa Distrito 9, misturando ficção científica com crítica social. O tom do curta combina a “tragédia” e grotesco da situação em que as criaturas vivem com um humor mostrando o dia a dia dos mortos-vivos, lidando com os problemas de ter um corpo em decomposição e ser visto com maus olhos pela sociedade. Interessante porém não chega a impressionar.
Curta 19: Ao Entardecer (Late Season – Nachsaison)
Dir: Daniela Leitner
Prod: Daniela Leitner
Ano: 2017
País: Áustria
Animação austríaca que mistura belamente o 3D com traços derivados da animação em 2D. Mostrando um casal de velhinhos que precisa de um puxão para reencontrar cor e amor em sua vida. A iluminação e as cores da animação são soberbos, realçando muito bem o sentimento de tristeza e descontentamento da primeira parte do curta com o vibrante e dançante da segunda parte. Charmoso e muito bem produzido, com certeza com dos destaques da apresentação por conta de seu estilo e ritmo.
Curta 20: Espaço Negativo (Negative Space)
Dir: Ru Kuwahata; Max Porter
Prod: Edwina Liard; Nidia Santiago; Jean-Louis Padis
Ano: 2017
País: França
E para finalizar, uma animação francesa em stop-motion (com mistura de 3D com objetos), contando a história de um homem após a perda de seu pai, figura importante em seus anos de formação e que ensinou o garoto perfeitamente como arrumar sua mala. Aqui, se destacam o uso das cores e da frieza do protagonista diante da morte de seu pai. O final gélido deixa um sentimento melancólico e um espaço vazio feito propositalmente pelos diretores.
E você, assistiu alguns desses curtas? Pretende ir no Anima Mundi desse ano? Nos diga nos comentários abaixo!