JOHN WICK: UM NOVO DIA PARA MATAR (2017)
Dirigido por Chad Stahelski
Primeiro por conseguir cumprir o trabalho obrigatório de uma (boa) continuação que é ampliar o seu (rico) universo já estabelecido e aumentar os desafios de seu protagonista, mas sem nunca esquecer de desenvolve-lo. Onde mesmo não tendo a simples, e muito eficiente, premissa de seu primeiro filme, que facilmente conquistava a empatia de seu público, consegue criar em sua deveras pretensiosa e ambicisa (mas também eficiente) premissa dos pecados do passado voltando para assombrar seu protagonista, cria um laço de busca pela sobrevivência e pela vida.
E isso fica ainda mais claro com a direção de Chad Stahelski que mesmo sem seu parceiro David Leitch do primeiro filme, mantém (e eleva) a energia e aura, e cria aqui um verdadeiro filme de ação dramático(?) com ares artísticos graças ao deslumbrante e cheio de estilo visual da fotografia de Dan Laustsen com um uso luxuoso e abundante de cores. Ainda dando contendo uma elegância digna de um filme do 007 ao colocar a trama num nível internacional, e conter um cinismo negro digno de um Western-Spaghetti presente confrontos e impasses que John Wick enfrenta com alguns de seus rivais aqui, principalmente uma ótima participação de Common (a breve e ilustre presença de Franco Nero no elenco aqui não é uma mera referência).
E a ação é só um puro deleite de qualidade, onde cada soco, tiro e golpe é sentido e os jorrões de sangue chegam a assustar ao mesmo tempo que inevitavelmente divertem com tanta brutalidade escapista quase nunca gratuita, e nenhum momento se perde ou parece confuso com uma direção mais do que eficiente fazendo ação com um verdadeiro esmero. E Keanu Reeves apenas comprova mais uma vez o quão perfeito ele é para esse papel, com seus mínimos diálogos lembrando o Homem sem nome de um filme de Sergio Leone (rima não intencional), e matando levas e mais levas de comparsas usando suas armas de fogo como letais espadas de samurai. Talvez Riccardo Scamarcio não seja um vilão tão carismático ou intimidador, mas o ator possui um charme e um ar de nojeira capaz de fazer o público sentir repulsa e torcer por sua morte. Mas de bônus temos um breve mas (sempre) soberbo Laurence Fishburne se divertindo demais no papel, que lembra um perfeito mafioso de um filme blackxploitation.
No final, John Wick comprova mais uma vez como personagem e como filme (e possível franquia) o quanto de originalidade e alta qualidade podemos ainda encontrar e ter no gênero de ação, com elementos que podem com certeza soar piegas e ridículos, mas que são feitos com tanto esmero e garantem diversão e emoção sempre verdadeiras, e nos deixam desejosos para muito mais do que (vai) pode vir.