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Valerian e a Cidade dos Mil Planetas | “Cara Delevingne é uma atriz nata”, afirma Luc Besson em coletiva em São Paulo

Não demorou praticamente nada para Luc Besson retornar a um gênero que o consagrou: a ficção científica. Depois do morno Lucy, o diretor francês presta a maior homenagem da sua vida ao adaptar as hqs desconhecidas de Valerian para as telonas. Infelizmente, o maior filme de sua vida também parece ter virado o maior fracasso. Com custo de 180 milhões de dólares, Valerian é o filme europeu mais caro da História, mas que, até agora, rendeu apenas 62 milhões mundialmente – um filme para lucrar relativamente precisa faturar ao menos o triplo de seu orçamento.

Vendo que Valerian e a Cidade dos Mil Planetas tem potencial fora do mercado americano, Besson e Dane Dehann partiram em turnê por diversos países para promover o filme. Hoje foi a última parada aqui no Brasil.

O filme da minha vida

O diretor manteve o clima descontraído e respondeu as questões sem muito alarde. A maior ênfase das respostas concentrou na enorme dificuldade que foi fazer o filme. “Valerian levou 7 anos da minha vida para existir. Começamos a pré-produção 18 meses antes das gravações. Depois, mais 18 meses foram dedicados para finalizar os efeitos visuais e a montagem. São mais de 2000 planos com efeitos visuais de ponta, fornecidos pela Weta. Eu sempre quis colocar Valerian nos cinemas por ser uma antiga paixão de infância. Os quadrinhos surgiram na minha vida quando tinha apenas 10 anos e possibilitavam um escapismo ao cotidiano banal do interior, além de ter me oferecido minha primeira paixão platônica pela agente Laureline. (…), mas isso custou tempo. Mesmo sabendo que iria fazer esse filme, esperei até ter conhecimento técnico o suficiente, tão equilibrado quanto o frescor da minha imaginação enquanto diretor. Essas coisas não caminham juntas. Quanto mais jovem, mais frescor e menos técnica. Na evolução da carreira, é normal perder o frescor e ficar engessado ”, disse Besson.

O francês mirou no cinema americano e ofereceu diversas críticas aos caminhos que a indústria toma. Ele frisou que Valerian não é um super-herói americano. “Ele não tem superpoderes. É um cara normal, um tanto pedante, que faz piadas sem-graça, mas que faz atos de heroísmo. Em essência, qualquer um pode ser Valerian. Eu queria ser ele! É o meu herói de infância. ” Nisso, Dane Dehann complementou sobre as dificuldades de encarnar um herói tão energético, “Na maioria do tempo eu estava correndo. Foi um set muito divertido, mas eu cansei como nunca. O engraçado é que mesmo em um filme cheio de efeitos como esse, o processo foi bem parecido como ao de qualquer outro. Eu estava com a minha fantasia brincando de atuar”, contou o ator.

“Esse é um ponto que um fiz questão de preservar no set. Não importava qual alienígena que fosse, lá estava um ator contratado para contracenar com os atores não-fantasiados. Eu não sei dirigir bolas de tênis, mas sim pessoas. Acredito que isso forneceu um grau de realismo mais elegante ao filme, com a dupla de protagonistas reagindo e interagindo com o virtual sem soar falso. ”, complementou Besson.

As pessoas são injustas com Cara

Quando questionado sobre a presença de Rihanna, todos tiveram uma surpresa: Besson não fazia ideia que ela era um ícone popstar mundial. “Ela apenas veio ao casting e fez a personagem. Me agradou e então a contratei. Somente depois fui descobrir que era uma cantora de extremo sucesso. Também fiquei muito contente em trabalhar com Cara Delevingne. As pessoas são muito injustas e duras com ela. Eu sei o que falo e digo com propriedade: ela é uma atriz nata. Descobri talentos como a Natalie Portman e Milla Jovovich. Cara é uma delas, mas que também trabalha como modelo. Veremos grandes atuações dela nos próximos 20 anos. ”, afirmou enfaticamente.

Dehaan também falou do seu processo para construir Valerian. “Não, eu não busquei inspirações em outros personagens similares a ele como Han Solo, no caso. Apenas criei o que tinha em mente depois de ler as HQs. E, além disso, estava com Besson ao lado sempre para me ajudar, afinal ele é o fã número 1 dessa história e entende mais do que ninguém. ”.

Sobre as personagens femininas fortes de seus filmes, o diretor manteve a firmeza de sempre. Disse que dependia da criação de cada um e como a dele foi praticamente constituída pela mãe que o criou sozinha, Besson se inspira nela para criar as suas personagens. Disse que não vê graça em pintar a mulher como o sexo frágil, mas sim em mostrar a fraqueza do sexo “forte” e na dependência mútua. O foco da relação amorosa em Valerian é um dos maiores pilares do filme.

Quando perguntados sobre a parte favorita do filme, Dehann imediatamente respondeu que adorava a introdução do filme (que realmente é muito boa), enquanto o diretor contou uma boa história envolvendo a sua escolha. “Eu opto pela cena do Grande Mercado pela imensa dificuldade que foi fazê-la, além de fazer os outros entenderem o que raios eu estava propondo. A ação é situada em diferentes dimensões, com uma interferindo na outra, então há diferentes pontos de vista exibindo o que ocorre no Mercado e no deserto que ele é inserido. Só essa cena me custou 2 anos e meio para planejar, gravar e finalizar. Talvez tenha sido o maior desafio da minha carreira. ”.

Condição Humana

Ninguém tocou na questão polêmica do fracasso financeiro, mas os jornalistas estavam curiosos sobre uma possível sequência, afinal, mesmo que o filme seja bastante medíocre, sua mitologia é repleta de potencial. Besson sabe da situação complicada que esse filme resultou e foi cauteloso na resposta. “Se as pessoas gostarem desse primeiro, sim, adoraria fazer a sequência de Valerian. Ia aprofundar mais na relação entre os dois e não optaria em contar uma história de origem. Os quadrinhos sempre se trataram da missão e da aventura, nunca sobre a origem dos heróis. Pretendo manter isso nos próximos. Gosto de ser um sonhador, um artista, de exercer liberdade e colocar mais cores no nosso mundo”.

Para finalizar, Besson declarou novamente a importância da mensagem de seu filme. Essa parte só fará sentido quando você assistir a aventura, já aviso, mas não contêm spoilers significativos. “Quis refletir a história de tantos povos massacrados na nossa História em Valerian. O segredo da empatia e do amor é ver como os Pearls (raça alienígena) são perfeitos diante da imperfeição humana. Mesmo no espaço e no século XXVIII, causamos as desgraças e genocídio de outras raças por motivos torpes, protagonizando guerras, sempre pelas motivações erradas. É um filme que mais aprendemos sobre humanidade com os alienígenas primitivos, em perfeita comunhão com a natureza, do que com os humanos altamente tecnológicos e plenos de conhecimento e riquezas. ”.

Para finalizar, o diretor fez uma ótima frase para chamar o público para ver Valerian e a Cidade dos Mil Planetas nos cinemas a partir do dia 10 de agosto. “Há muito fast food por aí. Agora é vez de provar um pouco da cozinha francesa. ”.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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