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Conheça Tarrare, o bizarro homem que comia tudo, até animais vivos, na França do século XIX

Nossa história e nosso mundo está repleto de bizarrices que simplesmente são inexplicáveis. Um dos casos mais fartamente documentados e 100% verídico é o de Tarrare, um francês que viveu entre 1772 e 1798.

O que tornava esse cidadão em uma verdadeira bizarrice monstruosa até mesmo para os padrões cívicos de hoje era o fato dele conseguir comer abundantemente. Mas não comer muito como uma pessoa faminta, mas sim como um verdadeiro monstro. Um Cronos encarnado no corpo de um homem franzino e pequeno. 

O homem conseguia comer tremendamente e nunca tinha sua fome cessada a tal ponto que família o abandonou quando adolescente por não conseguir mantê-lo. Se tornando um vadio e atuando como charlatão, o rapaz engolia pedras, animais vivos e até mesmo cestas inteiras de frutas sem nem precisar mastigar por alguns segundos. 

Sua boca era assustadoramente grande, com lábios quase invisíveis, tornando seus dentes podres repletos de limo e tártaro sempre visíveis para os outros. Por conta disso, atuou como artista de rua, cobrando para que outros se assustassem com sua fome ao comer gatos e cães pequenos ainda vivos. 

Se tornando um soldado durante as batalhas pós-Revolução Francesa, o exército também não conseguia cessar a fome do homem. Desse modo, ele comia o lixo que encontrava na rua, mas por conta disso, sua saúde já debilitada se deteriorou. Hospitalizado, médicos fizeram diversos exames para descobrir o que raios acometia Tarrare, mas seus métodos eram pouco ortodoxos, mais se assemelhando a um teste de curiosidades. 

Eles alimentaram Tarrare. Consideravelmente. Para testar seus limites, ofereceram uma porção de comida para 15 pessoas que ele tranquilamente comeu em um jantar, totalmente sozinho. Entre os pratos, comeu gatos, lagartos, filhotes de cachorro, cobras e até enguias que engolia por inteiras, sem nunca mastigar. 

Nesses testes, seu peso de 45kg permanecia inalterado e nenhuma doenças psicológica foi diagnosticada. Sua personalidade era apenas apática, sem interesse por outros. Um fato que já era conhecido foi apenas confirmado por diversas testemunhas: quando passava fome, sua pele do abdome despencava a ponto dele conseguir esticar e cobrir sua cabeça. Já quando cheio de comida, seu abdome estendia como um balão de ar quente.

De volta aos campos de batalha, um general decidiu usar o talento faminto de Tarrare para enviar mensagens em territórios inimigos, inserindo recados embrulhados em carne – Tarrare também conseguia regurgitar com facilidade o que tinha comido.

Entretanto, o soldado foi capturado rapidamente pelas forças prussianas por não saber falar alemão. Lá, foi torturado e encarou uma execução falsa. Por ser considerado patético, foi enviado de volta à França. Obstinado a procurar uma cura por conta de seu tempo como prisioneiro, Tarrare foi novamente internado no hospital que conduziu os experimentos anteriormente. 

Tentaram mantê-lo em uma dieta controlada, a base de tabaco, vinagre e ovos cozidos, mas que não geraram nenhum resultado. Enquanto internado, à noite, Tarrare saia a procura de comida já que sua fome era insuportável. Entre os registros, ele fugia para comer lixo dos açougueiros locais, tentava beber sangue dos outros pacientes e até mesmo chegou a tentar comer os corpos guardados no necrotério. Sua permanência no hospital foi interrompida quando a equipe suspeitou que ele havia comido um bebê de 14 meses que morava no hospital militar.

Sumindo por quatro anos, Tarrare voltou ao hospital militar em Versalhes, pedindo ajuda ao médico com quem havia feito algo próximo de uma amizade, o doutor Percy. 

Em uma condição deplorável, Tarrare estava morrendo e acreditava que era por conta de um garfo dourado que havia comido havia dois anos. Ele queria que Percy removesse o utensílio de seu corpo. Mas o médico sabia muito bem que não era por causa de um gargo que Tarrare morreria: ele estava com tuberculose, uma doença que funcionava praticamente como uma sentença de morte – até hoje seu tratamento é difícil e repleto de efeitos colaterais.

Morrendo poucos meses depois, Tarrare seria enterrado sem grandes cerimônias ou tristezas. Na verdade, seu amigo Percy estava muito interessado em dissecá-lo já que o corpo estava apodrecendo rápido. Ao conseguir a permissão, as descobertas de Percy foram desconcertantes. Tarrare tinha um esôfago tão largo que era praticamente um túnel que ligava diretamente ao seu estômago enorme, repleto de úlceras sangrentas. Grande parte de seus órgãos era cobertos de pus, além de seu fígado e vesícula biliar serem tão anormalmente grandes quanto o estômago. 

O mais curioso foi que Percy não encontrou nenhum vestígio de um garfo dourado no corpo de Tarrare.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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