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Crítica | Fargo – 03×06: The Lord of No Mercy

Spoilers!

Alguns fãs de Fargo haviam comentado durante o início desta temporada que, mesmo muito boa, havia uma taxa de homícidios muito baixa – especialmente considerando o padrão que a série de Noah Hawley e o filme dos irmãos Coen segue. Pois bem, The Lord of No Mercy certamente riscou esse elemento da lista, e o fez ao despedir-se de um dos personagens centrais deste terceiro ano, oferecendo uma excelente progressão para o ritmo estabelecido nos episódios anteriores.

Com praticamente todos os outros jogadores em segundo plano – algo também exacerbado pela duração mais curta do episódio – a trama foi muito concentrada nos dois Stussy (Ewan McGregor). Ray tenta planejar uma vingança após o espancamento de Nikki (Mary Elizabeth Winstead), mas também dar um jeito de despistar as investidas cada vez mais agressivas de Gloria Burgle (Carrie Coon) e Winnie Lopez (Olivia Sandoval), que estão cada vez mais determinadas e convencidas da veracidade de sua teoria envolvendo a briga dos irmãos. Já Emmit parece mais seguro, tendo caído completamente ao charme de Varga (David Thewlis) e seguindo com um plano do sujeito misterioso para expandir os lotes da empresa, indo totalmente contra as recomendações de Sy (Michael Stuhlbarg).

É um episódio de ação e reação, com a principal delas sendo a morte de Ray. Sim, Noah Hawley ousadamente matou aquele que havia se estabelecido como o protagonista da história – ao lado de Gloria – e o fez de maneira brilhante. Logo nos segundos iniciais do episódio, a câmera da diretora Dearbhla Walsh centra-se por muito tempo sobre uma janela com forte luz difusa enquanto os tradicionais créditos da “história real” se desenrolam, apenas para que um movimento de tilt nos revele ali o preocupado Ray; já antecipando sutilmente seu destino. E ainda que o responsável pela morte de Ray tenha sido seu próprio irmão, que invade sua casa para devolver-lhe o selo emoldurado, o personagem é morto por seu próprio orgulho. Fica claro que a intenção de Emmit era de fato um ato de paz, mas o Stussy caçula foi incapaz de aceitar em função de seu ódio ao irmão, o que resultou neste acertando seu rosto com a moldura de vidro – e os cacos rasgando sua garganta.

Uma cena simbólica e que Walsh resolve muito bem ao prolongar os acontecimentos, vide a reação tardia de Ray ao reparar no estilhaço de vidro espetado em sua jugular – algo que torna-se mais impactante graças ao zoom out do rosto de Ray até a revelação de seu destino. Curiosamente, é uma cena que passou longe do efeito cômico de outras mortes em Fargo, abraçando ainda mais a melancolia e o drama ao retratar o trágico desfecho da relação dos Stussy, e McGregor se sai muito bem ao retratar o desespero sufocante de Emmit e seu claro arrependimento por sua reação exagerada. Como os laços entre Emmit e Varga vão se fortalecendo, Stussy usa de seu investidor para ajudar a esconder o corpo e criar um esquema para jogar a culpa em cima de Nikki, e Varga é um personagem tão bem escrito que fiquei espantado com sua facilidade em criar um álibi para Stussy, enviando-o para um restaurante onde Sy o aguarda com a genial observação de “entre pela porta dos fundos, assim nenhuma testemunha saberá dizer seu horário de chegada.”Nem Michael Corleone seria tão esperto.

Não houve muito o que reportar fora do núcleo dos Stussy, mas é de se pontuar o encontro entre dois dos melhores personagens da nova temporada: Gloria e Varga, que compartilham seu primeiro diálogo quando a policial e sua parceira visitam o escritório da Stussy LTD para questionar Emmit sobre a suposta rixa com Ray. A personalidade ligeira e audaciosa de Gloria é um antagonismo perfeito para as táticas manipuladoras e didáticas de Varga, que tenta debochar da teoria de Gloria ao afirmar que existiam 24 pessoas com o nome de Hitler em 1942, e a sagacidade da investigadora em questionar esta mentira é sensacional.

Nesses pequenos momentos e entregas de fala, Carrie Coon é simplesmente fantástica, e também garantiu ao assustador David Thewlis uma rara postura vulnerável e temerosa; especialmente quando ele, posteriormente, falha ao encontrar qualquer tipo de informação de Burgle na internet. A piada da policial ser aversa à aparatos tecnológicos, quem diria, serviu para mantê-la completamente oculta do antagonista, e como Varga representa a internet e todas as inovações tecnológicas, isso faz dele o perfeito arqui-inimigo de Gloria e seu estilo de vida “analógico”. Depois dessa pequena introdução, mal posso esperar para os futuros encontros dos dois.

Trágico e excepcionalmente bem conduzido, este sexto episódio de Fargo trouxe reviravoltas chocantes para o rumo da temporada. Com a morte de um importante personagem, as novas reações dos jogadores restantes devem ser fascinantes, especialmente a de Nikki Swago e o iminente confronto entre Gloria Burgle e V.M. Varga. Façam suas apostas.

Fargo – 03×06: The Lord of No Mercy (EUA, 2017)

Criado por: Noah Hawley
Direção:
Dearbhla Walsh

Roteiro: Noah Hawley
Elenco: Ewan McGregor, Carrie Coon, David Thewlis, Mary Elizabeth Winstead, Michael Stuhlbarg, Olivia Sandoval, Linda Kash, Goran Bogdan, Hamish Linklater, Andy Yu
Emissora: FX
Gênero: Drama, Crime
Duração: 43 min

Confira AQUI nosso guia de episódios da temporada

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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