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Crítica | Fargo – 03×09: Aporia

Estamos próximos do fim! O penúltimo episódio da terceira temporada de Fargo segue o ritmo alucinante e surpreendentemente dramático que a série de Noah Hawley veio assumindo em sua reta final deste ano, e mesmo nesta porção derradeira do seriado, ainda somos bombardeados de novas revelações, situações e interações entre seus diferentes personagens, e confesso que – a cada novo episódio exibido – fico na dúvida sobre qual é minha temporada preferida até agora.

Aporia começa de forma ousada, oferecendo uma reação inimaginável para a conclusão do anterior, que trazia Emmit Stussy (Ewan McGregor) entrando na delegacia de Eden Valley pronto para confessar seus crimes à Gloria Burgle (Carrie Coon). Porém, a cena de abertura nos traz o assassinato de um personagem que nunca havíamos visto até então, sendo cometido por Meemo (Andy Yu), que corta a gargante do sujeito enquanto este preparava um copo de leite – remetendo a uma imagem da segunda temporada, onde o sangue de uma personagem misturava-se ao milkshake derramado, que rapidamente nos faz associar à violência na neve. Descobrimos então que a vítima também se chamava Stussy, e entendemos que Varga (David Thewlis) está simulando um serial killer de pessoas chamadas Stussy, de forma a livrar Emmit da prisão e invalidar seu testemunho. Mas o misterioso empregador também precisa lidar com a chantagem de Nikki Swango (Mary Elizabeth Winstead), que ameaça divulgar seus documentos a público.

Isso mesmo, Nikki e o Sr. Wrench (Russell Harvard) estão vivos! Pelo visto, a conversa com Ray Wise no boliche no episódio passado os garantiu uma segunda chance, enquanto o cruel Yuri Gurka (Goran Bogdan) realmente partiu dessa para uma melhor – ou pior, parece o mais apropriado para o falecido capanga de Varga. E Nikki chega mais esperta e determinada do que nunca, facilmente sendo a personagem que melhor conseguiu rebater os métodos calculistas de Varga, rendendo uma excelente cena onde os dois encontram-se no saguão de um hotel, onde tanto Winstead quanto Thewlis oferecem atuações primorosas, com a moça jamais deixando a bola cair ao comparar suas ações com um jogo de bridge, e o vilão sempre tentando manter a postura e o controle da situação – com cada “golpe” desferido por Nikki, o sujeito clamando que aumentará um zero de seu salário, desesperadamente tentando “comprá-la” para sua organização, já que também fica evidente como Varga admira um oponente à sua altura. Aliás, eu facilmente assistiria a uma série spin off de Nikki e Wrench, que formaram uma das duplas mais empolgantes de toda a série aqui.

Então voltamos à Gloria e Emmit. Os dois sentam-se em uma sala de interrogatório para conversar, e temos aqui um dos grandes momentos de atuação, roteiro e direção da temporada até então. Emmit confessa não só o assassinato de Ray, mas praticamente usa da situação para um grande confessionário sobre todas as suas ações trapaceiras em relação a seu irmão, inclusive revelando com detalhes a história da morte do pai. McGregor absolutamente brilha nessa cena, sendo capaz de provocar uma genuína identificação e apego ao público, como um homem realmente arrependido de seus pecados, e que brilhantismo por parte de Hawley e o roteirista Bob DeLaurentis pela triste frase “eu o estive matando por 30 anos, mas foi só agora que ele caiu no chão”. A direção de Keith Gordon também merece aplausos.

É exatamente isso o que Gloria queria ouvir, mas infelizmente todos os superiores caem na elaborada peça armada por Varga. Com dois assassinatos de Stussys diferentes ocorrendo nesse meio tempo – e com Meemo sabiamente emulando elementos das mortes de Ennis e Ray – a polícia, e o Xerife Moe (Shea Whigham, excepcional em ser um babaca) assume que todos os assassinatos são parte de uma linha, e tudo parece ser confirmado quando Varga lhes oferece um bode expiatório que imediatamente se entrega e assume responsabilidade por todos os crimes, o que acaba livrando a pena de Emmit e jogando Gloria em um estado de total desistência, mesmo enquanto conduzia um segundo interrogatório com a Ruby Goldfarb (Mary McDonnell, mais uma vez) a fim de certificar-se do álibi de Emmit durante a noite do assassinato de seu irmão. Quando pensamos que Gloria enfim vai conseguir, lá vem Moe para provocar a ira do espectador, e ver Coon desabafando para Emmit em tom tristeza, mas com uma nítida raiva por dentro, é um dos pontos altos da fabulosa performance da atriz.

Porém, toda essa desventura rende uma das cenas mais tocantes e bonitas da temporada até então. Gloria e Winnie Lopez (Olivia Sandoval) encontram-se em um bar, onde a protagonista informa à amiga sobre os eventos desastrosos do dia. Então, Gloria lhe conta a história do adorável andróide Minsk, do excelente episódio The Law of Non-Contradiction, e como ela se identifica com a história do robozinho que viveu por milhões de anos tentando ajudar a humanidade, mas sendo ignorado por total. Finalmente, Gloria comenta sobre o fato de portas automáticas e dispositivos eletrônicos ignorarem-na, em um monólogo sincero e melancólico sobre existência, a qual Winnie responde com um gesto lindo e sutil ao lhe oferecer um abraço – e a decisão de Gordon em trocar o plano/contra-plano por um enquadramento mais aberto, quase encolhendo as duas no balcão do bar, torna a ação ainda mais poderosa. E quando Gloria vai ao banheiro, finalmente vemos o sensor da pia reconhecendo sua presença ali, em uma belíssima conclusão para a metáfora de que Gloria só precisava de um pouco de amor, e que um abraço caloroso já seria mais que o suficiente para fazê-la “existir”.

Isso já teria sido um final otimista e impactante, mas Aporia nos oferece alguns minutinhos a mais ao trazer de volta o agente da Receita Federal de Hamish Linklater, sendo impressionante como Hawley não deixa nenhum personagem à toa durante a temporada, sempre reutilizando-os em momentos chave. Aqui, não poderia ser mais apropriado, visto que ele recebe um envelope contendo um pendrive e os registros reais da Stussy Lots, enviados por Nikki quando a negociação com Varga falhara. Será o início do fim para o Lobo?

Só falta um episódio, e as expectativas são altas. Felizmente, confio em Noah Hawley para cumprí-las.

Fargo – 03×09: Aporia (EUA, 2017)

Criado por: Noah Hawley
Direção:
Keith Gordon

Roteiro: Noah Hawley, Bob DeLaurentis
Elenco: Ewan McGregor, Carrie Coon, David Thewlis, Mary Elizabeth Winstead, Olivia Sandoval, Goran Bogdan, Andy Yu, Russell Harvard, Shea Whigham, Mary McDonnell, Hamish Linklater
Emissora: FX
Gênero: Drama, Crime
Duração: 48 min

Confira AQUI nosso guia de episódios da temporada

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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