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Crítica | Game of Thrones – 07×02: Stormborn

Há spoilers!

Já é uma glória poder ter mais certeza que essa sétima temporada de Game of Thrones será bem mais intensa que as outras de ritmo consideravelmente mais lento. Pela primeira vez em muito tempo, temos um episódio que parece começar quase no mesmo ponto que o anterior termina.

As coisas estão tensas em Pedra do Dragão. Os roteiristas finalmente parecem tratar Daenerys com muito mais personalidade e inteligência que em temporadas anteriores. Ter uma cena de batalha verbal de Dany contra Varys era algo que eu nunca esperava ver, mas que certamente tem grande validade para unir Game of Thrones como um todo.

Esse segundo episódio praticamente funciona como um resgate de conflitos de temporadas muito anteriores, buscando solucioná-los. O primeiro é justamente sobre a lealdade de Varys, mestre de espiões e arquiteto de conspirações. Com a narrativa caminhando para a tomada de Westeros por Daenerys, é pertinente vermos os planos, moral e ideologia que a futura Rainha pretende seguir. Lealdade, certamente é um dos pontos principais.

O foco em Pedra do Dragão é enorme nesse episódio. Rapidamente já vemos a chegada de Melisandre oferecendo seus serviços e anunciando a existência do Rei do Norte, Jon Snow, e o perigo dos caminhantes brancos. Felizmente, Game of Thrones já superou esse clichê do “personagem não acredita no perigo até ser tarde demais”. Sabiamente, baseando nas relações fortes já construídas entre Daenerys e Tyrion, a personagem oferece uma chance de conhecer Jon e escutar o que ele tem a oferecer.

Uma das partes que a direção de Mark Mylod se destaca certamente é a cena romântica entre Verme Cinzento e Missandei. Baseada quase que exclusivamente no silêncio e declarações de amor inspiradas, temos iluminação barroca confortável para dar o ar romântico assim como uma bela melodia de Ramin Djwadi. Conforme a cena evolui, surge o conflito sexual.

Mylod então rapidamente muda a decupagem clássica de cenas românticas para planos extremamente fechados, claustrofóbicos, refletindo o medo de Verme Cinzento em exibir as partes mutiladas de seu corpo para Missandei. Com pontuação muito elegante, as coisas mudam e assim como o personagem, os enquadramentos voltam a relaxar ao padrão romântico.

Ainda em Pedra do Dragão, há toda a exposição do plano de Daenerys e Tyrion para tomar Porto Real. Não serei Rainha das cinzas. Os conflitos entre o plano de cerco da dupla geram oposição imediata dos aliados de Dorne, Jardim de Cima e de Yara Greyjoy e sua tropa. Mantendo sua posição, Daenerys consegue convencer todos a seguir o plano, porém Olenna Tyrell, representando todos os opositores sedentos por sangue, ainda motiva a vingança violenta para Daenerys.

O foco em Porto Real foi eficiente e sucinto. Mostrou a mobilização de Cersei em conquistar a lealdade dos poucos reinos que sobraram em sua aliança. Os Tarly podem desempenhar papel decisivo nesse núcleo, além da problemática dos dragões ter sido discutida – afinal, como matar seres mitológicos poderosíssimos? Revisitando os porões do castelo que funciona como relicário das conquistas de Robert, Cersei e seu meistre tramam planos para poder destruir as criaturas. Nisso, a eficiência do plano mostrando a Rainha disparando uma gigantesca flecha na caveira do maior dragão de Aegon, temos um belo momento cheio de potencial para funcionar como foreshadowing em episódios futuros.

Para os descrentes, finalmente foi revelado que o braço de escamagris do episódio anterior realmente pertencia a Jorah Mormont, internado na Cidadela aos cuidados dos jovens meistres. No caso, aos cuidados de Samwell Tarly. Crente que consegue curar Jorah se baseando em estudos passados, Sam parte em uma tarefa inglória. Novamente, a direção de Mylod se destaca.

Com planos exibindo os artefatos médicos, a preparação para a intervenção cirúrgica, além de mostrar através de ilustrações no livro antigo, o espectador já se prepara para encarar uma digna nojeira a la Game of Thrones. O mais engraçado, porém, ocorre justamente depois da extração de uma grande fatia de epiderme podre.

Para apresentar o próximo núcleo, há um raccord visual (match cut) do pus que sai das feridas de Jorah para nos jogar diretamente para a imagem de uma sopa cremosa esbranquiçada (associando as imagens). Nisso, já podemos deduzir duas coisas: a produção do seriado finalmente parece ter descoberto a montagem e que também possui um tremendo ódio às sopas. Aguardo uma terceira montagem no próximo episódio para denegrir ainda mais a reputação dos pobres ensopados.

Aqui, novamente preservando o sentimento de resgate que vem se delineando nessa temporada desde a cena com Clegane anteriormente, vemos Arya em uma taverna reencontrando o simpático Torta Quente. Lá, finalmente há uma bela catarse na menina que parece desistir de sua vingança por um momento ao descobrir que Jon retomou Winterfell. Durante sua jornada, outro reencontro acontece. Dessa vez com Nymeria. Em uma ótima sacada dos roteiristas, a loba gigante reconhece sua antiga companheira, mas opta por abandoná-la assim como Arya também fez um dia durante a primeira temporada. Aqui, a indiferença da Natureza aparece. Embora Arya tenha abandona Nymeria para salvá-la, o animal nunca entenderá isso.

Em Winterfell, ainda um dos núcleos mais desinteressantes da temporada, temos novamente um conflito similar ao do episódio anterior. Jon e Sansa trocam farpas por conta de discrepâncias claras nos posicionamentos sobre o convite de Daenerys. Jon decide unir o útil ao agradável ao decidir ir até Pedra do Dragão, já sabendo que o lugar é uma mina de vidro de dragão. Mas Sansa novamente resgata a memória. Dessa vez do avô deles que foi queimado vivo ao atender o convite de Aegon em Porto Real.

Com reviravoltas previsíveis e óbvias, Jon vence a discussão deixando Sansa como Rainha Regente do Norte. Logo vemos o herói meditar junto ao túmulo de seu pai até ser perturbado por Mindinho. A sequência de agressões apenas motiva a conspiração de Mindinho em manipular Sansa para trair seu irmão e tomar o poder para si.

Para finalizar o episódio, o último núcleo preserva a imprevisibilidade do seriado e tira a estranha calmaria que marcava a temporada até então. Acompanhamos a frota de Yara Greyjoy se deslocando ao destino do Cerco de Porto Real, conforme planejado. Em seu navio, também estão Ellaria Sand e suas filhas com Oberyn. Justamente quando as coisas tendem a “esquentar”, há a forte interrupção enunciando uma enorme batalha… A Batalha dos Greyjoy.

Mantendo a promessa de levar um grande presente para Cersei, Euron intercepta a frota de sua sobrinha e começa um ataque visceral ao navio de Yara e Theon. Mesmo não sendo uma setpiece fenomenal como estamos acostumados pelos episódios de Miguel Sapotchnik, o diretor Mylod consegue conduzir com firmeza toda a grande sequência de ação.

Se valendo de belas imagens geradas pelo contraste do fogo e faíscas com a escuridão da noite, a ação é levemente poluída e também bastante picotada pela montagem, mas é possível compreender bastante do que acontece em tela. O destaque fica para mortes que geram impacto, além da destruição completa da frota de Yara levando a um tremendo revés para Daenerys.

Mas se há um ponto alto em Stormborn, certamente é a volta de Fedor no psicológico de Theon. Vendo sua irmã rendida pelo tio insano e toda a força guerreira do navio trucidada e agonizando, Theon simplesmente abandona tudo e se joga ao mar para se salvar. O destaque fica para a grande atuação de Alfie Allen, interprete de Theon, que, em poucas trocas de planos/contraplanos de Mylod, abandona o semblante seguro para voltar a expressar as faces covardes, chorosas e perturbadas de Fedor que desenvolveu durante as torturas de Ramsay na terceira temporada.

Como havia dito no início deste texto, Stormborn foi um episódio de resgate. Seja para resolver questões éticas não definidas, de reencontros emocionantes até terminar em tom pessimista com o pior dos retornos.

O jogo se movimenta. E novas vinganças nascem.

Game of Thrones – 07×02: Stormborn (Idem, EUA – 2017)

Criado por: D.B. Weiss e David Benioff, baseado na obra de George R.R. Martin
Direção: Mark Mylod
Roteiro: Bryan Cogman
Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau, Sophie Turner, Maisie Williams, Kit Harington, Aidan Gillen, Gwendoline Christie, John Bradley, Jim Broadent, Liam Cunningham, Isaac Hempstead Wright, Nathalie Emmanuel, Conleth Hills, Rory McCann, Pilou Asbæk, Carice Van Houten
Emissora: HBO
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 60 min

Confira AQUI nosso guia de episódios

 

 

 

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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