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Crítica | Game of Thrones – 07×07: The Dragon and the Wolf

Spoilers!

É estranho dar um penúltimo adeus a Game of Thrones. Ainda mais em seu sétimo episódio onde comumente tínhamos dez horas de entretenimento de alta qualidade. Mas os tempos mudaram, tanto aqui quanto em Westeros. Depois de sete anos de jornada, tudo é diferente. E essa é uma das maiores forças e fraquezas de uma das season finales mais importantes e também, uma das mais broxantes em termos de poderio visual – excetuando o final, obviamente.

The Dragon and the Wolf começa (e também termina) do modo que esperávamos. Em Porto Real, principal foco do episódio, as forças de Daenerys se movimentam para os extremos da capital. Outras partes importantes para a reunião mais importante da História do continente também se movimentam. Com Bronn e Jaime discutindo sobre a legião “eunuca” dos Imaculados, o episódio garante seu único toque de humor que perece ali mesmo.

Em tempos de medo e tensão, não há espaço para muitas piadinhas. É justamente no começo homérico deste episódio que temos o melhor dos trabalhos da direção esforçada de Jeremy Podeswa. Estabelecer a relação de diversos personagens com o meio que os cerca. Jon e Tyrion observam Porto Real, cada um com um semblante diferente no olhar: um ar de desconhecimento e curiosidade, enquanto Dinklage esbanja memórias e afetos trágicos de uma cidade que já defendeu.

Diversos encontros acontecem em uma encruzilhada, um detalhe importante sobre as ramificações dos caminhos que aqueles personagens percorreram ao longo de toda a jornada. Tudo culmina naquele ponto, naquele reencontro difícil e bastante amargo. Todos estão mudados. E também, novamente, Jeremy Podeswa faz o possível para estabelecer olhares importantes no caminho e também na reunião no Fosso dos Dragões – decepcionante o roteiro não traçar comentários mais interessantes sobre a história trágica do lugar.

Diversas trocas de olhares surgem, de Brienne com Clegane e Jaime, de Theon com Euron, de Cersei com Tyrion, de Daenerys com Cersei, de Clegane com Clegane (um diálogo fora de lugar também). São olhares que condensam cenas que realmente deveriam existir para expor um pouco mais das histórias que esses personagens precisam desenvolver seu término. Ali há reencontros de personagens que não se viam desde o episódio piloto para termos uma ideia. A situação é tão urgente a ponto de todos esquecerem todos os dramas intensos da jornada? Nas temporadas anteriores, havia maior preocupação de contextualizar isso.

Mas simplesmente não há tempo para a felicidade ou tristeza do fiel espectador. A reunião começa e o plano de Tyrion é aquilo mesmo que as pessoas sabiam (desculpe, usuário do Reddit, você estava errado). Ao menos, o trato dos diálogos entre os personagens é bem costurado mantendo boa dinâmica. Novamente, durante a revelação do zumbi para Cersei, a direção se destaca, dilatando o suspense com um silêncio mortal até surpreender a vilã.

A única cena light do episódio.

Em termos lógicos, Cersei é convencida da existência das criaturas, mas pede o impossível para Jon para empregar a trégua desejada: imparcialidade na guerra futura, caso os humanos vençam a Grande Guerra. É interessante notar que novamente os roteiristas preferem criar novos problemas redundantes nesse momento em particular, adicionando cenas que poderiam ser cortadas, não fosse isso. Com o vacilo honesto de Snow, cabe a Tyrion tentar colocar algum senso na cabeça da irmã.

Aqui, finalmente há a peça escrita mais poderosa do episódio. O reencontro de Cersei com Tyrion é poderoso como precisava ser. Primeiro, temos o indício do fracasso de Jaime em tentar persuadi-la. Tyrion caminha para um corredor sombrio, frio e azulado, já indicando seu fracasso na missão seja qual for o resultado do encontro.

Quando reunidos, Cersei tenta calar o irmão a todo o custo, pois sabe que essa é a melhor arma que ele possui: a persuasão. Os dois remoem o passado e Tyrion é confrontado com as consequências do seu patricídio. Basta compararmos tantas cenas que os dois dividiram juntos para vermos a diferença em seus personagens assim como nas performances de Lena Headey e Dinklage.

Aqui, Cersei não é mais graciosa. É masculinizada, sombria, quase se misturando ao cenário escuro de tão imóvel e teimosa que se tornou – uma “reencarnação” de Tywin. Já Tyrion não a provoca com seu sarcasmo envenenador. O anão a respeita e a ama, de algum modo. Sempre quisera o reconhecimento Lannister e ele é o principal responsável por ter trazido a ruína completa da nobre família. Cersei também ainda possui algum afeto pelo irmão, pois também não consegue dar a ordem para que o Montanha o mate imediatamente. De certo modo, Cersei aceita a conversa do irmão para dar a chance que ele a convença a não ceder para os seus impulsos mais selvagens e viscerais.

Voltamos ao Fosso dos Dragões com dois bons momentos: Daenerys confidencia a Jon o erro principal de sua família em construir uma masmorra para as criaturas que os tornavam extraordinários: os dragões. Ela reconhece que ali nasceu a decadência de sua família. Um fato interessante o destino de Westeros ser decidido em um túmulo. Tyrion chega e interrompe a conversa. E por um momento depois, Cersei o acompanha. O Sul ajudará o Norte com tropas para a batalha decisiva do seriado.

Mas isso é o que Cersei quer que os outros pensem, pois como confessa a Jaime momentos depois, tudo não passava de uma mentira. Uma cena fraca segue aqui, mas há a força dos atores para sustenta-la na medida do aceitável. É um momento importantíssimo, pois deve marcar o adeus de Jaime para Cersei. Realmente esperei que a rainha conseguisse ver seu amado irmão ser assassinado, mas isso não acontece.

Jon é honesto demais para Westeros.

E fico feliz de não ter acontecido. Não seria justo com a jornada inteira de Jaime. Ele relembra do juramento que fez a Jon e Daenerys para lutar contra os mortos e todos nós já sabemos que o ponto mais importante de seu desenvolvimento é o conflito com a honradez. Jaime tenta manter sua palavra em diversas ocasiões para nunca mais ser chamado de perjuro ou regicida, um traidor de suas promessas. O que Cersei não esperava era que Jaime colocasse a reconquista de sua honra acima do amor verdadeiro que ele sente por ela.

É uma cena mista, pois existe essa grande força da ruptura de Jaime com Cersei, mas também nos é revelado uma trama bem idiota da rainha ter mandado Euron para Essos a fim de contratar a Companhia Dourada para defender o Sul enquanto o Norte perece. Não existe bem um cenário que esse plano tenha lógica, mas poderemos ver Cersei se tornar Cersei, a rainha louca na próxima temporada. Aqui, vislumbres de loucura começam a surgir, principalmente pelo fato dela não admitir ser abandonada.

Nos despedimos de Porto Real quando o Inverno finalmente chega ali enquanto Jaime parte para Winterfell. Podemos até traçar uma bela simbologia sobre isso. A chegada do inverno para Cersei se dá justamente no adeus do amor de sua vida. Uma pena que o diretor não consiga pesar isso em imagens mais elaboradas. Parte disso vem pelo foco sem sentido de Pedra do Dragão.

Theon começou a virar uma pedra no sapato dos showrunners que querem finalizar sua trajetória o quanto antes. A narrativa de Theon também é bastante rica e conversa de certa forma com a de Jaime: a procura de reconquistar sua honra que ele traiu inúmeras vezes ao longo da série. Há um extenso diálogo com Jon Snow para que Theon finalmente se toque do óbvio: ele é um Stark e um Greyjoy.

Com seus crimes perdoados por seu “irmão”, Theon vai atrás de seus parceiros de Pyke para pedir ajuda para salvar Yara. Uma discussão surge, vira briga de porrada, uma boa piadinha acontece e Theon vence o inimigo conquistando o respeito da tripulação. Seria um bom momento, caso não fosse uma cena tão longa para um personagem que está perto do esgotamento. É uma cena nada orgânica e que não encaixa bem no ritmo do episódio. Não seria mais fácil ter resolvido isso antes de Jon partir para Atalaialeste em Eastwatch? Uma aresta incomoda, com certeza.

Winterfell finalmente chega a seu clímax. Mindinho continua a envenenar Sansa contra a irmã, mas tudo vai por água abaixo quando é surpreendido durante o julgamento de Arya que na verdade é o seu. Sansa prepara uma armadilha que chega a surpreender o mestre das trapaças e das intrigas. Ele sozinho conseguiu trazer a instabilidade em Westeros por anos e uma de suas piores guerras. Acaba subindo os próprios degraus da sua escada caótica.

Enquanto a cena é particularmente impactante, é fácil ficar desapontado pelo texto dos diálogos. A presença de Bran que “sabe tudo” é crucial e entrega um momento relevante, mas é um tanto patético ver um personagem tão perigoso e astuto desistir da mentira tão facilmente, se desesperar, chorar e morrer degolado antes de terminar sua última frase (particularmente, é um toque de encenação do qual aprecio). É um tanto apressado demais para potencializar o choque, mas francamente, o destino de Mindinho já estava traçado desde o início da temporada. Sua morte foi uma das mais previsíveis, mas também foi uma das mais ricas e que conversa com toda a sua trajetória até então. 

Theon obstinado.

Mindinho se foi, mas Samwell chega com Gilly e pequeno Sam em Winterfell. Imediatamente corre para falar com Bran. Essa é provavelmente a cena pior escrita do episódio com Bran, o Corvo de Três Olhos e sua onisciência, ser surpreendido por uma informação de Sam sobre a anulação do casamento de Rhaegar e Elia.

Rapidamente, Bran “volta no tempo” para testemunhar o novo casamento de Rhaegar, dessa vez com Lyanna Stark. Jon não é mais um bastardo. Jon é Aegon Targaryen, o herdeiro por direito de nascença ao Trono de Ferro. É curioso que aqui temos uma interpolação para o núcleo de Daenerys com Jon, já no navio partindo para Winterfell. Os dois finalmente cedem ao desejo carnal de um pelo outro e vão consumir o seu amor. Enquanto Bran descobre a identidade de Jon, vemos Jonerys a todo vapor nos aposentos de Dany.

Podeswa, que já tinha surpreendido com a montagem de outros episódios, decepciona com uma interpolação mequetrefe e preguiçosa. Sem procurar traçar melhores paralelos, um dos momentos mais cruciais dessa história acontece com os recursos visuais mais básicos do episódio. Não chega perto do momento que nos foi revelado que Jon era filho de Lyanna na 6ª Temporada. É por isso que um diretor mais criativo faz toda a diferença.

E também faria diferença uma pequena cena anterior para moldar melhor essa cena de sexo bastante jogada na jornada. A tensão já existia, mas poderia ser melhor trabalhada para a culminação desse momento na season finale. Também é um tanto estranha a expressão que Tyrion faz ao descobrir que Jon e Daenerys estão juntos no quarto.

Ainda sobre essa enfim “revelação” de Jon/Aegon, outros insights são jogados, mas são valiosos. Finalmente descobrimos que Robert era realmente um usurpador que moveu toda uma rebelião por ciúmes causando milhares de mortes por egoísmo narcisista, afinal Lyanna era sua dama prometida, mas soube vestir bem a capa da “moral e das boas virtudes” ao brandir as espadas contra um rei louco já pouco querido pelos Reinos.

Sabia que o amor de Lyanna nunca seria seu e a condenou por isso, além de toda a família Targaryen. Game of Thrones reforça aquele bom e velho clichê: a guerra nunca é pela glória altruísta de edificar tempos melhores, ela só se origina com homens pequenos e egoístas. Robert destruiu toda a felicidade de sua vida, seu propósito de viver, além de ter registrado a sua versão mentirosa para destruir a honra de Rhaegar, sempre lembrado como um estuprador e assassino. Robert se torna um dos piores vilões do seriado, perpetuando a máxima de George Orwell: A História é sempre escrita pelos vencedores

De volta a Winterfell, vemos Arya e Sansa se reconciliando com outro diálogo fraco que pouco explora a evolução das duas até ali. O que serve para ajudar a melhorar a cena é compará-la com o embate cheio de farpas entre as irmãs que nós vimos no episódio anterior, Beyond the Wall. O contexto da lembrança de Ned Stark é totalmente distinto e mais terno.

O Corvo surpreendido por Sam.

Logo depois, vemos Bran wargar os corvos mais uma vez para viajarmos até Atalaialeste do Mar. Beric e Tormund observam para-lá-da-Muralha – é curioso ver Tormund protegendo uma de suas maiores inimigas de outrora. Respeitando o lore da série, vemos os mortos chegando e três longos sopros dos berrantes da Patrulha da Noite. Os Outros e os zumbis chegaram na Muralha, mas não só eles. Viserion ressuscitado e escravizado pelo Rei da Noite também está ali. Podeswa é particularmente muito eficiente nas construção visual dessa grande cena. Uma bela sacada apresentar Viserion em um plano rapidíssimo, surpreendendo tanto os personagens quanto os espectadores.

Como já era especulado, o Dragão de “Gelo” cospe fogo azul. Temos uma cena relativamente curta que consegue potencializar o tamanho poder que o Rei da Noite possui. Em poucos minutos, a Muralha é derrubada, sua magia é destruída e os mortos chegam no “sul” de Westeros. Destaque, novamente, para os ótimos e muito consistentes efeitos visuais que marcaram todos os episódios. GOT conquistou mais um marco para a História da Televisão.

A trilha de Djawadi é particularmente muito boa neste clímax que é um dos mais potentes de todas as season finales que vimos até agora, apesar do saldo final ser apenas muito bom e não espetacular como era antes.

A previsibilidade, algumas cenas incômodas ou situações apressadas, a falta de um sentido estético mais aguçado e memorável em alguns reencontros também é sentida, mas o saldo geral é bom e satisfatório, ainda que deixe um leve toque amargo na boca. Em geral, gostei muito da temporada e a considero uma das melhores do seriado, porém, ironicamente, não fiquei plenamente satisfeito aqui. Justamente pela pressa e pelo tom agregado pelo diretor. Creio que Podeswa, diretor de episódios de transição, foi uma escolha equivocada para capitanear o episódio final da temporada.

Todo fim de temporada é uma leve tristeza. Agora é se preparar para o último adeus que deve acontecer em 2018. Com menos episódios ainda, apenas torço que D.B. Weiss e Benioff consigam trazer conclusões dignas para cada jornada desses personagens que aprendemos a amar e odiar ao longo de sete anos.

Game of Thrones – 07×07: The Dragon and the Wolf (EUA, 2017)

Criado por: D.B. Weiss e David Benioff, baseado na obra de George R.R. Martin
Direção: Jeremy Podeswa
Roteiro: D.B. Weiss e David Benioff
Elenco: Peter Dinklage, Emilia Clarke, Lena Headey, Nikolaj Coster-Waldau, Sophie Turner, Maisie Williams, Kit Harington, Aidan Gillen, Gwendoline Christie, John Bradley, Jim Broadent, Liam Cunningham, Isaac Hempstead Wright, Nathalie Emmanuel, Conleth Hills, Rory McCann, Pilou Asbæk, Carice Van Houten
Emissora: HBO
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 81 min

 

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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