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Crítica | Sem Data, Sem Assinatura – As complexidades morais da existência

*Este filme foi visto na 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Sem Data, Sem Assinatura é mais um ótimo exemplar do tipo de cinema realizado atualmente no Irã, o qual é caracterizado, principalmente, por situações moralmente complexas. Neste longa do diretor Vahid Jalilvand, o dilema existencial que inicia a narrativa envolve o protagonista, um médico que, voltando para casa, derruba uma moto na qual estavam marido, esposa, um bebê e o primogênito. Como este é o que mais se machuca, ele é atendido pelo doutor e o pai é aconselhado a levá-lo até um hospital. A recomendação é negligenciada e, horas depois, ao chegar no local de trabalho, descobrimos que o menino faleceu. Mas do quê?

Perturbadora, essa é a questão que atormenta os personagens e movimenta a narrativa. Ao passo que a trama se desenrola, a autópsia é feita, conversas se desdobram e descobrimos que a morte do garoto ocorreu em razão de uma intoxicação alimentar. Isso faz com que o seu pai vá atrás daquele que considera o responsável pelo falecimento: o sujeito que lhe vendeu uma carne estragada. No entanto, acompanhando de longe e recusando se envolver no caso inicialmente, o médico é assombrado pela possibilidade de qual talvez tenha deixado passar alguma fratura, a qual pode ter agilizado a morte do garoto.

Dessa maneira, através de um jogo hipnótico de transmissão de culpa e responsabilidade, ao mesmo tempo que tentam se livrar do peso que carregam na consciência, os dois personagens principais buscam encontrar uma maneira de expiar tamanha dor, seja pelo auto-sacrifício, seja por estender uma mão. Todavia, as engrenagens que movimentam essa intrincada moralidade parecem fechar um número cada vez maior de portas, a ponto de fomentar uma história que dá a impressão de não fornecer saídas ou providenciar redenções, mas apenas a resignação e maturidade para aceitar a inevitabilidade da dor.

Quem registra os pormenores dessa tragédia moral é Jalilvand, com a sua câmera levemente tremida, mas dramaticamente poderosa. Os seus planos são sempre precisos e a sua condução, segura e urgente. Desde o emprego da câmera na mão na intensa cena do acidente, até a o momento final – que é alongado para aumentar o impacto da chocante pergunta feita pela parceira do protagonista -, o cineasta nunca deixa que a narrativa perca o fôlego. Do instante inicial ao derradeiro, é impossível desgrudar os olhos da tela.

Sem Data, Sem Assinatura (No Date, No Signature, Irã – 2017)

Direção: Vahid Jalilvand
Roteiro: Vahid Jalilvand e Ali Zarnegar
Elenco: Amir Aghaee, Zakieh Behbahani, Saeed Dakh, Navid Mohammadzadeh, Alireza Ostadi
Gênero: Drama
Duração: 100 min

Redação Bastidores

Publicado por Redação Bastidores

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