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Crítica | Once Upon a Time – 6×13: Ill-Boding Patterns

Agora sim, Once Upon a Time está voltando a acreditar em seu enorme potencial.

Iniciando com um breve prólogo ambientado na Primeira Guerra dos Ogros – um dos grandes acontecimentos da cronologia da Floresta Encantada, já explorada em temporadas anteriores – o décimo terceiro capítulo desta nova temporada é um colírio para os olhos. Tudo bem, Edward Kitsis e Adam Horowitz não conseguem abandonar o fetiche narrativo de adicionar mais e mais personagens conhecidíssimos da literatura mundial nesta série, tornando as histórias cada vez mais saturadas; mas aqui as coisas têm sua explicação e sua ordem, resgatando alguns elementos estáveis que foram perdidos em episódios anteriores.

O foco principal volta para um dos mais bem desenvolvidos e contraditórios personagens do show, Rumplestiltskin (Robert Carlyle). Durante a primeira temporada – e com uma reafirmação desnecessárias durante os outros anos -, estávamos familiarizados com sua tendência para as Trevas e como todos os seus objetivos eram alcançados com o sofrimento dos outros. Para aqueles que não se recordam, ele foi o principal atuante na Maldição Negra lançada por Regina (Lana Parrilla), ocasionando uma abertura no espaço-tempo entre duas dimensões distintas e permitindo que seu reino de crueldade se espalhasse para o mundo que conhecemos.

Mas aqui, temos uma segunda perspectiva das coisas. Uma perspectiva que, apesar de ter sido tema-base em alguns episódios, nunca foi explorado com afinco. De volta a 2012, ano no qual conhecemos seu caso amoroso com Cora (Barbara Hershey), mãe de Regina, vimos alguns relances de seu lado “bom”, de seu lado heroico e romântico que renegava as mazelas das artes das trevas – ainda que momentaneamente. Mas em momento algum poderíamos imaginar que um dos grandes responsáveis por seu mergulho na inconsequência pudesse ser seu próprio filho, Baelfire (que aqui sofre uma alteração de elenco com a entrada do novato Brandon Spink).

Vamos dar alguns nomes às cartas do jogo: este capítulo se passa pouco tempo depois de Rumple se entregar ao fardo de ser o Senhor das Trevas. E como bem lembramos, sua personalidade covarde não era bem vista pelos habitantes de seu vilarejo – ocasionando inclusive a fuga de Milah, sua ex-esposa, com Hook (Colin O’Donoghue). Mas com seus poderes, ele pôde finalmente colocar todos à mercê de suas vontades – e é exatamente neste ponto que Ill-Boding Patterns deseja mergulhar mais profundamente.

Durante a guerra supracitada, Rumple cruza caminho com um “falso herói”, ou seja, um líder que não tem nenhuma característica maniqueísta que o configure como um indivíduo essencialmente do bem. E aqui ele leva o nome de Beowulf (Torstein Bjorklund), retirado do poema nórdico homônimo escrito ainda na Idade Média. É interessante a escolha dos roteiristas Andrew Chambliss e Dana Horgan de misturarem contos épicos aos contos clássicos dos Irmãos Grimm ou de Hans Christian Andersen – e diferentemente de episódios anteriores, o arco tem sua completude submissa a uma arquitrama maior, permitindo que entendamos algumas ações de um dos protagonistas em vez de cruzarmos os braços frente a personagens secundários.

A clara distinção entre os personagens é emocionante e mantém o público preso à trama que se desenrola. E diferente do que imaginamos, Rumple, pelo bem e a pedido de Baelfire, decide não utilizar mais sua Magia para conseguir seus objetivos e passa a lutar com suas próprias mãos. É inegável sua ajuda durante a Guerra dos Ogros, visto que, após a morte de praticamente todos os soldados do Reino, ele deu às caras para manter o último sobrevivente são e salvo – mas essa escolha foi exatamente seu erro. Pois Beowulf, em todo seu egocentrismo e sua repulsa frente às forças das Trevas, arquitetou um plano para roubar a adaga do Senhor das Trevas e transformá-lo no vilão da história.

A previsibilidade poderia também cair nas saídas formulaicas de outros episódios, mas não é isso o que acontece. Baelfire, em uma sequência essencialmente crua e movida pelo desespero da justiça, ordena que o pai mate o guerreiro, ainda que vá de encontro a tudo o que acredita. E Rumple, após se mostrar mais uma vez submisso ao poder da adaga, sacrifica sua reputação como “salvador” para impedir que o filho trace o mesmo caminho obscuro.

Como todos os episódios de Once Upon a Time – ou pelo menos a maioria – as narrativas paralelas se comunicam, e a chegada de Gideon (Giles Matthey) a Storybrooke prova mais uma vez que Rumple está disposto sim a sacrificar a sede pelo poder e pela dominação por um bem maior.

Além destas sutilezas tomarem conta do episódio, Ill-Boding Patterns também desenvolve com um pouco mais de profundidade a relação entre Regina, Robin Hood (Sean Maguire) e Zelena (Rebecca Mader, com sua volta triunfal para a nova metade da temporada). Todos nós já conhecemos a rixa entre as duas irmãs, mas o que ninguém esperava era que o próprio Robin também conservaria certos ressentimentos contra Regina. Tudo bem, sabemos que seu alter-ego veio de mais uma das realidades paralelas – e seu caráter parece não existir. Mas a outra personagenm interpretada por Parrilla se mostra cega frente a isso e se recusa a acreditar mais uma vez que seu “final feliz” é uma concepção utópica.

Entre tropeços e acertos, este novo episódio veio para reafirmar a essência de Once Upon a Time. Com viradas impressionantes e um gancho emocionante para o próximo capítulo, só podemos esperar que coisas boas virão – e que a sexta temporada realmente tenha um dos melhores desfechos da série.

Once Upon a Time – 6×13: Ill-Boding Patterns (Idem, 2017, Estados Unidos)

Criado por: Adam Kitsis, Edward Horowitz
Direção: Ron Underwood
Roteiro: Andrew Chambliss, Dana Horgan

Elenco: Lana Parrilla, Josh Dallas, Jennifer Morrison, Ginnifer Goodwin, Jared S. Gilmore, Emilie de Ravin, Colin O’Donoghue, Sean Maguire, Robert Carlyle, Rebecca Mader
Gênero: Drama, Fantasia
Duração: 42 min.

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Publicado por Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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