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Lista | 5 Coisas que ‘Stranger Things’ poderia aprender com ‘It: A Coisa’

Que Stranger Things é um grande acerto da Netflix já não é mais novidade para ninguém. Mas também não é novidade que tanto a narrativa quanto a estética de Stranger Things seja uma verdadeira mistureba de diversas obras já consagradas que tenham a ver com a temática da pré-adolescência e elementos sobrenaturais. Já listamos aqui no site algumas das referências que os irmãos Duffer colocaram escancaradamente como inspiração para a história de Eleven e companhia.

Por ser um seriado, seu formato permite adaptações e amadurecimento. Peritos em jogar bons elementos nesse liquidificador insano de ST, os showrunners bem que poderiam parar um pouco para aprender alguns bons e importantes elementos com a nova e ótima adaptação de It: A Coisa.

É mais que evidente que as duas obras conversam. Até bem demais. A pré-adolescência é um dos assuntos favoritos para Stephen King que já trabalhou nesse tópico em diversos romances sendo o mais famoso deles, It. Agora que chegamos ao segundo ano do fenômeno Stranger Things, gostaríamos de listar cinco características que os Duffer poderiam se “inspirar” como fizeram na primeira temporada.

Piadas sobre pinto, morte, frescuras e manias pessoais são foco da comédia ótima de IT.

1.Pré-Adolescentes xingam e fazem molecagens 

Sim, sim, Dustin é fofo, Lucas é o bundão mal-humorado, Will ainda é uma incógnita, Mike é o líder bondoso e ingênuo e Eleven é a bad ass faminta por waffles.

Em It: A Coisa, em apenas duas horas de projeção, o grupo de crianças consegue ser muito mais complexo, muito mais interessante, além de revelar uma química aprimorada que sustenta a ilusão da grande amizade que o filme pretende passar. É alarmante que em uma bendita temporada inteira, o grupo de Stranger Things não tenha conseguido se equiparar ao nível do que foi apresentado em um filme mais curto.

Um dos fatos de It ser melhor sucedido na relação entre os personagens principais é justamente a constante de eles estarem se zoando a todo o momento. Ninguém é poupado por Richie – curiosamente interpretado por Finn Wolfhard também de Stranger Things. As pausas entre o inferno vivido em casa, pelos bullies e principalmente por Pennywise, são mais sentidas. Vivenciamos o tempo de paz e do nutrir da amizade entre cada um deles, da ajuda dessa rede de apoio que tentam criar durante o filme inteiro.

Seria mais interessante ver os moleques de Stranger Things, agora mais maduros e velhos, sem aquela camada casta e inocente que funcionou bem na primeira temporada. Hora de ver a molecada fazendo molecagens entre si enquanto também preservam a aura nerd de Dungeons & Dragons que guia a primeira temporada. O seriado possui censura PG-13 o que limita bastante essas possibilidades, mas isso pode ser alterado no futuro.

Força motriz de It são as relações dos personagens com suas famílias.

2. Relações Familiares são (muito) Importantes

É curioso notar que em Stranger Things acompanhamos todo o esforço da mãe de Will em encontrá-lo de todas as formas possíveis, mas quase nunca vemos a relação familiar das outras crianças.

Em It, praticamente todos os personagens possuem cenas que reforçam um cenário pouco amistoso em seus lares com os adultos se portando como insensíveis e impacientes. Não pretendo dar spoilers na lista, porém tenham em mente que a cada cena individual dos garotos em It potencializa seu drama tremendamente aperfeiçoando o desenvolvimento e catarse de cada um deles que possuem jornadas distintas, uma mais pesada que a outra. Não é necessário ser algo tão pessimista e cru, mas é preciso sim oferecer uma noção melhor para os espectadores sobre isso.

O palhaço obsessor demoníaco está em todos os lugares no filme.

3. Onipresença do Monstro

Essa foi uma das grandes reclamações por parte da crítica com Stranger Things. A criatura é certamente decepcionante, mas restringir seu local de ação e aparição foi uma das coisas mais infelizes do seriado. O monstro não era onipresente como é Pennywise em It. Nenhuma criança está a salvo no filme e sua relação com o palhação é extremamente pessoal.

Aqui o bicho cheio de dentes se comporta mais como um capanga do que alguma criatura com personalidade. E isso nos leva ao próximo ponto.

Pennywise é um dos personagens mais interessantes que já pintaram nas telonas neste ano.

4. Melhorem a personalidade do antagonista sobrenatural

Como disse acima, o bichão de Stranger Things é bastante insosso, mesmo que possua um design sombrio e bastante assustador. O bicho chega, berra e sequestra as vítimas. Não há lá grande envolvimento que flerte com a psique dos protagonistas os colocando em seus verdadeiros limites. De modo curto e grosso: é uma relação extremamente superficial.

Enquanto os Duffer adoram injetar “estilo” para os “homens de preto” que perseguem Eleven durante quase todo o seriado, a maior graça que é o mundo inverso e suas criaturas são deixados como meros caprichos. Como se o fator “sobrenatural” bastasse para criar algo com substância.

Obviamente, quem já viu ao novo It: A Coisa, já sabe que o antagonista sobrenatural é uma das ligas mais fortes e interessantes do filme. Há uma racionalidade horrorosa em Pennywise, além de seu carisma provocador conseguindo pentelhar e assombrar as crianças com um senso de humor depravado e divertido. Obviamente, cabe aqui a menção a performance excelente de Bill Skarsgard para encarnar o palhaço dançante.

Sim, essas crianças estão apavoradas de verdade, estão machucadas e traumatizadas também.

5.Imponham perigo, machuquem e matem seus personagens

“Ain, mas mataram a Barb!”. Meu Deus, quem ligava para a Barb na primeira temporada? A morte da amiga da irmã de Mike praticamente nem é sentida até mesmo pelos próprios personagens. Aliás, é muito curioso que os pontos iniciais das duas obras praticamente se concentrem em eventos assustadoramente semelhantes.

Em It, a narrativa é movimentada após Georgie, irmão do protagonista Bill, desaparecer sem deixar qualquer rastro. O mesmo acontece em Stranger Things com Will. A diferença crucial é que em It, sacrifícios são feitos. As crianças sofrem a transição da perda da inocência pré-adolescente de formas duras e drásticas.

Traumas, mortes, ferimentos e perigo real afligem o grupo em toda a narrativa. Como não existe a onipresença da criatura em Stranger Things, a aflição do suspense do risco de vida dos personagens é inexistente. E como fica bem óbvio, os irmãos Duffer tem um apego exagerado aos personagens principais – até mesmo com os adultos. Histórias de amadurecimento exigem transformações profundas.

Se estão bebericando tanto na fonte de Stephen King, ao menos respeitem uma das características principais de sua literatura: a relação dos vivos com a morte, seja de pessoas queridas como em It, como com “conhecidos desconhecidos” em Conta Comigo.

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Publicado por Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema seguindo o sonho de me tornar Diretor de Fotografia. Sou apaixonado por filmes desde que nasci, além de ser fã inveterado do cinema silencioso e do grande mestre Hitchcock. Acredito no cinema contemporâneo, tenho fé em remakes e reboots, aposto em David Fincher e me divirto com as bobagens hollywoodianas.

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