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Mãe! | “Eu sempre soube que seria intenso demais para as pessoas”, diz Darren Aronofsky durante coletiva em São Paulo

Nesta terça-feira (19), o diretor Darren Aronofsky esteve em São Paulo para divulgar seu mais novo filme: o polêmico e divisivo mãe!, que tem conquistado o coração de uns e despertado uma fúria intensa em outros. Tendo uma obra com esse poder em mãos, é sempre interessante ver o que seu criador tem a falar, e a coletiva de imprensa organizada pela Paramount no Cinemark do Shopping Eldorado foi um evento à altura, e o Bastidores traz todos os pontos altos da conversa.

Diferente da maioria dos eventos, porém, algumas das perguntas foram muito específicas. Por exemplo, Aronofsky foi imediatamente perguntado sobre a escolha de Michelle Pfeiffer para um dos papéis coadjuvantes da história, que gira em torno do casal de Jennifer Lawrence e Javier Bardem tendo sua casa invadida por estranhos. “Quando soube que a Michelle estava voltando a atuar, depois de uma longa pausa em sua carreira, eu imediatamente pensei nela”, diz o diretor e roteirista. “A personagem dela é uma alegoria à Eva da Bíblia, e eu queria uma atriz que trouxesse toda a astúcia e criasse um tipo de jogo de gato e rato com a personagem da Jennifer”. Ninguém parece ter pegado o trocadilho de comparar Pfeiffer com um gato, infelizmente.

Seguindo em frente, as perguntas foram mais direcionadas para as intenções de Aronofsky como autor e o forte simbolismo do filme, que foi um desafio para ser vendido a um estúdio. “Eu sempre soube que ele seria muito intenso para as pessoas. Houve uma grande aversão, mas as pessoas que abraçaram o filme o fizeram de forma muito intensa, e eu sempre tive essa noção”, de acordo com o diretor. Ainda sobre a relação com estúdio, o diretor explica que todo projeto tem seu orçamento respectivo, então a quantia de $30 milhões que a Paramount cedeu para fazer o filme é considerada “uma mixaria”, e que o risco de um fracasso financeiro sempre está presente. O diretor ainda falou, brevemente, que mãe! possui mais tomadas de efeitos visuais do que Noé, seu filme de maior orçamento até então. Certamente é a informação mais difícil de se acreditar.

Analisando todo o caráter do filme (sobre um artista) e sua carreira num geral, houve também a constatação se Aronofksy não se sentia um pouco egocêntrico com isso, a qual ele responde “Há um pouco de mim em todos os meus filmes. Eu sou a bailaria em Cisne Negro, sou o Randy em O Lutador, o Conquistador em Fonte da Vida… O Matemático em Pi… Tudo isso em uma escala menor claro, porque você sempre coloca um pouco de você mesmo na história em que está contando, e no caso de mãe!, acho que eu me coloquei um pouco no personagem da Jennifer e no do Javier Bardem”, explica.

Sendo um filme muito enigmático e regado a simbolismos, muitas perguntas foram feitas em relação à principal alegoria bíblica do filme. “Nos créditos finais, o lettering dá algumas pistas sobre quem são cada um dos personagens e quais suas representações”, referindo-se ao fato de que nenhum dos personagens têm seu nome mencionado durante a projeção. Uma pergunta feita de forma quase que geral, e que divertiu o diretor pela ansiedade do público, foi em relação ao misterioso líquido amarelo que a personagem de Lawrence bebe diversas vezes ao longo da projeção. Para a decepção geral – e profundo prazer de Aronofsky – ele disse que “esse segredo levaria para o túmulo”. Que comecem as teorias.

Quanto a algumas das leituras mais políticas que o novo filme é capaz de provocar, Aronofsky bate a tecla na mensagem ecológica (ele até usava uma camiseta em prol da preservação da Floresta Amazônica), e em como sua grande metáfora também se reflete em como a Humanidade está afetando e destruindo a Mãe Natureza. “Eu me considero um otimista, então não acho que estamos no momento em que tudo vai ter que explodir para funcionar. Não estamos no capítulo final com a Mãe Natureza, ele ainda não foi escrito”, em uma declaração poética e surpreendentemente positiva de um diretor de filmes tão perturbadores.

No assunto político, claro que a presidência de Donald Trump foi mencionada, com um jornalista perguntando se seu filme (e outros como O Estranho que Nós Amamos e Corra!) eram algum tipo de resposta a isso, com o diretor dizendo simplesmente que “filmes levam muito tempo para ser feitos, então nem o meu, ou da Sofia [Coppola] ou Jordan [Peele] foram feitos com isso em mente”. “Foi uma mera coincidência, ou tragédia, no caso”, conclui o diretor, antes de revelar que se mãe! fosse uma resposta à Trump, seria simplesmente “mais raivoso”, e ainda disse que a única coisa positiva acerca da presidência de Trump era que “o câncer está mais visível do que nunca”.

O diretor é uma pessoa objetiva e inteligente. Nenhuma de suas respostas durou mais de 2 minutos ou divagou por assuntos que não estivessem mencionados nas respectivas perguntas, o que garantiu um bom ritmo à coletiva. Felizmente (ou não), não tivemos fofocas sobre seu namoro com Jennifer Lawrence.

Mãe! estreia nos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira, 21 de setembro.

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Publicado por Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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