Kanye West declara cansaço do antissemitismo e pede perdão, mas organizações reagem com desconfiança
O rapper e empresário Kanye West, agora legalmente conhecido como Ye, afirmou nesta quinta-feira (22) que está “cansado do antissemitismo” e pediu perdão “pela dor causada” em uma série de publicações no X (antigo Twitter). A declaração surge após anos de discursos de ódio e atitudes que o colocaram no centro de uma das mais controversas derrocadas públicas da cultura pop contemporânea.
“Cansei do antissemitismo”, escreveu Ye. Em outra postagem, acrescentou: “Eu amo todas as pessoas. Deus, me perdoe pela dor que causei”. O artista também disse perdoar os que o machucaram, atribuindo parte de sua trajetória de discursos odiosos às tensões com a ex-esposa Kim Kardashian, mãe de seus quatro filhos.
A súbita tentativa de redenção, no entanto, não foi recebida com entusiasmo por organizações que combatem o antissemitismo. A Liga Antidifamação (ADL), uma das entidades mais atuantes na defesa da comunidade judaica nos Estados Unidos, reagiu com firme ceticismo:
“Desculpe, mas não vamos acreditar. Já vimos esse tipo de tentativa de pedido de desculpas do Kanye antes, só para ele recuar repetidamente”, afirmou um porta-voz à Billboard.
A ADL lembrou que o histórico de Ye envolve elogios públicos a Adolf Hitler, declarações negacionistas, uso de suásticas em campanhas publicitárias e até o lançamento de uma música intitulada “Heil Hitler”. Em fevereiro de 2025, o rapper chegou a dizer:
“Qualquer judeu que faça negócios comigo precisa saber que não gosto nem confio em nenhum judeu — e isso é completamente sóbrio, sem Hennesy.”
Arrependimento após tragédia
As novas declarações de Kanye surgem apenas um dia após o assassinato de Yaron Lischinsky e Sarah Milgrim, ativistas judeus pró-paz mortos a tiros em frente a um museu judaico em Washington, D.C., por um atirador extremista. O casal, que planejava um noivado nos próximos dias, participava de uma reunião sobre o envio de ajuda humanitária a Gaza.
Embora Ye não tenha feito referência direta ao caso, o momento de sua “mudança de postura” gerou ainda mais desconfiança — muitos veem sua fala como tentativa de limpeza de imagem, não como um compromisso real com a reparação do dano causado.
Um histórico de ataques e rupturas
Desde que iniciou sua cruzada antissemita em 2022, Ye perdeu contratos multimilionários com a Adidas, Balenciaga, Gap e foi amplamente boicotado pela indústria do entretenimento. Mesmo após um pedido público de desculpas em 2023, o rapper continuou a promover mensagens de ódio.
Analistas apontam que o comportamento do artista oscilou entre provocações agressivas e tentativas de “redenção performática”, geralmente ligadas a perdas comerciais ou repercussões negativas diretas.
O que esperar daqui para frente?
Embora Kanye West diga agora que deseja “salvar o mundo de novo” e compartilhe mensagens de “paz e amor”, os danos causados ao longo de três anos de retórica extremista não se apagam com um tuíte — é o que dizem líderes judeus e ativistas pelos direitos humanos.
Sem ações concretas, o suposto arrependimento de Ye segue sendo tratado não como reconciliação, mas como retórica vazia. Para muitos, pedir desculpas não é o mesmo que desfazer o estrago — e, neste caso, talvez o mundo precise de mais do que boas intenções.