Uma das vozes mais emblemáticas e tecnicamente impressionantes da música pop dos anos 1980 pode estar se calando. Morten Harket, o carismático vocalista da banda norueguesa A-ha, revelou nesta quarta-feira, 4 de junho, aos 65 anos, que foi diagnosticado com a doença de Parkinson. Mais do que o diagnóstico em si, o tratamento para controlar os sintomas da condição neurodegenerativa afetou profundamente sua capacidade de cantar e seu “futuro criativo”, levantando a dolorosa possibilidade de uma aposentadoria forçada.
A batalha íntima: diagnóstico, cirurgias e a perda da vontade de cantar
Embora o anúncio público seja recente, Harket convive com a doença e suas consequências há mais tempo. O cantor revelou que iniciou o tratamento no ano passado (2024), um processo que incluiu duas cirurgias para a implantação de eletrodos no cérebro. Este procedimento, conhecido como Estimulação Cerebral Profunda (ECP), é utilizado para mitigar os sintomas motores do Parkinson, como tremores e rigidez. Contudo, para Harket, cujo instrumento principal é sua voz – famosa pelo alcance de múltiplas oitavas e um falsete cristalino que definiu o som etéreo do A-ha –, o tratamento teve um custo artístico severo.
“Não sinto vontade de cantar, e para mim isso é um sinal”, confidenciou o artista ao biógrafo da banda, Jan Omdahl, autor de “A-ha: The Swing of Things”. “Tenho a mente aberta em relação ao que acho que funciona; não espero conseguir ter controle técnico total. A questão é se consigo me expressar com a minha voz. Do jeito que as coisas estão agora, isso está fora de questão. Mas não sei se conseguirei fazer isso em algum momento no futuro”, desabafou, expondo a incerteza que agora paira sobre sua expressão artística.
Inicialmente, Harket optou por manter sua condição em segredo, buscando a tranquilidade necessária para lidar com o diagnóstico e o tratamento. “Parte de mim queria revelar. Como eu disse, reconhecer o diagnóstico não foi um problema para mim; é a minha necessidade de paz e tranquilidade para trabalhar que tem me impedido. Estou fazendo o melhor que posso para evitar que todo o meu organismo entre em declínio”, revelou o cantor em um depoimento emocionado publicado no site oficial da banda.
O legado de uma voz e o impacto de uma era
O A-ha, formado por Morten Harket, Magne Furuholmen e Pål Waaktaar-Savoy, emergiu da Noruega no início dos anos 1980 para se tornar um fenômeno global. Canções como “Hunting High and Low”, “The Sun Always Shines on T.V.”, “Crying in the Rain” e, incontestavelmente, o mega hit “Take On Me” – com seu videoclipe inovador e o vocal impressionante de Harket – definiram uma era e conquistaram o topo das paradas em diversos países, incluindo os Estados Unidos. “Take On Me” alcançou a marca histórica de ser a primeira canção dos anos 80 a ultrapassar 1 bilhão de visualizações no YouTube, um testemunho de sua longevidade e apelo intergeracional. A banda continuou a lançar álbuns e a excursionar, com seu trabalho mais recente, “True North”, lançado em 2022.
Parkinson e a arte: um desafio para a expressão
A doença de Parkinson é uma condição neurodegenerativa progressiva que afeta principalmente os movimentos do corpo, causando tremores, rigidez muscular, lentidão de movimentos (bradicinesia) e dificuldades de coordenação. Para um vocalista, cujo controle motor fino é essencial para a produção da voz, os impactos podem ser particularmente cruéis. Artistas como Linda Ronstadt, que perdeu a capacidade de cantar devido à doença, e Neil Diamond, que se aposentou de turnês, ilustram os desafios enfrentados.