O Pentágono mirou sua artilharia contra a Netflix. Em um comunicado contundente, um porta-voz do Departamento de Defesa dos EUA condenou a liderança do serviço de streaming, acusando a empresa de produzir e alimentar o público com “lixo woke”. A declaração, incomumente agressiva para uma instituição governamental, veio em resposta a uma pergunta sobre o mais novo sucesso da plataforma, a série dramática “Boots”, que narra a história real de um fuzileiro naval gay nos anos 90.
A crítica do Pentágono não foi direcionada especificamente à série, mas sim a toda a linha de programação da Netflix, em um sinal claro da crescente guerra cultural que opõe o governo de Donald Trump e as gigantes de Hollywood.
‘Não comprometeremos nossos padrões para satisfazer uma agenda ideológica’
Na nota, enviada à revista Entertainment Weekly, o secretário de imprensa do Pentágono, Kingsley Wilson, exaltou os valores da atual gestão militar. “Sob o presidente Trump e o secretário Hegseth, as forças armadas dos EUA estão voltando a restaurar o ethos guerreiro”, diz o comunicado. “Não comprometeremos nossos padrões para satisfazer uma agenda ideológica, ao contrário da Netflix, cuja liderança consistentemente produz e alimenta lixo woke para seu público e crianças.”
A declaração provavelmente foi motivada também pela recente controvérsia em torno da série de animação cancelada da Netflix, Dead End: Paranormal Park, que apresenta um personagem transgênero e gerou pedidos de boicote de figuras da direita, como Elon Musk.
‘Boots’: o sucesso que gerou a polêmica
Ironicamente, a série que serviu de estopim para a declaração, “Boots”, é um sucesso estrondoso de crítica e público. Baseada no livro de memórias “The Pink Marine”, a produção, estrelada por Miles Heizer, tem figurado no topo da lista de mais assistidos da Netflix e ostenta 93% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes.
A série é crítica às políticas anti-gays do exército nos anos 90, mas também retrata de forma positiva os aspectos de irmandade e superação da vida militar. O tema central da produção, “O que realmente significa ser um homem?”, parece ir de encontro direto ao recente e polêmico discurso do Secretário de Guerra, Pete Hegseth, que defendeu o “mais alto padrão masculino” e atacou “homens que pensam que são mulheres”.
Apesar da crítica do Pentágono à Netflix, não seria surpreendente se a própria série “Boots”, com sua complexa e, por vezes, respeitosa representação da vida militar, acabasse inspirando novos recrutas para as forças armadas.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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