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Crítica | O Amante da Rainha - A Constante Luta pela Liberdade

Guilherme Coral Guilherme Coral
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•22 de fevereiro de 2018•9 Minutes

Baseado no romance A Visita do Médico Real, que, por sua vez, é inspirado por fatos históricos, O Amante da Rainha nos leva de volta para o século XVIII, retratando o declínio do Antigo Regime e a ascensão do Iluminismo. Adaptação do livro naturalmente romantiza os acontecimentos que marcaram o governo do Rei Christian VII da Dinamarca, não se trata de um documento histórico e sim um filme que facilmente se enquadra como um dos melhores de 2012, sendo nomeado, inclusive, para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e Globo de Ouro da mesma categoria.

A trama nos é contada em tom de flashback pela rainha, Caroline Matilda (Alicia Vikander), que saíra de seu país de criação, Inglaterra, para se casar com o rei Christian da Dinamarca (Mikkel Følsgaard). Recebida com desdém pelo governante ela rapidamente se vê em uma posição isolada e acaba se apaixonando pelo médico real, Johann Friedrich Struensee (Mads Mikkelsen), que fora convidado à corte pelo próprio rei, visto que esse fugia do conservadorismo presente no restante da nobreza, afinal, o doutor era alguém do povo, não estigmatizado pelos luxos da classe dominante, contando, inclusive, com ideias iluministas herdadas, motivadas pelo desabrochar do movimento através dos textos de Rousseau, Voltaire e muitos outros.

Curioso é como, ao assistir O Amante da Rainha, sentimos uma estranha e desconfortante proximidade com o que vemos hoje em dia, não somente no cenário geopolítico brasileiro, como o global. A desigualdade social é gigantesca e observamos governantes apenas se preocupando com o alto escalão, de fato, a minoria da população e ignorando solenemente o restante. A obra, apesar de seu título remeter a um romance, é muito mais que isso, é um filme político e histórico que muito bem resume a situação europeia à essa época, na qual a voz da razão, ainda contida, buscava gritar aos quatro ventos, fugindo das amarras da religião e de um Estado arcaico, com características que remetem à Idade Média.

Impressionante é como o filme consegue mesclar seu enredo com a História, criando uma mistura homogênea a tal ponto que um não pode existir sem o outro nesse universo. As ideias de Struensee (que de fato existiu), naturalmente pautadas em outros pensadores da época, são a base de nossa Idade Contemporânea, são um ataque direto à política feudal, na qual o pobre camponês não somente não tem chance alguma de ascensão social, como deve viver eternamente subjugado a um nobre egoísta, que não trabalha e vive às custas dos cofres do país. Não muito diferente dos políticos que temos aqui, não é? Mais interessante ainda é a forma extremamente realista como o diretor Nikolaj Arcel retrata essa fase, de forma tão orgânica que chegamos a entender cada personagem, prevendo, através de cada ação, qual será a sua consequência – trata-se de uma obra que nos faz pensar e a cada pensamento vem a angústia.

Arcel, porém, faz muito mais que isso, em sua decupagem transforma essa história em um relato consideravelmente intimista. Seu foco no olhar dos personagens transmite praticamente suas almas, suas intenções, medos e paixões. Os diálogos estão presentes somente quando realmente necessários, trazem peso e solidificam o que já induzíamos. Uma sequência em especial ilustra perfeitamente toda essa questão: a dança entre Johann e Caroline. Percebam aqui como a câmera não foge do olhar dos dois, estão, em um baile à fantasia, tirando suas máscaras pela primeira vez, a ardente paixão que os consome é colocada para fora e não é necessária nenhuma palavra para exteriorizar isso. A química entre Mikkelsen e Vikander chega a ser palpável e sentimo-nos desesperados a cada segundo que ficam sem encostar os lábios um no do outro. A cena, porém, não se resume a isso – percebam como a câmera, após o auge da dança, evita os olhos de ambos: estão se escondendo novamente, temendo perderem o controle e engatar nessa proibida união.

Não posso deixar, evidentemente, de exaltar os trabalhos ambos de Mads (um dos melhores atores da atualidade) quando de Alicia, que realmente mergulham em seus papéis, cativando a nós, espectadores, com toda a sua angústia, o amor e as ideias revolucionárias, as quais imploram para serem declamadas para todos ouvirem. Mikkelsen ainda traz uma interpretação que oscila entre a frieza e o calculismo até um calor verdadeiramente humano – seu olhar analítico perfeitamente se mescla com seu próprio drama pessoal. Mikkel Følsgaard também não deixa a desejar em seu papel como rei da Dinamarca, sua “loucura” chega a ser desesperadora, mas, com o tempo, vemos que foi tachado erroneamente pela corte. Temos aqui um homem preso a seu destino, ansiando pela liberdade, como Caroline e Johann, ele, porém, é ingênuo, é uma criança, que jamais poderia ter se sentado no trono, sendo manipulado cada vez por alguém diferente. Impossível não se deixar tocar pela relação entre o rei e seu médico, uma verdadeira amizade, não estivesse o bom doutor o utilizando para instaurar seus ideais iluministas.

Entramos, portanto, na camada política da obra, uma verdadeira delícia de se assistir, que muito nos remete a séries da atualidade como House of Cards e Game of Thrones. Assistimos golpes atrás de golpes, classes sociais distintas buscando exercer o poder de fato. Com nosso olhar atual, naturalmente, torcemos por Struensee, que busca conferir direitos aos camponeses, mas, ao mesmo tempo, entendemos as angústias da nobreza, ainda que essa fosse um câncer em uma sociedade que beirava seu fim, sugando os recursos do Estado sem nada oferecer. Isso tudo coroado por um excelente desenho de produção e figurino, que nos transportam imediatamente para o século XVII de tal forma que até esquecemos de nossos arredores.

O Amante da Rainha é um daqueles filmes que nos deixam estáticos enquanto os créditos rolam. Somos tomados por uma tristeza, não só pelos eventos que assistimos, como pelo próprio fato da obra ter chegado ao fim. Certamente merecedor de sua indicação a Melhor Filme Estrangeiro, temos aqui um longa-metragem obrigatório para todos, que não só nos traz uma fantástica história, como um olhar profundamente imersivo sobre a transição do Antigo Regime para o Novo, com fantásticas atuações e uma direção de se aplaudir, que não nos permite, a qualquer instante, tirar os olhos da tela.

O Amante da Rainha (En kongelig affære – Dinamarca/ Suécia/ República Tcheca/ Alemanha, 2012)
Direção: Nikolaj Arcel
Roteiro: Rasmus Heisterberg, Nikolaj Arcel (baseado no romance de Bodil Steensen-Leth)
Elenco: Alicia Vikander, Mads Mikkelsen, Mikkel Boe Følsgaard,  Trine Dyrholm, David Dencik, Thomas W. Gabrielsson,  Cyron Melville
Gênero: Drama
Duração: 137 min.

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Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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