Crítica | Doutor Estranho no Multiverso da Loucura traz Sam Raimi de volta em grande estilo
Já faz 20 anos desde que Sam Raimi ajudou a potencializar o cinema de super-heróis da Marvel com o seminal Homem-Aranha, de 2002. De lá pra cá, a força dos super-heróis nos cinemas só cresceu, culminando na gigantesca peça mercadológica do Universo Cinematográfico da Marvel, comandado pelo visionário Kevin Feige e já colecionando quase 30 filmes desde sua origem. Nesse meio tempo, Raimi acabou se tornando uma joia rara: desde 2013 que ele não dirigia um filme, com a experiência traumática do prelúdio Oz: Mágico e Poderoso lhe deixando em Hollywood mais como produtor do que condutor. Doutor Estranho
Foi só quando Scott Derrickson inesperadamente deixou a direção do segundo filme de Doutor Estranho que uma oportunidade bateu à porta de Raimi. Já tendo sido um dos superiores de Feige durante sua passagem pela trilogia do Homem-Aranha (onde o hoje mandachuva era apenas um produtor assistente associado), Raimi volta não só para os cinemas, mas para o gênero de quadrinhos com Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, filme que precisa servir à história de outros longas, pelo menos duas séries de TV e - naturalmente - aos fãs do próprio Raimi. Uma tarefa virtualmente impossível, mas cujos resultados são surpreendentemente positivos.
A trama nos coloca ao lado do Doutor Stephen Strange (Benedict Cumberbatch) mais uma vez, agora com o mago tendo que lidar com a aparição repentina de America Chavez (Xochitl Gomez), uma jovem que tem a habilidade de saltar entre diferentes realidades do multiverso. Ela é logo colocada na mira da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen), que deseja usar de seu poder para resolver uma questão pessoal, diretamente ligada aos eventos de WandaVision. Nesse cenário, enquanto serve como protetor de America ao lado de Wong (Benedict Wong), o Doutor Estranho conhecerá diferentes caminhos do estranho multiverso à sua volta.
Amarrando as pontas em Doutor Estranho
A cada novo filme do MCU, a empresa parece cada vez mais dedicada a participações especiais e easter eggs, puramente para satisfazer os fãs de quadrinhos e jogar lenha na fogueira para futuras aparições no cinema. No que pode soar como uma verdadeira surpresa, ainda mais após o impacto de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é uma obra bem isolada. Sim, a premissa literalmente depende de outras quatro obras que o espectador precisa ter assistido para que algumas viradas de personagens façam sentido, mas quando o roteirista Michael Waldron (da série Loki) engata a marcha da história, tudo parece fluir dentro de seu próprio… Universo?
Isso garante uma aventura mais focada e que não parece tão preocupada em ramificações dos Vingadores ou outros personagens da editora, e realmente senti que Waldron e Sam Raimi estavam olhando para o Doutor Estranho como um personagem. Há até mesmo um fio temático que, apesar de superficial, procura estudar se Stephen Strange é “um homem feliz”, o que gera diálogos inesperadamente dóceis e que parecem trazer o elemento humano de volta a esse espetáculo que ocasionalmente parece tão vazio e flácido. Há também um esforço para criar um laço afetivo de mentor e aprendiz entre Strange a jovem America Chavez, mas que não tem força o bastante.
Claro, o roteiro de Waldron não é sem seus problemas. Já havia mencionado a dependência de Multiverso da Loucura em outras obras, o que é uma questão que levanta uma discussão sobre o próprio futuro do entretenimento: não deveria este filme funcionar sozinho? Podemos aceitar um filme depender do outro (afinal, é a premissa básica de uma sequência), mas ter praticamente o primeiro ato inteiro dependente de uma série de TV é algo para se pensar - imagino que aqueles que não viram WandaVision certamente não saberão o que pensar da virada mais sombria da Wanda Maximoff de Elizabeth Olsen, porque realmente não funciona por conta própria (e eu acrescentaria que nem na série do Disney+ ela foi bem construída, diga-se de passagem).
E temos também o problema do MCU. Apesar de outros filmes não terem muita relação na história, claramente há um impacto deixado por obras que envolvem o multiverso, já que o segundo ato do filme envolve o encontro de Strange com um grupo de personagens dos quadrinhos que certamente vai agradar pelo fan service e pela a escolha do elenco - mas que literalmente não tem o menor impacto na narrativa, sendo até mesmo descartados (de forma homérica) como um fan service barato e sem muitas implicações relevantes. É um ponto onde o roteiro de Waldron realmente falha, mas imagino que tenha sido alguma exigência contratual de Kevin Feige para conseguir arrancar alguns gritos de empolgação nas salas de cinema. Pois realmente não serve nenhum outro propósito.
O Retorno do Rei
Já falamos tudo o que havia para falar sobre o Universo Marvel e suas implicações de universo compartilhado, agora podemos falar sobre cinema? Eu tinha minhas dúvidas quanto a um autor cinético e imprevisível quanto Sam Raimi tentar adaptar seu estilo ao padrão simplista e monocromático do MCU, mas fiquei absolutamente surpreso em encontrar as impressões digitais do diretor de A Morte do Demônio por toda à parte. Apesar de não ter participado no roteiro ou na construção da narrativa, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura é, por boa parte deste, um filme de Sam Raimi.
Ainda que já tenha dirigido filmes de super-heróis antes, Raimi nunca havia explorado o potencial mágico de um personagem como o Doutor Estranho. De cara, a inventividade de Raimi com os poderes e efeitos visuais em cenas de ação é vastamente superior ao que nomes como Scott Derrickson, Taika Waititi, Jon Favreau, Jon Watts ou os superestimados irmãos Joe e Anthony Russo. Isso já fica escancarado em uma das sequências iniciais, onde o protagonista enfrenta uma criatura Lovecraftiana no meio das ruas de Nova York - e a alternância para reações de civis nas calçadas, janelas e prédios da cidade é um diferencial importantíssimo, já que faz aquele universo ter vida e ainda acrescenta um nível de perigo maior; algo que ele já fazia muito bem na trilogia Homem-Aranha.
Mas é mesmo com o terror que Raimi realmente consegue se divertir. Seja nas variações do Doutor Estranho em outras dimensões ou a verdadeira cruzada das trevas que a Feiticeira Escarlate executa, o diretor faz o máximo para que consiga trazer todos os seus invencionemos visuais e de câmera de A Morte do Demônio para o MCU, sobrando até mesmo referências para Arraste-me para o Inferno e seu suspense O Dom da Premonição (no que diz respeito a closes de olhos sobrepostos sobre imagens de paisagens). Visto que a Wanda de Elizabeth Olsen (absolutamente incrível em uma virada mais vilanesca e sinistra) tem até mesmo a capacidade de possuir mentes, Raimi aproveita para libertar seus demônios de Evil Dead, com uma ou duas cenas que me deixaram sorrindo de ponta a ponta ao ver travellings de câmera agressivos e ventania sobrenatural dentro de um cômodo fechado.
E graças aos céus, Raimi e o diretor de fotografia John Mathieson conseguem trazer uma paleta de cores mais interessante, colorida e com contraste alto - evitando pela maior parte da projeção o efeito de tela "lavada" do MCU.
Há inclusive uma sequência em que Raimi parece ter feito especialmente para seu colega Danny Elfman, que substitui Michael Giacchino na condução da trilha sonora. Sem querer entregar muitos detalhes, mas envolve o Doutor Estranho combatendo um oponente e, mostrando que a criatividade ainda não morreu no MCU, ambos começam a usar notas musicais de uma partitura de papel como armas cortantes - onde o impacto de cada uma delas gera um som de instrumento distinto.
Ainda que tenha suas deficiências na história e dependente demais de outras obras, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura vale suas 2 horas pela presença de Sam Raimi. É uma gigantesca surpresa ver o cineasta tão à vontade e sob domínio de sua arte, trazendo um verdadeiro deleite para os fãs de sua fase de terror.
Não existe cameo que supere o talento de Sam Raimi.
Crítica em vídeo
https://youtu.be/KysRB7CS9pg
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura (Doctor Strange in the Multiverse of Madness, EUA - 2022)
Direção: Sam Raimi
Roteiro: Michael Waldron
Elenco: Benedict Cumberbatch, Elizabeth Olsen, Benedict Wong, Rachel McAdams, Xochitl Gomez, Michael Stuhlbarg, Julian Hilliard, Jett Klyne
Gênero: Aventura
Duração: 126 min
https://www.youtube.com/watch?v=idU-bx2x1a8
Sexta-Feira 13 no Espaço - Os 20 anos de Jason X
Em 26 de abril de 2002, chegava aos cinemas americanos o décimo filme da franquia Sexta-Feira 13, que é famoso por sua radical decisão de levar o assassino Jason Voorhees para o espaço sideral.
Assim nascia Jason X, o icônico filme de Jim Isaacs que trouxe o retorno de Kane Hodder no papel titular, além de Lisa Ryder, Lexa Doig e uma participação especial de David Cronenberg.
Segue abaixo a análise dessa pérola do cinema trash no canal Lucas Filmes.
https://www.youtube.com/watch?v=_TCIOiMOhTo
Crítica | Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore carece de magia e relevância
Não é exagero algum dizer que Harry Potter é um dos universos mais ricos da cultura pop. Iniciado nos livros por J.K. Rowling e levado aos cinemas com maestria pela franquia de 8 filmes produzida por David Heyman, a saga de fantasia adolescente apresenta um universo de possibilidades infinitas - e que são uma necessidade em um mundo obcecado por conteúdo e propriedades intelectuais. Dito isso, é de uma curiosidade gigantesca ver esse universo gastando tanto tempo com o derivado Animais Fantásticos e Onde Habitam.
Lançado em 2016 como um spin-off/prelúdio da saga, que também marcava a estreia de Rowling na função de roteirista, o filme de David Yates era bonitinho e inofensivo; especialmente se fosse considerado como um longa isolado. Então, a megalomania foi aplicada à história do magizoologista abobalhado, com a Warner Bros anunciando mais 4 continuações, que narrariam a batalha contra o bruxo das trevas Gellert Grindelwald. Infelizmente, o resultado foi esfriando, e este recente Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore representa mais uma evidência contra o desenvolvimento dessa franquia.
Um pouco tempo depois de Os Crimes de Grindelwald, a trama nos coloca ao lado de Alvo Dumbledore (Jude Law) enquanto este tenta descobrir uma forma de poder quebrar um feitiço que o impede de atacar seu ex-amante, Grindelwald (agora com as feições de Mads Mikkelsen). Novamente, ele conta com a ajuda de Newt Scamander (Eddie Redmayne), que precisa usar de seu conhecimento nas criaturas mágicas para encontrar uma espécie rara que terá um papel decisivo no conflito contra Grindelwald, que agora planeja usar de poder político para dominar o mundo da magia e iniciar uma guerra contra os Trouxas.
O Retorno de Kloves em Animais Fantásticos
Apesar de gostar do primeiro Animais Fantásticos, sempre tive a impressão de que a Warner escolheu a história errada para levar adiante. As sequências basicamente transformam Newt Scamander em um espectador de uma história maior, e insistem em forçar um peso de herói dramático de ação em um personagem cujo maior traço de personalidade é uma função de veterinário/explorador; é extremamente anacrônico vê-lo discursando e se preocupando com um bruxo das trevas à solta, algo que era bem mais coerente na história de Harry Potter e seu conflito inerente com Voldemort.
Dessa vez, a produção parece um pouco mais interessada em corrigir os erros do anterior. Ao lado de Rowling (duplamente creditada como roteirista, vejam só), temos a presença do roteirista Steve Kloves, que escreveu todos os filmes de Potter - com exceção de A Ordem da Fênix - e, de certa forma, ajuda a apresentar uma narrativa mais lógica e menos descontrolada do que a de Os Crimes de Grindelwald. Porém, se aquele filme era uma bagunça de subtramas, personagens e um objetivo dramático que poderia ser resumido a um teste de paternidade, Os Segredos de Dumbledore é simplesmente… vazio.
Kloves e Rowling claramente olham para uma fórmula mais voltada ao heist/filme de equipe, com Dumbledore instruindo Newt para montar um grupo de resistência a Grindelwald. Apesar do bom set up e da premissa de um jogo mais político do que aventuresco, o roteiro nunca sai do lugar comum e raramente traz algo interessante. A ideia de Grindelwald ser permitido de concorrer a uma eleição no mundo bruxo representa uma clara tentativa de representar os absurdos do cenário político contemporâneo (“Esse homem era um fugitivo e agora é candidato para o controle do mundo bruxo?”, diz um dos personagens), mas soa tão absurdo e risível que torna a história difícil de ser levada a sério.
Os únicos elementos interessantes estão mesmo com a família Dumbledore; ou melhor, da relação entre Alvo e Grindelwald, já que o deslocado Ezra Miller tem seu Credence Barebone ainda mais perdido e irrelevante em todo o cenário dessa história. Quando o filme de fato para e se concentra na figura de Alvo, começando muito bem com um diálogo bem sincero e íntimo entre este e Grindelwald em um restaurante, o resultado consegue ser um pouco mais estimulante. Pelo menos, bem mais divertida do que quando o texto de Kloves e Rowling tenta criar “distrações” envolvendo seus personagens, principalmente no arco inútil de William Nadylam como Yusuf.
Os Segredos de Dumbledore certamente ofende menos do que Os Crimes de Grindelwald, mas ao menos o segundo me manteve acordado.
A morte da magia
Mas pior ainda é ver a saga Harry Potter desistindo se suas ambições visuais. Mesmo que Os Crimes de Grindelwald fosse uma bagunça de ideias e história, ainda conseguia exibir o trabalho fantástico de de designers, artistas e figurinistas ao longo de toda a produção - que realmente parecia colocar o dinheiro na tela. Os Segredos de Dumbledore retroativamente me faz gostar mais do anterior, já que é tão burocrático, esteticamente sem vida e até mesmo seus figurinos e cenários parecem carecer de magia. Apresentando o Ministério da Magia da Alemanha, o filme se contenta em simplesmente apresentar concreto, espaços vazios e cores dessaturadas, quase como se quisesse emular a Alemanha Nazista da década de 40; o que realmente não faz o menor sentido, além de ser visualmente desinteressante.
Nem mesmo as criaturas fantásticas do título ganham o destaque que tinham no anterior. Nem na trama e muito menos no design, já que apenas os pequenos "siris" que rendem uma dancinha embaraçosa se destacam como inovações conceituais, além do animal fantástico que representa o principal macguffin da história, mas que não apresenta nada de interessante além de ser um Bambi de textura diferente.
O que nos leva a David Yates, que dirige seu sétimo filme da franquia. Naturalmente, o homem está cansado e isso finalmente começou a transparecer na tela; já que até mesmo Os Crimes de Grindelwald tinha seus momentos de inspiração. A impressão que passa durante toda a projeção deste terceiro filme é a de alguém com prazo de entrega apertado: não há riscos, nenhum enquadramento ousado ou, sendo bem sincero, o mínimo do capricho além do aceitável. Há diversos casos de fundo artificial que se destacam negativamente, seja para cenários que deveriam ser realistas ou quando embates de varinhas “trocam" a realidade por um fundo lavado e estourado que lima qualquer empolgação de tais sequências. A magia nunca foi menos mágica no universo de Harry Potter quanto aqui, o que é uma pena quando consideramos seu gigantesco potencial.
Não há muito o que valha a pena ser dito sobre o elenco que não serviria para os anteriores. A trupe de Eddie Redmayne, Dan Fogler e Alison Sudol permanece carismática e simpática, com Fogler ganhando ainda mais espaço graças à sua presença cômica eficiente. Assim como no anterior, Jude Law é o destaque absoluto como este jovem Alvo Dumbledore, aqui ainda mais parecido em caracterização e trejeitos com a versão de Michael Gambon na saga Potter; e ver seus momentos mais emotivos com Grindelwald é realmente um ponto alto de sua performance.
E por falar em Grindelwald… Foi bem noticiado que Johnny Depp deixou a produção do filme após uma série de problemas pessoais que, até hoje, ajudam a manter sua carreira em uma zona cinzenta de Hollywood. A ideia de Mads Mikkelsen é empolgante e com certeza aumentou o interesse no filme, mas infelizmente o ator está completamente desinteressado. Não há menção alguma quanto à mudança de aparência, e Mikkelsen parece no piloto automático durante toda a projeção, que eliminou qualquer aspecto de ameaça (e até excentricidade bem presente no trabalho de Depp) e limitou o vilão a um antagonista genérico e sem personalidade alguma. Desde Doutor Estranho que Mikkelsen não era tão desperdiçado.
Assim como seu anterior, Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore é mais uma evidência de que a Warner Bros e J.K. Rowling escolheram o projeto errado para manter o universo de Harry Potter vivo. O novo filme falha em suas ambições políticas, em qualquer senso de diversão ou de uma magia brilhante que a primeira saga fez tão bem.
O mundo bruxo é muito mais estimulante para ficar preso na maleta de Newt Scamander.
Crítica em vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=-ivf1WnrRwY
Animais Fantásticos: Os Segredos de Dumbledore (Fantastic Beasts: The Secrets of Dumbledore, EUA/Reino Unido - 2022)
Direção: David Yates
Roteiro: JK Rowling e Steve Kloves
Elenco: Eddie Redmayne, Jude Law, Mads Mikkelsen, Dan Fogler, Alison Sudol, Ezra Miller, Jessica Williams, William Nadylam, Katherine Waterston, Callum Turner, Victoria Yeates
Gênero: Aventura
Duração: 142 min
https://www.youtube.com/watch?v=5SjYFF2g35c
Crítica | Morbius é um dos piores filmes de quadrinhos já feitos
A Sony Pictures é uma empresa ligeiríssima, especialmente quando se trata de sua divisão de adaptações de quadrinhos. Apesar de o Homem-Aranha estar compartilhando a tela com os Vingadores da Marvel Studios, Avi Arad mantém controle do Aracnídeo e sua extensa galeria de personagens, o que possibilita este pequeno e estranho universo compartilhado que teve início com o bem-sucedido Venom, com Tom Hardy. Após uma sequência igualmente lucrativa e uma trilogia de filmes com Tom Holland em parceria com a Disney, o próximo passo representa uma escolha peculiar: Morbius.
Baseado em um personagem bem mais obscuro e menos conhecido dos quadrinhos do Homem-Aranha, o tal do Vampiro Vivo é literalmente isso: um vampiro sugador de sangue. Não há muita margem para se criar um anti-herói colorido como aconteceu com Venom nos quadrinhos (e também nos cinemas), então a escolha da Sony para preencher seu novo universo era bem curiosa. E, ao testemunhar o resultado final nas telas, realmente surpreendentemente em níveis de mediocridade.
Na verdade, mediocridade seria um elogio. Morbius é absolutamente ruim.
A trama nos apresenta ao Dr. Michael Morbius (Jared Leto), que desde criança é afetado por uma doença sanguínea rara que afeta sua locomoção. Dedicando toda a sua vida para encontrar a cura, ao lado de seu amigo Milo (Matt Smith), Morbius recorre a uma mistura nada ortodoxa de seu DNA com o de uma espécie de morcego-vampiro. O resultado o transforma em uma criatura vampiresca que precisa de sangue para sobreviver, colocando Morbius na mira da polícia de Nova York e também de seu amigo de infância.
Monstros justiceiros
No papel, é uma clássica história de cientista trágico. A ideia de se ter um herói que sofre por uma maldição não é nova e já se mostrou bem-sucedida no próprio gênero (vide o Hulk, Blade, os X-Men ou até o próprio Homem-Aranha), mas o grande problema de Morbius é não se decidir sobre o que quer ser. A dupla de roteiristas Matt Sazama e Burk Sharpless (que ironicamente também escreveram o péssimo Drácula: A História Nunca Contada) fica presa entre um filme de herói e um de terror, não sendo necessariamente bem sucedidos em nenhuma dessas vertentes. É uma história de origem/doença capenga e clichê, seja pela personalidade idealista de Morbius ou de sua amizade com Milo, resumida em uma frase sobre espartanos que é repetida ao menos uma dúzia de vezes ao longo da projeção.
O desespero da produção em tornar uma figura tão vilanesca como Morbius em herói é tamanha que, ainda com o protagonista não estabelecido, o filme invente um antagonista para “diminuir" sua ameaça. Ainda que Morbius seja, sim, um assassino desde sua primeira aparição, todo o arco envolvendo o personagem de Milo tenta ser ainda mais vilanesco e cruel - mas o resultado é um show de vergonha alheia para o pobre Smith, que só tem dancinhas embaraçosas e um rosto CGI pavoroso como armas em seu arsenal bem limitado de terror. A inserção de Milo tão cedo (sem o menor mistério em relação à sua participação em uma série de assassinatos) que a perseguição da polícia em torno de Morbius perde qualquer impacto ou senso de urgência. Não que o longa realmente investisse nisso, mas seria o básico absoluto.
Sede de Genérico
Quando chegamos à direção, o nome de Daniel Espinosa é o tipo de cineasta interessante que poderia se divertir num longa do gênero (vide o eficiente Vida, também da Sony). Infelizmente, Espinosa parece estranhamente capado e genérico, oferecendo as piores e mais incompreensíveis cenas de ação desde Transformers: A Vingança dos Derrotados, e falhando miseravelmente nas tentativas de terror. Mesmo que ofereça muita fumaça durante uma perseguição em um navio de carga (batizado de Murnau!) e que o fotógrafo Oliver Wood pisque bastante as luzes de um corredor profundo, o resultado é sempre mais próximo do riso do que o pavor; tanto pelo CGI terrível associado aos rostos digitais dos vampiros ou pela ausência de sangue, que rendem cenas em que personagens são perfurados e se debatem loucamente, como se litros de sangue invisível jorrassem de suas jugulares.
Nem quero lembrar dos embates vampirescos, onde Espinosa até tenta fazer algo diferente. Infelizmente, a cena em questão envolve Morbius descobrindo sua habilidade de voar, justamente quando um Milo de rosto vampiresco corre em sua direção a toda velocidade em uma estação de metrô. Espinosa aposta em uma câmera lenta para alternar as reações de um Morbius confuso com o Milo furioso, enquanto o protagonista sente o vento no rosto e ouve o som do metrô se aproximando. É uma cena absurdamente ridícula e artificial, mas que - se serve de algum elogio - eu pude identificar algo, mesmo que a encenação focada em descoberta parece flertar com a sedução homoerótica - algo do qual o roteiro parece descaradamente querer fugir, ainda que fosse algo que, honestamente, fortaleceria o arco entre Michael e Milo.
Afinal, quando o trailer tem uma apresentação do rosto monstruoso do protagonista bem mais formidável e regada a suspense do que a do próprio filme... É sinal de que a situação é feia.
Infelizmente, ninguém do elenco pode se salvar. Leto se prende a uma performance fria e sem qualquer variação/empolgação, onde confesso que até mesmo seu Coringa afetado e funkeiro de Esquadrão Suicida acrescentaria uma empolgação à mistura. Matt Smith sofre com a caricatura embaraçosa de Milo, enquanto Adria Arjona cumpre o papel de “interesse amoroso óbvio” sem muito carisma. Enquanto isso, Jared Harris é desperdiçado cruelmente em um papel sem destaque, enquanto Tyrese Gibson é reduzido ao estereótipo do policial bravo que nunca realmente entra em ação.
Morbius é um desastre sem tamanho. Em um cenário onde filmes de super-heróis vão se tornando cada vez mais intercambiáveis e sem personalidade, o filme protagonizado por Jared Leto não faz o menor esforço para esconder suas intenções claramente mercadológicas e tampouco para caprichar em qualquer elemento cinematográfico. Uma das maiores bombas que os quadrinhos já originaram para o cinema em sua História.
Crítica em vídeo
https://www.youtube.com/watch?v=D-eEe_gGrxU
Morbius (EUA, 2022)
Direção: Daniel Espinosa
Roteiro: Matt Sazama e Burk Sharpless
Elenco: Jared Leto, Matt Smith, Jared Harris, Adria Arjona, Tyrese Gibson, Al Madrigal
Gênero: Ação
Duração: 104 min
https://www.youtube.com/watch?v=f1ozk30l5YQ
Crítica | Cavaleiro da Lua transforma mais um herói mitológico em comédia pastelão
Desde que a Marvel Studios anunciou um pacote de novas séries originais para o Disney+, confesso que não fiquei muito empolgado com o primeiro catálogo. A intenção inicial da gigante produtora de Kevin Feige era preencher pontes entre personagens já estabelecidos do MCU, especialmente para continuar fios de história deixados abertos em Vingadores: Ultimato, com WandaVision, Falcão e o Soldado Invernal, Loki e Gavião Arqueiro oferecendo mais do mesmo em termos de personagens.
Eram mesmo os novos personagens que me interessavam. Dessa forma, Ms. Marvel, She-Hulk e Cavaleiro da Lua preencheriam essa extensão do Universo Marvel no streaming, e era justamente o herói perturbado de Oscar Isaac que mais me chamava atenção, tanto pela mitologia interessantíssima do personagem nos quadrinhos quanto pela possibilidade de explorar algo genuinamente inovador e original na caixa de areia da Marvel Studios. E após assistir aos dois primeiros episódios da série apadrinhada por Jeremy Slater, estou completamente arrasado e decepcionado.
A trama dos dois primeiros episódios gira em torno de Steven Grant (Oscar Isaac), um funcionário de museu que tem problemas de sono e começa a sentir efeitos estranhos em seu cotidiano. Após uma série de apagões e dias perdidos, ele descobre que possui uma outra identidade habitando seu corpo: a do mercenário Marc Spector, que por sua vez atua como vassalo de uma poderosa entidade egípcia conhecida como Khonshu o Deus Lunar. Enquanto tenta lutar pelo controle de seu próprio corpo e mente, Steven também assume a identidade mística do Cavaleiro da Lua, que está travado em um combate com o misterioso cultista Arthur Harrow (Ethan Hawke), apoiador de uma entidade rival de Khonshu.
A Ragnarokização continua
Mais uma vez, o pior da fórmula Marvel se repete. Mesmo não sendo um grande conhecedor da história do Cavaleiro da Lua nos quadrinhos, vi a mesma sina que assombrou Thor em praticamente todos os seus filmes no cinema (mas especialmente no pavoroso Ragnarok), onde o protagonista é transformado em um comediante, preso em uma série de situações atrapalhadas e movidas por piadinhas sem graça e viciadas em referências pop. É genuinamente decepcionante atestar que a Marvel Studios precisa desesperadamente apelar para o humor pastelão idiota para conseguir o interesse do público (que estava bem animado na sessão de imprensa na qual compareci), ao invés de confiar no risco de algo mais ousado - já que elementos de terror estão na série, mas com medo de serem levados ao extremo.
Quando vi o abobalhado protagonista de Oscar Isaac ouvir a palavra “Avatar" e imediatamente começar a falar sobre o filme de James Cameron (e depois o anime da Nickelodeon) em um importante diálogo expositivo, eu já sabia o que viria pela frente; e já não me importava mais, sinceramente. Ainda mais porque Cavaleiro da Lua parece bem confortável em replicar boa parte da fórmula de Venom, com o protagonista conversando consigo mesmo no reflexo e ouvindo uma voz gravíssima de uma entidade em sua cabeça (no caso, o imponente F. Murray Abraham como Khonshu). Mas com todo respeito a Oscar Isaac, ele não consegue se entregar ao ridículo como Tom Hardy. Ainda que seja louvável e interessante vê-lo com um sotaque britânico para diferenciá-lo de sua outra identidade, a escolha soa artificial e satírica o tempo todo, e nunca fui capaz de acreditar em Steven Grant como um personagem real - o texto já era frágil, e a entrega problemática de Isaac só piora o resultado.
Toda essa veia cômica afeta também o lado “épico" da série. Sem nunca levar nada a sério, o risco e o terror que a produção almeja são inexistentes. Qualquer sequência que envolve um Oscar Isaac apavorado fugindo dos chacais de CGI questionável e genérico remetem mais a Uma Noite no Museu do que o pseudo-Bebê de Rosemary que os diretores tanto tentam emular - especialmente pelas tomadas de corredores apertados e aparições repentinas de… Mais figuras de CGI questionável. Não há a menor textura em uma realização tão artificial, que grita amadorismo durante uma terrível sequência de perseguição de carro; onde a experiência da tela de cinema só expôs a precariedade dos efeitos visuais que criam carros e árvores borrachudas despencando de penhascos digitais.
Chapolin na Lua
Também entendo a honrável intenção de Kevin Feige e da Disney em contratar cineastas egípcios para comandar um super-herói tão atrelado a essa cultura; mas isso não é justificativa o suficiente, já que o trabalho em tela é péssimo. O novato Mohamed Diab dita o tom do primeiro episódio, e decepciona tanto nas cenas de ação quanto no estabelecimento de atmosfera, já que suspense e humor se perdem de forma desastrosa - algo que a dupla Justin Benson e Aaron Moorhead carrega no igualmente desastroso segundo episódio, que também sofrem pela repetição estrutural: 40 minutos de dúvidas e confusão acerca da dualidade entre Steven e Marc seguidos por 10 minutos de porradaria CGI sem o qualquer capricho ou impacto visual.
Se há algo que eu posso elogiar nos aspectos técnicos da série, bem… Cavaleiro da Lua ao menos pinta cenas noturnas bem mais interessantes e melhores iluminadas do que outros filmes do MCU; com os diretores de fotografia sabiamente apostando em um contraste mais forte e a presença de luz amarelada de postes e elementos cênicos para composições mais inspiradas. É o básico de fotografia, mas considerando que é o MCU, é um passo enorme.
E fechando elogios... Eu realmente achei que Ethan Hawke fez um bom trabalho com Arthur Harrow. O conceito do personagem, claramente inspirado em cultos religiosos, é raso e caricato como o restante da série, mas o ator é eficiente ao transmitir uma aura de ameaça bem sutil. Há diversos momentos em que Harrow definitivamente explodiria de raiva, mas Hawke simplesmente mantém a voz controlada, sempre calmo e sussurrando; o que ironicamente o tornam ainda mais sinistro.
Eu realmente fiquei bem chateado com o resultado final de Cavaleiro da Lua. Ver uma premissa tão saborosa e um super-herói com potencial para render grandes histórias ser resumido a mais uma comédia pastelão parece estar se tornando padrão na Marvel Studios. Sei que são apenas 2 episódios de uma temporada de 6, mas confesso que não devo retornar para ver o desfecho da história.
Cavaleiro da Lua - Episódios 1 e 2 (Moon Knight, EUA - 2022)
Showrunner: Jeremy Slater
Direção: Mohamed Diab, Justin Benson, Aaron Moorhead
Roteiro: Jeremy Slater
Elenco: Oscar Isaac, Ethan Hawke, F. Murray Abraham, May Calamawy, Lucy Thackeray
Gênero: Comédia, Aventura
Duração: 50 min
Streaming: Disney+
https://www.youtube.com/watch?v=rz2WBg5g7Ek
No Ritmo do Coração é o vencedor do Oscar 2022; confira todos os premiados
Na noite deste domingo (27) a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou os vencedores do Oscar 2022.
Confira a lista completa abaixo:
Melhor Filme
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Belfast
Drive My Car
Duna
King Richard: Criando Campeãs
Licorice Pizza
Não Olhe para Cima
No Ritmo do Coração (VENCEDOR)
Melhor Direção
Kenneth Branagh - Belfast
Jane Campion - Ataque dos Cães
Ryusuke Hamaguchi - Drive My Car
Steven Spielberg - Amor, Sublime Amor
Paul Thomas Anderson - Licorice Pizza
Melhor Ator
Javier Bardem - Apresentando os Ricardos
Benedict Cumberbatch - Ataque dos Cães
Andrew Garfield - tick, tick... BOOM!
Will Smith - King Richard: Criando Campeãs
Denzel Washington - A Tragédia de MacBeth
Melhor Atriz
Jessica Chastain - Os Olhos de Tammy Faye
Olivia Colman - A Filha Perdida
Penélope Cruz - Mães Paralelas
Nicole Kidman - Apresentando os Ricardos
Kristen Stewart - Spencer
Melhor Ator Coadjuvante
Ciaran Hinds - Belfast
Troy Kotsur - No Ritmo do Coração (VENCEDOR)
Jesse Plemmons - Ataque dos Cães
J.K. Simmons - Apresentando os Ricardos
Kodi-Smit McPhee - Ataque dos Cães
Melhor Atriz Coadjuvante
Jessie Buckley - A Filha Perdida
Ariana DeBose - Amor, Sublime Amor (VENCEDOR)
Judi Dench - Belfast
Kirsten Dunst - Ataque dos Cães
Aunjanue Ellis - King Richard: Criando Campeãs
Melhor Roteiro Original
Belfast (VENCEDOR)
King Richard: Criando Campeãs
Licorice Pizza
Não Olhe para Cima
A Pior Pessoa do mundo
Melhor Roteiro Adaptado
Ataque dos Corações
Drive My Car
Duna
A Filha Perdida
No Ritmo do Coração (VENCEDOR)
Melhor Filme Internacional
Drive My Car (VENCEDOR)
A Felicidade das Pequenas Coisas
Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar
A Mão de Deus
A Pior Pessoa do Mundo
Melhor Animação
Encanto (VENCEDOR)
A Família Mitchell contra a Revolta das Máquinas
Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar
Luca
Raya e o Último Dragão
Melhor Documentário
Ascensão
Attica
Escrevendo com Fogo
Flee: Nenhum Lugar para Chamar de Lar
Summer of Soul (Ou Quando a Revolução Não Pôde ser Televisionada) (VENCEDOR)
Melhor Design de Produção
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Duna (VENCEDOR)
A Tragédia de MacBeth
Melhor Fotografia
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
O Beco do Pesadelo
Duna (VENCEDOR)
A Tragédia de MacBeth
Melhor Montagem
Ataque dos Cães
Duna (VENCEDOR)
King Richard: Criando Campeãs
Não Olhe para Cima
tick, tick... BOOM!
Melhor Figurino
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
Cruella (VENCEDOR)
Cyrano
Duna
Melhor Maquiagem e Cabelo
Casa Gucci
Cruella
Duna
Os Olhos de Tammy Faye (VENCEDOR)
Um Príncipe em Nova York 2
Melhores Efeitos Visuais
007 - Sem Tempo para Morrer
Duna (VENCEDOR)
Free Guy: Assumindo o Controle
Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis
Melhor Som
007 - Sem Tempo para Morrer
Amor, Sublime Amor
Ataque dos Cães
Belfast
Duna (VENCEDOR)
Melhor Trilha Sonora
Ataque dos Cães
Encanto
Duna
Mães Paralelas
Não Olhe para Cima
Melhor Canção Original
"Be Alive" - King Richard: Criando Campeãs
"Dos Oruguitas" - Encanto
"Down to Joy" - Belfast
"No Time to Die" - 007 - Sem Tempo para Morrer
"Somehow You Do" - Quatro Dias com Ela
Melhor Curta-Metragem
Ala Kachuu - Take and Run
The Dress
The Long Goodbye (VENCEDOR)
On My Mind
Please Hold
Melhor Curta Metragem de Animação
Affairs of the Art
Bestia
Box Ballet
O Sabiá Sabiazinho
The Windshield Wiper (VENCEDOR)
Melhor Documentário em Curta-Metragem
Audible
Lead Me Home
The Queen of Basketball (VENCEDOR)
Three Songs for Benazir
When We Were Bullies
Quem vai ganhar e quem deveria ganhar o Oscar 2022
É chegada a hora de mais uma noite do Oscar 2022.
A 94ª edição dos prêmios da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas já é polêmica antes mesmo da entrega das estatuetas, já que categorias serão cortadas da transmissão e o tempo da cerimônia deve favorecer mais “números de comédia”.
Dito isso, hora de fazer as apostas finais para cada uma das categorias da premiação, destrinchando favoritos, possíveis surpresas e quem de fato merece ser louvado.
Confira.
Melhor Filme
Por muito tempo, parecia que Ataque dos Cães seria o vencedor invencível da corrida principal; marcando a primeira vitória da Netflix no Oscar de Melhor Filme. Porém, eis que a Apple TV+ alavanca a campanha de No Ritmo do Coração, um hit indie que fez sucesso em Sundance e logo foi colecionando vitórias cruciais em premiações precursoras; como o SAG de Melhor Elenco e o PGA de Melhor Filme. Ainda não é uma certeza, mas hoje a sorte virou para o adorável CODA, que deve triunfar sobre Ataque dos Cães.
Quem vai ganhar: No Ritmo do Coração
Quem pode ganhar: Ataque dos Cães
Quem Deveria Ganhar: No Ritmo do Coração
Melhor Direção
Desde que Jane Campion estreou Ataque dos Cães em Veneza, sua vitória na categoria de Direção era praticamente certa. A cineasta neozelandesa garantiu vitórias no DGA, no BAFTA, Critic’s Choice e praticamente tudo o que se refere a direção cinematográfica. É a segunda indicação de Campion na categoria (após O Piano), e ela deve se tornar a terceira mulher a vencer como Diretora.
Quem vai ganhar: Jane Campion
Quem pode ganhar: Ninguém além dela
Quem deveria ganhar: Steven Spielberg
Melhor Ator
É o ano de Will Smith, simples assim. O astro já vem tentando garantir uma estatueta dourada desde os anos 2000, tendo sido indicado por Ali e À Procura da Felicidade, e aproveitou diversos dramas de qualidade duvidosa para tentar novamente. Eis que King Richard: Criando Campeãs se conectou com a Academia e o tornou o favorito, tendo sacolado o SAG, BAFTA, Critic’s Choice e outros prêmios que o colocam à frente de Benedict Cumberbatch - o único capaz de estragar a festa. Mas é praticamente certo que Will Smith se tornará um vencedor do Oscar.
Quem vai ganhar: Will Smith
Quem pode ganhar: Benedict Cumberbatch - Ataque dos Cães
Quem deveria ganhar: Andrew Garfield - tick, tick... BOOM!
Melhor Atriz
Uma das corridas mais inusitadas e imprevisíveis da temporada. Primeiro, parecia que Kristen Stewart seria a favorita por sua performance em Spencer, mas a indicação ao Oscar foi a única conquista de peso. Depois, as listas de indicadas no BAFTA, SAG e Oscar se diferenciaram, e o terreno se reduziu a um nome inesperado: Jessica Chastain, por Os Olhos de Tammy Faye. Apesar de Nicole Kidman estar na retaguarda e Penelope Cruz ter força na ala internacional da Academia, Chastain venceu o SAG e o Critic’s Choice, fortalecendo sua posição.
Quem vai ganhar: Jessica Chastain
Quem pode ganhar: Penelope Cruz - Mães Paralelas
Quem deveria ganhar: Kristen Stewart, só porque Spencer é incrível.
Melhor Ator Coadjuvante
Refletindo a corrida entre Ataque dos Cães e No Ritmo do Coração na categoria principal, Kodi Smit-McPhee era o grande favorito pelo filme de Jane Campion. Porém, o carismático Troy Kotsur garantiu muitos elogios e vitórias no SAG, BAFTA e Critic’s Choice, e está no caminho para se tornar o primeiro ator surdo a vencer um Oscar. Tudo indica que Kotsur será o grande ganhador, e será uma conquista lindíssima.
Quem vai ganhar: Troy Kotsur
Quem pode ganhar: Kodi-Smit McPhee
Quem deveria ganhar: Troy Kotsur
Melhor Atriz Coadjuvante
Se há uma certeza dentre as categorias de atuação, é a do furacão chamado Ariana DeBose. Na pele da nova Anita do remake de Steven Spielberg para Amor, Sublime Amor, a atriz ganhou BAFTA, SAG e Critic’s Choice, se estabelecendo como grande favorita graças à sua performance fortíssima e movida por dança e cantoria. Assim como Rita Moreno há 60 anos, DeBose ganhará um Oscar por interpretar Anita no musical de Stephen Sondheim.
Quem vai ganhar: Ariana DeBose
Quem pode ganhar: Ninguém além dela
Quem deveria ganhar: Ariana DeBose
Melhor Roteiro Original
Hora de usar a lógica da Academia. Usando os prêmios precursores, há três possíveis vencedores: Belfast (Critic’s Choice, Globo de Ouro), Licorice Pizza (BAFTA) e… Não Olhe para Cima (WGA). Visto que Belfast não era elegível ao WGA, a aposta fica para o filme de Kenneth Branagh, que deve ser sua única vitória após uma caríssima campanha da Focus Features. Não descartem também a virada de Paul Thomas Anderson, que pode muito bem faturar o primeiro Oscar de sua carreira. Mas só não premiem Adam McKay de novo…
Quem vai ganhar: Belfast
Quem pode ganhar: Licorice Pizza
Quem deveria ganhar: A Pior Pessoa do Mundo
Melhor Roteiro Adaptado
Se No Ritmo do Coração realmente vai ganhar filme, precisará de uma vitória no campo do roteiro. E, felizmente para a campanha da Apple, o longa garantiu vitórias importantes no BAFTA e na premiação do WGA, estabelecendo-o como favorito. Há também a possibilidade de Ataque dos Cães ou até mesmo o elogiado A Filha Perdida, de Maggie Gyllenhaal, serem consagrados no lugar.
Quem vai ganhar: No Ritmo do Coração
Quem pode ganhar: A Filha Perdida
Quem deveria ganhar: No Ritmo do Coração
Melhor Animação
É uma categoria dominada pela Disney, representada por Luca, Encanto e Raya e o Último Dragão. Tudo indica que Encanto, que fez sucesso nas redes sociais e figura em mais categorias do que seus candidatos, deve levar a melhor aqui - apesar da presença prestigiosa de Flee ou da qualidade enorme de A Família Mitchell contra a Revolta das Máquinas, que não ganhou precursores importantes, mas fez sucesso com a crítica e a premiação do Annie.
Quem vai ganhar: Encanto
Quem pode ganhar: A Família Mitchell contra a Revolta das Máquinas
Quem deveria ganhar: A Família Mitchell contra a Revolta das Máquinas
Melhor Filme Internacional
Definitivamente não teremos surpresas aqui. O simples fato de o japonês Drive My Car estar indicado também para Melhor Filme, Direção e Roteiro Adaptado o torna o favorito absoluto na categoria. Uma pena para o excelente A Pior Pessoa do Mundo, mas Drive My Car sairá vitorioso aqui.
Quem vai ganhar: Drive My Car
Quem pode ganhar: Ninguém além dele
Quem deveria ganhar: A Pior Pessoa do Mundo
Melhor Documentário
Dentre os muitos títulos que passaram pela temporada de prêmios deste ano, Summer of Soul (Ou quando a Revolução Não pôde ser Televisionada) é o mais forte. Apesar de Flee apresentar uma campanha forte aqui, o documentário musical ganhou muitos prêmios precursores, além de contar com uma campanha pesadíssima da própria ABC, que exibiu o longa gratuitamente em sua emissora - a mesma que transmite o Oscar, o que é um grande amuleto da sorte.
Quem vai ganhar: Summer of Soul
Quem pode ganhar: Flee
Quem deveria ganhar: Summer of Soul
Melhor Design de Produção
Duna definitivamente não vai ganhar o Oscar de Melhor Filme, mas é agora que sua limpa nas categorias técnicas na premiação. A primeira delas deve ser em Design de Produção, visto que o longa faturou o BAFTA e o prêmio do sindicato de Diretores de Arte. Sua única ameaça maior está em O Beco do Pesadelo, caprichada produção de Guillermo Del Toro, um nome que costuma ser pé quente quando o assunto é design.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: O Beco do Pesadelo
Quem deveria ganhar: A Tragédia de MacBeth
Melhor Fotografia
Uma categoria absolutamente espetacular, e cujos indicados refletem a mesmíssima lista da categoria anterior. Se o Oscar fosse entregue por mérito absoluto, seria uma vitória de A Tragédia de MacBeth, que traz um trabalho em preto e branco sobrenatural do grande Bruno Delbonnel. Porém, levando o BAFTA e o prêmio do ASC como referência, é bem provável que Greig Fraser vença seu primeiro Oscar por seu trabalho em Duna.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: A Tragédia de MacBeth
Quem deveria ganhar: A Tragédia de MacBeth
Melhor Figurino
Eu definitivamente não foi um grande admirador de Cruella, mas até mesmo os mais leigos em termos de moda precisam admitir: o trabalho de figurino é espetacular. Não só rende vestimentas excêntricas e absurdamente criativas da figurinista Jenny Beavan (vencedora na categoria por Mad Max: Estrada da Fúria), mas a própria arte da confecção de roupas é inerente à trama do filme, centrado na disputa entre dois ícones da moda. Se perder, é marmelada, mas fiquem de olho em Duna.
Quem vai ganhar: Cruella
Quem pode ganhar: Ataque dos Cães
Quem deveria ganhar: Se tem algo excepcional em Cruella, é o figurino
Melhor Montagem
Em mais uma corrida disputada e imprevisível, a categoria de montagem pode ser mais um prêmio para Duna. Isso porque Joe Walker é um veterano que, ano após ano, foi se consagrando como um dos melhores nomes do setor. Porém, King Richard: Criando Campeãs traz uma forte vitória no American Cinema Editors, além de se beneficiar do amor da Academia em premiar a montagem de filmes sobre esportes. Uma pena que tick, tick… BOOM! (o melhor trabalho entre os indicados) não tenha muitas chances aqui, mas a aposta fica com Duna novamente.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: King Richard: Criando Campeãs
Quem deveria ganhar: tick, tick... BOOM!
Melhor Maquiagem & Cabelo
Lá vamos nós. Se há uma categoria que a cada ano vem se tornado cada vez mais sem graça é a de Maquiagem & Cabelo, que constantemente vem preferindo a transformação caricata de astros em personalidades reais - ao invés de design de criaturas ou elementos realmente originais. Isso favorece bastante Os Olhos de Tammy Faye, especialmente para suportar a provável vitória de Jessica Chastain na categoria de Melhor Atriz - mas fica a torcida para que Duna ou até mesmo Cruella consigam surpreender.
Quem vai ganhar: Os Olhos de Tammye Faye
Quem pode ganhar: Duna
Quem deveria ganhar: Cruella
Melhores Efeitos Visuais
Se há um Oscar que Duna definitivamente vai levar, é este aqui. Indicados a Melhor Filme que também são lembrados em Efeitos Visuais costumam se beneficiar, e o trabalho de Denis Villeneuve para juntar as locações práticas com a imensa carga de CGI para criar mundos alienígenas, naves espaciais e vermes de areia gigantes certamente é um dos pontos altos da produção. Uma vitória fácil.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: Homem-Aranha: Sem Volta para Casa
Quem deveria ganhar: Godzilla vs Kong. Não foi indicado? Nem O Esquadrão Suicida? Nem Finch? Opa, beleza. Pode ser Duna, então.
Melhor Som
A mesma lógica dos efeitos pode ser aplicada ao trabalho sonoro de Duna. Por ser o mais complexo e com mais elementos de fantasia e ação, a equipe de editores e mixadores da ficção científica de Denis Villeneuve deve ser lembrada. Porém, nunca descartem a força dos tiros e explosões que James Bond é capaz de provocar, já que Sem Tempo para Morrer se destaca como um dos competidores de peso.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: 007 - Sem Tempo para Morrer
Quem deveria ganhar: Duna
Melhor Trilha Sonora
Depois de ser esquecido no churrasco, esnobado e ter virado freguês de Alexandre Desplat, finalmente Hans Zimmer terá o segundo Oscar de sua carreira - após O Rei Leão, em 1995. A eclética trilha sonora foi um dos aspectos mais elogiados da produção, tendo faturado o BAFTA, Crítics’ Choice e o Globo de Ouro na categoria. É um tributo ao trabalho incansável de Zimmer na indústria, e apesar de não figurar entre suas grandes composições, será uma vitória justa.
Quem vai ganhar: Duna
Quem pode ganhar: Ataque dos Cães
Quem deveria ganhar: Duna
Melhor Canção Original
É difícil apostar contra James Bond quando o assunto é canção original. Daniel Craig, em especial, tem sido pé quente em suas últimas aventuras como o agente britânico: tanto Skyfall quanto Spectre brilharam na categoria em seus respectivos anos, e nem mesmo o hiato de 2 anos desacelerou a força de Billie Eilish e Finneas O’Connell com “No Time to Die”. A canção de Sem Tempo para Morrer ganhou um Grammy antes mesmo do filme estrear, e ainda garantiu uma série de outros prêmios. Sua única ameaça? O desejo da Academia em consagrar Lin-Manuel Miranda como EGOT por “Dos Oruguitas”, do badalado Encanto.
Quem vai ganhar: "No Time to Die"
Quem pode ganhar: "Dos Oruguitas"
Quem deveria ganhar: "No Time to Die"
Melhor Curta-Metragem
Quem vai ganhar: The Long Goodbye
Quem pode ganhar: Ala Kachu: Take and Run
Melhor Curta-Metragem de Animação
Quem vai ganhar: O Sabiá Sabiazinha
Quem pode ganhar: The Windshield Wiper
Melhor Documentário em Curta-Metragem
Quem vai ganhar: The Queen of Basketball
Quem pode ganhar: Three Songs for Benazir
Crítica | Ambulância: Um Dia de Crime traz um Michael Bay evoluído
Já dizia o velho chavão de que a ocasião faz o ladrão, que pode muito bem ser aplicado tanto no tema do filme em questão quanto em meus sentimentos por seu diretor. Não sou um grande fã de Michael Bay como autor, mas é preciso reconhecer que realmente não existem outros como ele, especialmente na Hollywood contemporânea. Em um período onde os filmes mais caros em produções são dirigidos (na maior parte dos casos) por cineastas sem muita expressão ou identidade visual criativa, hoje os excessos e a inventividade caótica de Bay se tornam jóias raras que eu definitivamente aprecio mais atualmente.
E quando sento-me para assistir a Ambulância: Um Dia de Crime, me deparo também com outro tipo de filme incomum nos dias de hoje. Uma obra de ação despretensiosa, que foi produzida por um grande estúdio e não tem sua origem das páginas de quadrinhos ou consoles de videogames. Uma joia bruta que, como muitas de sua espécie, também não escapa de diversos problemas.
A trama do filme serve como remake do filme dinamarquês Ambulancen, apresentando a complicada relação dos irmãos adotivos Will (Yahya Abdul-Mateen II) e Danny (Jake Gyllenhaal). Quando Will, um veterano militar passando por necessidades financeiras, precisa obter dinheiro para ajudar sua família, os dois planejam um roubo a banco ousado. Quando o plano começa a dar errado, a dupla é forçada a sequestrar uma ambulância, com um policial baleado (Jackson White) e uma socorrista esforçada (Eiza González), dando início a uma perseguição policial aterradora.
Não precisa ser ciência de foguete
Apesar de não ter assistido ao filme original, de cara já vejo que talvez a experiência seja mais eficiente. Afinal, o longa de 2005 tem apenas 80 minutos de duração, enquanto o filme de Bay extrapola a marca dos 136 minutos. O roteiro do estreante Chris Fedak pega a saborosa premissa de uma perseguição em ambulância e parece almejar um resultado à lá Michael Mann. O grande problema está na desnecessária complicação do conceito, com o frágil texto de Fedak aumentando o escopo ao explorar arcos paralelos dos policiais, dos agentes do FBI e até mesmo de um núcleo de gangues em Los Angeles. Além de renderem diálogos pavorosos e de um senso de humor bem descartável, desviam o foco da trama principal.
Realmente, é como se o longa fosse transportado diretamente dos anos 2000. Chega a ser cômico ver dois personagens policiais conversando como se fossem adolescentes, sobre o desejo de um deles em “convidar uma garota para sair”, e ainda de quebra referenciando falas de outros dois filmes de… Michael Bay; no caso, Bad Boys e A Rocha. É repleto de clichês, conveniências e até cachorros perdidos na cena do crime, mas não deixa de ser um alento ver que Bay, um dos cineastas que mais foi repreendido por sua inquestionável misoginia no passado, se mostrando aberto a uma visão mais progressista; já que o agente do FBI de Keir O'Donnell é abertamente gay. Não acrescenta nada à trama, mas é algo que eu jamais esperaria ver num filme de Michael Bay, pelo menos não como algo que não é um mero estereótipo ofensivo - algo que o diretor certamente também já fez inúmeras vezes.
O absurdo da tensão da Ambulância
Mas o que torna Ambulância realmente aproveitável é tudo o que envolve seu núcleo central. A dinâmica entre Yahya Abdul Mateen II e Jake Gyllenhaal é bem sólida, com Gyllenhaal se divertindo ao fazer o tipo mais extrapolado e lunático - sendo bem balanceado com a performance mais sóbria e calma de Mateen. É um fato que os constantes flashbacks e injeções de piadas tornam a relação artificial demais (além de melosa nos piores momentos), mas é um par carismático; ao passo em que a talentosa Eiza González tem o arco mais forte de todo o filme, e aproveita bem as possibilidades de sua situação desesperadora.
E desespero é a chave de Ambulância. Livre-se de todas as subtramas, o sentimentalismo barato e as artimanhas do texto de Fadek e temos um Michael Bay absolutamente inspirado e eficiente. Diversos de seus vícios visuais evoluem, com o contraste alto e a saturação intensa sendo bem atenuados - o que deve ser fruto da parceria de Bay com Roberto De Angelis, operador de câmera de filmes como Em Ritmo de Fuga e Esquadrão 6 (este último do próprio Bay) que agora faz sua estreia como diretor de fotografia. Vemos também o cineasta experimentar movimentos de câmera modernos e bem interessantes - em especial as tomadas de drone onde Bay parece determinado a levar o travelling assombroso de A Morte do Demônio para as ruas engarrafadas de Los Angeles, o que garante uma experiência plástica empolgante.
Mas é mesmo na tensão que Bay se sobressai. Quando estamos dentro da ambulância, acompanhando o pavor da perseguição e também a situação de manter o policial baleado vivo, a experiência é incrível. Há uma sequência em especial, quando a socorrista de González precisa realizar um complexo procedimento, que Bay aproveita a classificação para maiores e entrega um dos momentos mais assustadores de toda a sua carreira. Não deixa de ser absurdo, claro, que tudo isso ocorra no meio de uma perseguição em alta velocidade, mas nesse momento - que considero o ponto alto do longa - eu realmente enxerguei um Bay mais maduro e capaz de canalizar seus excessos para uma sequência que poderia rivalizar com a amputação em 127 Horas.
Infelizmente, um dos trabalhos mais inspirados de Michael Bay na direção acaba soterrado por um péssimo roteiro. Se todos os envolvidos enxergassem que Ambulância: Um Dia de Crime precisava ser mais Um Dia de Cão e menos Fogo contra Fogo, se concentrando apenas no essencial e na urgência, o resultado seria bem mais aproveitável e digno da pipoca.
Ambulância: Um Dia de Crime (Ambulance, EUA - 2022)
Direção: Michael Bay
Roteiro: Chris Fadek, baseado no filme
Elenco: Jake Gyllenhaal, Yahya Abdul-Mateen II, Eiza González, Garret Dillahunt, Keir O'Donnell, Jackson White, Moses Ingram, Olivia Stambouliah, Cedric Sanders, Colin Woodwell
Gênero: Ação
Duração: 136 min
https://www.youtube.com/watch?v=ZW-YVpOoSQE
De Cavaleiro das Trevas a Robert Pattinson: Ranking do Batman no cinema
Com a estreia do novo Batman com Robert Pattinson nos cinemas, voltamos à velha questão: qual a versão definitiva do Morcegão nas telonas? Enquanto Matt Reeves aproveita o sucesso do novo filme e já vai pensando em suas novas aventuras, separamos um ranking com todos os longas-metragens para o cinema envolvendo o Cavaleiro das Trevas.
Confira abaixo.
11. Batman & Robin
Não há muito mais o que podemos falar sobre esta pérola da História do Homem-Morcego nos cinemas. Após uma investida no camp com o filme anterior, Joel Schumacher vai fundo nas influências da série de TV de Adam West para criar um filme de história absolutamente estúpida, caracterizações horríveis e um verdadeiro show de vergonha para todos os envolvidos. No entanto, não dá pra negar que é bem possível se divertir com todas as frases de efeito e o overacting de Arnold Schwarzenegger e Uma Thurman como a dupla de antagonistas.
10. Batman Eternamente
O mesmo diagnóstico de Batman & Robin pode ser aplicado a Eternamente, a primeira vez em que Joel Schumacher assumiu o manto da franquia. A diferença é que aqui, pelo menos, a experiência é um pouco mais interessante graças à tentativa (ainda que mínima) de desenvolver o trauma e a psique de Bruce Wayne, vivido por um subestimado Val Kilmer. Ainda é um filme bombástico e espalhafatoso, mas inegavelmente bonito de se olhar, só que bem mais assistível do que seu sucessor.
9. Batman vs Superman: A Origem da Justiça
Tecnicamente não é um filme solo do Batman, mas seria impossível deixar a versão de Zack Snyder ausente: até mesmo porque Batman vs Superman é bem mais focado no Morcegão de Ben Affleck. É um filme opressor e certamente problemático em sua história, mas que acerta em cheio no retrato de um Batman amargurado e violento, saído diretamente das páginas de O Cavaleiro das Trevas de Frank Miller. É uma interpretação bem diferente e controversa, mas que funciona bem quando se dedica apenas a ser uma história do Batman.
8. Batman (1989)
O primeiro e icônico grande filme do Homem-Morcego nos cinemas. Um grande sucesso na época, o longa de Tim Burton ajudou a devolver as trevas e o gótico para o personagem, contando com um correto Michael Keaton e um excelente Jack Nicholson como Coringa em uma trama atmosférica. Ainda que não seja um exemplar digo de como se desenvolver o Batman como personagem, o filme é caprichado e estilizado como poucas obras baseadas em quadrinhos.
7. Batman: A Máscara do Fantasma
A série animada dos anos 90, apadrinhada por Bruce Timm, é considerada por muitos como uma das versões definitivas do personagem. Quando um dos roteiros da série evoluiu para um longa-metragem, que foi lançado nos cinemas na época, tivemos o ótimo Máscara do Fantasma. É um filme que apresenta um vilão completamente original, mas dedica mais tempo na relação de Bruce Wayne com as pessoas à sua volta do que com ação envolvendo seu alter ego mascarado. É uma tremenda história e que conta com o capricho que tornou a série tão icônica.
6. Batman: O Retorno
Depois de um filme que ajudou a solidificar o Batman nos cinemas, Tim Burton teve carta branca para fazer um longa exatamente do jeito que imaginava. Eis que Batman: O Retorno apresenta uma narrativa mais próxima do terror e ainda mistura o clima de Natal, com o Cavaleiro das Trevas de Keaton enfrentando o grotesco Pinguim de Danny DeVito e a sensual Mulher-Gato de Michelle Pfeiffer. Um filme superior ao de 1989 e muito mais interessante, mesmo que o herói titular seja mais escanteado do que qualquer outro longa de sua história.
5. LEGO Batman: O Filme
Quando a Warner Bros lançou Uma Aventura LEGO em 2014, um dos grandes destaques da produção foi o hilário Batman de Will Arnett. Tamanho foi o sucesso que a versão bonequinho do Cavaleiro das Trevas rendeu um filme próprio, que é uma grande e bem humorada carta de amor ao personagem. Mesmo que assumidamente uma comédia escrachada, é uma das obras cinematográficas que melhor desenvolveu a personalidade e o trauma do personagem, seja com a formação de uma Bat-Família ou até mesmo a relação de inimizade com o Coringa. Um filme absurdamente delicioso.
4. Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge
Christopher Nolan tinha a difícil tarefa de completar a história de reinvenção do Batman que começou de forma tão magistral, e o resultado é muito melhor do que a maioria lembra. Oferecendo algo bem diferente do thriller policial do filme anterior, aqui temos um verdadeiro épico que se concentra mais em Gotham City do que no próprio Batman, com o Bane de Tom Hardy se destacando como um antagonista brutal e memorável. Entre sua duração longa e repleta de personagens, O Cavaleiro das Trevas Ressurge traz excelentes cenas de ação e um desfecho marcante para a trilogia, que ainda é um dos grandes triunfos do cinema de quadrinhos.
3. Batman (2022)
10 anos depois de Christian Bale e Christopher Nolan encerrarem sua passagem por Gotham City, é a vez de um novo reboot. Aprofundando-se ainda mais nas trevas do herói e seu universo, Matt Reeves mergulha pesado na persona detetive do Batman, transformando o confronto com o sinistro Charada em uma verdadeira caçada por um serial killer, no mais assustador, caprichado e denso filme do personagem. Robert Pattinson também se destaca como um Bruce Wayne mais depressivo e problemático, em um ótimo filme que apresenta um caminho promissor para esta nova fase do herói nas telonas.
2. Batman Begins
O impacto de Batman Begins nunca pode ser subestimado. Depois do fiasco de Batman & Robin, o filme de Christopher Nolan devolveu respeito ao personagem, oferecendo um épico que, mais do que qualquer outro longa do gênero, analisa com perfeição a psicologia por trás do herói: a história de origem perfeita, desde a criação do uniforme até a exploração da mente de Bruce Wayne, perfeitamente representado por Christian Bale. É um filme inteligente, bem construído e a história de origem definitiva do Homem Morcego.
1. Batman - O Cavaleiro das Trevas
Tudo o que já funcionava em Batman Begins é aperfeiçoado ao extremo nessa perfeita continuação. Saindo das sombras expressionistas do primeiro para uma ambientação que deve bastante aos policiais de Michael Mann, O Cavaleiro das Trevas aumenta as apostas com o magistral Coringa de Heath Ledger, simplesmente um dos maiores vilões da História do Cinema. Um antagonista perfeito que move toda a narrativa, que por si só também funciona como uma exploração da maldade no mundo, o dilema da vida dividida de Bruce Wayne e, claro, o perfeito arco de Harvey Dent e sua transformação no Duas Caras.
Já parecia certo em sua época de lançamento e a cada ano que se passa, fica mais evidente: O Cavaleiro das Trevas não é só o filme de quadrinhos definitivo, mas uma das melhores obras que Hollywood já produziu em sua História.
Crítica | Red: Crescer É Uma Fera se diverte com coming of age monstruoso
Após um período dedicado majoritariamente a sequências de marcas estabelecidas, a Pixar agora parece determinada a apostar em novas histórias. O sucesso das franquias Toy Story, Carros, Os Incríveis e Procurando Nemo garantiram bastante grana no caixa da Disney, que opera com seu próprio estúdio de animação em paralelo, e os animadores liderados por Pete Docter estão cada vez mais interessados em histórias que explorem diferentes culturas, estilos e convenções narrativas.
Seguindo essa trilha que obras como Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica, Soul e Luca exploraram recentemente, Red: Crescer É uma Fera representa mais uma agradável surpresa do estúdio.
A trama acompanha a jovem de 13 anos Meilin Lee (Rosalie Chiang), que vive uma vida pacata ao lado de suas amigas, mesclando a paixão adolescente por uma boy band com o tempo que se esforça para estudar e trabalhar com sua mãe perfeccionista (Sandra Oh). Porém, tudo muda quando Meilin passa a se transformar em um gigante panda vermelho, que se manifesta quando passa por emoções fortes, e é contido quando a mesma aprende a se controlar. A partir daí, Meilin recorre ao passado de sua família para entender a transformação misteriosa, ao mesmo tempo em que tenta levar uma vida adolescente normal.
Metamorfoses
Não é preciso se esforçar muito para entender a nítida alegoria que a diretora Domee Shi está fazendo com Red. Co-escrevendo o longa ao lado de Julia Cho, a animação apresenta uma simpática e divertida alegoria com a própria puberdade - mais especificamente para mulheres, com a menstruação sendo um tema discutido de forma indireta e até direta, dependendo da abordagem. Um subtexto muito bem vindo e que certamente virá como uma introdução formidável para o público mais jovem, e que felizmente Shi e Cho desenvolvem para algo que é muito mais interessante e acessível do que uma mera aula de biologia da 6a série.
Fica bem evidente que Shi tem questões bastante profundas com maternidade e amadurecimento. Apesar de este ser seu primeiro crédito como diretora de um longa-metragem, Shi já até mesmo venceu um Oscar pelo ótimo curta-metragem Bao, que também ilustrava o amor excessivo de uma mãe em torno da refeição chinesa titular. Shi transporta esse mesmo conceito (incluindo imagens que flertam com o assombroso) para toda a mecânica de Red, e o resultado é bem diferente do que a Pixar vem oferecendo nos últimos anos. Não só pela mitologia fascinante e que transporta diversos elementos da cultura chinesa para uma trama familiar, mas também pela sempre deslumbrante técnica de animação.
Assim como o ótimo Luca, Red tem um traço de animação distinto do “padrão Disney”, oferecendo feições mais exageradas e cartunescas, e até trazendo uma série de referências a animações orientais: as interjeições expressionistas para retratar reações exageradas e dramáticas de algumas personagens (geralmente para arrancar umas risadas a mais) e até mesmo linhas de luz fortíssimas que tomam conta do cenário durante uma inesperada batalha de proporções épicas. É um filme bem menos preocupado com o realismo fotográfico de uma obra como Soul, e que se permite criar soluções visuais criativas e algumas sequências que, graças à ótima combinação da pulsante trilha sonora original de Ludwig Goransson e as canções chiclete escritas pela dupla Billie Eilish e Finneas O’Connell - para a boy band central, garantem uma experiência absolutamente divertida.
É realmente uma pena que Red, que tinha um lançamento marcado para os cinemas, tenha sido reduzido apenas à janela do Disney+. Certamente o alcance será maior, mas foram poucas as vezes em que desejei ver um filme de animação na tela grande - só o clímax em si teria se beneficiado de pesadíssimas caixas de som.
Contornando problemas em Red
Como comentei há alguns parágrafos atrás sobre trama familiar, isso é ao mesmo tempo uma vantagem e um ponto fraco de Red. O fato de Shi estar abordando o amadurecimento de uma menina que se vê "vítima" de uma criação super protetora definitivamente oferece passagens e situações que tornarão uma identificação fácil para o público geral, especialmente adolescentes. De forma similar, é uma narrativa que oferece beats de história previsíveis e bem fáceis de adivinhar, ainda que a execução visual ajude a compensar a fórmula e os clichês ocasionais do roteiro.
O carisma das personagens de Red também é outro ponto a favor. Ainda que Meilin seja a típica protagonista dividida com dilemas adolescentes, a relação com a mãe coruja garante ótimos momentos, principalmente quando o roteiro aborda um pouco mais sobre a família estendida. Mas, claro, os grandes ápices de diversão envolvem Meilin e seu absurdamente hilário grupo de amigas, formado pelas vozes de Ava Morse, Maitreyi Ramakrishnan e Hyein Park. Oscilando facilmente do riso ao sentimento genuíno, a amizade e camaradagem do grupo é genuinamente comovente, e fiquei positivamente surpreso com a forma encontrada por Shi e Cho para juntar todos os núcleos de personagens no ato final.
Beneficiando-se de um ritmo ágil e figuras instantaneamente cativantes, Red: Crescer é uma Fera triunfa em ir além de sua alegoria de puberdade. O longa de Domee Shi oferece um coming of age dentro da fórmula, mas com elementos suficientemente originais e carismáticos para se destacar dos demais, garantindo também mais uma animação caprichada com a inconfundível assinatura da Pixar.
Red: Crescer É Uma Fera (Turning Red, EUA - 2022)
Direção: Domee Shi
Roteiro: Domee Shi e Julia Cho
Elenco: Rosalie Chang, Sandra Oh, Ava Morse, Maitreyi Ramakrishnan, Hyein Park, James Hong, Wai Ching Ho, Orion Lee
Gênero: Comédia
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=XMsDjGUd838