Crítica | Cinquenta Tons de Cinza - Quem apanha é o bom gosto
Quando a adaptação do romance erótico Cinquenta Tons de Cinza foi confirmada pela Universal, não consegui me conformar de que uma literatura barata e de qualidade duvidosa realmente ganharia as telas. Quando os primeiros trailers foram lançados, fiquei genuinamente empolgado com o filme de Sam Taylor-Johnson: parecia estiloso, elegante e até sexy, mesmo considerando-se o material original. Bem, fica a lição: dá pra se vender qualquer porcaria com um bom trailer.
A trama segue de perto a obra de EL James, começando quando a jovem estudante de Literatura Inglesa Anastasia Steele (Dakota Johnson) é incubida de entrevistar o bilionário Christian Grey (Jamie Dornan) para seu jornal da faculdade. Não demora para que os dois comecem a se envolver, mas Anastasia precisará lidar com os “gostos peculiares” de Grey, que revela-se um dominador fascinado por sadomasoquismo e bondage.
Juro que não consigo ler a sinopse deste filme sem soltar uma risadinha. Não é segredo nenhum que EL James escreveu sua trilogia (isso aí, preparem-se que ainda teremos mais dois) inspirada no casal protagonista de Crepúsculo, uma referência que eu não classificaria exatamente como exemplar. Anastasia é tão frágil, sem sal e dependente de homens como é Bella Swan, e Grey é misterioso, enigmático e controlador como o vampiro Edward Cullen, e até alguns pontos da trama são assustadoramente similares: caminhadas num bosque, voos para impressionar a menina e uma cidade predominantemente nublada e cinzenta. O roteiro de Kelly Marcel nem disfarça, e ainda traz diálogos pavorosos do tipo “Eu tenho um GPS, e um QI alto” (risos) ou “Eu não faço amor. Eu fodo. Forte” (Risos histéricos) e subtramas que propositalmente vão sendo deixadas sem resolução para que as continuações as explorem.
Nem o casal principal salva, já que não demonstram uma química aceitável para um longa do gênero. Li boatos de que Dornan e Johnson não se suportavam no set, e pelo visto a dupla nem se preocupou em esconder isso aqui. O Grey de Dornan é um estereótipo de “Deus grego moderno” que nunca sorri e beira a psicopatia, quase como o Patrick Bateman de Christian Bale em Psicopata Americano - mas sem nunca ter aquele tipo de profundidade ou diversão. Johnson é bonita e consegue bons momentos aqui e ali, sendo corajosa em protagonizar cenas de sexo ousadas para o padrão hollywoodiano – mas nem de longe polêmicas quanto o boca-a-boca sugeriu.
O único aspecto louvável do filme certamente é o visual. A diretora Sam Taylor-Johnson (de O Garoto de Liverpool) revela-se uma autora elegante em seus enquadramentos e nas escolhas de luz e tons com o veterano diretor de fotografia Seamus McGarvey, usando bem do clima nublado de Seattle e os momentos quase surreais em que o cenário adota uma forte coloração vermelha (como a “reunião de negócios” entre Anastasia e Grey. E Johnson até consegue criar um bom ritmo com a ajuda de algumas canções pop (o açoitamento com “Crazy in Love” versão orgasmo de Beyoncé e a abertura com “I Put a Spell on You” são particularmente inspiradas), mas o material realmente não a ajuda…
Cinquenta Tons de Cinza é exatamente o que se poderia esperar de uma obra que assumidamente se inspira na Saga Crepúsculo: brega, estereotipado, machista e protagonizado por um casal sem graça, ainda que seja visualmente estimulante.
Cinquenta Tons de Cinza (Fifty Shades of Grey, EUA - 2015)
Direção: Sam Taylor-Johnson
Roteiro: Kelly Marcel, baseado na obra de EL James
Elenco: Dakota Johnson, Jamie Dornan, Jennfer Ehle, Eloise Mumford, Victor Rasuk, Luke Grimes, Rita Ora, Max Martini, Marcia Gay Harden
Gênero: Romance
Duração: 125 min
https://www.youtube.com/watch?v=DEwIt4amgq4
Crítica | Jogos Vorazes - Uma franquia teen pensante
Basta uma franquia literária bem-sucedida vender seus direitos para uma adaptação cinematográfica que instantaneamente começam as comparações com Harry Potter e, agora, A Saga Crepúsculo. Hollywood anseia por uma nova franquia que encha os cofres de produtoras com dinheiro, e a sorte parece estar a favor deste Jogos Vorazes, um filme inteligente que traz diversas questões sociais e políticas em suas entrelinhas.
A trama é um remanescente típico de George Orwell e seu 1984 (“Big Brother”, lembra dele?), o livro Battle Royale ou até mesmo o Metrópolis de Fritz Lang, onde conhecemos uma sociedade distópica onde o governo tem controle sobre seus cidadãos. No caso do universo criado por Suzanne Collins, temos Panem, um país formado por 12 distritos que sedia anualmente uma competição de sobrevivência onde 24 indivíduos são selecionados para lutar até a morte. Eis que a jovem Katniss (Jennifer Lawrence) é voluntária para os jogos vorazes, e o espectador acompanha sua jornada.
Primeiramente, é alentador ver que uma obra bem formulada – e repleta de alegorias – tenha conseguido encontrar caminho nas mentes adolescentes (isso considerando o que algo frívolo como A Saga Crepúsculo arrecadou nos últimos anos). A trama de Collins deve crédito a trabalhos anteriores, mas ainda assim cria algo novo e moderno e encontra espaço para uma série de críticas sociais (o bizarro design de figurino de Judianna Makovsky traça uma caricatura genial em torno da moda “colorida” que abrange parte de nossa atual sociedade) e no que diz respeito ao controle da mídia (não seriam os deploráveis reality shows de certas redes televisivas nacionais os “jogos vorazes” de nosso tempo? E se ninguém os assistisse mais, como sugere Katniss?).
Não li o livro original, mas o diretor Gary Ross consegue manter essas questões no ar ao longo de toda a projeção (de duração considerável, aliás) sempre com uma câmera incessante e na mão. Seu estilo traz mais urgência ao contexto da história e, mesmo que Stephen Mirrione e Juliette Welfling exagerem na montagem abarrotada de cortes rápidos, torna a experiência um tanto mais “adulta” se levarmos em conta a exibição técnica da maioria dos filmes voltados para o público jovem. Tome como exemplo a tensa (e brilhante) sequência quando os jogos enfim começam, que impressiona por sua violência e captura o desespero do momento. Ross co-assina o roteiro com Billy Ray e a própria autora, rendendo bons diálogos e até uma muito bem-vinda fuga de clichês, especialmente no desenvolvimento da trama amorosa – que surge real e eficiente.
Merece créditos também a ótima Jennifer Lawrence, que segura o filme com seu carismático retrato da jovem Katniss. Armada com um arco-e-flecha, a garota é forte e durona; ainda que imperfeita e insegura, e certamente uma das heroínas mais memoráveis a surgir no cinema recente. O elenco de apoio é igualmente eficiente, especialmente pelas participações de luxo de Woody Harrelson e Stanley Tucci (divertidíssimo) e pelo competente Josh Hutcherson, que faz de Peeta um jovem frágil e fácil de se admirar. Interessante como os estereótipos de herói durão e mocinha em perigos são completamente ignorados aqui.
Jogos Vorazes tem tudo para ser o novo Harry Potter. Pensando bem, pode ser muito mais do que a ótima franquia de J.K. Rowling, já que apresenta personagens marcantes e temas adultos que podem gerar discussões intrigantes sobre a sociedade em que vivemos. Quem diria que um blockbuster adolescente teria essa capacidade?
Jogos Vorazes (The Hunger Games, EUA - 2012)
Direção: Gary Ross
Roteiro: Gary Ross, Billy Ray e Suzanne Collins, baseado na obra da última
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Liam Hemsworth, Wes Bentley, Stanley Tucci, Toby Jones, Lenny Kravitz, Amandla Stenberg
Gênero: Ação
Duração: 142 min
https://www.youtube.com/watch?v=mfmrPu43DF8
Crítica | Jogos Vorazes: Em Chamas - O melhor da série
Ano passado, fiquei absolutamente surpreso com a qualidade de Jogos Vorazes, adaptação da obra distópica de Suzanne Collins. Lembro-me de ter apontado que uma de suas únicas falhas encontrava-se na conclusão da trama: em minha opinião teria sido perfeita a morte de seus protagonistas como desafio ao espetáculo midiático, invalidando a ideia de uma continuação. No entanto, novamente fui absolutamente surpreendido pela forma com que Collins e os realizadores conseguiram desenvolver a história com Jogos Vorazes: Em Chamas, aquela rara sequência tão boa quanto o original.
A trama se inicia um ano após os eventos do filme anterior, com a aproximação da 75ª edição dos Jogos Vorazes, que é celebrada através do chamado Massacre Quaternário – uma versão que envolve apenas os vencedores das edições passadas. Nesse cenário, encontramos Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) sofrendo violenta pressão do presidente Snow (Donald Sutherland), quando sua imagem começa a inspirar rebeliões e tumultos por toda a Capital. Além disso, ela encontra-se dividida entre suas relações forjadas com seu colega Peeta (Josh Hutcherson) e o amigo Gale (Liam Hemsworth).
“Ah não, triângulo amoroso na grande adaptação literária infato-juvenil, aí vem Crepúsculo novamente, salvem-se!” Não.
Felizmente, o roteiro de Simon Beaufoy e Michael Arndt (uma dupla de peso) toma a decisão de se concentrar nas intrigas políticas e em seu simples (mas efetivo) comentário social, deixando o triângulo amoroso entre os protagonistas no segundo plano. Não que a linha narrativa passe má desenvolvida (de certa forma, sim, já que o personagem de Hemsworth praticamente desaparece após o início dos Jogos), surge nos momentos apropriados com o tempo apropriado, resultando em uma relação estranha – algo benéfico para a trama, tornando irrelevante a necessidade de Katniss expressar sua confusão: o próprio espectador é capaz de perceber isso.
O grande mérito, no entanto, do texto da dupla oscarizada reside no eficiente tratamento fornecido às relações dos competidores, que aqui devem formar alianças durante o evento; mesmo que inevitavelmente tenham que matar uns aos outros no final. Por tal motivo, faz toda a diferença do mundo quando Haymitch (Woody Harrelson, sempre divertido) declara sua esperança de que uma das competidoras não sofra muito, pois “ela é uma mulher maravilhosa”. Afinal, são seres humanos.
Substituindo Gary Ross, o diretor Francis Lawrence (que será responsável pelos próximos dois filmes da saga) altera radicalmente a linguagem da franquia ao oferecer uma direção segura e firme. Literalmente, já que Lawrence descarta os excessos de câmera na mão de seu antecessor e opta por planos fixos e que valorizem o – agora grandioso – design de produção e as atuações de seu ótimo elenco, que conta aqui com valisosas adições.
Liderado pela talentosa Jennifer Lawrence, que continua comprovando seu carisma na trabalhada composição de Katniss (forte e até carrancuda normalmente, mas explosivamente desesperada em momentos dramáticos), Em Chamas se beneficia de interessantíssimos e multifacetados novos personagens: desde o carismático Finnick Odair de Sam Claffin, passando pela ousada Johanna de Jena Malone até o complexo Plutarch Heavensbee (da onde Collins tira esses nomes?) de Phillip Seymour Hoffman. Também fiquei surpreso em reencontrar Amanda Plummer, a Honeybunny de Pulp Fiction, em um papel relativamente grande.
Superior ao primeiro filme em praticamente todos os aspectos, Jogos Vorazes: Em Chamas é uma sequência que desenvolve de forma inteligente os conceitos do original. Peca ao oferecer uma conclusão abrupta, em um enorme gancho que promete deixar a resolução para os próximos capítulos. Mas ao contrário de minha reação em 2012, agora estou genuinamente interessado em mais material desse fascinante universo.
Obs: Assim como o trabalho de Christopher Nolan na trilogia do Cavaleiro das Trevas, Francis Lawrence rodou E converteu diversas cenas do filme para IMAX. Se possível, assista no formato.
Jogos Vorazes: Em Chamas (The Hunger Games: Catching Fire, EUA - 2013)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Simon Beaufoy e Michael Arndt, baseado na obra de Suzanne Collins
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Lenny Kravitz, Stanley Tucci, Willow Shields
Gênero: Aventura
Duração: 146 min
https://www.youtube.com/watch?v=MkvUNfySGQU
Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 - O bom filler
Quando anunciaram que o último livro da trilogia Jogos Vorazes renderia uma dupla adaptação para os cinemas (como é de praxe agora em toda grande franquia hollywodiana), temia que o longa sofresse com os mesmos deméritos de produções do tipo: falta de história, estrutura incompleta e “enchimento de linguiça” (ver Amanhecer e O Hobbit). Aparecem esses problemas em Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1? Sim. Mas o filme de Francis Lawrence é tão eficiente e poderoso em sua temática, que acaba utilizando tais erros a seu favor. Explico.
A trama começa imediatamente após Em Chamas, com Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) agora refugiada em uma instação secreta do Distrito 13, liderado pela Presidente Coin (Julianne Moore), revolucionária que planeja com Plutarch Heavensbee (Philip Seymour Hoffman, em um de seus últimos trabalhos) a queda do governo autoritário do Presidente Snow (Donald Sutherland). Com o amado Peeta Mellark (Josh Hutcherson) capturado e sendo usado como arma midiática da Capital, o grupo rebelde planeja a grande rebelião.
Não acontece muita coisa em A Esperança – Parte 1. Certamente uma consequência da divisão do livro de Suzanne Collins (não li, mas muitos amigos me afirmaram que tal divisão era desnecessária), mas é curioso como essa decisão puramente mercadológica acabou contribuindo artisticamente para o longa. O roteiro de Peter Craig (Atração Perigosa) e Danny Strong (O Mordomo da Casa Branca) se concentra bastante nos personagens, mergulhando fundo em seus pensamentos e a situação em que se encontram, servindo mais como um thriller psicológico do que um blockbuster infanto-juvenil. Assim como nos anteriores, as questões políticas são o ponto alto, e neste terceiro filme, são ainda mais interessantes por lidarem com a propaganda e a criação de um ícone mobilizante das massas, na forma do Tordo de Katniss.
Aliás, é fascinante observar as sutilezas nessa situação, já que Katniss é de certa forma usada pelos rebeldes da mesma forma como é Peeta pela Capital: quando a jovem contempla o horror de uma destruição provocada pelos inimigos, a personagem de Natalie Dormer rapidamente ordena para que filmem sua reação, a fim de obter uma propaganda convincente e que gere seguidores. Independente de seus ideais, a Capital e o Distrito 13 jogam o mesmo jogo, e a franquia Jogos Vorazes revela-se bastante adulta ao retratar a maioria de suas “batalhas” por televisores, ao invés de grandes cenas de ação.
Não que o filme não forneça sua devida dose de espetáculo. O diretor Francis Lawrence se revela ainda mais à vontade aqui, controlando com segurança cenas de tiroteios e perseguições que jamais surgem inchadas ou longas demais. Aliás, Lawrence quebra completamente as expectativas de uma estrutura de roteiro genérica e previsível, trazendo um clímax excepcional que aposta em uma fotografia escuríssima de Jo Willems – evocando o trabalho de Greig Fraser em A Hora Mais Escura,em uma sequência que carinhosamente apelido de “Zero Dark Peeta” – para uma cena que acaba nos ocultando da ação, preferindo concentrar-se na ansiedade da protagonista.
E quando a trama caminhava perigosamente em direção a uma conclusão clichê e que já ia arrancando suspiros apaixonados das fãs, A Esperança literalmente nos agarra pelo pescoço e nos arremessa no chão para uma reviravolta impressionante.
Contando também com uma sequência musical inebriante, Jogos Vorazes: A Esperança – Parte 1 é um longa eficiente e que mantém a qualidade que a saga vinha trazendo até então, apostando cada vez em temas adultos e políticos. Mesmo que a divisão da história afete sua estrutura e linha de acontecimentos, surpreende pela maneira inteligente que usa para escapar dos clichês.
Obs: Após os créditos há um breve aperitivo para o próximo filme. Não é muita coisa, mas certamente o suficiente para deixar os fãs radicais loucos.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 1 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, EUA - 2014)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Peter Craig e Danny Strong, baseado na obra de Suzanne Collins}
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Natalie Dormer, Mahershala Ali, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Willow Shields
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 123 min
https://www.youtube.com/watch?v=C_Tsj_wTJkQ
Crítica | Jogos Vorazes: A Esperança - O Final - Uma conclusão morna
Desde sua inesperada e bem sucedida estreia em 2012, a franquia Jogos Vorazes se firmou como uma das mais interessantes e inteligentes da atualidade, especialmente se considerando seu público-alvo: adolescentes. Enquanto Crepúsculo fazia rios de dinheiro com uma história péssima e sem nenhuma moral, a saga de Katniss Everdeen se beneficiava de um cenário distópico elaborativo, figuras criativas e uma discussão política relevante. Agora, Jogos Vorazes: A Esperança – O Final chega para encerrar de maneira morna uma franquia que, literalmente, começou pegando fogo.
A trama inicia-se imediatamente após o final do anterior, com Katniss (Jennifer Lawrence) se recuperando do inesperado ataque de Peeta Mellark (Josh Hutcherson), que encontra-se com a mente bagunçada pela Capital. Enquanto isso, a Presidente Coin (Julianne Moore) continua reunindo Distritos para enfim atacar Snow (Donald Sutherland) e libertar Panem de sua ditadura cruel, precisando enviar Katniss e um esquadrão de elite para enfrentar um campo minado de armadilhas para chegar a seu objetivo.
Primeiramente, é importante ressaltar – mais uma vez – como a decisão de dividir livros em dois filmes vêm se provando danosa. A primeira parte de A Esperança já sofria pela ausência de eventos e o ritmo lento, e sua continuação agora curiosamente traz os mesmos deméritos. A trama direta abre espaço para mais cenas de ação, e Francis Lawrence merece aplausos por uma arrepiante sequência que envolve os protagonistas enfrentando nebulosas criaturas em um túnel subterrânea, mas o roteiro de Peter Craig e Danny Strong não oferece muito além. Nem mesmo os diálogos espertos que transformaram Em Chamas em uma experiência vibrante estão aqui, com apenas algumas metáforas e situações de choque (a reviravolta envolvendo Coin, principalmente).
Como todo capítulo final que se preze, algumas mortes são esperadas. Infelizmente, nenhuma delas aqui provoca o impacto desejado (a menos que você seja um fã da franquia), já que os personagens envolvidos são pouquíssimo aproveitados no filme – tendo mais destaque na Parte 1. Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Stanley Tucci, Jeffrey Wright e Gwendoline Cristie (reduzida a uns 40 segundos de participação) são todos mal aproveitados, e a repentina morte de Philip Seymour Hoffman infelizmente mostra-se danosa à produção: seu Plutarch Heavensbee é um jogador muito importante durante a trama, e é simplesmente apagado da história após certo ponto.
Jennifer Lawrence continua segurando o show, ainda que pese a mão nos momentos mais dramáticos (leia-se, caretas exageradas), sendo sempre fascinante ver uma mulher forte com um arco-e-flecha em meio a um grupo de marmanjos com metralhadoras e armas de fogo. A subtrama com o triângulo amoroso entre Peeta e Gale (Liam Hemsworth) atrapalha, rendendo momentos que remetem diretamente à Saga Crepúsculo.
Nunca um bom sinal.
É uma produção eficiente do ponto de vista técnico. O design de produção agora explora com mais detalhes o vasto mundo de Panem, e as áreas mais ricas, como a luxuosa estação de trem e a propriedade de Snow, onde uma colorida estufa verde é palco de um dos mais interessantes confrontos. O figurino deixa de lado as vestimentas mais extravagante (já que os personagens usam trajes de infiltração preto durante a maior parte do longa), mas uma bizarra personagem certamente vale por todo o que já vimos nesse quesito na franquia até agora. Já os efeitos visuais são um tanto artificiais, especialmente durante planos abertos em que temos um cenário nitidamente digital ou a composição das criaturas que atacam os heróis no túnel. Há também uma breve recriação do rosto de Hoffman, e não deverá ser difícil de perceber.
Jogos Vorazes: A Esperança – O Final não é a conclusão que uma saga que começou tão bem merecia, limitando-se a uma estrutura lenta e sem muita ousadia. Tem bons momentos, mas pelo menos para mim, a saga de Katniss Everdeen vai ficar mais memorável por suas ideias do que execução.
O 3D convertido é absolutamente descartável.
Jogos Vorazes: A Esperança - Parte 2 (The Hunger Games: Mockingjay - Part 1, EUA - 2015)
Direção: Francis Lawrence
Roteiro: Peter Craig e Danny Strong, baseado na obra de Suzanne Collins}
Elenco: Jennifer Lawrence, Josh Hutcherson, Liam Hemsworth, Julianne Moore, Woody Harrelson, Elizabeth Banks, Donald Sutherland, Natalie Dormer, Mahershala Ali, Philip Seymour Hoffman, Jena Malone, Sam Claffin, Amanda Plummer, Jeffrey Wright, Stanley Tucci, Willow Shields, Gwendoline Christie
Gênero: Aventura, Drama
Duração: 137 min
https://www.youtube.com/watch?v=n-7K_OjsDCQ&t=