Crítica | House of the Dragon troca batalhas por fofocas em seu quarto episódio

Contém spoilers

Logo no plano de abertura de "King of the Narrow Sea", quarto episódio da primeira temporada de House of the Dragon, já é possível antecipar o principal conflito dramático do episódio. Isso representa uma elegância visual gigantesca da diretora Clare Kilner, e se ramifica por toda a duração desta excelente nova hora da derivada de Game of Thrones.

Como ficou bem estabelecido pelos 3 episódios anteriores, o novo capítulo da série começa após um salto temporal, agora com a jovem princesa Rhaenyra (Milly Alcock) analisando uma longa lista de pretendentes de todos os Sete Reinos que almejam se tornar seu esposo. Na cena em questão - marcando o plano que abre o episódio - a princesa está acariciando o colar presenteado por seu tio Daemon (Matt Smith), que enfim retorna para King’s Landing após sua triunfal vitória contra o Engorda Carangueijo no Mar Estreito.

Esse basicamente representa o grande e polêmico conflito do episódio: a relação entre Rhaenyra e Daemon, que sempre teve sugestões de incesto, e que se concretizam em King of the Narrow Sea. Após uma sequência imersiva que, mais do que qualquer episódio de Game of Thrones, apresentam com eficiência a ambientação e a visão do “povo comum” da cidade sobre os eventos da realeza, a princesa cede às investidas de seu tio durante uma interação intensa no bordel local. É uma cena que garante impacto não só pelo conteúdo em si, mas pela forma como Kilner intercala a vertiginosa ação com a igualmente incômoda cena em que Alicent (Emily Carey) atende aos desejos do Rei Viserys (Paddy Considine); mais um exemplo do formidável trabalho de montagem de House of the Dragon.

O que se revela ainda mais interessante é justamente o ponto que tem tornado a série tão envolvente: as intrigas políticas. As ações de Rhaenyra logo garantem grande repercussão e fofocas pelo reino, armando assim um jogo sutil entre Otto Hightower (Rhys Ifans) e Viserys, dedicado a desmentir qualquer falácia negativa em torno de sua herdeira. Todos os diálogos e disputas verbais, assinados nesta semana pela roteirista Ira Parker, mantém o alto nível das semanas anteriores e agradam pelo uso rebuscado de termos medievais e fantasiosos; ver Rhaneyra e Alicent enfim retomando contato, em momentos de ternura e também disputa, garantiram alguns dos momentos mais memoráveis do quarto episódio.

A direção de Kilner também é minuciosa nos detalhes e reações de seus personagens, especialmente durante o aguardado confronto entre Viserys e Rhaenyra. A cena em questão é particularmente empolgante por expandir a relação entre pai e filha para algo mais próximo de dois generais em uma sala de guerra, ainda mais considerando que Rhaenyra oculta a informação importante de que, mesmo não tendo tido relações com Daemon, seduziu o guarda Sir Criston Cole (Fabien Frankel) para uma noite calorosa de sexo. A sutileza de Kilner fica ainda mais elegante durante a cena final, em que Rhaenyra recebe um chá abortivo de seu pai - que não parece interessado em saber se as acusações de fato foram reais, mas mostra-se precavido.

Mais impressionante ainda foi ver que Viserys realmente demonstra lealdade à sua filha, que sabiamente aponta como Otto Hightower é tão sedento pelo poder quanto Daemon. Já enxergando o que apenas o espectador havia visto, o rei garante uma entrega formidável graças à ótima performance de Paddy Considine, que enfim entende a estratégia de sua Mão para entregar a própria filha para seduzi-lo, e acaba por demitir seu principal aliado em King's Landing. Isso sem mencionar que Considine ainda protagonizou um ótimo embate contra Daemon, muito bem encenado durante a ameaçadora sala do Trono de Ferro, com o irmão ambicioso literalmente largado no chão durante toda a sequência. 

Mesmo sem ter ação, batalhas ou até mesmo muitos dragões, King of the Narrow Sea representa mais um ponto alto para House of the Dragon. Assim como já havia mostrando há algumas semanas, o seriado realmente tem seu ápice ao explorar os dramas e intrigas de seus personagens, que só ficam mais divertidos de acompanhar a cada nova semana.

House of the Dragon - 01x04: King of the Narrow Sea (EUA, 2022)

Showrunner: Ryan J. Condal e George R.R. Martin
Direção: Clare Kilner
Roteiro: Ira Parker
Elenco: Paddy Considine, Matt Smith, Rhys Ifans, Milly Alcock, Emily Carey, Fabien Frankel, Graham McTavish, Sonoya Mizuno
Emissora: HBO
Gênero: Drama
Duração: 62 min


Crítica | Men: Faces do Medo é um dos filmes mais estranhos do ano

Após se firmar como um dos nomes mais interessantes do mundo audiovisual com Ex Machina: Instinto Artificial e Aniquilação, Alex Garland mergulha de cabeça em seu novo terror da produtora A24, chamado simplesmente de Men: Faces do Medo.

A história do filme acompanha Harper (Jessie Buckley), que aluga uma casa de campo no interior da Inglaterra para tentar superar o suicídio de seu marido abusivo. Lá, ela se depara com uma situação bizarra ao notar que todos os homens da cidade têm a mesma aparência (do ator Rory Kinnear) e parecem determinados a persegui-la.

O filme traz uma premissa tentadora e que facilmente se adequa ao gênero do terror, especialmente pela construção primorosa de Garland como diretor, aproveitando uma paisagem idílica para trazer momentos de real pavor.

Porém, Men: Faces do Medo certamente vai se mostrar muito divisivo em seu ato final, oferecendo algumas das imagens mais repulsivas e bizarras que o espectador verá em 2022.

Confira a análise completa no canal de YouTube do Lucas Filmes.

https://www.youtube.com/watch?v=8-LbV2YHsKs


Crítica | Versão estendida de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa é pura enganação

Um dos filmes mais bem sucedidos de todos os tempos, e um dos responsáveis por reacender a chama dos cinemas durante a pandemia da COVID-19, Homem-Aranha: Sem Volta para Casa está retornando às telonas com uma versão estendida. Já.

A Sony Pictures apostou em um novo corte com míseros 11 minutos de cenas adicionais e estendidas, oferecendo muito pouco para justificar uma nova exibição nos cinemas; e que basicamente soa como desespero para ocupar as salas durante o feriado - tanto no Brasil quanto nos EUA, onde também encontrou público.

Porém, a experiência não é afetada nem um pouco pelas novas cenas. São, em sua maioria, novas piadas e sequências no primeiro ato do filme, oferecendo só uma sequência estendida com a presença de Andrew Garfield e Tobey Maguire.

A versão estendida de Homem-Aranha: Sem Volta para Casa definitivamente não precisava existir, já que simplesmente adiciona algumas cenas que tranquilamente poderiam ter sido conferidas no lançamento em Blu-ray ou DVD do longa. Puro e simples caça-níquel.

Confira a crítica completa no canal de YouTube do Lucas Filmes.

https://www.youtube.com/watch?v=8kKALWcQOgA


Crítica | Era Uma Vez um Gênio apresenta o épico intimista de George Miller

Após recolocar seu nome nos holofotes de forma espetacular com o seminal Mad Max: Estrada da Fúria, o cineasta George Miller não se acomodou. Apesar de ter confirmado um novo derivado da franquia de ação focado na heroína Furiosa, o diretor australiano logo embarcou em um projeto radicalmente diferente de tudo o que já havia produzido: Era Uma Vez um Gênio.

Baseando-se no conto The Djinn in the Nightingale's Eye da autora britânica A.S. Byatt, a trama do filme acompanha uma especialista em narrativas (Tilda Swinton) que inesperadamente liberta um gênio ancestral (Idris Elba) de seu aprisionamento. Ele lhe oferece 3 desejos mágicos, além de contar diferentes histórias sobre seu passado.

Em seu núcleo, Era Uma Vez um Gênio é essencialmente sobre o valor e a necessidade de histórias. Seja para entender sentimentos, conceitos complexos ou lições de moral, narrativas estão presentes por toda a parte, e o roteiro de Miller e Augusta Gore é afiado ao colocar essa discussão metalinguística durante os diálogos da protagonista com o Gênio, flertando bastante também com a atmosfera de um conto de fadas.

Ainda que claustrofóbico e quase teatral durante maior parte, já que a maior parte da história se passa em um quarto de hotel, o longa se transforma para ilustrar os contos do Gênio, com George Miller apostando em uma escala gigantesca, um valor de produção notável e um trabalho de fotografia primoroso de John Seale - além de uma trilha sonora bem discreta do outrora barulhento Tom Holkenborg.

Veja a análise completa no canal de YouTube do Lucas Filmes.

https://www.youtube.com/watch?v=0isjS_PtOG0


Crítica | House of the Dragon fica ainda melhor em seu segundo episódio

Contém spoilers!

Após uma estreia arrasadora e que culminou na maior audiência de um novo projeto da HBO, House of the Dragon tinha um desfio muito mais relevante em sua segunda semana de exibição: não deixar o fogo apagar. A série prelúdio de Game of Thrones começou muito forte com o piloto The Heirs of the Dragon, um episódio eficiente em ambientar mundo, personagens e diferentes possibilidades de conflito - além de muito sexo, violência e efeitos visuais de alto escalão da televisão contemporânea. Poderia a série manter o padrão de qualidade? Felizmente, The Rogue Prince consegue ser ainda melhor do que seu antecessor.

A trama do episódio começa seis meses após os eventos do anterior, e mesmo tendo terminado de forma bombástica com a nomeação de Rhaenyra (Milly Alcock) como sucessora do Rei Viserys (Paddy Considine), os eventos seguem rotineiros. Isto até o ponto em que a pressão para que o rei tome uma nova esposa começa a se alastrar pelo reino, ao mesmo tempo em que um feroz rebelde conhecido das Cidades Livres desatabiliza a força dos Targaryen; que ainda sofre pelas ameaças do vingativo príncipe Daemon (Matt Smith).

Curiosamente, o segundo episódio de House of the Dragon é muito maior do que o primeiro, apesar de sua escala consideravelmente menor. Sem muitas batalhas, embates ou grandes orgias, a direção de Greg Yaitanes (veterano de bons episódios de Lost e Heroes) consegue ser mais incisiva e com mais nuances do que a de Miguel Sapochtnik no anterior, sendo muito inteligente ao captar pequenos movimentos, reações e detalhes durante os muitos diálogos e conflitos verbais dos personagens.

Por mais que seja um episódio mais voltado em conversas, Yaitanes é habilidoso em suas composições, especialmente o confronto direto entre Daemon e as forças do rei em uma ponte, banhada por um lindíssimo sol escondido entre nuvens foscas de um céu saído de uma pintura. Se o primeiro episódio tentava demais se manter dentro da forma estética de Game of Thrones, The Rogue Prince dá os primeiros passos para assumir uma identidade muito mais própria para House of the Dragon, o que definitivamente é um ponto positivo.

Quanto aos conflitos em si, o roteiro de Ryan J. Condal mantém a inteligência dos diálogos e maquinações políticas que funcionaram tão bem no anterior. A trama acerca do novo casamento do Rei garante uma participação muito mais ativa do Lorde Corlys Velaryon de Steve Toussaint, que oferece sua filha assustadoramente mais jovem para se casar com Viserys. É uma situação desconfortável e que rende ótimos momentos de todo o elenco, especialmente na crescente de Toussaint para se tornar um possível novo antagonista no arco de Viserys.

Quanto a Rhaenyra Tagaryen, a jovem Milly Alcock continua sendo o centro das atenções durante a maioria de suas cenas. Adotando ecos com o arco de Daenerys Targaryen da série original, Rhaenyra navega por uma narrativa de empoderamento e feminino muito mais evidente, especialmente pelo fato de sua personagem também ser mais jovem. Além das delicadas cenas em que tenta conversar sobre a morte da mãe com seu pai, o destaque fica para a interação passivo-agressiva que compartilha com sua prima Rhaenyra (Eve Best, cada vez mais interessante), onde ambas parecem determinar o grande conflito da série: a posição de uma mulher no Trono de Ferro, algo que também era um ponto chave de Game of Thrones.

E Rhaenyra é remanescente à sua futura descendente também no que diz respeito à ação. Seu embate diplomático com Daemon na ponte de Dragonstone garante um momento de grande força e presença para Rhaenyra, que só é melhor graças à condução habilidosa de Yates, tratando o confronto com a tensão de uma guerra fria - algo irônico considerando a presença de dragões no momento.

Ainda que a virada de história que encerra o episódio fosse esperada, com Viserys escolhendo se casar com Alicent Hightower ao invés da filha de Valeryion, é de se admirar a elegância do roteiro de Condal. Há quem diga que previsibilidade é fruto de uma escrita ruim, mas o caso de The Rogue Prince é mesmo resultado de uma construção atenciosa e que se beneficia de uma direção inteligente e que encontra os pontos de interesse apropriados.

A julgar pelo nível de qualidade de seu segundo episódio, o acerto inicial de House of the Dragon não foi mera sorte de principiante.

House of the Dragon - 01x02: The Rogue Prince (EUA, 2022)

Showrunner: Ryan J. Condal e George R.R. Martin
Direção: Greg Yatanes
Roteiro: Ryan J. Condal
Elenco: Paddy Considine, Milly Alcock, Rhys Ifans, Matt Smith, Steve Toussaint, Emily Carey, Eve Best, Graham McTavish, Sonozoya Mizuno, Gavin Spokes
Gênero: Drama
Duração: 53 min


Crítica | Samaritano desperdiça potencial de Sylvester Stallone como super-herói aposentado

Com o crescente investimento de Hollywood em super-heróis e franquias de quadrinhos, é sempre divertido ver como astros do passado se adequam às novas tendências do mercado. É o caso de Sylvester Stallone, um dos grandes nomes da década de 80, que agora embarca no universo dos heróis mascarados.

A premissa de Samaritano, novo filme original da Amazon Prime Video em parceria com a MGM, explora um mundo marcado pelo combate do super-herói Samaritano (Stallone) e seu maléfico irmão, Nêmesis. Trinta anos depois de ambos supostamente terem morrido, o esperançoso Sam (Javon Walton) segue em sua própria investigação para encontrar o herói desaparecido, e descobre que seu vizinho, o simpático Joe, é o vigilante aposentado e melancólico.

É uma ideia formidável que imediatamente remete a obras como Watchmen e Os Incríveis, abordando a melancolia e o cotidiano ordinário de seres fantásticos. Infelizmente, o filme de Julius Avery não é muito eficiente em abordar todo esse potencial, carecendo de uma história mais envolvente.

Apesar de Stallone estar confortável e à vontade no papel de Joe, a performance de Javon Walton acaba prejudicando o filme inteiro, especialmente por seu personagem ter uma participação consideravelmente maior do que a de Stallone.

Confira o comentário completo no canal de YouTube do Lucas Filmes.

https://www.youtube.com/watch?v=ArhcXJTCBNw&t=1s