Em suas memórias, cantora expõe controle midiático sobre sua sexualidade e traumas vividos longe dos holofotes

A máscara de pureza forçada

Em seu livro de memórias, The Woman in Me, Britney Spears faz revelações contundentes sobre o controle que sofreu ao longo da carreira — especialmente quanto à imagem pública de “virgem eterna” imposta por sua equipe. No auge da fama, enquanto acumulava milhões de fãs adolescentes, Britney vivia uma realidade completamente diferente dos padrões que a indústria a obrigava a sustentar.

“Se você é jovem e solteira em Hollywood, se houver um único boato de que fez sexo, você é rotulada de vagabunda”, escreveu Britney, explicando que sua equipe construiu essa narrativa como estratégia de marketing. Mesmo morando com Justin Timberlake na época e mantendo relações sexuais desde os 14 anos, a cantora era forçada a manter o discurso da virgindade — algo que ela mesma confessa nunca ter correspondido à verdade.

Aborto, dor e silêncio

A pressão para manter a imagem “imaculada” culminou em episódios profundamente traumáticos. Em uma das passagens mais marcantes do livro, Britney conta que fez um aborto durante o relacionamento com Timberlake, mas evitou ir ao hospital para que a notícia não vazasse à imprensa.

Ela detalha a experiência dolorosa em casa, sozinha: “Chorei e gritei por horas no chão do banheiro”, relata. Timberlake, por sua vez, “achou que música ajudaria, então pegou o violão e deitou comigo, dedilhando-o”. O episódio evidencia a solidão e o silenciamento que Britney enfrentava, mesmo nos momentos mais vulneráveis.

Uma mentira sustentada por anos

Mesmo após o fim do namoro com Timberlake, Britney continuou alimentando a farsa. Em 2003, chegou a declarar publicamente que só havia feito sexo “dois anos depois” do término. Anos depois, no livro, desmente: “Dormia com o melhor amigo do meu irmão Bryan desde os 14 anos”.

“Fui vendida como a eterna virgem, mas isso não era verdade”, desabafa. “Estava sendo humilhada como se não tivesse seguido o roteiro — mas o roteiro nem sequer era real.” A cantora questiona: “De quem era a responsabilidade se eu tinha feito sexo ou não?”

Liberdade tardia e feridas profundas

Sob tutela legal entre 2008 e 2021, Britney perdeu o controle da própria vida — algo que, segundo ela, começou bem antes, com a gestão abusiva de sua imagem pública. Após conseguir a liberdade, a artista afirma que não deseja a dor que viveu a ninguém. Ainda luta para aceitar o que sua família e a indústria lhe fizeram.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

Mais posts deste autor