Cantora modifica referência a Iemanjá em “Caranguejo” durante show em Recife; Ministério Público da Bahia apura denúncia.

Claudia Leitte voltou a alterar a letra da música Caranguejo (Cata Caranguejo) em sua apresentação no evento Virada Recife, realizado em Pernambuco. No trecho onde originalmente se canta “Joga flores no mar, saudando a rainha Iemanjá”, a artista substituiu a saudação por: “Joga flores, eu amo meu rei Yeshua Hamashia”, uma expressão em aramaico que significa Jesus Cristo.

A mudança ocorre em meio a uma investigação do Ministério Público da Bahia (MPBA) sobre uma denúncia de racismo religioso.

Denúncia e apuração

No dia 19 de dezembro, o MPBA confirmou a abertura de um inquérito para apurar se a alteração realizada em uma apresentação anterior, em Salvador, configura racismo religioso. Na ocasião, Claudia também modificou a letra da música, substituindo a referência a Iemanjá por um louvor a Jesus.

A denúncia foi protocolada pela Iyalorixá Jaciara Ribeiro e pelo Instituto de Defesa dos Direitos das Religiões Afro-Brasileiras (Idafro). Segundo o MPBA, a investigação está sendo conduzida pela Promotoria de Justiça de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa e busca apurar uma possível violação de direitos culturais e religiosos de comunidades de matriz africana.

Resposta de Claudia Leitte

“Esse é um assunto muito sério. Daqui do meu lugar de privilégio, o racismo é uma pauta que deve ser discutida com a devida seriedade, e não de forma superficial”, afirmou ela na madrugada desta segunda-feira (30), em coletiva de imprensa antes de seu show no Festival Virada Salvador, realizado na Arena O Canto da Cidade, na orla da Boca do Rio. “Prezo muito pelo respeito, pela solidariedade e pela integridade. Não podemos negociar esses valores de jeito nenhum, nem jogá-los ao tribunal da internet. É isso”, concluiu.

Reações à alteração

A modificação feita por Claudia Leitte gerou grande repercussão nas redes sociais. O secretário de Cultura e Turismo de Salvador, Pedro Tourinho, repudiou o ato, classificando-o como “racismo”.

“Quando um artista se diz parte desse movimento, saúda o povo negro e sua cultura, reverencia sua percussão e musicalidade, faz sucesso e ganha muito dinheiro com isso, mas de repente escolhe reescrever a história e retirar o nome de Orixás das músicas, não se engane: o nome disso é racismo,” afirmou em um post no Instagram.

Internautas também se manifestaram, dividindo opiniões entre críticas à cantora e manifestações de apoio por sua escolha de expressar sua fé cristã.

Contexto cultural e impacto

A letra original de Caranguejo faz referência a Iemanjá, figura central nas religiões de matriz africana e sincretizada em diversas expressões culturais brasileiras. Para defensores da denúncia, a substituição do nome da divindade representa um apagamento cultural e um ato de intolerância religiosa.

Por outro lado, admiradores da cantora argumentam que ela tem o direito de adaptar suas músicas conforme suas crenças pessoais.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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