Sob nova direção

“Alien: Romulus” é uma adição corajosa e cativante ao vasto e, muitas vezes, irregular legado da franquia Alien. Desde que Ridley Scott nos apresentou o terror do espaço em 1979 e James Cameron ampliou a escala com Aliens em 1986, a série tem oscilado entre tentativas de reviver a magia original e projetos que falharam em captar sua essência.

Sob a direção de Fede Álvarez, “Romulus” se destaca por tentar recuperar algo que não sentíamos desde os primeiros filmes: um terror genuíno, aliado a uma inesperada profundidade emocional. Embora o filme possa não atingir o status de clássico, ele certamente reacende a chama do medo que há tempos estava adormecida.

Álvarez, que já havia demonstrado uma afinidade especial pelo terror com Don’t Breathe e sua versão de Evil Dead, mostra que entende o que torna Alien uma franquia única. Ele retorna ao que funciona: o suspense claustrofóbico e a sensação palpável de perigo iminente. Mas o que realmente se destaca em Romulus é a maneira como Álvarez infunde a narrativa com um coração pulsante.

Ele não se contenta em apenas nos assustar; ele quer que nos importemos com os personagens, algo que, em várias sequências e spin-offs anteriores, parecia secundário. É essa mistura de terror e humanidade que faz o filme funcionar tão bem.

Terror, mas com sensibilidade

No centro de “Romulus” está Rain Carradine, interpretada por Cailee Spaeny, uma atriz que vem se destacando por suas atuações intensas e autênticas. Rain é uma protagonista forte e complexa, mas, ao contrário de Ellen Ripley, ela não carrega o fardo de ser uma heroína icônica. Spaeny constrói sua personagem com uma vulnerabilidade que a torna profundamente humana e acessível.

A ambientação do filme, situada entre o primeiro e o segundo Alien, permite a introdução de novos elementos sem perder a conexão com o que já conhecemos. Embora o filme tenha suas referências, ele se sustenta como uma narrativa independente, centrada na luta de Rain para sobreviver em um universo que parece constantemente tentar destruí-la.

Um dos aspectos mais emocionantes do filme é a relação de Rain com seu irmão adotivo sintético, Andy, interpretado com sensibilidade por David Jonsson. Jonsson consegue capturar algo especial em Andy, um androide que luta para encontrar seu lugar em um mundo que o rejeita não apenas por sua natureza artificial, mas também por sua gagueira.

A interação entre Rain e Andy é o verdadeiro coração do filme, uma ligação que explora o que significa ser humano em um ambiente desumano. Andy, com sua inocência e dedicação, lembra personagens como Bishop em Aliens, mas com uma profundidade emocional que o torna único. Quando Andy passa por um “upgrade”, a perda de sua humanidade provoca uma reflexão amarga sobre os custos da sobrevivência.

Alien: Romulus não faz feio

O elenco de apoio, composto por jovens atores como Isabela Merced, Archie Renaux, Aileen Wu e Spike Fearn, contribui para o clima de tensão e perigo. Embora esses personagens possam não ser tão desenvolvidos quanto Rain e Andy, eles desempenham bem seus papéis, ajudando a construir a atmosfera de ameaça constante. Ainda assim, é difícil não sentir que alguns deles poderiam ter recebido mais atenção para adicionar camadas à trama.

Álvarez também se destaca na criação de cenas de ação que são ao mesmo tempo inovadoras e fiéis ao espírito da franquia. Uma sequência em gravidade zero se destaca como uma das mais memoráveis da série, combinando efeitos práticos com um suspense que nos prende à cadeira.

Álvarez demonstra uma habilidade notável em aprender com os erros do passado, revitalizando conceitos que em filmes anteriores não haviam atingido seu potencial máximo. Aqui, ele consegue transformar esses conceitos em momentos de pura tensão.

“Romulus” pode não reinventar a fórmula, mas certamente a refina de uma maneira que faz jus ao legado de Alien. Spaeny e Jonsson são, sem dúvida, os destaques do filme, trazendo uma profundidade emocional que eleva a história além do simples horror espacial.

Os primeiros dois terços do filme são sólidos, mas é no terceiro ato que “Romulus” realmente brilha, entregando um clímax que, apesar de divisivo, é coerente com o restante da narrativa. O design das criaturas, um ponto crucial em qualquer filme Alien, também é um ponto alto do filme, criando imagens fortes dignas dos dois primeiros filmes da franquia.

No final, “Alien: Romulus” pode não ser o clássico que os fãs mais ardorosos esperavam, mas é um retorno digno às raízes da franquia, equilibrando com habilidade o terror e a humanidade. Fede Álvarez nos lembra por que Alien é uma das franquias mais queridas do cinema, ao mesmo tempo em que abre caminho para novas histórias que exploram as profundezas do medo e da sobrevivência no espaço.

Diretor de Alien: Romulus fez de tudo para filme ter visual do original de Ridley Scott
Cena de Alien: Romulus – Foto: Disney
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Luiz Henrique Oliveira

Nascido no interior de São Paulo, com passagens pelo Maze Blog, Cenapop, UOL, Hit Site e Bolavip Brasil, sempre escrevendo sobre entretenimento.

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