Em hiato há sete anos, True Detective retorna para uma quarta temporada na HBO. Uma das joias da coroa no sentido de produções originais da emissora, a antologia policial rendeu 3 histórias distintas sob comando de Nic Pizzolato, com o ano inaugural sendo visto como uma das grandes narrativas seriadas do último século.
Sai Pizzolato e entra a cineasta Issa López, que envisionou uma série original sobre detetives no Alasca, mas cujo projeto acabou sendo “convertido” em uma nova temporada de True Detective, com o subtítulo Terra Noturna. É uma decisão curiosa, já que garante uma atenção consideravelmente maior do público (ao adotar uma marca popular), mas também aumenta exponencialmente a pressão do resultado final, dada a qualidade do trabalho de Pizzolato. E isso fica evidente ao final dos seis episódios de Terra Noturna.
A escrita de López (que também dirigiu todos os episódios) é bem distinta da de Pizzolato, e justamente por estar inserida no universo (com direito a descartáveis referências à primeira temporada), a diferença é praticamente dia e noite. Não há diálogos envolventes, arcos muito impressionantes e nem ao menos personagens envolventes – por mais que Jodie Foster esteja excepcional como a policial Liz Danvers e a ex-lutadora Kali Reis surpreenda como sua parceira esquentada, Evangeline Navarro. A impressão que fica é de um mero genérico policial, extremamente comum e com uma resolução absolutamente decepcionante – ainda mais com alguns episódios sugerindo algum tipo de reviravolta sobrenatural.
O grande trunfo de Terra Noturna, e talvez esta seja a única característica capaz de rivalizar com as temporadas anteriores, é sua ambientação. Longe de cenários do interior dos EUA ou a selva de pedra de Los Angeles, a cidadezinha de Ennis, no Alasca, mostra-se um palco perfeito para uma história de investigação; ainda mais considerando o desenrolar durante o período de longa noite, onde a luz do sol não aparece por literalmente semanas. Dessa forma, López pega emprestado de clássicos como O Enigma do Outro Mundo e Insônia, e até mesmo um pouco da atmosfera certeira do irregular 30 Dias de Noite. O mistério pode não instigar, mas as sensações, o frio e a fotografia noturna são sempre interessantes de se olhar.
No fim, a grande sina de True Detective: Terra Noturna foi se associar a uma marca de qualidade extremamente alta. O trabalho de Issa López não é ruim, mas fica bem mais abaixo da grandeza dramática e até metafísica que as anteriores já ofereceram.
Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.