Lançado originalmente em 1996, o primeiro Twister foi um tremendo sucesso comercial e cultural. Sob produção de Steven Spielberg e direção do talentoso Jan de Bont, o filme ainda navegava pela empolgação de Hollywood em seus recém descobertos efeitos visuais – frutos do sucesso de Jurassic Park, também de Spielberg. Twister foi concebido meramente pelo entusiasmo da equipe ao perceber o que era possível fazer com a tecnologia: “por que não fazer um filme de tornados?”.
Corta para quase 30 anos depois e Hollywood simplesmente não demonstra mais o mesmo entusiasmo. A tecnologia avançou tanto que literalmente mais nada é capaz de impressionar o público: tudo pode ser feito com efeitos visuais. É por um sentimento inversamente proporcional que Twisters existe: não por artistas imaginando o que pode ser possível, mas sim um desejo desesperado de voltar ao passado e recapturar uma magia difícil de ser replicada.
Apesar de sentimentos pouco nobres, que certamente têm mais interesse no retorno financeiro, é com grata surpresa que este Twisters seja tão bom e divertido, e maior triunfo resida justamente em um saudosismo natural e nada forçado.
Sem nenhuma conexão aparente com o universo ou mitologia do original, o novo Twisters troca a trama de divórcio pendente entre Bill Paxton e Helen Hunt do original por algo mais batido, mas sempre eficiente se contando com o elenco certo: o casal improvável e de polos opostos que acabam se atraindo, aqui representados pela meteorologista correta e segura da ótima Daisy Edgar-Jones e o bad boy aventureiro caçador de tornados Tyler Owen, vivido pelo carismático Glen Powell – em meteórica ascensão após Top Gun: Maverick e Assassino por Acaso.
A dinâmica do casal é pura e divertidíssima, daquelas que marcavam grandes clássicos dos anos 1990, e que raramente vemos funcionando na Hollywood contemporânea. Através de uma dinâmica leve e até sensual, o roteiro bem correto de Mark L. Smith é capaz de trazer surpresas e reviravoltas interessantes, que funcionam graças ao investimento nesses dois excelentes personagens.
No sentido de direção, o coreano Lee Isaac Chung faz um grande salto de seu drama oscarizado Minari: Em Busca da Felicidade para uma produção gigantesca de US$200 milhões. Ao lado do diretor de fotografia Dan Mindel (com um lindo uso de película 35MM), a dupla é bem feliz ao emular o estilo nervoso e destrutivo de Jan de Bont para uma série de sequências mirabolantes e intensas de tornados, cujos efeitos visuais e práticos garantem uma imersão profunda; exacerbada também pela ótima trilha sonora de Benjamin Wallfisch.
Ao contrário de diversas “sequências legado” que apostam em resgatar de forma desengonçada elementos que só funcionavam no passado (seja personagens, figurinos ou objetos), Twisters é mais inteligente ao mirar na “sensação” de seu filme original, e não necessariamente em sua mitologia. O resultado é certeiro e proporciona uma das diversões mais desavergonhadamente pipocas de 2024, perfeitamente bem representada por um momento chave: onde os personagens acabam se refugiando de um tornado gigantesco no clímax?
Em uma sala de cinema, onde mais?
Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.