A cantora Preta Gil, uma das vozes mais potentes e autênticas de sua geração, morreu neste domingo (20), aos 50 anos. A artista lutava há dois anos contra as complicações de um câncer no intestino, uma jornada que ela compartilhou com o público de forma corajosa e transparente, tornando-se um grande símbolo de força e resiliência. A notícia de sua partida gerou uma onda de comoção e luto em todo o Brasil.
Preta estava nos Estados Unidos nos últimos meses, onde buscava uma última esperança de tratamento experimental, após ter esgotado as opções terapêuticas no Brasil. Sua determinação em lutar pela vida foi uma marca até seus últimos momentos.
“Eu me recuso a aceitar que se findou”: a batalha pela vida
A luta de Preta Gil contra o câncer começou em janeiro de 2023, quando ela foi diagnosticada com um adenocarcinoma no reto. Após um primeiro ciclo de tratamento bem-sucedido, que incluiu quimioterapia e cirurgia, a doença retornou de forma mais agressiva no segundo semestre de 2024, com novos focos de tumor.
Mesmo diante dos prognósticos difíceis, ela nunca perdeu a esperança. Em uma de suas últimas aparições na TV, em um programa dominical, ela falou sobre a decisão de buscar tratamento no exterior. “Aqui no Brasil a gente já fez tudo o que podia. Agora as minhas chances de cura estão no exterior. E é para lá que eu vou para voltar curada”, disse na ocasião, com otimismo.
“Eu tenho muita coisa para fazer nessa vida. Eu me recuso a aceitar que se findou para mim agora. Eu ainda tenho uma caminhada”, afirmou, mostrando sua imensa vontade de viver.
A coragem de expor a vulnerabilidade
Uma das maiores marcas da jornada de Preta foi sua honestidade brutal sobre o processo. Em um bate-papo com o jornalista Pedro Bial, ela detalhou as sequelas físicas do tratamento, que incluíram a retirada do reto. “Eu ainda passo por coisas muito delicadas. Tenho incontinência fecal, ainda uso fralda. A reabilitação é longa até eu conseguir retomar o comando do meu corpo”, revelou, em um ato de coragem que ajudou a quebrar tabus e a mostrar a realidade nua e crua da luta contra o câncer.
Um “presente divino” para parar e se cuidar
Em outra entrevista, a filha de Gilberto Gil contou como descobriu a doença. Após uma turnê familiar, ela ignorou sintomas como enxaqueca e pressão alta, priorizando o trabalho. O alerta veio de forma drástica. “Fui ao banheiro e senti escorrer algo na minha perna. Quando eu olhei era sangue”, lembrou. “Eu sou uma mulher de muita fé e acredito que esse episódio foi um presente divino, de verdade, para eu parar. Porque eu não parava”.
Essa fé, como ela mesma dizia, em seus “orixás e santinhas”, na vida e no amor, foi o que a guiou durante toda a sua batalha. Preta Gil deixa um legado que vai muito além de sua música; ela deixa a lembrança de uma mulher que enfrentou a dor com uma força inspiradora, ensinando a um país inteiro sobre resiliência, vulnerabilidade e a importância de lutar, sempre.