Feios, da Netflix, é adaptação de livro famoso
Feios, da Netflix, chegou ao catálogo nesta sexta (13) com a promessa de reviver o gênero jovem-adulto, tão popular há cerca de uma década. Naquela época, estávamos cercados por sagas que dominavam os cinemas com suas tramas distópicas e jovens protagonistas desafiando sistemas opressivos. Porém, essa era de ouro passou, e o que sobrou para Feios foi uma tentativa tardia de resgatar o brilho desse estilo de narrativa.
A história de Feios, que é uma adaptação do romance de 2005 de Scott Westerfeld, segue Tally, uma adolescente de 16 anos, interpretada por Joey King, que vive em uma sociedade futurística onde todos são obrigados a passar por uma cirurgia chamada “A Transformação”. Esse procedimento altera suas aparências “imperfeitas”, tornando-os “Perfeitos” e permitindo que vivam em uma cidade paradisíaca, onde todos são bonitos, jovens e festejam sem preocupações. A premissa soa familiar, não é? É o tipo de história que já vimos em outros filmes e séries, e é justamente aí que está o problema. O filme cai em tropos que, embora funcionassem no início dos anos 2010, agora soam previsíveis e cansativos.
Joey King, conhecida por suas atuações em A Barraca do Beijo e O Ataque, tem um papel difícil aqui. Sua personagem, Tally, deveria ser o coração do filme, mas a interpretação dela acaba sendo sem brilho. Isso não é completamente culpa da atriz, que já mostrou talento em outros trabalhos, mas sim do roteiro, que não lhe dá muito com o que trabalhar. Sua jornada de autodescoberta e resistência ao sistema, que deveria ser emocionante, passa sem grandes momentos marcantes, resultando em uma protagonista que não consegue cativar totalmente o espectador.
Mais pontos negativos do que positivos
Do lado oposto da trama, temos a Dra. Cable, interpretada por Laverne Cox (Orange Is the New Black). Ela é a vilã que controla o destino de Tally e os outros jovens prestes a passar pela Transformação. Infelizmente, nem mesmo o carisma de Cox consegue salvar sua personagem de ser pouco desenvolvida. A Dra. Cable é apenas uma figura autoritária sem profundidade, seguindo o clichê de “governo opressor” que já vimos em tantos filmes do gênero.
O que realmente incomoda em Feios é a sensação de que o filme não traz nada novo. Temos uma sociedade autoritária, uma protagonista que descobre que algo está errado, uma amiga rebelde, e, claro, um grupo de resistência vivendo à margem da sociedade. A amiga em questão é Shay, interpretada por Brianne Tju, que foge para a Fumaça, um grupo que rejeita a Transformação e vive de forma “natural” na floresta. Essa dinâmica de cidade versus natureza já foi explorada de maneira mais interessante em filmes como Jogos Vorazes, onde a divisão de classes era representada de forma mais contundente. Aqui, tudo parece uma versão diluída das ideias que esses filmes anteriores já abordaram.
Outro ponto que prejudica Feios é sua direção. McG, conhecido por filmes como As Panteras e O Exterminador do Futuro: A Salvação, entrega um trabalho que parece desinteressado. Não há grande inventividade visual ou sequências de ação memoráveis que poderiam elevar a experiência.
O design de produção de Feios, da Netflix, que deveria destacar o contraste entre a cidade dos Perfeitos e a Fumaça, é insosso e pouco inspirado. A cidade, que deveria ser uma utopia brilhante e sedutora, parece apenas mais uma cidade genérica de ficção científica, sem identidade própria. Já a Fumaça, com seu estilo de vida rústico, também não impressiona. Não há uma construção de mundo convincente que nos faça realmente acreditar nas escolhas que os personagens estão fazendo.
A trilha sonora também merece destaque, mas não pelos melhores motivos, já que o tempo todo parece uma tentativa falha de recriar a atmosfera de filmes indie. É o tipo de escolha que poderia funcionar, se fosse bem utilizada, mas aqui soa deslocada e sem impacto.
Tarde demais
Com tudo isso, Feios, da Netflix, é um filme que chega tarde demais para seu próprio bem. Se tivesse sido lançado na mesma época que Jogos Vorazes e Divergente, talvez tivesse encontrado um público mais receptivo, mas agora, em 2024, ele parece mais uma cópia pálida do que já vimos antes. A própria narrativa, com suas divisões de classes rígidas e vilões autoritários, soa ultrapassada em um cenário onde o gênero jovem-adulto está lutando para se reinventar.
Feios tenta abordar temas relevantes, como a obsessão com a beleza e o controle social, mas falha em trazer uma nova perspectiva para essas questões. É uma adaptação que não acrescenta muito ao livro original e que, no final das contas, se perde em um mar de clichês e fórmulas desgastadas. Para os fãs do gênero, talvez seja uma experiência nostálgica, mas para os que buscam algo inovador, Feios decepciona.
É difícil não se perguntar o que aconteceu com o gênero jovem-adulto. Onde antes tínhamos histórias que realmente mexiam com a imaginação, agora temos filmes como Feios, que, apesar de terem potencial, não conseguem entregar algo que vá além do básico.