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Crítica | A Luz Entre Oceanos

Thiago Nolla Thiago Nolla
In Catálogo, Cinema, Críticas•3 de novembro de 2016•12 Minutes

Uma história de romance costuma ser previsível. Dois indivíduos completamente diferentes entre si que acabam se conhecendo e, depois de certo tempo, tornam-se perdidamente apaixonados um pelo outro. Claro, obstáculos se colocam entre eles, impedindo que o “felizes para sempre” venha com facilidade, mas o final é bem conhecido: tudo dá certo. Essa é, de forma resumida, a base na qual se finca A Luz Entre Oceanos, filme de Derek Cianfrance, baseado no livro homônimo de M.L. Stedman. Claro que a linha narrativa não se restringiria a territórios tão bem explorados por obras escritas, cinematográficas e televisivas: algumas viradas impressionantes aguardam o público dentro de seus aproximados 120 minutos. Mas quando a tempestade de reviravoltas passa, vem a calmaria – e não digo isso de forma positiva, infelizmente.

Michael Fassbender é um dos protagonistas no filme. Aqui, ele encarna o inexpressivo e amargurado Tom Sherbourne, um veterano de guerra que se torna totalmente mergulhado em emoções destrutivas após perceber a capacidade bélica e derradeira do ser humano. Sabemos que aqueles que conseguem retornar da guerra – principalmente uma tão horrenda quanto a I Guerra Mundial – não voltam como eram. Distúrbios, traumas, sequelas e outros começam a permear suas próprias personalidades, e o ator consegue encarnar todos estes problemas sem cair na tentação do melodramático. Sherbourne viaja até a longínqua cidade de Janus Rock, localizada na Austrália, onde deseja recomeçar sua vida. Para tanto, precisa se afastar daquilo que considera o mal primordial: o próprio homem. Ele aceita o emprego de faroleiro e irá trabalhar na ilha homônima, localizada em alto-mar, na qual receberá visitas a cada três semanas e não terá contato com mais ninguém além de suas memórias e de seus escritos.

Mas antes que possa ser definitivamente efetivado, Sherbourne é convidado por uma família local para almoçar e, chegando lá, com seu rosto nos dizendo que está em constante dor e que tenta ao máximo reprimi-la, ele encontra a sedutora Isabel Greysmark (Alicia Vikander), seu completo oposto. Enquanto Tom é um cara mais reservado e é bombardeado constantemente com lembranças da recém-finalizada guerra, Isabel parece ter vivido à parte disso. Quer dizer, ela tem consciência do que ocorreu mundo afora, mas seu jeito de ser nos parece imutável: ela é crua, carnal, quase primitiva, além de trazer uma doce altivez à cena que contrasta com seu companheiro de cena.

A química entre Vikander e Fassbender é imediata. É quase possível enxergar as fagulhas de um futuro romance incendiando uma belíssima cena de jantar no qual eles trocam olhares silenciosos. Palavras não são necessárias, e talvez esta escolha do elenco seja o ponto mais alto do filme. A narrativa pode até ser clichê, mas vale a pena assistir ao filme pela simples presença comovente e cativante de ambos os protagonistas.

Obviamente o amor não ocorre à primeira vista. A Luz Entre Oceanos, apesar das saídas formulaicas de narrativas do gênero, não é um conto de fadas. Entendemos a fascinação de Isabel por Tom, a qual é a pura simbologia da atração dos opostos. Mas ainda sim, este não deseja se abrir para outra pessoa por medo – e talvez por uma leve repulsa que provém de suas experiências no campo de batalha. Como já dito, a diferença entre os dois é notável: enquanto um traz uma certa escuridão e uma neutralidade para as sequência, o outro brilha em sua vivacidade quase estoica, com tons mais vibrantes e que algumas vezes soam artificiais – não desmerecendo o incrível trabalho de direção de arte de Karen Murphy, que resgata uma época quase anacrônica.

Em dado momento da narrativa, o casal acaba firmando o relacionamento e ambos contraem matrimônio. Tom leva Isabel para morar consigo na ilha, onde ambos viverão numa confortável casa com vista para a imensidão quase assustadora de um oceano. Não há mais ninguém lá e, durante grande parte do segundo ato, os dois vivem em uma felicidade utópica. Até que decidem aumentar a família e encontrar um modo de preencher um vazio incomodante que se alastra pelos quatro cantos daquele território. E é aí que os obstáculos finalmente chovem sobre os dois.

Acontece que Isabel tem dois abortos espontâneos dentro de duas tentativas de ter um filho. A primeira cena é construída de forma magnífica, com ela avançando tortuosamente por entre uma tempestade, caminhando e sendo castigada pela chuva e pelo vento, tentando alcançar o local de trabalho de seu marido. Ele não a ouve, e ela não pode fazer mais nada além de se deitar às portas do farol e esperar que Tom a encontre. Cada segundo transborda pura aflição e angústia, e não sabemos o que acontecerá. Nem mesmo a trilha composta por Alexandre Desplat consegue nos auxiliar neste trabalho, com um épico arquitetado com violinos e violoncelos em uma composição tonal nos arrastando para dentro do mesmo caos dos personagens. A segunda vez em que isso acontece, Isabel está confiante de que tudo dará certo: e num piscar de olhos, ela vê o seu vestido manchado de sangue e logo depois deitada numa relva desbotada olhando para o túmulo de seu filho não nascido.

Até aqui, a narrativa se desenrola de forma dinâmica e atraente. Temos uma linha narrativa, dois personagens muito diferentes marcando uma presença inefável numa imensa ilha. A opção por planos mais fechados para retratar a perda de esperança do casal principal entra em contraste com construções imagéticas mais abertas a fim de mostrar a majestosidade do cenário. Adam Arkapaw faz um trabalho invejável ao dançar com a câmera, navegando pela fumaça dos navios ou pelas ondas da praia, transpondo barreiras para acompanhar movimentos enérgicos e quase irracionais.

E então, como se não bastasse, a própria ilha recebe uma visita inesperada: uma canoa encalha nas praias brancas, com um corpo de um marinheiro jazendo lá dentro e um pequeno bebê chorando de fome em busca de alguma esperança. O casal encontra os dois, enterrando o cadáver numa parte inóspita de Janus Rock, com o devido “funeral”, por assim dizer. E já é de se esperar o que acontece depois: Tom, permanecendo fiel a suas responsabilidades, deveria reportar as autoridades o ocorrido, mas em vez disso adota a criança – uma linda menina loura -, tornando realidade o sonho de sua mulher. A partir daqui, a composição das cenas é quase angelical: tudo vai de acordo com as regras das histórias de romance, e observamos o crescimento do bebê em cortes ritmados – cujas mesclas entre tons verdejantes e dourados contribuem para o tom pacífico do final do segundo ato.

A Luz Entre Oceanos poderia ter acabado desse jeito? É claro. Os obstáculos já haviam sido apresentados, apesar de poucos, e os personagens já alcançaram a tão desejada paz. Entretanto – e isso é um problema do próprio romance -, a narrativa resolve explorar as consequências de decisões imorais e antiéticas, adentrando um território antropológico e quase filosófico da irracionalidade humana. Tudo bem, estes conceitos emergem com os protagonistas, incluindo a dualidade entre o primitivo e o progressista, o traumático e o sã. Mas esta nova subtrama teria que ser muito bem pensada para funcionar com o tom novelesco do filme – e não é isso o que acontece.

O próximo obstáculo a ser enfrentado vem personificado por Hannah (Rachel Weisz, em talvez uma de suas atuações mais verdadeiras e mais contidas), uma mulher em completo desespero que perdeu a filha e o marido para os perigos do mar, peregrinando todas as manhãs de sua casa no centro comercial de Janus até o cemitério onde duas lápides simbólicas marcam a perda dos seus entes queridos. E é aí que o choque entre o que é certo e o que é justo mais uma vez pincela a narrativa principal: Tom acaba cedendo a seu lado moralista e envia cartas para esta mulher, dizendo que a criança está a salvo – um ato nobre, diga-se de passagem, mas que desperta uma fúria sem precedentes em Isabel. Querendo ou não, Lucy (Florence Clery) foi criada pelo casal, apesar de ser filha biológica de Hannah.

O longa, em determinado momento, não sabe mais por que caminho seguir. Nem mesmo a química entre o elenco consegue ofuscar a saturação exacerbada do roteiro, que mistura tantos gêneros fílmicos a ponto de se transformar numa mixórdia mal-resolvida. A quebra do voto de fidelidade entre Tom e Isabel se funde com o passado conturbado e com a falta de expectativas para o futuro de Hannah. Tudo isso corrobora a profusa saída que o roteiro encontra para finalizar – mais de uma vez – uma história cansativa. Temos três pontas distintas de um mesmo triângulo que lutam pelos holofotes e acabam destoando de maneira trágica.

A Luz Entre Oceanos funciona em partes. Até o final de seu segundo ato, a maestria com a qual Cianfrance conduz as lamentações e as aspirações dos personagens é admirável. Mas a narrativa deixa a desejar quando o maior dos antagonistas – a consciência – aparece em cena e acaba sujando de forma espalhafatosa um verdadeiro romance psicológico.

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Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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