Review | Star Wars: Battlefront II (2005) - O último bom shooter da saga

A franquia originada de BattlefieldBattlefront certamente nos trouxe um dos games mais populares de Star Wars. O primeiro dessa nova série foi um grande sucesso e não demorou muito para que, em 2005, recebesse sua continuação, Battlefront II. Expandindo os conceitos apresentados no jogo original, a sequência nos trouxe diversas novas adições, com um gameplay fluido e divertido que se sustenta até os dias de hoje, certamente o colocando acima do remake moderno, lançado em 2015. Dito isso, o game está longe de ser perfeito, com alguns problemas que podem torná-lo repetitivo em alguns pontos.

Para quem não conhece a franquia, Battlefront II é um game de tiro em primeira e terceira pessoa, que nos coloca no meio de um cenário de guerra, contra inúmeros outros inimigos controlados por computador. O jogo chegou a ser lançado com modo multiplayer, mas como isso é algo praticamente inviável nos dias atuais, em virtude de sua idade, não irei entrar nessa questão. Dito isso, podemos escolher entre a República, os Separatistas, o Império ou a Aliança Rebelde. Cada batalha, é claro, se passa em um dos dois períodos: durante as guerras clônicas ou a guerra civil. Por já nos oferecer essa maior possibilidade de escolha, o game já se coloca em um nível acima de seu recente reboot.

Outro elemento importante que muito o diferencia de Battlefront é a presença de um modo história, que nos leva do final da guerra que dividira a República até os domínios do Império. Durante essas missões controlamos a legião 501 do exército de clones, que se tornaria a mais famosa divisão do exército imperial, conhecida como o punho de Vader (no Universo Expandido, naturalmente). O interessante é que cada uma das fases nos traz diferentes objetivos, permitindo que aproveitemos o modo campanha e não somente passemos por ele a título de curiosidade. Mesmo que, atualmente, não sendo considerado canônico, o game nos oferece um olhar diferenciado sobre esse conturbado período.

O maior destaque de Battlefront II, contudo, é o modo Galactic Conquest, que nos coloca em uma espécie de tabuleiro e devemos dominar planetas da facção rival a fim de exercer completo domínio sobre a galáxia. Após escolher uma das quatro organizações do universo de Star Wars partimos de batalha atrás de batalha, conquistando créditos após cada vitória ou derrota a fim de melhorar nosso exército, comprando novas unidades ou bônus que permanecem durante uma única partida. Recomendo fortemente que o modo seja jogado na dificuldade elite, somente assim algum desafio será oferecido. Isso, porém, não nos afasta da questão que acaba prejudicando o game como um todo: ele é fácil demais e a vitória é praticamente garantida após o jogador se acostumar com os comandos.

Felizmente, cada batalha se diferencia da outra, mesmo que estejamos na mesma fase e existem muitas a serem exploradas, cada uma oferecendo um desafio diferenciado, que pede para uma estratégia diferente. O campo aberto de Geonosis, por exemplo, pede por soldados de maior alcance, enquanto que os claustrofóbicos corredores de Polis Massa requerem que um estrago a curta distância seja empregado – por mais que, quase sempre, esse cenário se torne uma bagunça total em virtude da quantidade de inimigos, aliados e explosões em tela, o que somente o deixa mais divertido, é claro.

Infelizmente, muitas dessas fases não diferenciam alguns de seus fatores dependendo do período escolhido pelo jogador. Em Coruscant, por exemplo, podemos ver naves separatistas e republicanas voando pelo céu, mesmo se estivermos jogando com o Império contra a Aliança Rebelde , demonstrando um evidente descuido dos desenvolvedores quando se trata dos detalhes do jogo. Outro aspecto que faz ele soar extremamente datado são as hitboxes, especialmente quando se escolhe a classe scout (vulgo, sniper). Muitas vezes atingimos uma barreira fantasma muito distante da parede mais próxima, o que pode ser verdadeiramente frustrante. Mas estamos falando, é claro, de um jogo lançado à época do PS2/ Xbox, então não poderíamos esperar muito mais que isso.

Para contornar tais pontos, felizmente, temos a presença de heróis e veículos constantemente nas lutas, o que pode alterar significativamente o campo de batalha. Ainda que alguns desses personagens especiais sejam muito mal desenvolvidos (Palpatine, estou olhando para você), diversos outros contam com habilidades únicas que, se bem empregadas, garantem um toque especial a cada luta. Claro que os heróis acabam surtindo diferentes efeitos no modo Hero Assault, que coloca duas equipes desses icônicos indivíduos da saga uma contra a outra. Além desse modo, temos o clássico capture a bandeira e o padrão conquest, todos podem ser escolhidos no menu instant action, que permite uma bela customização das partidas para que pulemos de jogo após jogo.

Outro erro do game são as batalhas espaciais, que após serem jogadas algumas vezes se tornam extremamente repetitivas e fáceis de se ganhar. Não há desafio algum: basta destruirmos metodicamente cada pedaço da nave do oponente para ganharmos e, a não ser que permaneçamos parados no jogo, a vitória é garantida. Um ponto favorável desse modo é a quantidade de veículos que podemos utilizar, permitindo que voemos em diversas naves que, até então, podíamos apenas observar nos seis filmes da franquia lançados até então.

Battlefront II conta com muitos defeitos e pode soar extremamente datado em determinados pontos. Ainda assim, é uma bela adição ao universo de Star Wars e seus acertos o fazem divertido até os dias de hoje, mesmo duas gerações após aquela de seu lançamento. Por isso não tenho medo de afirmar que estamos falando de um game muito superior à sua contraparte mais recente, que infelizmente pecou em inúmeros aspectos, por mais que se configure como um bom FPS, para quem quer fugir do clássico Battlefield x Call of Duty – estamos falando de uma daquelas exceções que o tecnicamente superior não chega a ser tão engajante quanto seu antecessor menos rebuscado. Para os fãs inveterados dessa galáxia muito, muito distante, um olhar para os games clássicos talvez seja mais apropriado.

Star Wars: Battlefront II

Desenvolvedor: Pandemic Studios
Lançamento: 31 de outubro de 2005
Gênero: Tiro em primeira/terceira pessoa
Disponível para: PC, PS2, Xbox


Review | Final Fantasy - Um dos Games Mais Importantes da História

Review | Final Fantasy - Um dos Games Mais Importantes da História

Final Fantasy foi lançado originalmente para NES em 1987 e foi um dos responsáveis pela popularização do gênero RPG para os videogames. É, sem dúvidas, um dos jogos mais importantes já feitos, tendo influenciando centenas de outros games até hoje.

Concebido inicialmente com o título Fighting Fantasy, o jogo teve seu nome alterado graças à possibilidade de falência de sua desenvolvedora, Square (atualmente Square Enix). Além disso, caso não desse certo, esse seria o último game criado por Hironobu Sakaguchi, que abandonaria a indústria dos videogames. Tão pouco ele sabia que Final Fantasy se tornaria uma das maiores e mais bem sucedidas franquias dos games.

As influências da obra são claramente os RPGs de mesa, especialmente Dungeons & Dragons. Isso pode ser observado desde a criação de personagens, passando pelo desenrolar da história, até o combate em si. Entrarei em detalhes destes elementos posteriormente nesta crítica. Além dos RPGs de mesa, Sakaguchi se inspirou nos videogames Wizardry e Ultima.

Além de Sakaguchi, nesse primeiro game da franquia já participaram importantes nomes e, atualmente, vinculados à franquia. O primeiro é Yoshitaka Amano, que desenha, até hoje, as artes conceituais da série e continua fazendo os logotipos dos games. O segundo, mas definitivamente não menos importante é Nobuo Uematsu, responsável pelas trilhas sonoras de todos os games da franquia (exceto XII e XIII).

Enfim, chegamos ao jogo em si. Final Fantasy inicia com a criação de personagens que permite a escolha de quatro personagens dentre seis classes: Warrior (Fighter), Monk (Black Belt), Thief, Red Mage, Black Mage e White Mage. Cada uma dessas é especializada em um tipo de combate e possui habilidades únicas. A criação de uma equipe equilibrada é essencial. Após darmos o nome para cada um deles, começamos a aventura.

A história inicia com a chegada profetizada dos quatro guerreiros da luz à cidade de Cornelia. Cada um desses heróis possui um cristal escurecido, que devem, ao longo de sua jornada, transformar nos cristais de cada elemento. A aventura começa ao termos que resgatar a princesa de Cornelia das mãos de Garland, um antigo cavaleiro do rei. A partir daí somos levados de missão em missão pelos continentes do jogo, ajudando todos os que precisam, sejam humanos, anões ou elfos.

A progressão do jogo é bastante simples no início, com objetivos bem definidos. A história se mantém simples do princípio ao fim, mas conforme o mundo é aberto para exploração, deixa de ficar claro para onde devemos ir. Os encontros com monstros, que podem ocorrer em qualquer lugar fora das cidades, acabam se tornando repetitivos e irritantes, visto que devemos andar constantemente pelo aberto.

O combate se dá em turnos. Escolhemos as ações de cada um dos nossos personagens e cada um age no instante determinado pelo computador. Em Final Fantasy é inserido um elemento, até então ausente nos videogames: a fraqueza à determinados ataques ou elementos. Cada monstro possui sua vulnerabilidade específica, seja física ou mágica – por exemplo determinada criatura é morta mais facilmente por gelo, ponto que esse que influenciou centenas de outros games dos mais variados gêneros.

Um grande ponto negativo da obra é a quantidade de inimigos que podemos vir a enfrentar por vez, tornando a batalha enfadonha, ao ponto que chegamos a implorar por uma magia que consiga matá-los todos de uma vez. É claro que tais lutas são essenciais para se passar de nível no jogo, mas a sua frequência acaba empobrecendo a dinâmica do game.

Como em qualquer JRPG (RPG japonês), o grinding é essencial. Quanto maior o nível que alcançarmos, mais fácil se torna o jogo. Alguns dungeons e batalhas contra chefes são praticamente impossíveis em níveis mais baixos.

Ao alcançarmos determinado ponto da história podemos avançar cada uma das classes dos personagens. Nos níveis superiores das classes nos são abertas mais habilidades e magias, além de uma mudança na aparência do personagem, o que garante a revitalização da narrativa do jogo, permitindo que nosso engajamento seja recobrado, já muitas horas após o início do gameplay.

Os equipamentos e magias disponíveis devem ser comprados para serem utilizados, diferentemente de posteriores entradas das franquias, nas quais aprendemos certas habilidades. O dinheiro do jogo, gil, é adquirido através das batalhas – quanto maior o nível do inimigo, maior a recompensa, o que nos incentiva a batalhar constantemente, por mais repetitivo que isso acaba se tornando. Cada classe possui armas e equipamentos específicos que podem ser utilizados – um black mage não pode se armar de uma espada, por exemplo, o que torna toda a escolha inicial de classe mais importante.

Não podemos, claro, nos esquecer da emblemática trilha sonora de Nobuo Uematsu, que mesmo em sua versão mais antiga, é fantástica e introduz melodias que percorrerão toda a franquia. Destas podemos destacar o tema de Final Fantasy, o tema dos cristais e a famosa Victory Fanfare, que é tocada ao vencermos as lutas do game em quase toda a franquia. Dessa forma, podemos dizer que a identidade dessa grande antologia foi definida desde cedo, com cada nova entrada honrando o que veio antes, mas sem ter medo de inovar.

Dito isso, Final Fantasy é, sem dúvidas, um jogo de suma importância para a indústria e que merece ser jogado por qualquer fã da franquia ou de RPG que deseje conhecer as origens do gênero nos videogames. Em última análise, contudo, não é um game fácil de se terminar hoje em dia, devido às inúmeras e repetitivas batalhas randômicas e falta de informações para que possamos prosseguir com a história. Estamos falando, é claro, de um jogo lançado há vinte e seis anos e tais defeitos podem ser relevados, tendo em vista seu grau de inovação. Trata-se de uma importante parte da história dos games e que jamais deve ser esquecida.

Caso você tenha interesse no jogo atualmente, existem remakes disponíveis para a PSN, IOS, Android e Windows Phone. O game foi inteiramente refeito, com gráficos, animações e trilha sonora atualizados. O espírito, contudo, se mantém o mesmo.

Final Fantasy

Desenvolvedor: Square
Lançamento: 18 de Dezembro de 1987 (Japão), 12 de Julho de 1990 (EUA)
Gênero: JRPG
Disponível para: NES, MSX, WonderSwan Color, PS, GBA, Mobile, PSP, Wii Virtual Console, PSN, IOS, Windows Phone, Android


Review | Final Fantasy II - As Rápidas Inovações da Franquia

Review | Final Fantasy II - As Rápidas Inovações da Franquia

Um ano após o lançamento do primeiro game da franquia, em 1988, foi criado Final Fantasy II. Aproveitando o sucesso de seu antecessor, o segundo jogo apresentou maior ênfase na história e inseriu diversos elementos que continuariam por toda a série, como os chocobos e o personagem Cid, que não chega a ser exatamente o mesmo nas subsequentes entradas, mas detém o mesmo nome.

É importante ressaltar que, no ocidente, FFII somente foi lançado em 2003 para o Playstation. Embora a versão americana estivesse em produção para o NES, ela foi abandonada em virtude do popular Super Nintendo. Em substituição, Final Fantasy IV foi lançado fora do oriente com o nome de Final Fantasy II. Somente na era do Playstation a numeração original foi restabelecida no ocidente. Assim, para não haver confusão: esta crítica é do jogo de 1988.

Ao contrário de seu antecessor, FFII não permite a escolha de classes iniciais e não conta com o sistema de jobs. Isso se dá graças à história mais rebuscada – dessa vez os personagens jogáveis tem um nome pré-definido (que pode ser alterado). Além disso os levels foram abandonados, substituídos por um sistema no qual cada arma e magia possui seu próprio nível, que progridem de acordo com o uso, uma espécie de precursor do sistema observado na série The Elder Scrolls.

Esse novo sistema, infelizmente, gera uma necessidade ainda maior de grinding (batalhar inúmeras vezes), principalmente para melhorar as magias, processo que requisita o uso de cada uma delas durante cada luta. Além disso, espere errar inúmeras vezes os golpes, até que o nível com a arma ou magia tenha se elevado, o que certamente gera muita frustração, especialmente nos momentos mais críticos. O ponto positivo é que o personagem pode ser o que você quiser, já que não são mais presos a classes.

Através de uma cinemática inicial, somos apresentados à história do jogo. Nela, o Imperador de Palamecia começou a conquistar os outros reinos à sua volta, liberando criaturas monstruosas por todo o mundo. Em meio às inúmeras guerras, um exército rebelde surgiu no reino de Fynn. Em pouco tempo, contudo, as forças imperiais invadem a cidade rebelde e os poucos sobreviventes escapam para a cidade de Altair.

É nesse ponto que os heróis do jogo entram. Firion, Maria, Guy e Leon, que tiveram seus pais assassinados pelo exército da Palamecia, estão fugindo de Fynn, quando são emboscados por cavaleiros do Império. Os quatro jovens são rapidamente derrotados, mas são resgatados pelos rebeldes que os levam para Altair. Somente Leon não é encontrado. Nessa cidade de refugiados, conhecem a Princesa Hilda, atual líder da rebelião.

A partir daí nos são dadas missões atrás de missões pela princesa. Com o progredir do jogo tomamos um papel central na rebelião, o que passa a impressão de que, de fato, somos importantes para o desenvolvimento da trama geral. Enquanto avançamos na história, o espaço do quarto membro da equipe é preenchido por um personagem diferente, se encaixando organicamente com a história, o que aumenta consideravelmente a dinâmica da obra e nos deixa um tanto curiosos para descobrir quem vem a seguir.

Final Fantasy II é um jogo evidentemente mais sério e sombrio que seu antecessor. Isso se dá não só pela história, como pela quantidade de mortes ocorridas durante o game e a destruição gerada pelo Imperador da Palamecia. Esse ponto é ressaltado pela melancólica música tema. Nobuo Uematsu, novamente a frente da trilha, apresenta um trabalho fantástico, ainda superior ao jogo original. Em destaque estão as músicas de batalha, o tema dos chocobos e o tema da rebelião, The Rebel Army. Essa última melodia, em tom mais empolgante, funciona como uma dose de esperança dentro de toda a seriedade do jogo, perfeitamente simbolizando a luta pela liberdade, um dos principais temas da obra.

Enquanto alguns problemas do primeiro Final Fantasy são resolvidos, muitos deles ainda se mantêm. A grande frequência de batalhas e a quantidade de inimigos por luta continuam os mesmos, tornando penosa a passagem pelas dungeons e pelo mundo aberto em si. Felizmente, os oponentes foram enfraquecidos, contribuindo para a dinâmica dessas batalhas. O sistema de fraquezas do game original continua e é ainda mais explorado pelos diversos novos monstros inseridos, aumentando a fluidez de cada embate.

Dessa vez nos é oferecida uma maior liberdade na exploração, sendo possível andar por quase todo o mapa desde o início do jogo. Isso, contudo, vem com seus riscos: caminhe para o lugar errado e você irá encontrar inimigos muito mais fortes que você e logo será morto. Portanto, salvar constantemente é recomendável, tendo ainda em conta que dificilmente será possível fugir de uma luta dessas.

Nos diálogos, é inserido um novo sistema de aprender palavras-chave que devem ser utilizadas em determinados pontos da história para progredir nas missões. Além disso, em certos momentos devemos apresentar itens a personagens específicos, para que esse revele o que deve ser feito a seguir. Tal aspecto nos mantém mais engajados à história do jogo como um todo, já que nos obriga a fisgar cada detalhe apresentado pelos NPCs. Naturalmente que a quantidade de diálogos e até mesmo a profundidade deles não chega aos pés dos RPGs de hoje em dia, mas seria injusto cobrar tais aspectos de um game lançado em 1988.

Em relação aos remakes para PSP, Android e IOS, estes apresentam gráficos mais rebuscados, porém ainda usam modelos em 2D. As magias são o único elemento em 3D do game. Infelizmente, muitas delas possuem animações longas demais, que acabam tornando as lutas ainda mais repetitivas. Os controles são bastante simples e funcionam muito bem com cada plataforma, porém com alguns elementos não muito claros. No PSP, por exemplo, é possível passar o jogo inteiro sem saber da possibilidade de abrir um mapa (através dos botões select + círculo).

Final Fantasy II é um jogo de mais fácil aproximação que seu antecessor, porém com detalhes que exigem bastante paciência. Apresenta uma boa história (com um leve deslize no fim), ótimos personagens e horas de jogabilidade, trazendo, desde já, notáveis inovações para a franquia. Definitivamente merece ser jogado por qualquer fã da série e de RPG.

Final Fantasy II
Desenvolvedor:
 Square

Lançamento: 17 de Dezembro de 1988 (Japão), 08 de Abril de 2003 (EUA)
Gênero: JRPG
Disponível para: NES (Somente no Japão), WonderSwan Color (Somente no Japão), Playstation, GBA, Mobile (Somente no Japão), PSP, Wii Virtual Console, PSN, iOS, Android


Crítica | Star Wars Rebels - 2ª Temporada - O Crepúsculo da Aprendiz

Crítica | Star Wars Rebels - 2ª Temporada - O Crepúsculo da Aprendiz

A primeira temporada de Star Wars Rebels nos apresentou a um pequeno grupo de rebeldes atuando no planeta Lothal que, aos poucos, passaram a fazer parte de um movimento de insurgência muito maior. Encabeçado por Dave Filoni, a série animada fez um ótimo trabalho em expandir o universo canônico de Star Wars, trazendo não só novos e únicos personagens, como um aprofundamento de outros já conhecidos há décadas. A segunda temporada, por sua vez, contava com a tarefa não só de manter o mesmo padrão de qualidade, como o de desenvolver essa história, mostrando quais caminhos inéditos esses já queridos personagens trilhariam.

Iniciado pelo fantástico The Siege of Lothal, esse segundo ano imediatamente altera o status quo do grupo que protagoniza o desenho. Não somente são forçados a deixarem o já citado planeta, como dão de cara com uma ameaça muito maior que o temível Inquisidor que tiveram de enfrentar no ano anterior: Darth Vader. O episódio de abertura, portanto, já mostra que a escala da rebelião assumiu um grau muito maior – suas ações passam a significar muito mais que uma mera pedra no sapato do Império e, ao mesmo tempo que temos essas operações, observamos um evidente crescimento de cada uma dessas personalidades.

 

Seguindo o exemplo narrativo da primeira temporada, cada capítulo foca em um ou em um grupo de personagens específicos. Ora temos uma trama centrada em Ezra e Kanan, ora em Sabine e Hera e assim por diante. Dito isso, cada um desses episódios explora uma parcela diferente do universo dessa galáxia muito, muito distante. Realizando interessantes conexões com Clone Wars (a versão em CG), Rebels dialoga com o passado desse universo, mais que nunca cita as guerras clônicas e como elas afetam continuamente os acontecimentos presentes. Personagens antigos são trazidos de volta e o mais interessante é como o roteiro faz um esforço para agradar não só as novas audiências como aquelas que acompanharam o outro desenho – nenhum grupo é excluído, ao passo que o entendimento jamais é prejudicado para aqueles que não assistiram o anterior. Mesmo não tendo assistido, contudo, conseguimos nos relacionar com o drama do reencontro de Anakin (agora Vader) com sua ex-aprendiz Ahsoka, momento que automaticamente nos traz lágrimas ao rosto.

Uma preocupação inicial minha em relação a essa temporada foi a inserção de novos inquisidores, temia por uma repetição do que vimos no ano anterior. Felizmente não é isso o que ocorre na obra – cada um desses novos antagonistas traz uma diferente faceta do Império. Seus métodos são diferentes, assim como suas personalidades – ao mesmo tempo um completa o outro de forma orgânica e se mostram, evidentemente, menos poderosos que o grão Inquisidor da temporada passada. Isso não quer dizer, porém, que os perigos que os rebeldes enfrentam são menores. Aqui são testados continuamente em virtude da maior atenção que o Império dispensa a eles, isso sem falar no constante perigo do lado negro que paira sobre os dois jovens Jedi, que devem lutar contra a tentação a todo momento.

Essa questão em específico é muito bem explorada nos capítulos finais, definitivamente um dos melhores de todo o seriado. Esses trazem um icônico personagem do universo de Star Wars de volta, mas pecam por serem a única parte que necessitam de Clone Wars para que tenhamos um entendimento completo – para isso, contudo, basta assistir alguns vídeos no youtube, não é preciso que o espectador passe por todas as seis temporadas da série. A tensão apresentada aqui é gigantesca e traz o planeta Malachor, anteriormente apresentado em Knights of the Old Republic II de forma diferente, para o cânone desse universo. É fascinante aqui como o passado dialoga com o futuro da franquia e abre terreno para inúmeros novos materiais e também para o próprio futuro da animação em questão.

 

Falando sobre o trabalho dos animadores em si, não há muita diferença para o ano anterior. O design dos personagens se mantém o mesmo, assim como a fluidez de seus movimentos. O que chama a atenção é a identidade da série, como ela se diferencia de outros trabalhos de animação da atualidade. Digno de nota, também, é o trabalho de luz e sombras que muito bem definem o tom das sequências. Malachor é um bom exemplo disso, sendo apresentado na escuridão, muito bem refletindo a história do planeta.

A segunda temporada de Star Wars Rebels se classifica, pois, como mais um grande acerto da Disney, que sabe ampliar o universo de Star Wars ao mesmo tempo que respeita seu passado. As vertentes abertas para o futuro da série são verdadeiramente fascinantes e nos deixam muito ansiosos pelo que está por vir, especialmente após ter assistido o trailer revelado na Star Wars Celebration, que traz do antigo universo expandido da franquia um de seus mais icônicos personagens. Definitivamente a força continua com Dave Filoni e sua equipe criativa.

Star Wars Rebels – 2ª Temporada (EUA, 2015/2016)

Showrunner: Dave Filoni
Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Taylor Gray, Vanessa Marshall, Freddie Prinze Jr., Tiya Sircar, Steve Blum, David Oyelowo, Phil LaMarr, Ashley Eckstein, Stephen Stanton, Jason Isaacs
Episódios: 20
Duração: aproximadamente 22 min.


Crítica | Tarkin - Aprofundando um dos melhores vilões de Star Wars

Importante personagem de Uma Nova Esperança, Wilhuff Tarkin finalmente ganha sua merecida abordagem nas páginas de James Luceno. O Moff Imperial tem sua história aqui contada a fundo em uma narrativa que explora os anos desde a República até os primeiros anos do Império. O autor, já experiente dentro do Universo Expandido de Star Wars, demonstra uma grande familiaridade com toda a mitologia da franquia e consegue nos transportar com exatidão para os eventos que procura narrar, ao mesmo tempo que oferece importantes detalhes que compõem nossa visão do novo cânone estabelecido após a compra pela Disney.

A trama tem início nos anos iniciais do novo sistema de governo criado por Palpatine, Moff Tarkin foi realocado para uma distante base próxima a Geonosis, onde deve supervisionar a construção de uma estação espacial de combate (em outras palavras, a Estrela da Morte) – criando, assim, um vínculo imediato não só com Uma Nova Esperança, como com A Vingança dos Sith. Longe do centro da galáxia, o governador sofre um ataque por um grupo de piratas ou dissidentes e cabe a ele, posteriormente aliado a Darth Vader, descobrir o motivo e as origens desse atentado contra o Império. Uma verdadeira investigação se inicia cujas experiências fazem Wilhuff relembrar o seu aprendizado na juventude, e o que o fizera se tornar o homem que é hoje.

Com essa premissa, Luceno introduz uma narrativa que constantemente oscila entre o passado e o presente e surpreendentemente o faz de maneira orgânica, em nenhum ponto nos sentimos perdidos quando o protagonista mergulha em seu próprio passado em Eriadu, retomando as rígidas provações impostas por sua família que moldaram seu caráter. De pouco em pouco passamos a entender como ele ocupara um cargo de tamanho destaque dentro do Império, que, portanto, explica sua relação com Vader vista no primeiro filme da franquia (em ordem de lançamento). A interação entre esses dois importantes personagens é elaborada aqui de forma fascinante com Luceno inserindo inúmeras suposições por parte do governador em relação ao Darth – ele procura decifrar a expressão que há por trás da máscara e faz isso com uma deliciosa frieza e astúcia.

O autor, detalhista na construção desse universo, utiliza de tudo a seu dispor para criar um quadro realista do cenário galáctico atual, referenciando acontecimentos tanto dos filmes, dos livros, quanto da série animada Clone WarsPor vezes, essa estratégia acaba constituindo um tiro no pé – um excesso de informações e personagens pode acabar confundindo o leitor, especialmente se este não contar com um profundo conhecimento da mitologia de Star WarsTal fator poderia ser facilmente contornado com um glossário ao fim da obra, mas pode ser facilmente substituído por consultas na internet – algo praticamente obrigatório para se ter uma visão completa sobre Tarkin, especialmente quando James se utiliza de nomes de naves ou até mesmo alguns personagens secundários. Por outro lado, ao dispensar extensivas explicações sobre todo e qualquer aspecto abordado em sua trama, ele cria uma nítida fluidez na leitura – pulamos de página após página ansiosos pelo que está por vir. Suas descrições estimulam nossa criatividade e curiosidade. Estamos falando, naturalmente, de um universo inteiramente pautado na transmídia e consultas externas se fazem sim necessárias e não há falta de fontes para termos a visão geral requisitada.

O que talvez seja mais interessante em toda a construção do livro, contudo, é a forma como ele cuidadosamente amplia nossa percepção sobre o Império. A trilogia original dispensa quase que completamente qualquer abordagem política sobre o governo galáctico – ao contrário dos Episódios I, II e III. Somente em Uma Nova Esperança temos alguns vislumbres desse aspecto da franquia através dos diálogos entre o Moff, Vader e outros oficiais na Estrela da Morte. Aqui em Tarkin, todavia, somos levados para a cúpula da galáxia e passamos a entender melhor todo o cenário pós-guerras clônicas. A exploração, o racismo, o totalitarismo desse novo governo, naturalmente espelhando o nazismo, são discretamente trabalhados por Luceno com alguns detalhes inseridos em determinadas frases, mas que contam com enorme peso.

A fim de explorar mais profundamente esse aspecto, o autor ainda divide, pontualmente, alguns trechos de seus capítulos focando-os em outros personagens, como o Imperador, Vader ou até mesmo os antagonistas. Um preciso trabalho de diagramação aqui se faz essencial e cria uma maior distância entre os parágrafos na ocasião de uma mudança de foco narrativo. Já abordando o trabalho editorial eu não poderia deixar de tecer elogios à Aleph, que nos traz a edição brasileira. Cada mudança de capítulo é um verdadeiro deleite, contando não só com páginas de qualidade, como com uma ilustração bem inserida do ataque à Estrela da Morte, que imediatamente nos situa dentro do mesmo universo da trilogia clássica.

Além disso, a tradução por Caco Ishak sabiamente mantém alguns nomes e títulos no idioma original, enquanto alguns outros são traduzidos. Essas traduções, especialmente Pico da Carniça exercem uma poderosa força na construção do livro, há um certo ar de interioridade no nome da nave de Tarkin e isso perfeitamente corresponde às suas origens de Eriadu. Ouso dizer que Pico da Carniça chega a soar melhor que o original Carrion Spike quando inserido dentro desse contexto, que dá muitas faces ao protagonista e, sobretudo, uma gigantesca profundidade.

Com a experiência e a Força do seu lado, James Luceno nos traz a fascinante história do homem que se tornaria Grand Moff, ocupando uma posição de equivalência ao próprio Vader no cenário galáctico. Tarkin é uma obra nada menos que obrigatória para todo e qualquer fã de Star Wars e ajuda imensamente a construir nossa percepção sobre esses tempos sombrios dentro da mitologia da franquia, trazendo o passado e presente de um icônico personagem que, até então, fora muito subutilizado. O novo cânone definitivamente começou com o pé direito.

Tarkin (idem – EUA, 2014)

Lançamento no Brasil: Agosto de 2015
Autor: James Luceno
Ilustrações: David Smit
Tradução: Caco Ishak
Editora: Aleph
Páginas: 368


Crítica | The End of the F***ing World - 1ª Temporada - Uma Road Trip Inusitada

Crítica | The End of the F***ing World - 1ª Temporada - Uma Road Trip Inusitada

 

A Netflix se tornou conhecida, principalmente, em razão de suas produções originais - séries como House of Cards, Orange is the New Black e até a cancelada Sense8, sem falar, é claro, nas séries da Marvel, garantiram que o canal de streaming fosse fixado no imaginário popular e, por um bom tempo, atrelou o nome da companhia à qualidade (até a vertiginosa queda de algumas dessas produções, claro). Um dos melhores aspectos do serviço, no entanto, é o seu conteúdo licenciado, que também acaba recebendo o selo Netflix Original - obras que, possivelmente, acabariam não chegando por aqui, ao menos não tão cedo, como Better Call Saul, Star Trek: Discovery e, agora, The End of the F***ing World. Em outras palavras, são seriados, filmes ou animações que não tiveram um pingo de envolvimento do canal em seu desenvolvimento, sendo apenas trazidos para o Brasil (e outros países do mundo) pela gigante do streaming.

Esse mais recente seriado - ou minissérie - produzido pelo Channel 4, que já nos trouxera, há alguns anos atrás, a fantástica e injustamente cancelada Utopia, acompanha dois jovens problemáticos, enquanto eles viajam pela Inglaterra como verdadeiros foras-da-lei. Alyssa (Jessica Barden, de O Lagosta) é uma garota que está cansada do mundo ao seu redor e odeia pessoas que se encaixam nas "bizarrices" do mundo moderno. Já James (Alex Lawther, de Black Mirror) acredita ser um psicopata e, justamente quando está pensando em matar um ser humano, Alyssa aparece em sua frente - sendo a candidata perfeita, ele decide passar tempo com a menina. Tudo acaba mudando quando ela o convence de irem em busca do pai da garota.

Há um forte "quê" de perversidade que preenche a narrativa de The End of the F***ing World - o que já é deixado bem claro pelo título da série, baseado em quadrinhos de mesmo nome por Charles S. Forsman. Através de constantes narrações em off sabemos o que se passa na cabeça dos dois personagens centrais, recurso esse que acaba sendo indevidamente utilizado em determinados pontos, mas que, em outros, revela ser essencial para a constituição do humor negro do seriado. Com esse voice over as inseguranças desses personagens são evidenciadas ao espectador, que aprendem importantes detalhes, os quais, em outro caso, acabariam não tomando conhecimento. Não somente James e Alyssa são aprofundados por meio desse recurso, como a própria relação dos dois, a tal ponto que passamos a enxergar um como indispensável ao outro.

 

Naturalmente que essa escolha criativa de Jonathan Entwistle, criador, co-diretor e co-roteirista da série ajuda a gostarmos mais desses dois indivíduos que acompanhamos, mas não sentimos como se fosse algo forçado a nós, já que a construção da personalidade desses dois personagens evidencia que não há qualquer preocupação em nos fazer gostar deles.

James, ao que tudo indica, é um psicopata e não um carismático como Hannibal - ele simplesmente acata as decisões de Alyssa, da maneira mais passiva possível, sem demonstrar qualquer emoção. Já Alyssa tem a necessidade constante de irritar ou fazer todos à sua volta a odiarem, provocando absolutamente tudo e todos, inclusive um sujeito muito suspeito que decide dar carona aos dois - é como se a personalidade da protagonista de Girlboss fosse elevada à décima potência.

Claro que muito se deve à atuação tanto de Jessica Barden quanto de Alex Lawther. A primeira nos entrega uma personagem que, a todo e qualquer momento, está prestes à explodir - mesmo com seus constantes xingamentos (que ganham um toque especial em razão do sotaque carregado da atriz) ela parece, verdadeiramente, reter muito dentro de si, o que nos leva ao péssimo ambiente familiar da personagem e o relacionamento abusivo de sua mãe com o marido, ponto que a motiva a fugir. Já Alex vive o retrato das emoções reprimidas, do trauma, fruto do passado, quando ainda criança, de James. No fim, entendemos plenamente o que motiva os dois e porquê são daquela maneira, o que nos faz, naturalmente, passar a gostar deles.

Evidentemente os dois criam personagens que se completam, atuando como válvulas de escape um para o outro, o que apenas torna a relação entre os dois mais engajante e divertida, ou tensa, dependendo do momento em que estamos. Durante toda a série, porém, o humor negro continua, por mais que, em dadas situações, o drama tome conta do primeiro plano, sem que um prejudique o outro, eles se misturam, sem causar estranheza ao espectador.

 

Seguindo a estrutura clássica de road movies há, claro, o aumento dos problemas enfrentados pelo jovem casal. O que antes funcionava como uma espécie de período sabático, ganha assustadoras proporções, o que garante o aprofundamento dos indivíduos retratados. Por não se pautar em constantes twists, a obra não trai a construção de seus personagens - os problemas apresentados são orgânicos e diretamente ligados à jornada de cada um deles. Tal aspecto permite que o seriado fuja da previsibilidade, do início ao fim - primeiro por não se importar em agradar o espectador, segundo por entender o que é necessário para que essa viagem seja, literal e metaforicamente, concluída. Tudo isso faz com que enxerguemos a série como uma grande jornada de cura para os dois jovens, um enfrentamento daquilo que eles tanto temem e que tanto prejudicara suas vidas até esse momento.

É justamente esse foco quase que exclusivo nos dois personagens centrais, que, quando interrompido por uma trama policial, acaba quebrando nossa imersão - um problema claramente da narrativa, que insere um elemento estranho dentro da trama. Veja, durante os primeiros episódios, até praticamente a metade da temporada, permanecemos juntos de Alyssa e James, nos distanciando brevemente através de curtos inserts que dialogam com o pensamento ou falas dos personagens. Quando uma dupla de policiais, então, é subitamente inserida na trama, há um certo choque, pois quebra a identidade que a narrativa construíra até então. Não que toda essa subtrama policial seja desnecessária, muito pelo contrário, mas faltou um maior cuidado para que essa fosse inserida organicamente, especialmente considerando que a construção das duas policiais que acompanhamos, de fato, não importa muito para todo o enredo. Uma diminuição de foco nessa trama paralela, portanto, seria bem-vinda, por mais que ela se relacione diretamente com o restante do texto.

Esse ponto, felizmente, não nos afasta das qualidades apresentadas em The End of the F***ing World uma série que se destaca pela orgânica combinação de humor negro e drama, que muito bem lida com importantes questões questões psicológicas de seus personagens, como o trauma, relacionamentos abusivos e mais. Trata-se da obra quase ideal para provar o quanto o ambiente familiar pode afetar os jovens que ali convivem - mas não apenas isso, é uma bela série sobre a cumplicidade e, no fim, sobre o amor, que, de fato, pode salvar os outros da verdadeira tragédia. Mais uma vez, pois, a Netflix prova que não devemos ignorar seu conteúdo licenciado, que conta com verdadeiras pérolas, profundamente relevantes à nossa atualidade.

The End of the F***ing World (Reino Unido, 2017)

Criado por: Jonathan Entwistle
Direção: Jonathan Entwistle, Lucy Tcherniak
Roteiro: Charlie Covell, Jonathan Entwistle (baseado nos quadrinhos de Charles S. Forsman)
Elenco: Jessica Barden, Alex Lawther, Steve Oram, Jayda Mitchell, Wunmi Mosaku, Gemma Whelan, Christine Bottomley, Navin Chowdhry, Jonathan Aris, Barry Ward
Emissora: Channel 4, Netflix
Episódios: 8
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 25 min.


Crítica | Star Wars: The Clone Wars (A Série Completa) - Animação que melhora com o tempo

Crítica | Star Wars: The Clone Wars (A Série Completa) - Animação que melhora com o tempo

Até 2003 a franquia Star Wars nunca havia se sustentado na televisão, com algumas poucas séries e especiais tendo sido feitos desde a estreia de Uma Nova Esperança. Desses podemos citar o especial de natal tenebroso e o seriado dróides, duas obras que servem muito bem como resumo de toda a tragédia na qual a saga criada por George Lucas fora transformada na televisão. Isso mudou com Clone Wars, o desenho animado criado por Genndy Tartakovsky que serviu como tie-in de A Vingança dos Sith, desenho esse que herdou muito de Samurai Jack, tanto na arte, quanto na estrutura de sua narrativa. Foram poucos episódios, porém, que fecharam de forma redonda toda a guerra que seria, de fato, encerrada no Episódio III. 

Simplesmente deixar passar o sucesso dessa animação, contudo, não faz bem para os bolsos e George Lucas, claro, viu uma nova oportunidade de lucrar em cima desse mesmo período da saga. Eis que surge The Clone Wars, que transforma os característicos traços de Tartakovsky em computação gráfica, nos contando novas histórias focadas, principalmente, em Anakin Skywalker, Ahsoka e Obi-Wan. Cada capítulo de vinte e dois minutos, aproximadamente, nos apresenta um diferente evento dessa longa guerra. Não se enganem, porém, já que determinados episódios não trazem nada do conflito da República contra os Separatistas, preferindo aprofundar os diversos personagens que dão as caras ao longo do seriado.

O grande problema de The Clone Wars é a forma como seus episódios foram lançados, em ordem não-cronológica, algo que, felizmente, foi corrigido posteriormente através de uma lista publicada no site oficial de Star Wars, que conta com a ordem cronológica certa. Portanto, para o desavisado, assistir a animação será um verdadeiro suplício, já que alguns arcos vão soar completamente malucos, desconexos, sem falar na aparição de personagens que já morreram em um ponto anterior da história. Portanto, se ainda não assistiu o desenho e o intenciona fazer, recomendo fortemente que o faça seguindo a ordem cronológica – a experiência será absurdamente melhor.

Isso, contudo, não quer dizer que tudo mudará da água para o vinho, pois a série conta com outros evidentes problemas, especialmente nas duas primeiras temporadas. Era bastante claro que essa era uma obra despretensiosa, que foi ganhando maiores proporções com o tempo. Enxergamos isso claramente pelas tramas mais infantis e pouco engajantes dos primeiros anos. Conforme o tempo passa, porém, uma maior sensação de urgência é passada e mortes de personagens de destaque começam a ocorrer, tornando essa uma guerra de verdade e não somente uma troca de raios coloridos. O escopo das Guerras Clônicas se torna muito maior e o humor que toma conta das primeiras temporadas é reduzido, aparecendo somente como alívio cômico em ocasiões específicas.

Quando chegamos na segunda metade da terceira temporada, portanto, sentimos uma mudança brutal na narrativa, que passa a trabalhar com personagens secundários recorrentes e arcos maiores e mais sombrios, alguns dos quais atuam como uma bela adição ao cânone de Star Wars, lembrando que The Clone Wars faz parte das histórias “oficiais” após a compra da Lucasfilm pela Disney. Com narrativas mais refinadas e ousadas, o seriado começa a, verdadeiramente, nos prender, ainda que, vez ou outra, apareçam alguns capítulos tediosos, que se apoiam na infantilidade das primeiras temporadas. É preciso ressaltar, também, a inclusão de ótimos novos personagens à franquia, como a própria Ahsoka (por mais que não faça o menor sentido Anakin jamais mencioná-la depois), o caçador de recompensas Cad Bane e, claro, Rex o soldado clone que acompanha Skywalker na maioria das missões.

Um dos pontos altos da série é justamente a forma como os roteiros trabalham a relação entre esses vários personagens. Com o tempo sentimos a cumplicidade existente entre Anakin e Rex, ou a amizade de Obi-Wan com seu aprendiz, que é muito melhor trabalhada que nos próprios filmes. Além disso, enxergamos claramente o amadurecimento de Ahsoka, que retornaria em Rebels, anos mais tarde. Fora isso, o desenho ainda traz de volta elementos praticamente desperdiçados por Lucas nos três filmes prelúdio, como o icônico Darth Maul, que aparece em alguns dos melhores arcos da animação. O próprio conde Dooku é visto como uma ameaça maior aqui, mesmo que sem a voz imponente de Christopher Lee.

Tudo isso é coroado com um belo trabalho de animação, que se sustenta até os dias de hoje, por mais que tenha apresentado claros sinais de evolução de 2008 até 2015. O traço de Tartakovsky é respeitado e, embora os movimentos não tragam a mesma fluidez da animação tradicional que vimos em Clone Wars, não há como reclamar de como esse desenho foi elaborado, trazendo algumas memoráveis sequências que o tornam muito superior à toda trilogia prelúdio (ainda que consideravelmente inferior à sua contraparte em 2D).

The Clone Wars, por duas temporadas e mais alguns episódios soltos, é uma verdadeira provação, feita somente para os maiores fãs de Star Wars, que precisam resistir a tentação de desistir por causa dessas tragédias iniciais que tomam conta da animação. Quando chegamos à terceira temporada, porém, nossos esforços são recompensados e ganhamos uma série digna de fazer parte do novo cânone. Pode não contar com todo o teor artístico de Genndy Tartakovsky, mas nos entrega algumas boas histórias que enriquecem a saga criada por George Lucas. Uma pena que, no seu auge, ela tenha sido cancelada, nos deixando com um final que não encerra tudo da maneira que deveria.

Star Wars: The Clone Wars  (EUA, 2008-2015)

Showrunner: Dave Filoni
Direção: Steward Lee, Brian O’Connell, Kyle Dunlevy, Giancarlo Volpe, Danny Keller, Bosco Ng, Dave Filoni, Rob Coleman, Justin Ridge, Jesse Yeh, Duwayne Dunham, Dave Bullock, Atsushi Takeuchi, Robert Dalva, Walter Murch
Roteiro: Henry Gilroy, Drew Z. Greenberg, Scott Murphy, Christian Taylor, Steven Melching, Katie Lucas, Chris Collins, Matt Michnovetz, Brent V. Friedman, Paul Dini, Dave Filoni, Eoghan Mahony, Daniel Arkin, Charles Murray, George Krstic, Steven Long Mitchell, Craig W. Van Sickle, Cameron Litvack, Bonnie Mark, Jose Molina, Melinda Hsu Taylor, Brian Larsen, Craig Titley, Julie Siege, Jonathan Rinzler, Tim Burns, Kevin Campbell, Kevin Rubio, Bill Canterbury, Jen Klein, Andrew Kreisberg, Wendy Mericle, Ben Edlund
Elenco: Tom Kane, Dee Bradley Baker, Matt Lanter, James Arnold Taylor, Matthew Wood, Corey Burton, Ashley Eckstein, Terrence ‘T.C.’ Carson, Catherine Taber, Ian Abercrombie, Phil LaMarr
Duração: 129 episódios de aprox. 22 minutos.

https://www.youtube.com/watch?v=CNuohZpigZY

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Crítica | GLOW - 1ª Temporada - Uma Verdadeira Viagem no Tempo

Crítica | GLOW - 1ª Temporada - Uma Verdadeira Viagem no Tempo

Os anos 1980 contam com uma mágica especial, que torna seus filmes facilmente distinguíveis – basta assistir um trecho de determinada obra que já sabemos automaticamente a década na qual fora feita e isso ocorre não somente em razão de figurino, ambientação ou trilha sonora e sim a atmosfera criada pela narrativa, que tornam produções como Conta ComigoKaratê Kid, Um Tira da Pesada, Os Aventureiros do Bairro Proibidodentre muitos outros, tão apaixonantes. Baseada na liga feminina de luta livre ou wrestling, que estrelou sua própria série televisiva nos anos 80, GLOW, mais nova série original da Netflix, consegue resgatar esse clima com exatidão.

A série, que se passa em 1985, acompanha Ruth Wilder (Alison Brie), uma atriz que não consegue um papel e, vivendo em Los Angeles, encontra-se no fundo do poço. É nesse momento que ela descobre um projeto inusitado de série de televisão. Não demora muito para ela, então, começar a fazer parte de GLOW (Gorgeous Ladies of Wrestling) e, mesmo sem saber nada sobre wrestling ela se dedica integralmente ao programa. Enquanto isso, ela, as outras mulheres, o diretor e o produtor precisam superar as dificuldades que surgem no meio do caminho, envolvendo brigas pessoais, problemas monetários e mais, tudo enquanto aprendem detalhes sobre essa luta teatral.

Criado por Liz Flahive e Carly Mensch, com produção executiva de Jenji Kohan, criadora de Orange is the New BlackGLOW é uma deliciosa mistura de drama e comédia, nos moldes dos melhores filmes oitentistas. Essa não é uma série para morrermos de rir, apesar de, com certeza, conseguir trazer boas risadas. A preocupação das criadoras/showrunners claramente é a de desenvolver suas personagens e elas conseguem fazer isso sem o menor problema, dedicando alguns capítulos a focos distintos e problemas variados, a tal ponto que, no fim, conhecemos a fundo quase todas as garotas que fazem parte desse grupo.

Tanto Flahive quanto Mensch não sabiam absolutamente nada sobre wrestling quando começaram a desenvolver a história e o processo de aprendizado por que passaram é transposto para a tela, algo enxergado claramente nos episódios iniciais que buscam nos mostrar os elementos básicos dessa luta, mencionando figuras famosas como Hulk Hogan a fim de nos situar com maior exatidão nesse período específico. É interessante observar como a imagem do wrestling é desconstruída e o que enxergávamos como ridículo no início da temporada, passamos a entender como um grande teatro cômico com o passar dos episódios – novelas exageradas recheadas de lutas encenadas.

Em todo esse processo de criação é fascinante observar como as personas do ringue são criadas, baseando-se em estereótipos que estabelecem uma divertida metalinguagem – dentro da história da série tais padrões são utilizados a fim de realizar críticas à sociedade e fora dela também. Basta pegar Debbie/Liberty (Betty Gilpin), por exemplo. No ringue, ela é a personificação do american way of life e, fora dele, ela é uma mulher que fora traída, que abandonara seus sonhos para constituir a família. Dentro disso, é evidente que a maior temática é o empoderamento feminino, com todas lutando para fazerem o programa dar certo e não por acaso o nome do diretor é Sam Sylvia (Marc Maron), um homem que foge do sistema por meio de suas produções inusitadas, filmes b, com críticas escrachadas.

Tudo isso, porém, não seria possível sem esse elenco dedicado, formado quase que integralmente de atrizes. Em especial o trabalho de Alison Brie deve ser louvado. Tendo sido coadjuvante em séries como Community e Mad Men, ela finalmente ganha seu merecido protagonismo, entregando-nos uma personagem extremamente real, com quem conseguimos nos identificar e que representa a luta da mulher para se estabelecer, por conta própria, no mundo. Brie é carismática ao extremo, garantindo drama e humor à narrativa em parcelas iguais, verdadeiramente transformando-se em sua persona do ringue quando necessário – de uma figura fragilizada em razão dos “baques” da vida, no início da temporada, ela realmente se encontra, fazendo desta uma verdadeira história de superação.

Claro que não poderíamos deixar de comentar sobre a magistral seleção de melodias oitentistas, que vão desde You Make me Feel (Mighty Real), de Sylvester, até Rock you Like a Hurricane, dos Scorpions. Aliadas ao design de produção, com figurinos e cenários cuidadosamente produzidos, somos jogados de cabeça nos anos 80, com direito a sequências de montagem, mostrando a evolução das personagens que colocarão um sorriso no rosto de qualquer um apaixonado pelos filmes da época. Em determinados pontos somos tão imersos nessa narrativa que até esquecemos a década que nos encontramos na realidade. Por vezes, porém, essa imersão é quebrada em razão de certa repetitividade de conflitos entre as personagens, mas nada que comprometa consideravelmente nosso aproveitamento da série.

GLOW é, portanto, uma grande homenagem a esses filmes de outrora, resgatando de forma impactante a atmosfera oitentista, nos entregando drama e comédia nas doses certas. Com excelente design de produção, atuações envolventes, um visual imersivo e trilha sonora memorável, a inusitada série de Liz Flahive e Carly Mensch se estabelece como uma obra realmente viciante, que nos faz querer assistir tudo de uma vez, mesmo com seus leves tropeços no meio do caminho. Assim como inúmeros longa-metragens dos anos 80, não há como não se divertir com GLOW.

GLOW – 1ª Temporada (EUA, 2017)

Showrunner: Liz Flahive, Carly Mensch
Direção: Jesse Peretz, Phil Abraham, Kate Dennis, Sian Heder, Melanie Mayron, Claire Scanlon, Tristram Shapeero, Lynn Shelton, Wendey Stanzler
Roteiro: Liz Flahive, Carly Mensch, Rachel Shukert, Kristoffer Diaz, Emma Rathbone, Nick Jones, Jenji Kohan, Sascha Rothchild
Elenco: Alison Brie, Betty Gilpin, Sydelle Noel, Marc Maron, Ellen Wong, Britney Young, Britt Baron, Kimmy Gatewood, Rebekka Johnson, Sunita Mani, Marianna Palka, Gayle Rankin, Kia Stevens, Jackie Tohn, Chris Lowell
Emissora: Netflix

Episódios: 10
Gênero: Comédia
Duração: 30 min


Crítica | Star Wars: Clone Wars (2003) - Obra-prima animada

Crítica | Star Wars: Clone Wars (2003) - Obra-prima animada

Até hoje não entendo o que motivou a Disney a descanonizar a animação Clone Wars, criada por  Genndy Tartakovsky e George Lucas. A série é o tie-in ideal entre Ataque dos Clones e A Vingança dos Sith, com o último capítulo terminando exatamente no início de Episódio III. Mesmo a arte característica do famoso animador que trabalhara no Cartoon Network serviu como base da animação em CGI realizada em 2008 (essa sim foi canonizada). Claro que nada impede que nós próprios consideremos Clone Wars como a transição desses dois filmes da franquia Star Wars, mas ainda assim fica aquele desgosto em relação a escolha da empresa.

O seriado é composto por dois volumes. O primeiro nos traz vinte episódios de três minutos cada, que eram exibidos entre a programação do canal de origem. Essa primeira parte foca quase que integralmente na batalha por Muunilinst, o país sede do clã bancário, um dos principais jogadores do lado dos Separatistas. Acompanhamos aqui inúmeras pequenas histórias, algumas focadas nas tropas de elite dos Clones, os Arc-Troopers e outras nos jedi em si. Vale ressaltar que, a fim de nos trazer um escopo maior da guerra, Tartakovsky nos entrega alguns episódios em planetas separados, jogando uma luz sobre a confecção dos sabres de luz, que os outros mestres jedi estavam fazendo no momento e nos proporcionando a primeira aparição de General Grievous.

Já o segundo volume conta com uma maior elipse temporal, após vermos a cerimônia que torna Anakin Skywalker um cavaleiro jedi, somos levados diretamente para os momentos que precedem A Vingança dos Sith, com a invasão de Coruscant e o sequestro de Palpatine. Skywalker e seu mestre, Obi-Wan, contudo, estavam do outro lado da galáxia. Aqui vemos o último teste de Anakin, que deve lidar com sua verdadeira natureza mais uma vez.

A genialidade de Clone Wars já pode ser vista desde os trechos iniciais do desenho. A começar pela jogada ousada de seu criador, que constrói os episódios quase sem qualquer diálogo. Claro que a curta duração impede uma conversa extensa entre os personagens, mas Tartakovsky contorna isso muito bem através de cenas de ação emblemáticas, cada uma muito diferente da outra e que alavancam a narrativa para a frente. Sem a necessidade de didatismo, ele cria uma história simples, fluida e engajante, que aborda diferentes aspectos desse universo criado por George Lucas.

É curioso notar como muitos dos acontecimentos daqui repercutem no terceiro filme dos prequels. Um exemplo bem claro disso é Grievous, que tem seu peito amassado por Mace Windu, o que provoca a sua constante tosse na obra que continua o desenho. De fato, o General que vemos aqui é infinitamente mais ameaçador do que aquele dos filmes ou da série de 2008. Aqui ele não falha a qualquer momento, chegando a conseguir extrair o Chanceler da capital da República mesmo esse sendo guardado por clones e jedis. O equilíbrio de poder é estabelecido dos dois lados – enquanto Grievous se mantém um forte vilão, Yoda, Windu, Anakin e Obi-Wan se provam mais de uma vez ao longo do desenho, através de capítulos que nos trazem umas das melhores lutas da franquia, com direito a Mace destruindo droides de batalha a socos.

Evidente que o trabalho de animação desempenha um papel crucial aqui. Genndy tem como clara inspiração sua obra anterior, Samurai Jack, que fora, infelizmente, cancelada. Os traços mais quadrados marcam a forte identidade visual do seriado, ao mesmo tempo que respeitam a fisionomia dos atores que desempenharam o papel de cada um dos personagens que vemos aqui ilustrados. Não é só isso, porém. Todos os movimentos, sejam na terra, sejam no espaço, são extremamente fluidos e vemos aqui cenas de ação fantásticas, que exploram todas as possibilidades da animação tradicional. O apoio no CGI é mínimo e aparece somente em determinados momentos, bastante pontuais. Ainda assim, o estilo utilizado nessas ocasiões é o cel-shading, que mescla o 3D com o traço a mão, passando a impressão de que tudo é feito efetivamente na base do papel e caneta. Isso tudo é coroado pelo trabalho de cores realizado, que muito bem representa a disposição de cada personagem – a luta de Asajj Ventress, que fora introduzida pela primeira vez aqui, contra Anakin é uma prova disso, com a luz dos sabres azul e vermelhos refletindo sobre o rosto dos personagens.

Ao longo desses vinte e cinco episódios entendemos mais o que as guerras clônicas representaram dentro do universo de Star Wars e Tartakovsky consegue fazer isso de forma sucinta e completamente engajante. Não há como não se apaixonar por cada um dos capítulos dessa animação, que nos entrega algo muito superior a qualquer um dos filmes prequels, com histórias dinâmicas e bem interligadas. Clone Wars deveria ter sido canonizada e representa praticamente um episódio novo dentro da série de filmes, sendo indispensável para qualquer fã dessa galáxia muito, muito distante.

Star Wars: Clone Wars (EUA - 2003)

Direção: Genndy Tartakovsky
Roteiro: Bryan Andrews, Darrick Bachman, Paul Rudish, Genndy Tartakovsky
Vozes originais: Corey Burton, Terrence Carson, Anthony Daniels, Grey DeLisle, John DiMaggio, Tom Kane, Mat Lucas, André Sogliuzzo, James Arnold Taylor
Duração: 20 episódios de 3 minutos e 5 episódios de 15 minutos.


Crítica | Star Wars Rebels: 1ª Temporada - Uma grata surpresa da Disney

Crítica | Star Wars Rebels: 1ª Temporada - Uma grata surpresa da Disney

O investimento da Lucasfilm na televisão está presente desde a excelente minissérie Clone Wars, criada por Genndy Tartakovsky, que atua como ponte entre os Episódios II e III – estou desconsiderando Ewoks, Droids e o assustador Holiday Special pois todos queremos esquecer disso. O sucesso do desenho, exibido no Cartoon Network, rapidamente gerou uma sequência espiritual, também de mesmo nome, mas dessa vez em animação 3D. O resultado, contudo, não chegou aos pés do original e demorou anos até encontrar sua linguagem ideal e, em seu ápice, foi cancelado após a compra da Lucasfilm pela Disney. A nova dona dos direitos de Star Wars, porém, não deixou de lado a TV e nos trouxe Star Wars Rebels.

Um olhar distante, de alguém que não tenha apreciado o mais recente Clone Wars poderia acabar afastando essa nova série de sua lista do que assistir. O novo desenho, todavia, é essencialmente diferente de seu predecessor, em praticamente todos os aspectos. A começar pelo período retratado. Fugimos, enfim, da nova trilogia e caminhamos em direção ao material clássico – estamos, agora, no período do Império, cinco anos antes dos eventos de Uma Nova Esperança, escolha que muito bem se encaixa com o novo projeto da Lucasfilm, em investir nessa parte do universo criado por George Lucas.

O segundo aspecto que nos chama a atenção é a forma como o cenário mais amplo permanece mais distante. Enquanto em um tínhamos as Guerras Clônicas, aqui temos apenas um grupo de rebeldes tentando machucar o Império da melhor maneira que conseguem. Mas eles não são importantes, como era o caso de Anakin ou Obi-Wan, são apenas um bando de “ninguéns” que, pelas suas ações na série, portanto, começam a chamar a atenção.

A trama gira em torno de Ezra Bridger, um jovem órfão que acaba se juntando a um grupo de rebeldes, composto por Hera, Kanan, Sabine, Zeb e o problemático droide astromech Chopper. Não demora muito para que o menino descubra que Kanan é, de fato, um jedi e rapidamente ele embarca em uma jornada para seguir o caminho da Força. Sob a batuta de Dave Filoni, como showrunner da série, Rebels possui um ritmo delicioso de se assistir.

Primeiramente investe seus primeiros capítulos apresentando mais a fundo cada um dos personagens principais, criando relações entre eles e nos trazendo boas risadas com um humor que atinge desde adultos a crianças. As diferentes missões, a principio pequenas e que gradualmente ganham uma proporção maior, aumentam a sensação de urgência do desenho, que culmina com a aparição do Inquisidor, já nos primeiros capítulos. Atuando como o principal antagonista da temporada, o Sith representa a sensação de perigo ausente nos stormtroopers, esses são utilizados muitas vezes como alívio cômico, muito similarmente ao que vemos na trilogia original.

Aparentemente desconexos, os episódios, de fato, contam com uma sutil coesão interna. Um elemento apresentado em um capítulo é posteriormente trabalhado, nos criando a nítida percepção de estarmos assistindo uma aventura contínua, não fragmentada, muito embora cada história, em geral, seja fechada nos vinte minutos de exibição. Dessa forma, somos presos, episódios atrás de episódios, praticamente forçando um binge-watching até chegarmos no fim.

Para mais profundamente prender nossa atenção, Rebels ainda traz de volta alguns icônicos personagens. Esses, contudo, são sabiamente deixados como coadjuvantes e são organicamente encaixados dentro da trama estabelecida. Não irei estragar a surpresa de quem aparece neste primeiro ano, mas espere ser surpreendido positivamente, especialmente considerando a ótima caracterização e dublagem utilizada. Já entrando neste ponto, não há como não tecer elogios a todo o trabalho sonoro empregado na série. Todas as vozes contam com personalidade e desempenham importante papel na construção de cada um dos personagens – ninguém em Rebels soa como uma peça fora do tabuleiro, todos contam com seu específico papel dentro do roteiro. Além disso, a utilização dos efeitos sonoros clássicos traz uma imediata nostalgia a qualquer fã da franquia, dos sons dos Tie-fighters até os Walkers imperiais.

Não poderia, é claro, deixar de mencionar o trabalho de Kevin Kiner na trilha sonora, que faz bom uso dos temas compostos por John Williams em toda a franquia, além de trazer algumas melodias novas. Kiner cria excelentes variações de músicas emblemáticas, expandindo os paralelismos que a série cria com a trilogia original. Além disso, o compositor sabe dominar as expectativas do espectador e deixa para os momentos certos a aparição das mais clássicas faixas. A construção do humor, muito presente em diversos pontos da temporada, naturalmente, ganha uma clara ajuda de Kevin, devo aqui citar a variação da Marcha Imperial em tom comemorativo, que certamente colocará um sorriso no rosto de qualquer fã.

Mas, dito isso, como fica a animação em si? Devo dizer que este foi um dos aspectos que mais me surpreendeu. Ed Caspersen, que também trabalhara em Clone Wars, introduz uma mescla do 3D com a animação tradicional nos traçados. O tom mais cartunesco é evidente, mas isso funciona muito bem não só para atrair o público mais jovem, como para garantir uma maior identidade visual para cada personagem. Esse visual, ainda não consegue esconder a qualidade das texturas, especialmente dos prédios e veículos. A limpeza dos rostos dos personagens centrais ainda cria uma interessante oposição com o Inquisidor, este portando traços mais ameaçadores e um maior detalhamento na pele, revelando a influência do Lado Negro em sua constituição. Na movimentação o desenho também não deixa a desejar, nos trazendo bastante fluidez e cenas de combate que contam com uma nítida aceleração, aumentando a sensação de urgência sem perder a atenção do espectador.

A Força está com Star Wars Rebels, um desenho que certamente prende audiências de todas as idades. O espirito da trilogia original foi devidamente resgatado aqui, abrindo caminho para uma nova exploração desse rico universo. Com um roteiro coeso e engajante, a série nos deixa com positivas esperanças para essa nova fase de Star Wars, nos prendendo do início ao fim e nos deixando com fortes arrepios na cena final da temporada. Que venha a segunda temporada!

Star Wars Rebels – 1ª Temporada (EUA, 2014)
Showrunner:
 Dave Filoni

Direção: Vários
Roteiro: Vários
Elenco: Taylor Gray, Vanessa Marshall, Freddie Prinze Jr., Tiya Sircar, Steve Blum, David Oyelowo, Phil LaMarr, Ashley Eckstein, Stephen Stanton, Jason Isaacs
Duração: 450 min.