Crítica | Velozes e Furiosos 8
No capítulo mais fraco da saga, + Velozes + Furiosos, o histérico Tyrese Gibson entra em pânico quando o falecido Paul Walker alerta que eles pularão com um carro para dentro de um barco. Corta para 14 anos depois e ninguém imaginaria que a equipe de Velozes e Furiosos enfrentaria tanques de guerra, carros voadores e, neste oitavo filme, um submarino em plena geleira. Com a equipe de VF servindo como o equivalente da Universal aos Vingadores, o oitavo filme revela-se um dos mais completos e engraçados, estabelecendo ainda mais esse universo louco e divertido.
A trama começa com uma instigante reviravolta, quando Dominic Toretto (Vin Diesel) trai sua equipe e embarca em uma missão obscura, obedecendo à chantagem de uma hacker misteriosa conhecida como Cipher (Charlize Theron). Com a equipe nebulosa da hacker armada com pulsos eletromagnéticos e um plano que envolve o roubo de códigos para ogivas nucleares, Luke Hobbs (Dwayne Johnson) reúne a velha equipe com Letty (Michelle Rodriguez), Roman (Gibson), Tej (Ludacris), Ramsey (Nathalie Emmanuel) e ainda é forçado a recrutar o bandido Deckard Shaw (Jason Statham) para deter Cipher e recuperar Dom.
Com a cinessérie chegando em seu oitavo filme, é de se levar com curiosidade como o roteirista Chris Morgan é capaz de inventar novas maluquices e tramas minimamente cativantes a cada nova produção. Certamente a chave para o sucesso redescoberto da franquia foi abraçar o ridículo, apostar no absurdo e no exagero surreal a cada novo filme, o que torna Dom, Hobbs e todos os demais personagens algo que encontraríamos em filmes de super-heróis; o policial brutamontes de Dwayne Johnson literalmente quebra paredes e arrebenta algemas com seus músculos saltitantes, enquanto as cenas de ação seguem mais divertidas de tanto exagero e dedos do meio metafóricos às leis da Física.
A ideia de ter Dom como um antagonista é algo que rende momentos dignos de uma novela mexicana, vide Letty gritando que ele ainda o ama enquanto Cipher surge para lhe roubar um beijo mortal; algo que definitivamente foi feito para "satirizar" momentos levado a sério demais. Temos muito disso no núcleo que acompanha Dom como "refém" no super avião de Cipher, onde só depois descobrimos o motivo que o fizera rebelar-se e trabalhar com a vilã, sendo necessário dar crédito a Morgan por resgatar um elemento passado da franquia e desenvolvê-lo, sem inventar algo de última hora ou puxar cartas inexistentes da manga. Surpreendentemente, Velozes 8 amarra ainda mais as pontas entre cada filme, formando seu próprio universo cada vez mais coeso e ainda ganhando com a presença marcante e memorável da Cipher de Theron, facilmente a melhor antagonista que a franquia já teve.
Com um claro desfalque pela perda trágica de Paul Walker, e também com a virada sombria de Dom, a equipe principal ganha uma reinvenção sensacional. Com Hobbs assumindo a liderança e trazendo consigo não só o ex-vilão Shaw, mas também o assistente júnior do sempre carismático Sr. Ninguém de Kurt Russell, vivido por um correto Scott Eastwood, e apelidado carinhosamente de "Ninguenzinho". Temos aí a criação de uma dinâmica fantástica entre Johnson e Statham, com os dois antigos rivais constantemente se provocando e ironizando, rendendo frases do calibre de "vou socar seus dentes goela abaixo, assim você vai poder escovar seu rabo". É algo tão absurdo e engraçado que os personagens simplesmente tornam-se amigos após essas tiradas, quase quebrando a quarta parede e revelando a nítida diversão que o elenco está tendo por trás das câmeras. Só essa dupla já seria algo inédito na franquia, e Dwayne Johnson novamente comprova que é um absoluto tesouro não só de Hollywood, mas da raça humana - o que dizer da fantástica cena que apresenta Hobbs aqui?
Já em quesitos técnicos, a franquia sofre uma queda perceptível com a substituição de James Wan por F. Gary Gray (Straight Outta Compton), que claramente sabe construir a expectativa e o impacto dos eventos grandiosos que suas câmeras captam; com a "chuva de carros" em uma Nova York nublada e sem floreios sendo seu grande acerto, mas que acaba limitado por sua decisão de usar uma montagem intensa demais, planos que variam do aberto para o fechado e uma velocidade do obturador da câmera ainda mais intensa do que a adotada pelos irmãos Russo em Capitão América: Guerra Civil, tornando os movimentos durante lutas corporais praticamente incompreensíveis. Felizmente, o clímax na geleira russa com um submarino consegue oferecer algo mais nítido e que valoriza os altos gastos da produção, conseguindo ser mais interessante do que a perseguição de James Bond em 007 - Um Novo Dia para Morrer.
Mas quando Gray acrescenta humor às sequências mais agitadas, o resultado é consideravelmente melhor. Basta observar a sequência onde temos uma rebelião na prisão, com o diafragma alto prejudicando nossa compreensão do quadro geral, mas nos deixando bem claro como Johnson está simplesmente surtado e arrebentando todos com seus braços enormes, além da trilha sonora pop digna da série - misturando eletrônico com versos latinos - oferecer o tom apropriado. E sem querer entrar em spoilers, mas o potencial cômico de Jason Statham descoberto em A Espiã que Sabia de Menos rende frutos impressionantes aqui, e espero sinceramente que os próximos filmes sigam apostando na presença do ator - e também de uma impagável Helen Mirren, acreditem se quiser.
Velozes e Furiosos 8 segue levando a franquia para o status de super-heróis, oferecendo um espetáculo povoado por figuras divertidas, um roteiro que é ciente de seus conceitos ridículos e que se sai muito bem ao abraçá-los. Pode não ter a melhor ação da série, mas é um sinal de aprimoramento notável quando estamos mais empolgados para ver a interação entre os personagens do que um submarino perseguindo carros. Que Diesel e Morgan continuem apostando em loucuras cada vez maiores.
Velozes e Furiosos 8 (The Fate of the Furious, EUA - 2017)
Direção: F. Gary Gray
Roteiro: Chris Morgan
Elenco: Vin Diesel, Dwayne Johnson, Charlize Theron, Scott Eastwood, Jason Statham, Michelle Rodriguez, Kurt Russell, Helen Mirren, Tyrese Gibson, Ludacris, Nathalie Emmanuel, Luke Evans
Gênero: Ação
Duração: 136 minutos
Leia mais sobre Velozes e Furiosos
Especial | Resident Evil
Seja no cinema de ação, seja nos consoles, Resident Evil é um fenômeno do terror que reuniu uma legião de fãs pelo mundo! Confira aqui todo nosso conteúdo da saga:
CINEMA
Crítica | Resident Evil: O Hóspede Maldito
Publicado originalmente em 23 de janeiro de 2017
Crítica | Resident Evil 2: Apocalipse
Publicado originalmente em 25 de janeiro de 2017
Crítica | Resident Evil 3: A Extinção
Publicado originalmente em 26 de janeiro de 2017
Crítica | Resident Evil 4: Recomeço
Publicado originalmente em 26 de janeiro de 2017
Crítica | Resident Evil 5: Retribuição
Publicado originalmente em 29 de janeiro de 2017
Crítica | Resident Evil 6: O Capítulo Final
Publicado originalmente em 25 de janeiro de 2017
GAMES
Análise | Resident Evil
Publicado originalmente em 23 de janeiro de 2017
Análise | Resident Evil 2
Publicado originalmente em 24 de janeiro de 2017
Análise | Resident Evil 3: Nemesis
Publicado originalmente em 25 de janeiro de 2017
Análise | Resident Evil 4
Publicado originalmente em 30 de janeiro de 2017
Análise | Resident Evil Revelations
Publicado originalmente em 2 de fevereiro de 2017
Análise | Resident Evil 5
Publicado originalmente em 20 de fevereiro de 2017
Análise | Resident Evil 7
Publicado originalmente em 28 de janeiro de 2017
LISTAS
O Cinema de Terror em Resident Evil 7
Publicado originalmente em 29 de janeiro de 2017
Os 10 Melhores Resident Evil
Publicado originalmente em 1º de fevereiro de 2017
Especial | Marvel Studios
Atualmente, a maior franquia do cinema americano. Bilhões de dólares no cinema, televisão e home video, o Universo Cinematográfico da Marvel Studios conta com uma longa trajetória em levar os maiores super-heróis dos quadrinhos ao cinema. Reunimos aqui todo o nosso conteúdo relacionado ao MCU:
Os Filmes da Marvel Studios
Confira nossas críticas sobre todos os filmes do MCU!
Séries da Marvel no Disney+
Confira nossas críticas sobre as séries originais do MCU na Disney!
NETFLIX
Crítica | Demolidor - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 22 de julho de 2016
Crítica | Jessica Jones - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 25 de julho de 2016
Crítica | Demolidor - 2ª Temporada
Publicado originalmente em 27 de julho de 2016
Crítica | Luke Cage - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 3 de outubro de 2016
Crítica | Punho de Ferro - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 18 de março de 2017
Crítica | Os Defensores - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 19 de agosto de 2017
Crítica | O Justiceiro - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 18 de novembro de 2017
HOME VIDEO
Blu-ray | Homem de Ferro - Edição Dupla
Publicado originalmente em 23 de outubro de 2016
Blu-ray | O Incrível Hulk - Edição Dupla
Publicado originalmente em 25 de outubro de 2016
DVD | Homem de Ferro 2 - Edição Dupla
Publicado originalmente em 26 de outubro de 2016
Blu-ray | Thor
Publicado originalmente em 27 de outubro de 2016
Blu-ray | Capitão América - O Primeiro Vingador
Publicado originalmente em 28 de outubro de 2016
Blu-ray | Os Vingadores - The Avengers
Publicado originalmente em 29 de outubro de 2016
Blu-ray | Homem de Ferro 3
Publicado originalmente em 30 de outubro de 2016
Blu-ray | Thor: O Mundo Sombrio
Publicado originalmente em 31 de outubro de 2016
Blu-ray | Capitão América 2 - O Soldado Invernal
Publicado originalmente em 1 de novembro de 2016
Blu-ray | Guardiões da Galáxia
Publicado originalmente em 2 de novembro de 2016
Blu-ray | Vingadores: Era de Ultron
Publicado originalmente em 3 de novembro de 2016
Blu-ray | Homem-Formiga
Publicado originalmente em 4 de novembro de 2016
Blu-ray | Capitão América: Guerra Civil
Publicado originalmente em 5 de novembro de 2016
Blu-ray | Doutor Estranho
Publicado originalmente em 28 de fevereiro de 2017
Blu-ray | Guardiões da Galáxia Vol. 2 - Edição Steelbook
Publicado originalmente em 24 de agosto de 2017
LISTAS
Ranking dos Filmes do MCU
Publicado originalmente em 1 de maio de 2017
As 5 Melhores HQs do Doutor Estranho
Publicado originalmente em 11 de novembro de 2016
As 10 Melhores Músicas de Luke Cage
Publicado originalmente em 10 de outubro de 2016
Ranking dos Vilões da Marvel Studios
Publicado originalmente em 7 de julho de 2017
As Melhores Músicas de Guardiões da Galáxia Vol. 2
Publicado originalmente em 20 de abril de 2017
10 Histórias com o DNA de Guardiões da Galáxia
Publicado originalmente em 29 de abril de 2017
5 Personagens que já fizeram parte dos Guardiões da Galáxia
Publicado originalmente em 30 de abril de 2017
Ranking das aberturas de séries da Marvel na Netflix
Publicado originalmente em 20 de agosto de 2017
ARTIGOS
Opinião: Não, a Marvel não sofrerá Reboot após Vingadores 4
Quem é Ego, o Planeta Vivo?
Quem é Adam Warlock?
Quem são os Celestiais?
Guardiões da Galáxia - A Formação Original de 1969
Especial | Velozes e Furiosos
Correr ou morrer...
Confira aqui todo nosso conteúdo da cinessérie mais surtada e alucinada do cinema atual, Velozes e Furiosos!
Críticas
Crítica | Velozes e Furiosos
Publicado originalmente em 6 de abril de 2017
Crítica | +Velozes +Furiosos
Publicado originalmente em 7 de abril de 2017
Crítica | Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio
Publicado originalmente em 8 de abril de 2017
Crítica | Velozes e Furiosos 4
Publicado originalmente em 9 de abril de 2017
Crítica | Velozes e Furiosos 5: Operação Rio
Publicado originalmente em 7 de julho de 2016
Crítica | Velozes & Furiosos 6
Publicado originalmente em 11 de abril de 2017
Crítica | Velozes & Furiosos 7
Publicado originalmente em 10 de julho de 2016
Crítica | Velozes e Furiosos 8
Publicado originalmente em 10 de abril de 2017
Listas
7 Games que todo Fã de Velozes e Furiosos deveria jogar
Publicado originalmente em 12 de abril de 2017
Os 10 Melhores Carros de Velozes e Furiosos
Publicado originalmente em 14 de abril de 2017
As Melhores Músicas de Velozes e Furiosos
Publicado originalmente em 16 de abril de 2017
10 Melhores Filmes de Corrida
10 Perseguições de Carro Históricas no Cinema
Ranking Franquia Velozes e Furiosos
As 5 Cenas De Ação Mais Incríveis de Velozes e Furiosos
Especial | X-Men
Confira aqui todo o nosso material sobre o vasto universo dos X-Men, incluindo os filmes da equipe, as aventuras solo do Wolverine, Deadpool e a série de TV Legion!
Cinema
Crítica | X-Men: O Filme (2000)
Publicado originalmente em 1 de março de 2017
Crítica | X-Men 2 (2003)
Publicado originalmente em 7 de março de 2017
Crítica | X-Men: O Confronto Final (2006)
Publicado originalmente em 8 de março de 2017
Crítica | X-Men Origens: Wolverine (2009)
Publicado originalmente em 2 de março de 2017
Crítica | X-Men: Primeira Classe (2011)
Publicado originalmente em 7 de julho de 2016
Crítica | Wolverine: Imortal (2013)
Publicado originalmente em 8 de julho de 2016
Crítica | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (2014)
Publicado originalmente em 1 de março de 2017
Crítica | Deadpool (2016)
Publicado originalmente em 7 de julho de 2016
Crítica | X-Men: Apocalipse (2016)
Publicado originalmente em 7 de julho de 2016
Crítica | Logan (2017)
Publicado originalmente em 25 de fevereiro de 2017
Crítica | Deadpool 2 (2018)
Publicado originalmente em 14 de maio de 2018
Televisão
Guia de Episódios | Legion - 1ª Temporada
Publicado originalmente em 31 de março de 2017
Home Video
Blu-ray | X-Men: Primeira Classe - Edição de Colecionador
Publicado originalmente em 12 de julho de 2016
Blu-ray | Wolverine: Imortal
Publicado originalmente em 7 de novembro de 2016
Blu-ray | X-Men: Dias de um Futuro Esquecido
Publicado originalmente em 11 de julho de 2016
Blu-ray | X-Men: Apocalipse
Publicado originalmente em 3 de outubro de 2016
Blu-ray | Logan - Edição Steelbook
Publicado originalmente em 18 de julho de 2017
Coberturas
Logan | Coletiva de Imprensa com Hugh Jackman em São Paulo
Publicado originalmente em 19 de fevereiro de 2017
Quadrinhos
Crítica | Velho Logan
Publicado originalmente em 14 de julho de 2016
Listas
O Ranking da Antologia X-Men
Publicado originalmente em 7 de março de 2017
As Lutas Mais Brutais e Violentas do Wolverine
Publicado originalmente em 2 de março de 2017
As 5 Melhores HQs do Wolverine
Publicado originalmente em 8 de março de 2017
Melhores Personagens de Hugh Jackman
Publicado originalmente em 5 de março de 2017
Cine Vinil #01 | Lado A: Por que Amei Power Rangers
O Conceito
Dia vs Noite, TWD vs GOT, DC vs Marvel, BvS vs Guerra Civil, Xbox vs Playstation, Flamengo vs Fluminense, Android vs iOS, McDonalds vs Burger King, Nerd vs Nerd, Fanboy vs Fanboy.
O multiverso nerd é pautado por discussões intermináveis e, geralmente, extremamente redundantes. Mas com toda a certeza a gente adora aquela treta cósmica para provar que um lado é melhor que o outro – mesmo que o único convencido na discussão seja você mesmo. Analisando essa treta tão peculiar, decidimos trazer um pouco desse espírito “saudável” de discussão para o nosso site.
Sejam bem-vindos ao Cine Vinil! Calma, antes de soltar os cães nos comentários, entenda nossa proposta. Os discos de vinil foram um dos itens mais amados para reprodução de arquivos sonoros. Sua grande peculiaridade eram os lados A e B. O lado A era utilizado para gravar os hits comerciais das bandas, músicas mais populares. Enquanto o Lado B era mais voltado para canções experimentais ou mais autorais.
No caso, nos inspiramos pelos lados opostos do mesmo “disco” – de uma mesma obra. O primeiro filme a receber esse formato é Power Rangers que conseguiu dividir a opinião da equipe do site gerando a tempestade perfeita para testarmos o formato. Serão dois artigos: o Lado A, que contém a opinião positiva, e o Lado B, com a versão negativa. Os autores, obviamente, serão distintos, e escolherão 5 pontos específicos da obra para justificar seus argumentos.
Explicado o conceito, nós lhes desejamos aquela ótima discussão para defender o seu lado favorito! Quem ganhou? Lado A ou Lado B? Que a treta perfeita comece!
LADO A
por Lucas Nascimento
O Elenco
É certamente o ponto alto de toda a produção. O time formado por Dacre Montgomery, Naomi Scott, RJ Cyler, Ludi Lin e Becky G é o elemento que mantém nosso interesse no filme, e o elenco formado por atores e atrizes relativamente desconhecidos surpreende por sua química genuína e diferente carisma que cada um tem, com Montgomery assumindo com respeito a postura de líder de grupo, enquanto Cyler faz do Ranger Azul um alívio cômico divertido e memorável e Naomi Scott traz um potencial de estrela ao fazer da Ranger Rosa uma figura interessante e com dramas pessoais consistentes. E mesmo que tenham menos tempo de cena, Lin e Becky G conseguem trazer força ao Ranger Preto e à Ranger Amarela, seja através dos dramas eficientes (e relevantes) de seus personagens quanto pelo carisma de suas performances. Realmente quero ver aonde esse grupo pode ir.
A História de Origem
Geralmente é o ponto que mais queremos pular num filme de super-heróis, mas surpreendentemente é a porção do filme mais bem sucedida. Graças ao ótimo trabalho do elenco, estamos investidos nos personagens, e o roteiro de John Gatins faz uma boa apresentação do universo de cada um e é bem sucedido ao estabelecer seus núcleos. É quase uma mistura entre a dinâmica de Clube dos Cinco (pelo fato dos personagens se conhecerem numa detenção de sábado) com o realismo e diversão da descoberta do universo fantástico de Poder Sem Limites.
O Design
Com a escola Christopher Nolan de realismo sombrio e sujo, todo o universo de Power Rangers parece um pouco mais palpável, ainda que mantenha um pé na fantasia sem se contradizer. O design de produção das naves e dos Zords adota uma influência nítida de O Homem de Aço, com um aspecto quase Gigeriano e puxado para um sci-fi orgânico, vide o efeito de morfar que parece uma digitalização da armadura e a própria textura da parede com o rosto gigante de Zordon, aparentemente formado por inúmeros cilindros em movimento. E, claro, temos os uniformes, que ganham uma atualização incrível e certamente trazem uma imponência e abraçam o aspecto alienígena do grupo.
Rita Repulsa
Olha, Rita Repulsa é uma vilã dos Power Rangers, e Elizabeth Banks claramente não nos deixa esquecer com sua performance exagerada e divertidamente camp. E admito que seu visual gótico e sórdido em suas primeiras aparições é inesperadamente sinistro e eficaz em torná-la ameaçadora, rendendo também um excelente trabalho de maquiagem ao exacerbar a estrutura óssea da atriz. Quando a personagem abraça o carnavalesco, Banks segue divertindo e cria uma figura que imediatamente atrai nossos olhares, e a atriz a faz valer mesmo que seu plano maléfico seja pífio e pouco grandioso.
A Nostalgia
O mero fato de termos um filme dos Power Rangers no cinema já é o bastante para estimular a criança interior, mas o filme de Dean Israelite é bem competente e agradável nas homenagens. Desde as frases de efeito, a presença dos Zords, o fantástico momento em que o Megazord é formado e até o uso certeiro do famoso tema da série Mighty Morphin' Power Rangers, o fã da série se sente à vontade e atingido pelo raio da infância. Isso sem falar nas cameos surpresa de Jason David Frank e Amy Jo Johnson, ícones da série original, e da cena pós-créditos que prepara o terreno para a chegada de Tommy Oliver, o Ranger Verde.
Clique AQUI para ler o LADO B.
Quem era aquele cara? | O final de Fragmentado explicado
SPOILERS
Durante a projeção, Fragmentado estava sendo uma ótima experiência. Finalmente estávamos vendo um filme de M. Night Shyamalan que sucedia em nos provocar suspense, não trazia ideias idiotas e aproveitava uma performance absolutamente espetacular de James McAvoy, certamente no papel (ou papéis) de sua vida. Então, o filme termina e somos levados a um enigmático epílogo, que acaba mudando completamente nossa percepção acerca do que havíamos visto.
Obs: leia todas as conexões entre os filmes AQUI.
Cortamos para uma lanchonete, onde a câmera passeia pelo local e seus clientes, com a televisão ligada e reportando os eventos do sequestro das meninas e da fuga de Kevin, enquanto a jornalista explica seu transtorno e o contexto todo. Uma das mulheres ali pergunta "Isso me lembra aquele cara que prenderam há 15 anos, da cadeira de rodas...
Qual era o nome dele?", então, temos a incrível revelação de Bruce Willis, que responde secamente "Sr. Vidro", enquanto segue tomando sua xícara de café.
Muitos espectadores saíram confusos do cinema. Do que isso tudo se trata? Quem é o cara da cadeira de rodas? Por que o Bruce Willis está aí?
Isso tudo porque Fragmentado faz parte do recém-anunciado Shyamalanverse, e os eventos do filme fazem parte do universo de Corpo Fechado, um dos melhores e mais subestimados filmes do diretor.
Para aqueles que não sabem, o longa é estrelado por Bruce Willis e Samuel L. Jackson, narrando a história de um homem que descobre ter superpoderes, enquanto outro lida com o fardo de ter justamente o oposto: uma intensa e mortífera fragilidade a tudo.
Jackson é o Sr. Vidro do qual a moça estava se referindo, além de mencionar o fato de que este fora preso 15 anos atrás (Corpo Fechado foi lançado em 2000), sob acusações de atentados terroristas e assassinatos - na trama do filme, seu personagem provocou diversas catástrofes e atentados, na esperança de encontrar um indivíduo que pudesse sobreviver a todos eles.
Esse indivíduo é o David Dunn de Bruce Willis, que descobre ser praticamente invulnerável, ter uma força descomunal e a habilidade de enxergar os "crimes" de uma pessoa pelo mero toque, características que ele usa para salvar uma família das mãos de um estuprador.
O clímax de Corpo Fechado nos entrega essa revelação quanto à natureza criminosa do Sr. Vidro, fazendo com que David o entregue e toque sua vida em frente, ainda que não fique claro se ele manteve sua carreira de "super-herói" urbano. Talvez a resposta seja sim, já que no final de Fragmentado podemos vê-lo usando seu uniforme de segurança, e podemos inferir que o próximo passo dessa jornada seja um encontro entre David e as 23 personalidades de Kevin.
Rachaduras: a pista já estava no pôster...
Aliás, é justamente esse contexto de Corpo Fechado e a abordagem realista aos elementos de super-heróis que justifica diversas ações e habilidades do protagonista de Fragmentado. Poderia parecer um tanto fantasioso demais quando vemos Kevin transformar-se na Fera, sua 24ª personalidade, e vermos ações como seus músculos ficarem assustadoramente hipertrofiados, o sujeito escalando paredes como o Homem-Aranha, entortando barras de ferro e até sobrevivendo a dois tiros à queima roupa.
Quando aprendemos que estamos no universo de Corpo Fechado, tudo isso torna-se aceitável, vide que esse é justamente o personagem de Kevin descobrindo seu "super-poder", e a psicóloga vivida por Betty Buckley age quase como um "Sr. Vidro" deste filme, vide que ela tenta comprovar a existência de habilidades sobrenaturais destravadas pelo distúrbio do personagem.
É uma jogada muito esperta de Shyamalan, que afirmou em coletiva que estava deliberadamente entregando um "filme falso" durante toda a maioria da projeção, e que o filme verdadeiro só seria revelado nos segundos finais; mas, claro, ele precisava certificar-se de que o "filme falso" funcionava, e era bom.
Definitivamente ele foi bem-sucedido, entregando a maior reviravolta de sua carreira e abrindo um caminho muito tentador e promissor para o futuro - ele já está escrevendo seu novo filme, que será a conclusão dos eventos mostrados em Corpo Fechado e Fragmentado.
O que podemos esperar? David Dunn vs A Horda? Comente e jogue suas próprias teorias!
Crítica | Fragmentado
Não existe uma carreira que melhor pode ser comparada a uma montanha russa do que a de M. Night Shyamalan. Despontando no cinema americano de forma bombástica com O Sexto Sentido, sua filmografia foi atraindo menos elogios a cada novo lançamento, começando com uma recepção morna a Corpo Fechado, Sinais e A Vila, até o diretor cair num limbo de críticas negativas e chacota, com A Dama na Água, Fim dos Tempos, O Último Mestre do Ar e Depois da Terra.
Porém, Shyamalan seguiu tomando as pedradas, pavimentando um caminho mais indie e que fugia de grandes orçamentos e blockbusters. Isso o levou à Blumhouse e o produtor de terror Jason Blum, onde juntos realizaram A Visita, suspense cômico found footage que surgiu como uma luz no fim do túnel para Shyamalan. Agora, praticamente de surpresa, o diretor mantém a parceria com Blum para o longa que definitivamente quebra sua maldição e oferece algo digno de nota com Fragmentado.
A trama gira em torno de Kevin (James McAvoy) um sujeito que sofre um transtorno que possibilita que 23 personalidades diferentes habitem seu corpo e tomem posse sem muito controle. Duas dessas personas mostram-se particularmente perigosas, e acabam raptando três meninas, Casey, Claire e Marcia (vividas por Anya Taylor-Joy, Haley Lu Richardson e Jessica Sula) para oferecê-las como sacrifício a uma entidade conhecida como A Fera, a 24a personalidade de Kevin que é descrita como algo desumano e sobrenatural.
É uma premissa apetitosa e que oferece a chance de Shyamalan retornar à sua boa forma de condutor de suspense. Também responsável pelo roteiro, a história diverte-se ao criar as diferentes personalidades do protagonista e as distintas interações com as três vítimas, em uma narrativa contida e que beneficia-se justamente da imprevisibilidade dos acontecimentos e das ações do protagonista. A inserção de uma psicóloga (vivida pela ótima Betty Buckley) é um recurso elegante e verossímil, servindo ao mesmo tempo para explicar e expandir nosso conhecimento sobre Kevin, assim como auxiliar na sutil transição para o sobrenatural, que funciona perfeitamente aqui, de acordo com todas a regras estabelecidas por essa mitologia.
Sim, quanto menos se souber de Fragmentado, melhor. A personalidade oculta da Fera oferece elementos fantásticos que de início soam deslocados, mas assim que o espectador compreende a natureza da história - e o universo no qual está inserido - tudo de desenrola como uma das melhores twists que Shyamalan já ofereceu ao longo de sua carreira, sendo inclusive uma que não confere o "único" brilho à história. Talvez o único fio narrativo que acabe um pouco mais alongado do que o necessário sejam os flashbacks da personagem de Casey, que constantemente tiram o foco da trama central, mas que compensam pela catarse inesperada durante o clímax, onde Shyamalan traz uma moral complexa, mas compreensível - e enriquecem ainda mais a ótima performance de Anya Taylor-Joy, que parece destinada a tornar-se um dos grandes nomes de sua geração, saída de sua memorável estreia em A Bruxa.
Como diretor, Shyamalan continua elegante e inventivo, aqui finalmente abraçando novamente um clima de suspense pesado; como não víamos desde a cena da floresta em A Vila ou o terceiro ato de Sinais. Logo no começo, seu jogo de câmera para mostrar Kevin invadindo o carro das meninas e assumindo o volante se dá através de uma sequência de travellings muito bem coordenados e fluidos, com a revelação do sujeito no banco da frente sendo apropriadamente construída através desse suspense, e também da reação amedrontada de Casey. Shyamalan é capaz de construir sequências que evocam o puro terror, especialmente quando somos jogados na cela das meninas e observamos pela fresta da porta o lado externo, apenas esperando para ver qual identidade de Kevin cruzará a porta em seguida, da mesma forma que o clímax que envolve a Fera é um verdadeiro exercício de terror; a forma como a fotografia de Mike Gioulakis usa as sombras e silhuetas é primorosa a fim de capturar a animalização do personagem (há uma tomada magnífica das sombras das 23 escovas de dente do protagonista), e a trilha sonora perturbadora de West Dylan Thordson.
Mas mais do que uma condução forte e uma história concisa o suficiente, Fragmentado estaria literalmente em frangalhos não fosse o talento de seu protagonista, serviço que felizmente James McAvoy faz maravilhosamente bem. Cada diferente faceta de Kevin que vemos é radicalmente diferente da outra, seja no quieto e meticuloso Dennis, na calculista Patricia, ou no infantil Hedwig, onde o ator literalmente adota uma personalidade de 9 anos de idade - todos variando também em tons de voz, sotaque e características físicas. Isso sem falar, claro, em quando finalmente vemos a Fera que o personagem vinha construindo ao longo da projeção, o que exige uma performance física impressionante e assustadora do ator, que certamente entrega aqui a melhor atuação de sua carreira até agora. É uma pena que muito dificilmente o ator seja lembrado na temporada de prêmios do próximo ano.
Fragmentado é um ótimo retorno à forma para M. Night Shyamalan, que exercita de forma inspiradora sua condução do suspense e terror, explorando uma boa premissa e expandido-a de forma fascinante para subgêneros. Resta esperar pelo que vem à frente, já que a cena final do filme deixa aberta uma porta que definitivamente todos irão querer ver aonde leva.
Fragmentado (Split, EUA - 2017)
Direção: M. Night Shyamalan
Roteiro: M. Night Shyamalan
Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Haley Lu Richardson, Jessica Sula, Betty Buckley, Izzie Coffey, Sebastian Arcelus, Brad William Henke
Gênero: Suspense
Duração: 117 min
Crítica | Zodíaco - O Pesadelo Psicopata
A tagline que seguiu a campanha publicitária de Zodíaco trazia a seguinte frase: "há mais de uma forma de perder sua vida a um assassino". É uma tag genial e que, não só provoca calafrios na espinha pelas suposições que instiga, mas também perfeitamente sintetiza o núcleo do filme de David Fincher, que completou 10 anos de seu lançamento na semana passada. Aproveitando essa data muito especial, nada mais justo do que relembrar essa poderosa obra-prima, que facilmente merece um espaço como um dos melhores filmes do gênero suspense da última década.
A trama se inspira nos eventos reais que assombraram São Francisco, Vallejo e outros condados da Califórnia na década de 1970. A redação do San Francisco Chronicle recebe uma carta misteriosa assinada pela figura do Zodíaco, que se diz responsável por dois assassinatos diferentes na região, e que iniciaria agora um ciclo de mortes em uma espécie de provocação à mídia. Enquanto toda a cidade desespera-se para decifrar a identidade do assassino, o cartunista Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) inicia uma investigação particular que o coloca no melhor e mais detalhado caminho para encontrar a verdade, em uma jornada que lhe custará anos de dedicação e renderá uma psicótica obsessão, resultando no revelador livro que serve de inspiração para o roteiro de James Vanderbilt.
É assustador pensar em Zodíaco. Não só pelo fato de termos uma história amendrontadora contada com absoluta maestria, mas em especial pelo fato de ser um relato verídico de eventos nunca concluídos de forma concreta; o Zodíaco nunca foi capturado, e a polícia nem ao menos conseguiu identificar o suspeito definitivo por trás de suas cartas, tendo apenas alguns palpites - uns mais fortes do que outros. Por tais motivos, assistir ao filme provoca um grande desconforto, por sabermos que a história que acompanhamos não tem um final, que o próprio assassino do Zodíaco poderia estar escondido em algum lugar; em determinado momento do filme, ele até menciona que gostaria de um bom ator para interpretá-lo em uma suposta adaptação cinematográfica dos eventos (na época, o primeiro Dirty Harry de Clint Eastwood). Dessa forma, já seria um filme sinistro por si só apenas pela natureza de seus eventos. É ainda melhor quando temos um mestre assumindo o navio.
Assassinato
Podendo ser descrito como um cruzamento entre O Silêncio dos Inocentes e Todos os Homens do Presidente, Zodíaco beneficia-se dessa mistura incomum graças ao controle absoluto de David Fincher. Tão obcecado pela perfeição quanto seu protagonista, o diretor traz uma fantástica reconstrução de época e uma fidelidade às características mais minuciosas do caso, desde o retrato falado do "uniforme" do assassino até os diversos eventos midiáticos que se desenrolaram durante a época, como o infame programa de TV de Jim Dunbar. É um trabalho primoroso de toda a equipe do design de produção e figurino, que mantém uma estética realista e ao mesmo tempo expressionista para todos os elementos visuais; a bagunça "organizada" da redação do Chronicle reflete o desespero e os esforços dos jornalistas, assim como o porão de um projecionista transforma-se em um verdadeiro calabouço graças à nossa percepção e a construção do clima do ambiente.
Especializado no suspense graças ao aterrador Se7en: Os Sete Crimes Capitais e até obras menores - mas eficientes - como O Quarto do Pânico e Vidas em Jogo, Fincher usa toda sua habilidade para criar alguns dos momentos mais impactantes da sua carreira. A cena que abre o filme, com o Zodíaco atacando um casal em um carro, é excepcional em sua habilidade de lentamente construir a tensão: acompanhamos o diálogo do casal, à medida em que a presença de um estranho os seguindo vai se tornando mais forte e sua presença passa a ser notada pelos personagens; e o trabalho de fotografia do falecido Harris Savides é primoroso ao manter o ambiente sombrio o bastante para que não vejamos o rosto do assassino, mas bem iluminado pelos faróis dos veículos e a lanterna do antagonista.
Tal habilidade em arrepiar o espectador permanece nas seguintes cenas que reconstroem descrições e relatos dos ataques do Zodíaco. A primeira delas surpreende pelo assombroso contraste: um casal apreciando um belo dia no lago, com uma paleta de cores viva e permeada por elementos da natureza como flores, grama e um céu azul... Até vermos o Zodíaco trajando uma roupa e máscara exageradamente pretas, passando a impressão visual de termos um elemento descolado do cenário ali, algo que exacerba o cruel ato de violência que se segue; e a ausência de música, substituída pelos distantes cantos de passarinho e sons da natureza, só contribui para o tremendo desconforto da sequência inteira. É uma perfeita representação do Mal invadindo um ambiente sereno.
É algo que se mantém até o restante do filme, mas em especial durante sequências que mantém esse desconforto. Temos o ataque do assassino a uma mulher dirigindo em uma rodovia (o silêncio e o fato de nunca vermos o rosto do assassino são fatores determinantes) e o assassinato de um taxista, retratado de forma mais estilística graças a um elaborado plano sequência que acompanha o percurso do veículo em um plano plongée sensacional - e o grande choque é que não sabemos que o assassino está ali até o momento em que dispara a arma contra o motorista. E até mesmo cenas sem a presença de violência tornam-se sinistras graças a essa condução, principalmente a antológica entrevista dos policias com Arthur Leigh Allen (John Carroll Lynch), o mais forte suspeito de ser o assassino, que torna-se praticamente um exercício de investigação; já que Fincher enquadra os rostos em planos centrais que obrigam o espectador a observar cada detalhe de sua expressão fria durante as respostas.
Obsessão
Então, temos a porção do filme que se identifica mais com Todos os Homens do Presidente (ou melhor, uma versão sinistra da obra-prima de Alan J. Pakula), marcada pelo desaparecimento do assassino e a tomada de Graysmith em sua própria investigação particular. É aqui que o texto de James Vanderbilt revela sua eficiência ao exibir e relatar os fatos do caso real com clareza e eficiência, de forma que o espectador sinta-se ao lado do protagonista enquanto este vai fazendo suas descobertas; todo o diálogo e exposição dos eventos é acessível, e nunca perde seu caráter cinematográfico, fruto também da primorosa montagem de Angus Wall, que organiza a cadeia narrativa e oferece um fluxo palpável para a passagem do tempo - considerando-se que os eventos do filme se alastram por mais de duas décadas.
Porém, Zodíaco também deve muito fantástico trabalho de seu elenco.
Jake Gyllenhaal apresenta uma composição perfeita para Robert Graysmith, que é descrito como "um escoteiro esquisitão" por seus colegas, algo que já é bem transposto nos minutos iniciais quando o vemos caminhando pelos corredores da redação com os ombros encolhidos e timidamente comendo uma rosquinha. À medida em que cresce seu interesse pelo caso do Zodíaco, é como se Graysmith finalmente saísse da concha, e o discurso de Gyllenhaall torna-se mais acelerado e empolgado, assim como exibe sinais de uma obsessão quase psicótica; não é por um desejo de servir à justiça, mas sim porque Graysmith simplesmente precisa saber o segredo que o mantém distante de sua família e consome praticamente todas as horas de seu dia.
Ainda que Gyllenhaal seja o protagonista, ele raramente está sozinho em cena, contando com a presença de um elenco coadjuvante de peso. A começar por Robert Downey Jr, em um dos grandes papéis que marcaram sua "renascença" nos cinemas (um pouco antes do lançamento do primeiro Homem de Ferro) que diverte com a sagacidade e ironia do jornalista Paul Avery; a dicção com que diz "Eu quero uma arma" em determinado momento é um misto perfeito de clareza, pânico, medo e naturalidade, algo que Downey Jr viria a realizar muito bem em seus próximos papéis. Provavelmente o papel mais forte depois do protagonista, Mark Ruffalo faz do detetive Dave Toschi uma figura determinada e carismática, sendo divertido notar sua mania de comer biscoitos quando em direção a uma cena do crime.
Um verdadeiro clássico moderno que é tão importante quanto Arte quanto pela exposição de um caso indecifrável, Zodíaco é uma das jóias douradas na carreira de David Fincher. É uma narrativa pesada na forma como reconstitui fatos e oferece novas pistas, ao mesmo tempo em que mergulha o espectador em uma atmosfera assustadora e imprevisível. Inesquecível.
Zodíaco (Zodiac, EUA – 2007)
Direção: David Fincher
Roteiro: James Vanderbilt
Elenco: Jake Gyllenhaal, Mark Ruffalo, Robert Downey Jr, Anthony Edwards, Brian Cox, Chloë Sevigny, John Carroll Lynch, John Getz
Gênero: Suspense
Duração: 157 minutos
https://www.youtube.com/watch?v=BTkMXuYAD4M
Crítica | Punho de Ferro - 1ª Temporada
A parceria entre a Marvel e a Netflix tem rendido alguns dos melhores frutos que ambos já receberam ao longo de sua História. O sucesso avassalador das duas temporadas de Demolidor e as recepções críticas favoráveis de heróis B como Jessica Jones e Luke Cage ajudaram a pavimentar um novo caminho para séries de TV de heróis e até um gigante plano que envolve a união de todos os vigilantes urbanos da editora em Os Defensores, que será lançada no serviço de streaming no segundo semestre - além de um inesperado spin off do Justiceiro de Jon Bernthal, que chamou sua atenção na série do Demônio de Hell's Kitchen.
A última peça do quebra-cabeças, porém, é Danny Rand e seu alter ego do Punho de Ferro, a última das quatro séries originais encomendadas pelo Netflix em 2014, e o último Defensor para fechar a primeira formação do grupo na televisão. Mas ao contrário de seus antecessores, a nova série foi recebida com um ataque furioso da crítica, que a taxou como uma das piores produções da Marvel de todos os tempos, além de absurdas - e infundadas - acusações de white washing, que só piorou com a nada delicada reação do ator Finn Jones; culpando até Donald Trump pelo massacre crítico da obra, além da velha desculpa de "o show é feito para os fãs, não para críticos". Bem, talvez seja todo o hype negativo ou o fato de que pessoalmente nunca achei grande coisa das séries da Netflix, mas a verdade é que Punho de Ferro não é ruim como fora reportado, mas definitivamente tem problemas graves.
Temos início em uma movimentada avenida de Manhattan, quando um descalço e sujo Danny Rand (Jones) retorna para sua cidade natal e a poderosa empresa que seus pais lhe deixaram como herança após um acidente de avião matá-los. Danny foi o único sobrevivente do desastre, caindo no Himalaia e recebendo um exótico treinamento com monges, que o ajudaram a invocar e lutar sob o espírito budista do Punho de Ferro. Assim, Danny precisa convencer seus amigos - no controle da empresa - de quem ele realmente é e usar seus poderes e habilidades de Kung Fu para enfrentar e derrotar a organização criminosa conhecida como o Tentáculo; chefiada pela enigmática Madame Gao (Wai Ching Ho), já tendo ambos aparecido algumas vezes em Demolidor.
É uma introdução que nos remete muito à estrutura de Batman Begins e até à série Arrow, com o retorno de um bilionário herdeiro que todos esperavam estar mortos, mas que na verdade estava em alguma locação exótica treinando artes marciais e agora visa limpar o crime em sua cidade. A diferença de Punho de Ferro é que o showrunner Scott Buck passa um tempo considerável nessa transição, com Danny tendo dificuldade em comprovar a seus colegas quem é de fato; quando Bruce Wayne retornava à Wayne Enteprises em Batman Begins, todos simplesmente aceitavam sua milagrosa ressureição e se adaptavam a isso. Com Danny, ele é literalmente jogado em um hospital psiquiátrico no segundo episódio, já que todos creem se tratar de um mendigo maluco ou algum golpe empresarial, sendo um impostor se passando por Rand. Se por um lado acaba atrasando a progressão dos eventos da história, esse dilema acaba acompanhando o personagem e até serve como uma boa metáfora, já que sua personalidade ainda divide-se entre ser Rand ou ser o Punho de Ferro; então, essa decisão de colocar uma dúvida externa acaba soando surpreendentemente eficaz.
Somos então jogados no mundo corporativo da Rand Industries, onde o núcleo dos irmãos Ward e Joy Meachum (Tom Pelphrey e Jessica Stroup, respectivamente) acaba tomando grande parte da trama. A chegada de Danny causa um frisson na vida dos dois, vide que o jovem forasteiro traz uma mente ingênua do mundo dos negócios e acaba forçando sua empresa a tomar decisões que honrem o bem maior - mas que acabam provocando quedas em seu setor econômico e provocando a ira dos engravatados da diretriz. É um núcleo que funciona quando temos a personalidade quase hippie de Danny interferindo naquele mundo vastamente diferente (admito, nunca vimos Bruce Wayne realmente sentar e discutir negócios de sua empresa bilionária), mas que acaba fadado ao tédio quando o foco recai sobre os irmãos Meachum, pobres vítimas de uma trama sem graça e movida por diálogos horríveis, com uma relação tão confusa que por um momento suspeitei que fosse algum tipo de incesto.
O núcleo coadjuvante mais interessante acaba recaindo sobre Colleen Wing (Jessica Henwick), uma instrutora de artes marciais que acaba conhecendo Danny e ajudando-o a colocá-lo de volta a seu caminho. Decerto que algumas revelações envolvendo a personagem, que vão desde um passado com o Tentáculo até o fato de ela... Ser professora particular da enfermeira Claire Temple (Sim, Rosario Dawson) acabam soando como gigantescas coincidências e conveniências de roteiro completamente artificiais, mas a relação entre Colleen e Danny é feita com mais naturalidade, algo que se deve também à química certeira de seus intérpretes, com Finn Jones revelando um incrível carisma e a habilidade de conseguir transportar todas as características de Danny, desde sua personalidade de crianção (especialmente no núcleo empresarial), sua devoção quase cega aos ensinamentos do Punho de Ferro e toda a fisicalidade que o papel exige, algo que vemos bem transposto quando Jones medita, se alonga e faz todas as poses de kung fu esperadas.
Assim, a narrativa de Punho de Ferro acaba atropelando diversos blocos. Poucas séries criadas sob o formato do binge watching surgem tão episódiocas quanto essa, com Danny Rand enfrentando situações diferentes, enquanto seus blocos coadjuvantes parecem estar atuando em uma série completamente isolada, com pouquíssimas conexões com o núcleo central. O rumo também perde-se constantemente, com os roteiristas inventando diversas reviravoltas envolvendo os momentos do Tentáculo, que estão infiltrados na Rand, antigos companheiros do monastério de Danny e até uma repentina viagem à China, em blocos que não soam contínuos e acabam sendo difíceis de atravessar, vide a montagem defeituosa. E o que falar de Claire Temple, que só está ali para trazer easter eggs e oferecer as piores falas de alívio cômico de todos os tempos? Até mesmo a atriz parece nitidamente estar levando tudo na piada.
E se todas as séries da Netflix tinham algo irrefutável, era a presença de um antagonista memorável. Com Punho de Ferro, além da figura enigmática de Madame Gao e o Tentáculo, temos a duvidosa presença de Harold Meachum (David Wenham), pai de Ward e Joy que foi milagrosamente ressuscitado da morte pelo Tentáculo, e vive em segredo em uma luxuosa cobertura no centro da cidade; com Ward sendo o único que tem ciência de sua existência. Infelizmente, nenhum dos Meachum chega no nível de um Rei do Crime, um Kilgrave ou pelo menos um Boca de Algodão, ainda mais pela série constantemente oferecer reviravoltas que parecem mudar nossa percepção acerca dos personagens; nunca fica claro quem é o vilão da história, ou quais as intenções de Harold.
Sua relação com Ward é interessante, e remete muito ao tipo de paternidade defeituosa que vemos em Norman e Harry Osborn, a família do Duende Verde que inferniza a vida do Homem-Aranha. É possível compreender a humilhação sofrida por Ward, assim como o velho clichê do favoritismo do pai pelo amigo que é "o filho que nunca teve", algo que se aplica assim que Danny descobre sua condição, mas que jamais realmente torna mais forte o conflito entre os dois, ou a motivação clara de quem o protagonista realmente precisa enfrentar - e isso só torna mais confuso na segunda metade da temporada, quando um novo representante do Tentáculo acaba assumindo as rédeas da história.
Porém, a série acaba errando feio naquele que deveria ser seu ponto alto: ação. Sendo um protagonista treinado sob um monge místico de artes marciais, toda a coreografia apresentada nas cenas de ação é da mais mundana e genérica possível, e isso é inadmissível para um seriado cujo lore está justamente nessa área. Nem mesmo a condução dos inúmeros diretores ajuda (até mesmo RZA assume a direção de um dos episódios), todos com planos fechados demais, uma mise en scène confusa e uma montagem horrível que nem disfarça os inúmeros erros de continuidade em movimentos e ações, assim como a artificialidade dos poderes de Danny - logo no primeiro episódio, o momento em que o protagonista salta sobre um taxi é de um amadorismo ofensivo, e o clímax comete o crime de lembrar a todos nós da existência da Mulher-Gato de Halle Berry. As únicas cenas de luta minimamente empolgantes são as brigas de gaiola com Colleen, que impressionam pela brutalidade de seus oponentes.
No fim, esse Punho de Ferro certamente não é tão ruim quanto todas as críticas vinham apontando, sendo consideravelmente mais interessante e com personagens mais carismáticos do que outras séries sob o selo da Marvel Netflix. Falta à série uma sofisticação em seus quesitos técnicos e na estrutura geral da história, que acaba confusa e desconexa em diversos momentos, algo que também é fruto da defeituosa e cansativa estrutura de 13 episódios.
Punho de Ferro - 1ª Temporada (Iron Fist - Season 1, EUA - 2017)
Criador: Scott Buck
Direção: Jon Dahl, Farren Blackburn, Uta Briesewitz, Deborah Chow, Andy Goddard, Peter Hoar, Miguel Sapochnik, Tom Shankland, Stephen Surjik, Kevin Tancharoen, Jet Wilkinson
Roteiro: Scott Buck, Gil Kane, Roy Thomas, Dwain Worrell, Tamara Becher, Pat Charles, Quinton Peeples, Scott Reynolds, Ian Stokes, Christian Chambers
Elenco: Finn Jones, Tom Pelphrey, Jessica Stroup, Jessica Henwick, Rosario Dawson, David Wenham, Wai Ching Ho
https://www.youtube.com/watch?v=03W2ffgkYDM