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Crítica | Mudo - Uma Narrativa sem Vida

Thiago Nolla Thiago Nolla
In Capa, Catálogo, Cinema, Críticas•28 de fevereiro de 2018•9 Minutes

Nos últimos dois anos, aproximadamente, a ficção científica realizou uma crescente escalada ao topo da cadeira alimentar do cinema e caiu nas graças de um público aficionado por histórias futuristas e distópicas. Em meio a tantas novas investidas, remakes, continuações e conclusões de franquias multimilionárias, tivemos Amy Adams sendo completamente esnobada por uma performance impecável em A Chegada, Ridley Scott e Denis Villeneuve unindo-se para mergulharem ainda mais fundo no universo de Blade Runner e até mesmo a medíocre-porém-interessante finalização da série Maze Runner. Logo depois, tal gênero encontrou espaço nas telinhas, principalmente com apoio da gigante do streaming Netflix, a qual parece ter encontrado um meio confortável com o qual trabalhar e aumentar seu conteúdo original.

Ainda que Altered Carbon não tenha feito o sucesso que realmente merecia, o show recuperou inúmeras tendências da década de 1970 e 1980 para compor seu escopo imagético, incluindo inúmeras referências à estética firmada pelo “caçador de androides” e diversas obras do cinema e da literatura que desde o início do século passado são transcritas para as telonas. E talvez Mudo, novo projeto Duncan Jones, pudesse sim ultrapassar todas as expectativas por sua premissa original dentro de um panteão que tem a tendência de ceder às saídas formulaicas – mas o resultado é um completo desastre sem sentido que se torna uma versão crua e não finalizada da série supracitada.

Se analisarmos a filmografia do diretor, não podemos deixar de ficar com um pé atrás acerca de suas obras. Apesar de ter ganhado bastante sucesso com seu drama sci-fi Lunar e ter feito um barulho considerável tanto com a crítica quanto com o público acerca do thriller Contra o Tempo, Jones também tornou-se responsável por uma das adaptações mais pífias de videogames, Warcraft, a qual inclusive perca para o esquecível Assassins’ Creed. Logo, não é nenhuma surpresa que o anúncio de seu nome tenha causado recepções mistas – entretanto, não podemos dizer que o cineasta não tenha a melhor das intenções ao criar algo novo e que consegue misturar o passado e o presente, ainda que em detrimento de qualquer coisa palpavelmente aceitável.

Por ora, deixemos a narrativa de lado e analisemos a estrutura imagética. A trama principal se passa na década de 2050 em uma Berlim futurista, tomada pelo classicismo distópico das luzes neon, dos carros voadores, dos excessivos hologramas e todos os aspectos que nos colocam automaticamente dentro de uma ambiência científica. Seguindo o padrão de grande parte desse gênero, a estética também finca-se ao neo-noir, cuja fotografia preza pelo jogo de luzes e sombras para tentar garantir uma complexidade acerca dos protagonistas. A partir dessas informações, já é possível imaginar um escopo que conversa com qualquer filme dessa vertente criativa em questão, incluindo os cenários escuros, a constante presença da chuva e pequenos blocos cósmicos que funcionam dentro de si mesmos e contribuem também para fornecer uma identidade decadente a uma cidade em ruínas.

A história gira em torno de Leo (Alexander Skarsgard), um jovem bartender amish que sofreu um grave acidente quando criança que cortou suas cordas vocais. Por causa das crenças religiosas e tradicionalistas de sua família, o garoto não pôde passar pela cirurgia reconstrutiva e foi “entregue às mãos de Deus” para recuperar uma habilidade que eventualmente nunca seria alcançada, transformando-o em um pária para uma sociedade ainda conservadora e reacionária. Entretanto, ele aprendeu a conviver com sua deficiência e encontrou o amor de sua vida nas feições de Naadirah (Seyneb Saleh), garçonete alemã que trabalha no mesmo clube que ele. É inegável dizer que tais personagens trazem uma certa química para a cena, mas esses esparsos momentos de brilho logo são extintos quando a moça desaparece sem deixar quaisquer rastros e não dá mais as caras dentro do longa-metragem.

Em um arco paralelo, somos apresentados à infame dupla formada pelo golpista Cactus Bill (Paul Rudd) e pelo desequilibrado cirurgião-pediatra Duck (Justin Theroux), que basicamente não fazem nada. Aliás, é difícil encontrar algum motivo que os torne necessários para a história além de servirem como um caricato escape cômico e terem seus arcos finalizados da forma mais ridícula possível. Nem mesmo suas personalidades irreverentes conseguem criar qualquer relação com o público e desviam a atenção do que deveria funcionar como uma jogo de perseguição e de mistério. Tudo bem, com a chegada do terceiro ato, entendemos que essa dupla e Naadirah estão conectados por um segredo guardado há muito tempo, mas Jones não consegue orquestrar uma atmosfera digna e envolvente o suficiente para nos preparar a uma virada aplaudível.

Os acontecimentos movem-se em um ritmo tão irritantemente seco e mórbido que fica difícil não pescar durante vários momentos. O grande problema seria se eventos importante ocorressem nesse meio-tempo, mas os personagens se mostram tão perdidos quanto a audiência e percorrem um ciclo interminável que começa em lugar nenhum e chega a nenhum lugar. E as performances também não ajudam muito a deixar tais equívocos menos dolorosos: ainda que Skarsgard tenha acabado de se entregar a um de seus melhores papéis com Big Little Lies, ele não repete o feito aqui; por não poder se expressar através de palavras, Leo mantém todas as suas emoções no rosto e, infelizmente, cai na supersaturação cênica e em uma interpretação exagerada e over-the-top.

Talvez uma das criações mais interessantes emerja na figura de Luba (Robert Sheehan), garçom travesti dotado de uma grande e ácida personalidade que seria de incrível exploração caso não estivesse respaldada por um roteiro burro e clichê. Nem mesmo a mudança da estética fotográfica contribui para deixá-lo mais interessante, visto que mostra-se asséptica e redundante, optando pela utilização da luz dura para reafirmar uma possível ambiguidade moral dos protagonistas que nunca encontra a luz do dia.

Mudo é mais um grande erro desse grande serviço de streaming. Tal filme é tão insosso, vazio e sem identidade que a perspectiva acerca do gênero sci-fi para a plataforma poderia ser engavetado – principalmente se levarmos em consideração o completo desastre de The Cloverfield Paradox, uma das obras mais presunçosas do ano. Tempos difíceis são esses para a Netflix, e é bom que seus supervisores retornem aos trilhos o mais rápido possível.

Mudo (Mute, EUA, Alemanha – 2018)

Direção: Duncan Jones
Roteiro: Michael Robert Jones, Duncan Jones
Elenco: Alexander Skarsgard, Paul Rudd, Justin Theroux, Seyneb Saleh, Robert Sheehan, Daniel Fathers, Nikki Lamborn, Noel Clarke, Gilbert Owuor
Gênero: Sci-fi, Thriller
Duração: 126 min

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Thiago Nolla

Thiago Nolla faz um pouco de tudo: é ator, escritor, dançarino e faz audiovisual por ter uma paixão indescritível pela arte. É um inveterado fã de contos de fadas e histórias de suspense e tem como maiores inspirações a estética expressionista de Fritz Lang e a narrativa dinâmica de Aaron Sorkin. Um de seus maiores sonhos é interpretar o Gênio da Lâmpada de Aladdin no musical da Broadway.

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Anônimo
28 de fevereiro de 2018

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