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Crítica | O Ornitólogo

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•5 de abril de 2017•6 Minutes

Identificado como um talento do cinema português desde o seu primeiro longa, O Fantasma (2000), João Pedro Rodrigues retorna às telonas para mostrar que o cinema português não deve nada ao cenário internacional. João Pedro Rodrigues é um provocador. E entende dos mecanismos da provocação como poucos. Não é sua intenção aproximar-se de um panfleto, de um movimento que rejeita as convenções, mas de uma subversão. Em O Ornitólogo, o cineasta, ao contrário, vai fundo nas matas do Cinema, do gênero, da religião, mito e transcendência. O emprego de um olhar, enfim, que sabe o que está buscando garante sucesso ao longa.

Fernando (Paul Hamy) é ornitólogo. Na primeira parte do filme, somos apresentados cruamente à sua atividade e ao seu cotidiano na expedição que está realizando em um floresta portuguesa. O primeiro contato com a imagem em movimento, de teor puramente de registro, quando a ficção ainda não havia aproximado o cinema das outras artes, no começo, foi maravilhamento (entenda-se também espanto) completo para o público. João Pedro Rodrigues parece instalar uma catraca na entrada do seu filme, de maneira mais extensa do que o monumental Manoel de Oliveira, e seus enigmáticos planos iniciais. Catraca essa que não vale manifestação contra o hermetismo, que acusa “esse cinema” de insuficiente, malogrado em suas experiências, inconclusivo, pregação para convertidos. É um aviso profético que confia no poder sugestivo da natureza e do olhar (não só do ornitólogo, mas também dos espaços e dos animais) cuja transposição garante a entrada no metafísico mundo do filme. Depois de vinte minutos de pura observação, de uma apresentação metódica e minimalista do personagem (Fernando é ornitólogo, ateu, homossexual e tem que tomar seus remédios), o próprio protagonista é levado pela força de um rio.

Ele é resgatado por duas turistas chinesas, que crêem estarem seguindo o caminho de Santiago de Compostela. Fotos da viagem das duas mediam o acidente e o resgate. O registro de um, as gravações em voz de Fernando em meio ao silêncio e à solidão, entra em choque com as recordações dos corpos desse primeiro contato. O estranhamento e a simbologia, a partir desse momento, se instauram definitivamente para abrir as porteiras do que é O Ornitólogo. A contemplação é vista sob uma perspectiva diferente, a dilatação do tempo é dispositivo para a força do imprevisível (tal como nos espaços dos filmes de Lisandro Alonso). A nudez, num primeiro momento natural, porque solitária, ativa seu Eros por um símbolo cristão. Fernando acorda amarrado. Sua ereção é ressaltada. As religiosas pretendem capá-lo.

O diretor contou, ao apresentar o filme, que tinha vontade quando criança de ser ornitólogo. Com essa pequena informação extra-filme, pode-se pensar que O Ornitólogo trata de duas Paixões, contínuas e paralelas, uma manifestada em campo, e a outra que se revela nos momentos finais. A Paixão de Fernando/João Pedro Rodrigues. Desse episódio em diante, passamos a caminhar como essas turistas chinesas, um tanto incertas, seguindo o caminho de Fernando até sua final transformação (a transubstanciação pessoal de João Pedro Rodrigues) em Santo Antônio, interpretado pelo próprio diretor. Caminho prazeroso e espinhento, num tempo e espaço suspensos, afastando-se gradativamente do mundo moderno (o protagonista larga os remédios, queima as pontas dos dedos para perder as digitais, risca sua carteira de identidade…), tal como um predestinado que entende sua jornada. Será batizado pelo mijo, terá relações com o pastor surdo-mudo chamado Jesus, depois com São Tomé, passeará por uma floresta com animais empalhados…

A natureza abunda nos planos, diferentes de um momento para outro, uma diversidade que combina temática e esteticamente com o filme. Dentro desse projeto que põe religiosidade e erotismo, O Ornitólogo localiza-se na intersecção entre as duas esferas, o êxtase. No final das contas, as forças opostas se atraem e se complementam. A morte do Jesus vem logo a seguir do gozo sexual. Fernando tateia a ferida dele como se estimulasse uma vagina.

Quando se trata da mistura do sacro e do profano, na cultura ibérica, Santo Antônio parece ser a figura mais exata para ser o ponto final (ou de recomeço). O homem que largou tudo para ajudar os pobres. Depois que Fernando é forçado a abdicar dos seus artifícios modernos para se tornar Antônio, volta para a cidade, Pádua (onde inclusive reencontra as turistas) e sai de mãos dadas com Tomé (nome que significa “gêmeo”), dito irmão de Jesus. Os momentos finais do filme são todos construídos na dualidade, usando muito do campo-contracampo. As duas identidades são sobrepostas. Chegamos a observar uma espécie de visão de deus, manifestada nos pássaros e numa lua que mais parece um olho gigantesco. A metafísica alia-se ao cinema de forma definitiva em O Ornitólogo.

O Ornitólogo (idem, Portugal, França, Brasil – 2016)
Direção: João Pedro Rodrigues

Roteiro: João Pedro Rodrigues
Elenco: Paul Hamy, Xelo Cagiao, João Pedro Rodrigues, Han Wen e Chan Suan
Gênero: Drama
Duração: 117 min

Redação Bastidores

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