O cinema tem como uma de suas principais propostas a de refletir o que acontece na sociedade, com roteiros que possam dialogar a respeito do dia a dia de uma nação e de seus acontecimentos, ou com as mais diversificadas histórias que possam abordar assuntos presentes dentro de uma família. É isso que o filme Que Mal eu Fiz a Deus? 2 tenta representar ao tratar de um assunto muito atual.
Sequência do desconhecido longa de mesmo nome e que foi lançado em 2014, a comédia francesa nasceu de uma inspiradora ideia de criticar o preconceito que existe não apenas na estrutura familiar entre os franceses, que vivem assim como os brasileiros uma mistura de etnias, raças e religiões, mas também de criticar algo que está muito presente no dia a dia da sociedade francesa e que foram simbolizados no primeiro filme nos personagens de Claude Verneuil (Christian Clavier) e Marie Verneuil (Chantal Lauby).
O público pode se sentir um pouco perdido ao assistir a esta continuação, pois o diretor Philippe de Chauveron não faz muita questão de fazer um resumo dos acontecimentos do primeiro longa nesta sequência, nem mesmo faz uma reflexão do que ocorreu em relação a questão dramática envolvendo a família Verneuil. Mas mesmo assim vai se desenrolando a trama e dá para se ter um entendimento a respeito de seus desdobramentos.
Há um tom teatral no jeito em que se desenvolve a trama, principalmente no jeito em que os personagens ditam seus diálogos, algo que já aconteceu no primeiro filme, mas a diferença é que o humor do primeiro longa era mais presente e mais divertido. Há uma critica social embutida no roteiro que já vem do filme anterior, e havia uma forte crítica em relação aos diversos tipos de preconceitos: religioso, racial, xenofobia e que nesta continuação se mantem, agora acrescentando a homofobia como tema principal. Mas tudo isso é colocado sem ser aprofundado, não há uma discussão nem um debate sobre a questão em si, algo que na primeira parte havia pelo menos uma discussão sobre o tema.
Que Mal Eu Fiz a Deus? 2 peca naquilo que foi mais forte no primeiro filme, que foi o seu roteiro. Com boas piadas e criticas sociais, que são típicas das produções francesas e que volta a ocorrer nesta sequência, mas que não traz nada de novo para um roteiro já batido sobre preconceito, um tema que já foi debatido no primeiro longa e que aqui novamente volta a ser o foco principal. Uma oportunidade perdida e que se transforma em um repeteco vazio de piadas.
Sob as Escadas de Paris (Qu’est-ce qu’on a encore fait au Bon Dieu?, França. – 2019)
Direção: Philippe de Chauveron
Roteiro: Guy Laurent, Philippe de Chauveron
Elenco: Christian Clavier, Chantal Lauby, Ary Abittan, Medi Sadoun, Frédéric Chau, Noom Diawara, Frédérique Bel, Julia Piaton, Émilie Caen, Élodie Fontan
Gênero: Comédia, Drama
Duração: 99 min.
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.