Contém spoilers!
Após uma estreia arrasadora e que culminou na maior audiência de um novo projeto da HBO, House of the Dragon tinha um desfio muito mais relevante em sua segunda semana de exibição: não deixar o fogo apagar. A série prelúdio de Game of Thrones começou muito forte com o piloto The Heirs of the Dragon, um episódio eficiente em ambientar mundo, personagens e diferentes possibilidades de conflito – além de muito sexo, violência e efeitos visuais de alto escalão da televisão contemporânea. Poderia a série manter o padrão de qualidade? Felizmente, The Rogue Prince consegue ser ainda melhor do que seu antecessor.
A trama do episódio começa seis meses após os eventos do anterior, e mesmo tendo terminado de forma bombástica com a nomeação de Rhaenyra (Milly Alcock) como sucessora do Rei Viserys (Paddy Considine), os eventos seguem rotineiros. Isto até o ponto em que a pressão para que o rei tome uma nova esposa começa a se alastrar pelo reino, ao mesmo tempo em que um feroz rebelde conhecido das Cidades Livres desatabiliza a força dos Targaryen; que ainda sofre pelas ameaças do vingativo príncipe Daemon (Matt Smith).
Curiosamente, o segundo episódio de House of the Dragon é muito maior do que o primeiro, apesar de sua escala consideravelmente menor. Sem muitas batalhas, embates ou grandes orgias, a direção de Greg Yaitanes (veterano de bons episódios de Lost e Heroes) consegue ser mais incisiva e com mais nuances do que a de Miguel Sapochtnik no anterior, sendo muito inteligente ao captar pequenos movimentos, reações e detalhes durante os muitos diálogos e conflitos verbais dos personagens.
Por mais que seja um episódio mais voltado em conversas, Yaitanes é habilidoso em suas composições, especialmente o confronto direto entre Daemon e as forças do rei em uma ponte, banhada por um lindíssimo sol escondido entre nuvens foscas de um céu saído de uma pintura. Se o primeiro episódio tentava demais se manter dentro da forma estética de Game of Thrones, The Rogue Prince dá os primeiros passos para assumir uma identidade muito mais própria para House of the Dragon, o que definitivamente é um ponto positivo.
Quanto aos conflitos em si, o roteiro de Ryan J. Condal mantém a inteligência dos diálogos e maquinações políticas que funcionaram tão bem no anterior. A trama acerca do novo casamento do Rei garante uma participação muito mais ativa do Lorde Corlys Velaryon de Steve Toussaint, que oferece sua filha assustadoramente mais jovem para se casar com Viserys. É uma situação desconfortável e que rende ótimos momentos de todo o elenco, especialmente na crescente de Toussaint para se tornar um possível novo antagonista no arco de Viserys.
Quanto a Rhaenyra Tagaryen, a jovem Milly Alcock continua sendo o centro das atenções durante a maioria de suas cenas. Adotando ecos com o arco de Daenerys Targaryen da série original, Rhaenyra navega por uma narrativa de empoderamento e feminino muito mais evidente, especialmente pelo fato de sua personagem também ser mais jovem. Além das delicadas cenas em que tenta conversar sobre a morte da mãe com seu pai, o destaque fica para a interação passivo-agressiva que compartilha com sua prima Rhaenyra (Eve Best, cada vez mais interessante), onde ambas parecem determinar o grande conflito da série: a posição de uma mulher no Trono de Ferro, algo que também era um ponto chave de Game of Thrones.
E Rhaenyra é remanescente à sua futura descendente também no que diz respeito à ação. Seu embate diplomático com Daemon na ponte de Dragonstone garante um momento de grande força e presença para Rhaenyra, que só é melhor graças à condução habilidosa de Yates, tratando o confronto com a tensão de uma guerra fria – algo irônico considerando a presença de dragões no momento.
Ainda que a virada de história que encerra o episódio fosse esperada, com Viserys escolhendo se casar com Alicent Hightower ao invés da filha de Valeryion, é de se admirar a elegância do roteiro de Condal. Há quem diga que previsibilidade é fruto de uma escrita ruim, mas o caso de The Rogue Prince é mesmo resultado de uma construção atenciosa e que se beneficia de uma direção inteligente e que encontra os pontos de interesse apropriados.
A julgar pelo nível de qualidade de seu segundo episódio, o acerto inicial de House of the Dragon não foi mera sorte de principiante.
House of the Dragon – 01×02: The Rogue Prince (EUA, 2022)
Showrunner: Ryan J. Condal e George R.R. Martin
Direção: Greg Yatanes
Roteiro: Ryan J. Condal
Elenco: Paddy Considine, Milly Alcock, Rhys Ifans, Matt Smith, Steve Toussaint, Emily Carey, Eve Best, Graham McTavish, Sonozoya Mizuno, Gavin Spokes
Gênero: Drama
Duração: 53 min
Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

