Em 127 horas, longa de Danny Boyle, um homem cai em um desfiladeiro e precisa arrancar seu próprio braço que havia ficado preso a uma rocha e assim conseguir escapar com vida de lá. Os filmes de sobrevivência, no geral, são assim, apresentam de forma crua e fria os fatos, causando comoção em quem assiste.
O mesmo podemos dizer de A Sociedade da Neve (J.A. Bayona), produção espanhola disponível na Netflix e que foi indicada ao Oscar de Filme Internacional. O longa trata da história real do acidente do voo 571 da Força Aérea Uruguaia, ocorrido em 1972, no qual 16 passageiros sobreviveram por 72 dias presos em um trecho remoto dos Andes, em meio a uma forte nevasca, enquanto outros 29 morreram.
Não é a primeira produção audiovisual a tratar do assunto. Vivos (1993), dirigido por Frank Marshall, já havia retratado o sofrimento dos jovens nos Andes. A questão de terem que recorrer ao consumo da carne dos amigos falecidos já havia sido apresentada e chocou da mesma maneira.
Nesta nova e excelente versão, dois elementos do gênero das produções de sobrevivência são muito bem apresentados. O primeiro é a questão emocional. Todos estão ali, entregues à própria sorte, sem água, comida, comunicação – estão praticamente abandonados.
A maneira como Bayona trabalhou o roteiro, no qual ele próprio teve participação na construção, causa uma comoção bastante grande em parte do público, especialmente nas cenas em que parentes ou amigos dos sobreviventes morrem. Ele soube capturar o principal elemento que faz o espectador se sentir naquela situação, que é a emoção.
Outro aspecto a ser mencionado, e que é bastante evidente na narrativa, é como o diretor busca chocar a audiência. Não se trata de um choque barato, como podemos ver em produções de terror, como Jogos Mortais (2004) ou O Albergue (2005). O que Bayona deseja transmitir é, sim, um choque de realidade. Primeiro, ao mostrar como os jovens precisam sobreviver em uma situação extrema, sem proteção ou alimentos; depois, ao retratar os estudantes testemunhando a morte de seus amigos por diversas circunstâncias e, em seguida, tendo que recorrer ao canibalismo para se alimentarem dos corpos, a fim de permanecerem vivos.
Certamente, a ideia do cineasta foi narrar um fato que ocorreu com o máximo de realismo possível, inserindo na história doses dramáticas que vão além da situação em que se encontram, destacando a vida pessoal de alguns dos jovens. Por haver muitos personagens no elenco, não há uma atenção devida a um protagonista específico, e essa tentativa de mostrar vários personagens acaba gerando confusão em entender exatamente quem é o protagonista.
A Sociedade da Neve é um excelente filme de sobrevivência que atende às expectativas do gênero, mas com a diferença de contar com um roteiro brilhante e uma direção eficiente que soube extrair o máximo do elenco nas cenas mais dramáticas. Seu principal mérito é que será lembrado por muito tempo; não sendo uma obra esquecível como a maioria do gênero.
A Sociedade da Neve (La sociedad de la nieve, ESPANHA – 2023)
Direção: J.A. Bayona
Roteiro: J.A. Bayona, Bernat Vilaplana, Jaime Marques, Nicolás Casariego, baseado no livro de Pablo Vierci
Elenco: Enzo Vogrincic, Agustín Pardella, Matías Recalt, Esteban Bigliardi, Rafael Federman
Gênero: Aventura, Biografia, Drama
Duração: 144 min
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.


