Que o cinema argentino é de qualidade, isso ninguém questiona. O que mais se vê entre as produções dos nossos vizinhos hermanos são obras políticas e de cunho dramático. Por isso, O Mal que nos Habita se tornou uma grande surpresa, sendo outra aposta do diretor Demián Rugna no gênero do terror.
Com baixo orçamento, mas ganhando força espontaneamente devido ao boca a boca nas redes sociais, o longa foi uma das gratas surpresas de 2023 no cenário internacional. O modo como foi filmado lembra filmes independentes do gênero devido à falta de efeitos especiais e à riqueza narrativa. Essas histórias acabam fazendo sucesso mais pela sua trama do que pelo formato apresentado.
A trama acompanha os irmãos, Pedro (Ezequiel Rodriguez) e Jimi (Demian Salomon), que vivem em uma região remota e se deparam com um corpo na mata próxima. Esse mistério os leva até uma residência onde encontram um homem possuído. Ao tentar dar um fim ao mal, acabam gerando o efeito contrário e espalham o terror pelo local.
Trabalhando em um cenário suburbano e tendo como tema principal o sobrenatural, esse thriller de terror tem sim um andamento maçante, mas não é entediante. Isso não significa que ele não tenha ação; pelo contrário, há muita ação, principalmente quando o mal começa a se impregnar na cidade e criar o caos.
Além de dirigir, Demián também roteirizou o longa, e inseriu na história elementos de terror dignos dos clássicos do gênero, sem ser trash e nem forçar a mão com jump scares desnecessários ou bizarrices sem sentido. Não é um filme de demônios que assusta ou causa medo, mas sim traz angústia e doses de tensão ao público devido ao desconhecido, já que não se sabe como o protagonista irá sair daquela situação em que está envolvido.
A maneira como o espírito maligno se espalha pela cidade funciona como uma espécie de pandemia local, agindo como uma doença maligna que é transmitida de pessoa para pessoa, possuindo-as e deixando uma trilha de sangue. A abordagem de um thriller sobre contágio vem muito a calhar em uma era pós-pandemia do COVID-19, na qual o mundo repensa muitas questões ligadas ao cotidiano da humanidade.
Grande parte do mérito da execução do longa é do diretor e roteirista Demián Rugna, conhecido por seu trabalho em Aterrorizados (2017) e por outras produções do gênero em sua filmografia. O excelente cinema argentino continuará a render e manter seu alto nível de qualidade por muito tempo, como visto em O Mal que nos Habita e que Demián continue fazendo ótimos filmes de terror.
O Mal que Nos Habita (Cuando acecha la maldad, ARG – 2023)
Direção: Demián Rugna
Roteiro: Demián Rugna
Elenco: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater, Luiz Ziembrowski, Marcelo Michinaux
Gênero: Terror
Duração: 99 min
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

