Uma das ditaduras mais violentas da América Latina ocorreu na Argentina nos anos 60 e 70, com vários relatos de crimes cometidos pelos militares, como tortura e assassinatos. Por isso, é natural que o tema esteja frequentemente presente no cinema dos hermanos. Em O Clã, a ditadura é mencionada, mas os desdobramentos da narrativa não estão relacionados ao período sombrio.
Na mesma proporção em que a história é intrigante, também se mostra assustadora. O Clã, produzido em 2015 e dirigido e co-roteirizado por Pablo Trapero, cineasta conhecido por obras como Abutres (2010) e Elefante Branco (2012), aborda uma dessas histórias sombrias que ocorreram no período pós-queda da ditadura na Argentina.
A trama acompanha a família Puccio, em que o pai Arquímedes Puccio (interpretado por Guillermo Francella), com a ajuda de seus dois filhos e alguns amigos, sequestra membros de famílias ricas, visando compensações financeiras. Com frequência, mesmo após receber o resgate, ele mata os sequestrados, revelando o quão perverso era o patriarca.
Adaptada de uma história real, a produção apresenta de maneira acertada Arquimedes e as relações com seus familiares, deixando claro quem é quem e qual a função de cada um naquele esquema sombrio. O patriarca era funcionário do SIDE (Sistema de Inteligência Nacional), conhecido órgão de espionagem argentino, e residia em Buenos Aires. Arquimedes e seus filhos foram presos em 1985, o que gerou comoção na época quando a história veio à público.
Com um roteiro brutal e profundo, que contou com a participação de Pablo Trapero, o filme chama a atenção por mostrar como a família agia de modo sádico e cruel. Os reféns ficavam na residência dos Puccios, onde se encontravam, além dos dois filhos de Arquimedes, seu filho mais novo, suas duas filhas e sua esposa. O tom de normalidade que Trapero passa ao público, como se nada estivesse acontecendo naquele ambiente, impressiona e choca.
Entre planos sequência belamente executados e a forma como filma a rotina perturbadora que os membros da família enfrentam, é um dos pontos altos da direção de Trapero, mostrando por que ele é um dos grandes nomes do cinema argentino atual. Outro elogio ao filme está no fato do roteiro não se limitar apenas aos assassinatos, mas também explorar aspectos mais profundos da história familiar. Não é à toa que Trapero recebeu o Leão de Prata em Veneza pela sua direção.
O Clã é uma ótima opção para cinéfilos argentinos que apreciam narrativas bem construídas e visualmente impactantes. A tensão que se constrói ao longo da trama faz com que a produção seja elevada ao nível de um suspense de primeira. Um filme imperdível e que merece ser apreciado por um público maior. É sem dúvida um grande filme que precisa ser descoberto pelo público.
O Clã (El Clan, Argentina – 2015)
Direção: Pablo Trapero
Roteiro: Julian Loyola, Esteban Student, Pablo Trapero
Elenco: Guillermo Francella, Gastón Cocchiarale, Peter Lanzani, Stefanía Koessl, Miguel Ángel Lembo, Franco Masini, Antonia Bengoechea, Lili Popovich, Giselle Motta
Gênero: Biografia, Policial, Drama
Duração: 108 min