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Crítica | Alex Jones: Uma Guerra contra a Verdade - Quando o doente morre de overdose de “red pill”

Daniel Moreno Daniel Moreno
In Catálogo, Cinema, Críticas•11 de junho de 2024•9 Minutes
Crítica | Alex Jones: Uma Guerra contra a Verdade - Quando o doente morre de overdose de “red pill”
Max
Crítica | Alex Jones: Uma Guerra contra a Verdade - Quando o doente morre de overdose de “red pill”
Max

Imagine por um momento que você é pai ou mãe de uma criança de seis anos de idade que acaba de ser brutalmente assassinada na escola, durante um massacre ocasionado por um atirador. Provavelmente estamos falando de uma das piores situações que podem existir. Agora, pense melhor: isto não é o bastante. Depois de perder seu filho tragicamente, você terá de conviver por anos com a descrença e os ataques de centenas de milhares de pessoas que dirão que sua tragédia jamais existiu. Elas irão atacar você em público e privadamente, ofender a memória de sua criança morta e levantar suspeitas permanentes em relação ao que você sente e ao que pode ter acontecido.

Esta é a premissa do bom documentário “Alex Jones: Uma Guerra contra a Verdade”, disponível no Brasil na plataforma Max.

Para você se situar, vamos aos fatos. Em 2012, Adam Lanza, de 20 anos, arrombou a porta de uma escola primária localizada em Sandy Hook, na cidade de Newtown, Connecticut (EUA), portando rifle e pistolas, depois de ter assassinado a própria mãe momentos antes. Lá dentro, ele terminaria por matar outras 26 vítimas (entre crianças pequenas e funcionários), até finalmente se suicidar.

O que seria mais um trágico episódio de assassinato em massa ganharia contornos ainda mais chocantes quando o célebre comunicador da “alt-right” norte-americana, Alex Jones, iniciou sua própria cruzada de desinformação, ao insinuar para milhões de espectadores de seu canal Infowars que tudo não passava de uma encenação elaborada pelo próprio governo: um teatro sem vítimas, onde os pais das crianças seriam “atores contratados”, tudo com o suposto objetivo de criar um clima político propício para aumentar o controle sobre armas nas mãos de civis. Jones e seus seguidores chegam às mais absurdas conclusões lançando mão do que se poderia chamar de “ultraleitura” dos fatos, ou seja: “análise” exagerada e neurótica de gestos, expressões e declarações separadas, forçando um “todo” que se encaixa naquilo que eles já dizem saber de antemão (“Tudo isto não passa de uma farsa”). Pareidolia coletiva onde o objeto da observação não são nuvens, mas vídeos e declarações dos envolvidos no caso.

Embora seja uma figura deplorável da mídia (é possível encontrar Jones fazendo todo tipo de sensacionalismo na internet, desde a defesa do ditador socialista Hugo Chávez por ser “contra o sistema” até as mais estapafúrdias incitações de histeria coletiva), Jones tem grande apelo popular e se aproveita da crescente (e muitas vezes, legítima) desconfiança de extratos da população em relação ao governo para vender produto cuja publicidade depende do alcance de suas postagens – e não é preciso ser nenhum gênio das comunicações para imaginar que o alcance é maior quanto mais chocante é aquilo que ele declara.

O documentário narra a luta dos pais do massacre de Sandy Hook para provar que seus filhos foram, de fato, assassinados brutalmente, e para que Jones reconheça que mentiu e errou ao incitar seus seguidores e infundir neles suspeitas falsas. Não revelarei aqui o desfecho do processo e o estado atual do caso: assista e descubra por conta própria.

Embora desconcertante, o movimento social iniciado por Jones no caso específico do filme tem sido, cada vez mais, um problema disseminado e que encontra nas redes sociais território para prosperar indefinidamente. Embora não se aprofunde no fenômeno, o filme fornece pistas para compreender o que, de fato, tem acontecido. A História é farta em casos onde governos, autoridades e corporações atuam separadamente ou em conjunto para ludibriar a opinião pública. Ao longo do tempo, isso criou um débito de confiança das pessoas comuns em relação a tais instituições.

Com o advento da internet, a descentralização e a dispersão em rede das informações, criou-se também uma “cultura da descrença”, da qual se aproveitam espertalhões inescrupulosos como Jones – mas nem só ele, como se sabe. “Red pill” após “red pill”, chegamos a um ponto em que as pessoas de modo geral – em vez de cultivarem o senso crítico e a salutar desconfiança em relação a versões oficiais e ao que sustentam os poderosos – simplesmente não são mais capazes de discernir onde estão, de fato, as “mentiras” e “manipulações” diante das quais precisam se defender, misturando tudo num só pacote de delírio e acusação. “Acreditar em tudo” e “desacreditar de tudo” não são propensões tão diferentes.

Os pais de Sandy Hook são talvez as vítimas mais célebres desse fenômeno, que por sua vez – e ironicamente – provoca efeito contrário ao supostamente pretendido. Quanto mais desconfiados do “sistema”, mais propensos a acreditar e replicar versões falsas ou fantasiosas a respeito da realidade. Quanto mais falsas ou fantasiosas são tais versões, mais o “sistema” (que supostamente estaria sendo combatido) sente-se legitimado a usar seu poder de coerção para vigiar e punir o que as pessoas estão pensando e dizendo. Quanto mais o “sistema” faz isso, menor a chance de, na próxima oportunidade em que as autoridades realmente mentirem ou ocultarem (e isso eventualmente acontecerá), jornalistas e pensadores livres terem espaço na mídia e liberdade para alertar as pessoas.

Figuras como Alex Jones não são os herois “antissistema” como se vendem na internet, funcionando ora como fantoches, ora como agentes de desinformação, desviando a atenção da opinião pública do que realmente importa ao suscitar nela paranoia e abordagens fantasiosas de eventos reais (através de sua “ultraleitura”, atribuindo “significado oculto” onde ele não existe). O mal que provocam é interminável pois, ao mergulharem a audiência num lamaçal de mentiras, comprometem pautas legítimas (o questionamento de uma guerra, por exemplo) com pautas falsas (como no caso das insinuações contra as pobres vítimas de Sandy Hook e seus pais).

O audiovisual está repleto de casos em que a rotina “acontecimento>versão oficial>desconfiança>investigação>descoberta da verdade” é ficcionalizada tendo por base episódios reais. Dois exemplos são o clássico “Todos os Homens do Presidente” (sobre o Caso Watergate) e a minissérie “Chernobyl” (sobre o acidente na usina soviética). Muitos documentários, por sua vez, mostram personagens realmente envolvidos na resistência à tirania governamental e ao chamado “deep state”, tentando levar a verdade objetiva ao maior número de pessoas, como “Citizenfour” (a respeito do analista de sistemas Edward Snowden) e “Roubamos Segredos: A História do Wikileaks” (sobre o trabalho de Julian Assange no comando do site WikiLeaks).

O antídoto contra a doença da qual Alex Jones é um dos sintomas mais conhecidos não é, evidentemente, censura ou “aumento de controle”, mas sim informação de qualidade e – como no caso de Sandy Hook – a responsabilização pelo que se afirma na esfera dos tribunais. A sociedade moderna dispõe de recursos suficientes para mitigar os malefícios da overdose de “red pill” sem para isso ter de tornar a distopia do controle total de 1984 numa realidade.

Alex Jones: Uma Guerra contra a Verdade (The Truth vs. Alex Jones, Estados Unidos – 2024)
Direção: Dan Reed
Elenco: Alex Jones, Wolfgang Halbig, Dan Bidond
Gênero: Documentário
Duração: 118 min

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