A carreira de Beyond Good & Evil já é longa, afinal o jogo faz 21 anos agora em 2024. Apesar de ter sido considerado um fracasso comercial na época de seu lançamento, a obra conseguiu se tornar um cult mantendo uma fiel base de fãs que se empenhou em popularizar o game ao longo dos anos. 

Tanto que atualmente, a franquia de apenas um jogo já se tornou uma lenda no cenário graças a produção da sequência produzida há mais de quatorze anos e que segue sem previsão de lançamento. A esse ponto, o jogo original conseguiu ser lançado duas vezes, o que é bastante irônico. 

A Ubisoft já tinha feito um primeiro remaster em 2011 trazendo o game para a era HD. E agora, de surpresa com o segundo remaster que traz mais novidades do que apenas uma repaginada visual. 

O carisma de uma era

A história de Beyond Good & Evil sempre foi um dos pontos mais elogiados, principalmente por ter sido bastante vanguardista em uma época que as narrativas em jogos estavam começando a amadurecer após alguns anos do lançamento de GTA III. 

Acompanhamos Jade, uma fotojornalista independente que vive em um farol de refugiados no planeta aquático de Hillys em 2435. Há anos que o planeta é atacado por uma raça de alienígenas chamados DomZ e a instituição de governo ditatorial Setor Alpha também não é muito eficaz em proteger a população. 

Após repelir um último ataque e se conectar brevemente com os DomZ, Jade e seu melhor amigo, tio Pey’j são recrutados para um trabalho misterioso envolvendo uma invasão de DomZ. Esse trabalho acaba virando a porta de entrada para a ordem secreta rebelde IRIS que busca expor uma aliança bizarra entre os DomZ e o Setor Alpha. 

Nota-se em questão de poucos minutos de gameplay que Beyond Good & Evil era mesmo um projeto bastante ambicioso, até mesmo tecendo críticas sociais audazes bem além da compreensão simples da faixa etária indicada do jogo (o público infanto juvenil). 

Dirigido pelo veterano Michel Ansel, criador da saga Rayman, o título busca trazer elementos de mundo aberto para uma aventura expansiva, explorando diversos cenários com personagens interativos com diversas linhas de diálogo. 

Logo, o diretor mistura diversos gêneros aqui, trazendo elementos de aventura, tiro, arcade, corrida e até sobrevivência. Sendo um jogo curto, é impressionante a quantidade de atividades necessárias que delineiam o jogo. 

É óbvio que se trata de uma obra já datada em termos de jogabilidade, mas é inegável que envelheceu bem, principalmente pelo estilo visual único dos traços de Ansel para os personagens, inimigos e cenários. Aliás, é justamente o carisma dos personagens que seguram a narrativa até o fim, já que ela é simples e previsível para uma audiência mais adulta. 

Dito isso, com um sistema de progressão baseado em duas moedas: uma de créditos para a compra de itens normais e outra baseada em pérolas para adquirir upgrades para o barco voador que a dupla protagonista usa, o jogo te incentiva a realizar atividades secundárias e explorar o singelo mundo aberto. 

Enquanto para ganhar pérolas é preciso realizar algumas missões extras, os créditos são obtidos ao tirar fotos da fauna de Hillys, com diversas criaturas alienígenas interessantes para descobrir e catalogar. A mecânica é divertida e claramente inspirada em Pokémon Snap, de 1999.

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Atravessando gerações 

Infelizmente, por ser já datado em diversos termos, existem algumas rusgas que mostram tanto a idade quanto algumas fraquezas do original. Essas se concentram principalmente na mobilidade truncada de Jade e no combate enjoativo. 

Nunca havia sido a intenção de Ansel em introduzir mecânicas de combate no jogo e isso se vê claramente pelo único combo de três golpes que Jade domina para lutar contra alienígenas. São raras as chances que ele mistura o combate com quebras-cabeças e menos ainda em sessões de parceria com o NPC parceiro de Pey’j que nos acompanha na saga. 

Neste novo remaster, aliás, a Ubisott caprichou em aprimoramentos necessários que funcionam corretamente. A IA dos parceiros está menos errática, atendendo a comandos mais rapidamente para solucionar puzzles. A edição de 20 anos, na verdade, funciona mesmo como uma versão definitiva do jogo. 

Os controles foram remapeados para aprimorar a qualidade de vida do jogador, se tornando um pouco mais adequados ao consenso moderno de jogabilidade. As texturas também ganharam melhorias ante a versão HD, conseguindo manter o design artístico de Ansel sem causar estranheza como já vimos em remasterizações anteriores – como no caso da infame edição definitiva de GTA: The Trilogy. 

Agora o jogo pode ser executado a 4K em 60fps – constantes e em bom estado no PC, inclusive. As melhorias também incluem a habilidade de pular cinemáticas, salvamentos automáticos e salvamentos cruzados em todas as plataformas. Outro ponto de destaque notório é a regravação de algumas faixas musicais clássicas da excelente trilha original de Christophe Héral que facilmente é um dos pontos mais altos do jogo. 

A edição também inclui uma missão secundária inédita de caça ao tesouro que traz maior contexto histórico para a protagonista Jade. Além disso, a problemática câmera do clássico foi retrabalhada, mais afastada da personagem, embora ainda seja meio complicada em passagens em primeira pessoa. Por fim, há um novo modo de speedrun, conquistas inéditas e também diversos conteúdos bônus trazendo mais detalhes das fases de produção do jogo. 

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Uma chance imperdível

Dado o baixo preço sugerido para o lançamento de Beyond Good & Evil: 20th Anniversary Edition e a antecipação gigantesca para a prometida sequência, se trata da oportunidade perfeita de conhecer esse excelente clássico do catálogo da Ubisoft. Melhor ainda se tratando da atenção e carinho que a empresa dedicou ao remaster que está bastante estável e polido, trazendo mudanças notórias e conteúdos adicionais muito bem-vindos. 

Agora é torcer para que Beyond Good & Evil 2 não demore mais dez anos para finalmente chegar ao mercado dando tempo para uma cômica e desnecessária edição de 30 anos do jogo original. 

Agradecemos a Ubisoft pela cópia gentilmente cedida para a realização da análise

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