Há anos que a Capcom vem trabalhando intensamente em remasterizar e disponibilizar toda a franquia Ace Attorney em todos os consoles possíveis. Agora, enfim, parece que todos os jogos importantes da franquia foram renovados com o lançamento de Ace Attorney Investigations Collection.
Os derivados foram lançados originalmente em 2009 e 2011 trazendo aventuras intrincadas do rival de Phoenix Wright, protagonista dos jogos principais – o carismático e arrogante Miles Edgeworth.
Com inúmeras novidades, o presente mais importante da coletânea é a localização inédita de Ace Attorney Investigations 2: Prosecutor’s Gambit que só havia sido lançado no Japão até então, obrigando os fãs a procurarem outras fontes que trariam a tradução não oficial do título.
DNA Próprio de Ace Attorney
Quem nunca jogou a saga Ace Attorney antes, assim como eu, pode se enganar acreditando que há experiências similares no mercado com jogos de investigação como a franquia Sherlock Holmes ou o majestoso L.A. Noire. Muito embora Investigations tenha certa semelhança com os jogos citados, ele é uma experiência totalmente própria e distinta.
O derivado tem uma proposta diferente ao trazer o cerne da experiência as mecânicas de investigação enquanto o drama dos tribunais é um tanto mais secundário. Como comentar sobre as narrativas envolve bastante spoiler, ambos os jogos ficam em diferentes casos, como assassinato e tentativa de assassinato, que estão relacionados à conspirações maiores. Para isso, Miles Edgeworth e seu detetive parceiro Gumshoe são encarregados de investigar e descobrir as tramoias montadas.
O primeiro game, talvez por um pouco de falta de experiência, traz uma história mais enxuta e menos surpreendente, enquanto o segundo é muito melhor trabalhado com diversas reviravoltas boas, além de oferecer um desafio mais complexo e personagens mais interessantes. Também é válido notar que os jogos possuem um bom humor particular, além de terem uma pegada mais realista que os tornam uma experiência à parte da franquia.
Como o próprio nome já diz, Miles precisa encontrar diversas pistas nas cenas de crime, além de entrevistar suspeitos e figuras presentes na hora da intercorrência. As pistas podem ser unidas através de uma mecânica de lógica/dedução, dando origem para novas narrativas ou pistas que serão importantes nos desfechos dos casos.
No momento dos confrontos, o jogador terá que pressionar os suspeitos para tirar mais informações, além de saber escolher o momento certo de apresentar as provas que refutam alguma mentira. Em caso de erro, o jogador é penalizado até a vida de Miles se esgotar e entrar em um cenário de Game Over.
Essas são as mecânicas principais dos jogos, enquanto no segundo há apresentação do ‘Xadrez Mental’, muito similar às entrevistas com personagens em L. A. Noire, mas no formato da franquia. Entretanto, se o jogador errar a exata ordem das perguntas ou não saber o momento de ficar quieto, falhar o jogo vai levá-lo ao começo de todo o interrogatório – o que pode ser bem frustrante às vezes.
São passagens bem divertidas e que não cansam pelo duelo verbal ser bastante intenso, além das artes dos personagens serem muito expressivas. Mas é muito importante destacar que o jogo, embora seja enquadrado como um quebra-cabeça “point and click” disfarçado – é possível controlar Miles pelos cenários das investigações – toda sua apresentação é centrada em Visual Novel.
Logo, é importante o jogador já estar ciente do caminhão de textos que terá de enfrentar. Em inglês, principalmente, já que não há localização para português no lançamento. Apesar de ser bastante interativo e exigir atenção, apertar X ou A para correr o texto, eventualmente se tornará uma experiência maçante (ainda bem que há a opção de acelerar a apresentação dos textos, além de outras opções gráficas da caixa de dialogo).
Mesmo não sendo um veterano da franquia, sei que os jogos Investigations são repletos de referências a eventos da trilogia de Phoenix Wright, além de trazer diversos personagens que já deram as caras nos games principais. Até mesmo entre os dois títulos, há referências e citações de casos do primeiro jogo. Então os fãs de longa data terão muito divertimento ao reconhecer faces familiares e situações dignas de muitos OBJECTION em diálogos bem elaborados.
Apresentação caprichada
Tratando-se de um remaster de jogos que já possuem mais de uma década, é bem legal notar o empenho da Capcom em modernizar o visual dos jogos. Aqui há uma apresentação totalmente inédita com sprites animados em alta definição. O melhor disso é notar as novas expressões faciais para os personagens. Para os nostálgicos, é possível ainda alterar a apresentação visual em gráficos pixelizados dos originais.
Ambos os games possuem vastas galerias de arte, troféus e trilhar musicais trabalhadas até mesmo em orquestra, o que é ótimo já que as músicas certamente são um dos pontos fortes do jogo que não possui dublagem para os personagens (novamente enfatizo a montanha de texto que o jogador vai encarar). Há também o modo história que resolve todos os mistérios automaticamente, permitindo que o jogo se comporte como uma visual novel totalmente tradicional.
A Capcom também tomou uma boa decisão ao trazer a seleção de capítulos, permitindo que os jogadores possam desfrutar das passagens ou investigações favoritas sem a necessidade de encarar a campanha inteira de cada jogo que possui cinco capítulos cada.
Além disso, para encorajar uma nova jogatina do original, ambos os títulos possuem uma lista generosa de conquistas para desbloquear.
O olhar ao passado para destravar o futuro
Finalmente após todas as coletâneas lançadas, é seguro apostar que a Capcom deve trazer o sétimo Ace Attorney muito em breve. Enquanto isso, fãs e novatos podem se divertir com o ótimo Investigations. Ter Miles Edgeworth como protagonista de primeira viagem é uma ótima oportunidade para conhecer essa franquia tão única e especial da desenvolvedora.
Deixo um ardendo apenas que esses jogos devem ser muito mais divertidos no formato mobile. Então são perfeitos para um Switch, Steam Deck ou PlayStation Portal, até mesmo para ter uma experiência mais confortável de leitura ou lazer durante uma viagem ou passeio no parque. Ainda assim, os jogos funcionam muito bem em uma telona de TV também. Uma ótima experiência onde quer que o jogador esteja. Sem objeções.
Agradecemos a Capcom pela cópia gentilmente cedida para a realização desta análise.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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